PREFÁCIO
A
questão do ministério pastoral feminino é um tema atual e que toca a vida prática
da igreja. Procurei então abordar este assunto sabendo que muitos não
concordarão com as conclusões às quais chegaria, independentemente de quais fossem
elas, isso se deve à natureza polêmica do tema. Meu intento diante de um
assunto tão vasto foi examinar a questão biblicamente, para descobrir se há
fundamento bíblico para a aceitação do ministério pastoral feminino, e como em
sua história a igreja o encarou, e se a aceitação em nossos dias se baseia em
seguir os ditames das Escrituras ou em algo mais.
Há
pessoas que dirão que este é um assunto de pouca importância para a igreja. No entanto,
é algo que fala da vida prática dos crentes em Cristo no que diz respeito ao
desenvolvimento dos seus dons, particularmente daqueles necessários para
pastorear vidas. Assim sendo, é um assunto de grande relevância.
Escolhi
pesquisar este assunto devido minha própria necessidade de me posicionar mais
firmemente a respeito, até então confesso não ter pensado seriamente sobre este
tema da teologia bíblica. Procurei na medida do possível utilizar uma linguagem
simples, mas não simplória, de modo que a leitura seja agradável a todos, tanto
a estudantes de teologia como a leigos.
Na
pesquisa bibliográfica tive oportunidade de examinar material igualitarista,
daqueles que enxergam igualdade entre os gêneros em todos os sentidos e negam a
submissão feminina, a liderança masculina no lar e na igreja, bem como apóiam o
pastorado feminino. Pesquisei também material complementarista, ou seja,
daqueles que apóiam o ponto de vista oposto, isto é, submissão feminina,
diferença entre os gêneros, liderança masculina no lar e na igreja e que
consequentemente discordam do ministério pastoral feminino. Além da pesquisa
bibliográfica tive oportunidade de realizar algumas entrevistas com pastores
batistas, entrevistas presencial nas quais puderam expressar verbalmente e por
escrito seus pontos-de-vista.
Esforcei-me por ser o mais indutivo
possível, partindo dos textos, analisando a prática se estão em consonância com
os mesmos para somente então chegar às minhas conclusões.
I. HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMININO E SEU REFLEXO NA
IGREJA
Para entendermos o pensamento do nosso
tempo sobre o ministério pastoral feminino é necessário avaliarmos o
pragmatismo existente dentro das práticas das igrejas, bem como a história do
movimento feminista. Por enquanto, vejamos como ocorreu o caminhar dos direitos
da mulher em nossa sociedade ocidental e que reflexos isso produziu na teologia
evangélica assim como nas igrejas cristãs.
1. As
origens do movimento feminista
Em uma sociedade de cultura machista
e patriarcal, a mulher era considerada na prática como inferior aos homens. Houve
épocas em que elas não tinham os mesmos direitos civis, não votavam nem podiam
ser votadas. Uma maioria esmagadora não tinha
profissão. Estavam sempre sujeitas a algumas autoridades, quando solteiras
deviam obediência aos pais, casavam geralmente muito jovens, então passavam a
estar sob uma nova autoridade, o marido. Seu papel social era de mãe e esposa.
Seus erros sempre eram considerados como intoleráveis pela sociedade, ainda que
homens estivessem incorrendo nos mesmos sem sofrerem maiores danos.
É contra toda esta situação que a
partir do século dezoito algumas mulheres intelectuais começaram a lutar pelos
direitos da mulher. A primeira destas foi Mary
Woclstonecraft, que escreveu “A
vindication of the rights of woman” (A vindicação dos diretos da mulher).
Outras foram: Olimpe de Gouges, que publicou um panfleto intitulado “Le droits de La femme” (Os diretos da
mulher); Judith Surgent Murray, “On the
equalith of the sexes” (Sobre a igualdade dos sexos). Outras pensadoras
foram Frances Wright, Sarah Grinke, Sojorner Truth, Elizabeth Cady Stanton,
Susan B. Anthony e Hariet Taylor. O filósofo John Stuart Mill também colaborou
com o movimento feminista.
No século XIX, precisamente no ano
de 1848 em uma convenção em Sêneca Faulls, Nova York, houve a ratificação do
importante documento feminista “Declaração
dos sentimentos”. Esta declaração lutava pelos direitos da mulher de galgar
posições na sociedade quanto a empregos melhores e receber salário igual ao dos
homens pelo trabalho que realizavam. Denunciavam que estavam excluídas de
algumas profissões como teologia, medicina e advocacia e não podiam freqüentar
as universidades. As autoras desta declaração também denunciavam o duplo padrão
de moralidade que havia na sociedade que condenava as mulheres a penas
públicas, enquanto os homens não sofriam os mesmos castigos em crimes de
natureza sexual. Tais reivindicações
evidentemente eram muito justas, e com o tempo elas foram conseguindo algumas
conquistas. Passou a haver algumas mudanças na
condição legal da mulher dentro do casamento, nos anos 30 começaram a entrar no
mercado de trabalho com força competitiva.
