Salmo 19.7-11
1. Introdução
Com
a escolha do tema temos em vista versarmos que a Palavra é suficiente para a
vida cristã, que ela é suficiente para a igreja. Desse modo podemos estar pensando
a respeito dos seguintes tópicos:
1. A suficiência das Escrituras para o posicionamento
teológico da igreja.
2. A suficiência das Escrituras na prática da igreja.
3. A suficiência das Escrituras para o que pessoalmente
creio.
4. A suficiência das Escrituras para o que
individualmente vivencio.
Consideremos
esses tópicos percebendo seus postulados teológicos sem deixar de aplicar de modo
exortativo para nossas vidas.
Antes
entendamos alguns conceitos básicos para seguirmos avante:
Revelação - É o ato de Deus que dá a conhecer
aquilo que o homem por si mesmo não poderia saber.
A inspiração da Bíblia
A característica mais
importante da Bíblia não é sua
estrutura e sua forma, mas o fato
de ter sido inspirada por Deus. Quando falamos
de inspiração, não se trata de
inspiração poética, mas de autoridade divina.
A Bíblia é singular; ela foi
literalmente "soprada por Deus".
Inspiração é a influência
sobrenatural do Espírito Santo sobre a mente dos escritores da Bíblia, pela
qual a Bíblia foi escrita sem erros ou contradição tendo contraído toda a
revelação necessária ao homem a respeito da história da salvação.
Iluminação - Atuação do Espírito Santo dando-nos
a capacidade de entender a Revelação divina conforme se encontra nas
Escrituras, ou seja, é o Espírito Santo nos fazendo entender a Bíblia.
Desse modo, Deus revelou aos escritores bíblicos o que deveria ser
escrito, o Espírito Santo os inspirou a escrever e nos ilumina a compreender o
que está escrito.
2. A suficiência das Escrituras para o posicionamento
teológico da igreja.
A doutrina
da suficiência da Escrituras está fundamentada em perceber a Bíblica como sendo
Palavra de Deus. Ela não contém a Palavra de Deus. Ela não se torna
a Palavra de Deus. Ela é a Palavra de
Deus. É uma revelação proposicional. Portanto, todo o seu conteúdo é
palavra de Deus. É óbvio que com isso não se quer afirmar que textos que dizem
respeito a uma época e cultura judaica para um contexto específico deva ser
aplicado ípsis lítere em nosso tempo,
mas que toda ela veio da parte de Deus para o seu povo. Caberá ao estudo hermenêutico
a explicação daquilo que é contextual e momentâneo para o povo judaico e daquilo
que transcende a cultura e época.
Toda
e qualquer doutrina abraçada pela igreja tem necessariamente que originar da Palavra
de Deus.
Acreditar
na suficiência das Escrituras traz equilíbrio com relação a outras questões.
2.1 A suficiência das Escrituras
mantém a tradição em seu lugar.
A
tradição quanto aos aspectos doutrinários se faz presente na vida da igreja por
meio dos credos e das confissões doutrinárias. Isso significa que mesmo que uma
compreensão e prática da igreja, ainda que antiga, se contraria a revelação
escrita, não deve fazer parte das doutrinas assumidas pela igreja. A tradição não pode ser colocada superior a
autoridade bíblica. Daí que abertamente haveremos de rejeitar toda e
qualquer doutrina que não se encontre na Palavra de Deus inspirada: como
exemplos podemos citar o que crêem os católicos romanos e os neopentecostais:
purgatório, Maria como imaculada e corredentora, infalibilidade papal,
maldições hereditárias, perda de salvação, ser a vontade de Deus que todos os
crentes prosperem financeiramente, etc. Tais doutrinas e tantas outras por não
poderem ser defendidas de modo coerente por meio da exegese e hermenêutica deve
logo serem rejeitadas.
2.2 As Escrituras são
suficientes, não acrescentaremos ou retiraremos qualquer coisa da Palavra de
Deus.
A
Palavra adverte isso em Deuteronômio 4:2 e 12:32 e Apocalipse 22.18-19 – “Eu,
a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e
das coisas que se acham escritas neste livro”.
“Toda palavra de Deus
é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada acrescentes às suas
palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso” (Pv 30.5-6).
De
modo geral vemos a desobediência a esse princípio fora do contexto evangélico
nos seguintes exemplos:
·
Os mórmons
acrescentam O Livro de Mórmom como sendo outra revelação de Jesus Cristo.
·
Os católicos
acrescentam a tradição da igreja.
·
A Ciência Cristã
acrescenta o livro “Ciência e saúde como uma chave para as Escrituras”, de Mary
Baker Eddy.
Porém
tais contextos não nos surpreendem, o que deveria surpreender são os contextos cristãos
que também fazem acréscimos todas a vezes que ocorrem ensinamentos à parte da
Palavra de Deus e supostas revelações.