Chegando ao século XX encontramos
uma das mais importantes pensadoras do feminismo, Simone deBeauvoir. Ela
escreveu “Le deuxiene sexe” (O
segredo do sexo), em 1949. Segundo esta filósofa as mulheres foram até então
medidas a partir do homem, não com referência a si mesmas. O mundo era dos
homens, e confinaram a mulher ao seu mundo reduzido de “cozinha, igreja e
filhos”, segunda ela, a mulher estava destinada a existir somente para
conveniência e prazer dos homens.
As mulheres necessitavam por assim
dizer de uma libertação na sociedade. Precisavam definir a si mesmas, ter o
controle de suas vidas. O mesmo apregoou nos anos 60 a jornalista americana
Betty Friedan, que denunciava que as mulheres de seu tempo havia se tornado
infantis e frívolas. Ensinadas a buscarem a satisfação apenas como esposas e
mães. Afirmou que a mulher estava vivendo um dilema, “um problema sem nome”.
Foi no final dos anos 60 que a
feminista Kate Miller chamou o tal problema sem nome de “patriarcado”. Palavra
que vem do grego, pater, que
significa pai, e arche, que significa
governo. Segundo Miller o
patriarcado, este domínio social do macho sobre a fêmea, inferior e
subserviente, deveria ser destruído para que pudessem se sentir plenas e
íntegras.
2. Movimento
feminista dentro da igreja
A primeira influência do movimento
feminista dentro da igreja no que tange à erudição acadêmica ocorreu por meio
de Katherine Bliss com seu livro “O
trabalho e o status da mulher na igreja” (1952). Sua
denúncia era que frequentemente as mulheres exerciam papel de menor importância
nas atividades eclesiásticas e evidentemente eram excluídas da liderança e de
atividades como ensino, pregação, administração e evangelismo, embora tivessem
dons para exercer também essas funções. Defendeu que a igreja deveria reavaliar
sua posição sobre o papel da mulher, inclusive sobre sua ordenação.
A obra de Bliss influenciou algumas
ativistas cristãs daquela época que estavam a lutar pelos direitos civis e
políticos da mulher. Foram publicados
periódicos evangélicos sobre a “síndrome das mulheres limitadas aos papéis da
casa e esposa”. Segundo as
ativistas cristãs as mulheres ansiavam participar da vida da igreja de modo
mais significativo, não era suficiente estarem em atividade concernente à
realização de bazares, coleta de dinheiro para os mais necessitados, arrumar a
mesa da Santa Ceia, etc.
No ano de 1961 houve um Concílio
Mundial de Igrejas, dentre outros assuntos, a ordenação feminina foi debatido. Foi
distribuído um panfleto com o título “Quanto
à ordenação das mulheres”, que chamava atenção para um reexame dos papéis
da mulher dentro da igreja. A conclusão era que a mulher na igreja precisava de
libertação. Era sem dúvida uma influência direta do movimento feminista
secular. Este pensamento atingiu a
igreja católica, e igrejas evangélicas como metodistas, batistas, episcopais,
presbiterianas e congregacionais.
3. Primeiros
argumentos em prol da ordenação feminina
Os feministas cristãos estavam a
lutar por uma mudança radical na história da igreja no que concerne à mulher e
seus papéis, assim sendo um dos seus argumentos foi justamente acusar as bases históricas
da igreja de ter errado proibindo a ordenação feminina. Desse modo, pais da
igreja como Clemente de Alexandria, Orígenes, Ambrósio, Crisóstomo, Tomás de
Aquino, Lutero, Calvino e outros foram acusados de serem machistas e terem sido
influenciados por uma cultura patriarcal na interpretação das Escrituras, e
assim viam a mulher como intelectualmente inferior ao homem.
Outro ataque se deu contra a
hermenêutica de sua época e de anteriores com relação aos textos a respeito do
papel da mulher. Segundo as feministas os teólogos (homens) distorceram as
Escrituras para seus próprios interesses. É curioso notar esta desconfiança para
com homens compromissados com a verdade escriturística como os acima expostos.
A
tese mais importante do movimento feminista cristão dos anos 60 era idêntica ao
pensamento secular das feministas de então, as mulheres são iguais aos homens
em suas emoções, psique, e intelecto, qualquer diferença apresentada seria
fruto de condicionamentos culturais, a mulher era igual ao homem inclusive
biologicamente.