“A
suficiência das Escrituras nos mostra que nenhuma revelação moderna de Deus deve ser equiparada à Bíblia no
tocante à autoridade” (GRUDEN, 1999). Independentemente de se
crer ou não na possibilidade de tais revelações, o fato é que jamais se pode
permitir seja em teoria ou prática a equiparação dessas revelações à Palavra de
Deus.
2.3 Visto que a Bíblia é suficiente,
podemos esperar que seja relevante em todos os aspectos da vida.
É evidente que há temas que não são tratados de
modo direto na Bíblia. Você não encontrará textos sobre clonagem humana, possibilidade
de vida inteligente fora da terra, etc. Porém, a Bíblia trará princípios éticos
que fornecerão a base necessária para tomarmos decisões e servir de apoio para
acreditar se algo é correto diante de Deus ou não.
Então saber que a Bíblia é suficiente é saber que
ela tem a ensinar sobre as doutrinas teológicas: doutrina de Deus,
Soteriologia, Escatologia; como também questões práticas como casamento, educação
de filhos, finanças, relação do cristão com o Estado, direitos sociais, etc.
2.4 a doutrina
da suficiência das Escrituras nos convida a abrir nossas Bíblias para ouvir a
voz de Deus.
Isso
é um grande desafio para as igrejas modernas que se abrem para as novidades
doutrinárias. Nenhuma doutrina deve ser aceita no contexto da igreja se não
puder rigorosamente ser defendida na
Palavra de Deus.
A
Bíblia pode não falar sobre todos os assuntos, mas em tudo o que fala seu
conteúdo é verdadeiro.
3. A suficiência das Escrituras na prática da igreja.
É
a práxis da igreja que apontará para o que ela crer. Toda dinâmica da vida
eclesial aponta para seus fundamentos doutrinários. Desse modo, a forma de
governo, como se dá adoração pública, ou seja, a liturgia do culto; a postura
pessoal da liderança dentre outras coisas, certamente que denotam a teologia
presente no contexto.
Se
a igreja não considerar a Palavra de Deus como suficiente para sua práxis ela
fatalmente correrá o risco de ser pragmática.
O
reflexo na igreja do pragmatismo, que faz parte do pensamento pós-moderno dos
nossos dias, é a adoção por parte de muitos daquilo que produz resultado para encher
os templos. Com esta meta em vista será adotada as estratégias mais estranhas e
absurdas para atrair as pessoas à igreja. No âmbito neopentecostal o sincretismo religioso estará presente, a
mistura de práticas do catolicismo romano, do espiritismo, do candomblé e
igrejas evangélicas. Tudo isso com vistas à satisfação das massas que estão em
busca de crescimento financeiro, solução de problemas familiares, cura de
enfermidades e alívio de sofrimento. Dentro desse contexto, expressões
constrangedoras como “arrependimento”, “confissão de pecados”, “santificação”,
“compromisso com Jesus”, “sofrer por amor a Cristo”, “salvação”, “inferno” e
semelhantes, estão descartadas, pois não cabe em seu marketing. O evangelho
então pregado não é o evangelho do Senhor Jesus Cristo e aqueles que estão
buscando tais igrejas não estão buscando ser discípulos e discípulas de Cristo.
Fora do ambiente neopentecostal, mas também influenciado por ele encontramos igrejas históricas que adotam o
pragmatismo em sua agenda litúrgica. O culto muitas vezes é realizado com uma
centralidade humana, o louvor nestes cultos deve estar dentro de um padrão que
agrade a plateia, a pregação não necessita necessariamente ser de uma exposição
bíblica, o importante é falar sobre “os cinco passos que produzem vitória ou
crescimento na vida”. (SANTOS, 2012).
4. A suficiência das Escrituras para o que pessoalmente
creio.
Muito
se fala hoje em liberdade, que todos têm o direito de crer de seu modo em questões
da religiosidade. Sob uma ótica social tal afirmação está corretíssima, ninguém
pode ser obrigado a se filiar a uma comunidade de fé ou a aderir a defesa de
uma determinada doutrina. Em termos espirituais também pode ser dito que ninguém pode ser forçado a crer, pois
desse modo a fé já não seria fé. Mas quando se trata de viver o evangelho
percebe-se na Palavra que ao cristão não lhe é dado opção de crer ao seu bel
prazer. Tudo o que podemos crer acerca de Deus e da Sua vontade tem de estar
necessariamente fundamentada na Palavra. Toda afirmação acerca de Deus tem de
haver fundamentação nas Escrituras.
“dizer que as Escrituras são
suficientes significa dizer que a Bíblia contém todas as palavras divinas que
Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém
todas as palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de maneira
perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer.
Essa definição enfatiza que só nas
Escrituras devemos procurar as palavras de Deus para nós. Também nos lembra de
que Deus considera que o que ele nos disse na Bíblia é suficiente para nós e
que devemos nos alegrar na grande revelação que nos deu, contentando-nos com
ela.” (GRUDEN, 1999).
A doutrina da suficiência das Escrituras
nos dá a certeza de que podemos saber de fato o que Deus quer que pensemos ou
façamos, pois ainda que tenhamos o
trabalho de examinar a Bíblia nos textos vários que ensinam sobre determinado
tema, podemos ter a certeza de chegar ao conteúdo da revelação proposicional de
Deus ao seu povo.
5. A suficiência das Escrituras para o que
individualmente vivencio.
“Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para
corrigir, para instruir em justiça. Para que o homem de Deus seja perfeito, e
perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Timóteo 3.16-17).
As
Escrituras são suficientes para nos habilitar para “toda boa obra”, e andar nos
caminhos bíblicos é ser “irrepreensível”aos olhos de Deus.
O
postulado teológico da suficiência das Escrituras traz algumas implicações
práticas:
5.1
Não existe pecado que não seja proibido pelas
Escrituras, quer
explícita quer implicitamente.
Isso
significa que não temos o direito de afirmar que algo é pecado sem que de fato
a Bíblia faça tal afirmação. Como exemplo dessa questão pode-se falar sobre os
costumes dentro das denominações.
no latim “suescere” que
significa “acostumar-se com” sendo, alguma coisa com que alguém fica
acostumado. Portanto, os usos e costumes são uma forma de expressão que
demonstra o porte, a conduta, a postura e o comportamento pessoal, grupal ou
comunitário.
Sendo uma questão meramente humana,
embora podendo em alguns casos estiver em harmonia com a vontade de Deus.
(MARTINS, 2020).
Costumes é algo meramente
humano, enquanto a doutrina bíblica é de Deus; o costume diz de uma região, um
local específico, enquanto a doutrina deve transcender tais questões, pois é
algo geral; o costume é algo temporário, muda com o passar do tempo, a doutrina
bíblica é imutável, não está sujeita a ser
relativizada com o passar do tempo.
5.2 Deus nada exige de nós que
não esteja determinado explícita ou implicitamente nas Escrituras.
Podemos sossegar o coração diante da dúvida do que
seja vontade do SENHOR para nossas vidas. Ninguém precisa ficar com a consciência
pesada em caso de não aplicar o que alguém lhe falou como sendo supostamente
mensagem de Deus se não puder ser confirmada na Palavra de Deus.
Em contrapartida, a afirmação em pauta nos
responsabiliza a buscarmos a vontade do SENHOR revelada em Sua Palavra acerca das
nossas questões.
5.3 Devemos enfatizar
o que a Bíblia enfatiza e nos contentar com aquilo que Deus nos disse nas
Escrituras.
A
Bíblia realmente não tentará responder a algumas questões que não dizem
respeito ao que é necessário para a salvação e uma vida santidade ao Senhor. É
por isso que é dito que “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso
Deus” (Dt 29.29).
Portanto,
também não faz sentido as divisões denominacionais no que tange a comunhão no Corpo
de Cristo baseada em doutrinas que não são enfatizadas de modo essencial para a
vida da igreja enquanto verdadeira igreja de Cristo. Em outras palavras,
questões como a forma do batismo, crer ou não na contemporaneidade de todos os
dons espirituais de modo igual a como ocorria no período neotestamentário, a
forma litúrgica do culto não deve impedir a comunhão no contexto do Corpo de
Cristo. Que possamos dar ênfase àquilo que contribua em comunhão
independentemente dos contextos denominacionais.
6. Conclusão
Jesus
cria plenamente na suficiência das Escrituras. Ele afirmou em João 10.35 que
“…a Escritura não pode falhar.” Em João 17.17 Ele disse que “…a Tua Palavra é a
verdade.” Ele ainda declarou em Lucas 21.33: “O céu e a terra passarão, mas as
minhas palavras jamais passarão.”
Logo,
que a Palavra de Deus sempre tenha a primazia na sua vida!
Que
possa estar crendo não no que você acha, ma no que de fato a Bíblia afirma!
Para tanto, estude, ore ao SENHOR
para nunca se afastar da sã doutrina, nunca crer em heresias.
Valorize
as oportunidades de aprendizado da Palavra.
7. Referências
1. GRUDEM, Wayne A. Teologia
Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
2. MARTINS, Orlando. O que os usos e costumes proíbem e a Bíblia permite. Pesquisado em: <https://www.gospelprime.com.br/o-que-os-usos-e-costumes-proibem-e-a-biblia-permite/>. Acesso em: 07 set 2022.
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