Junto com a ordenação para
atividades eclesiásticas vieram para basilar tal perspectiva uma mudança na
teologia, para se alinhar ao ponto de vista feminista.
4. Uma
teologia feminista
Na realidade a ordenação feminina
era apenas parte de uma agenda maior do movimento feminino. Entendiam que a
mulher não deveria mais identificar a sim mesma a
partir do homem, mas em relação a outras mulheres.
Na década de 70 o movimento feminista
em geral começou se aproximar de movimentos radicais em prol do lesbianismo.
Não demorou muito para que surgisse dentro das igrejas grupos de lésbicas
“cristãs” que pressionavam para a ordenação de mulheres, lésbicas, e o
casamento gay, assim a aceitação de homossexuais como membros ativos da igreja.
Kate Miller foi quem deu a maior contribuição para a entrada do lesbianismo no
movimento feminista com seu livro “Sexual
Politics”, publicado em 1970.
Para seus propósitos entendiam que a
Bíblia até então fora interpretada de forma masculina. A própria Bíblia era
um livro que refletia o patriarcado dominante das culturas israelita e grega de
sua época, escrita por homens sob o ponto de vista masculino. Desse modo havia necessidade
de novas versões que eliminassem o machismo nela exposto, como a referência a
Deus de forma masculina, quando na realidade, segundo as feministas, Ele é um
espírito sem gênero. Então, versões “inclusivas” das Escrituras não mais se
referem a Deus como Pai e chamam Jesus de “a criança de Deus”, em vez de Filho
de Deus. No mercado mundial circula
dezenas de versões desse tipo. Aqui mesmo no Brasil temos algumas versões
inclusivas menos radicais.
As feministas
cristãs passaram na verdade a fazer também uma reinterpretação do cristianismo.
Admitindo que a principal característica da mulher é gerar a vida, chegam a
conclusão que a religião é melhor administrada por elas do que pelos homens,
que é guerreiro, mata e tira a vida. O que elas passaram a fazer foi adotar e
cristianizar os cultos pagãos de fertilidade, nos quais celebram as estações do
ano, a fertilidade da terra, as colheitas e a geração da vida.
O passo mais radical do movimento
feminino em sua face religiosa deu-se no ano de 1998 nos Estados Unidos. Mais
de 800 feministas, gays e lésbicas reuniram-se para discutir a pessoa de Deus,
tendo obviamente como ponto de partido suas ideologias. As conclusões a que
chegaram são alarmantes, para dizer o mínimo: o Deus de Israel a quem os autores
bíblicos chamaram de Javé, na verdade é a deusa grega Sofia. Jesus Cristo não
era Deus, mas a encarnação dessa deusa Sofia. Esta deusa é identificada com o
ego feminino e pode ser encontrada dentro de qualquer mulher. Nesta nefasta
reunião foi até celebrada uma “Ceia” na qual os elementos tradicionais pão e
vinho foram substituídos por leite e mel. Conclamaram as igrejas tradicionais a
pedirem perdão por se referirem a Deus sempre no masculino, abençoaram os gays
e lésbicas e amaldiçoaram os que são contra o aborto.
Sem dúvida alguma os genuínos
cristãos que hoje concordam com a ordenação feminina ao ministério pastoral não
estão de acordo com a agenda feminista em suas aberrações como acima foi
exposta. Porém, é necessário enfatizar que muitos argumentos utilizados para a
defesa da ordenação feminina ao pastorado eram e são utilizados também para a defesa
do homossexualismo e lesbianismo na igreja. Ou
seja, abre portas sem precedentes.
II. O PAPEL DO HOMEM E DA MULHER NA CRIAÇÃO
Também Deus
disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; tenha ele
domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela
terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou. E Deus
abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo
animal que rasteja pela terra.
(Gn 1.26-28)
O papel do homem e da mulher dentro
da família já ficou estabelecido no momento da criação dos mesmos. No texto
citado, fica evidente que ambos foram criados à imagem de Deus, que, portanto,
são iguais em dignidade e importância. Também fica é anunciado que cabia a
ambos a responsabilidade de dominar sobre todas as formas de vidas já criadas e
que deveriam multiplicar para encher a terra. É
necessário, no entanto, percebermos que na criação a liderança masculina é
revelada como um princípio de Deus para a humanidade como necessária para haver
perfeita harmonia nos relacionamentos humanos. Foi Deus quem estabeleceu a liderança masculina. Há algumas razões pelas
quais fica evidente que Deus estabeleceu a liderança masculina antes da Queda.
1. A ordem da
criação
“Então,
formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego
de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7).
Este texto nos fala da criação do
homem, e somente depois trás um relato da criação da mulher (Gn 22.18-23
(extrapola o intento desta pesquisa tratar o porquê há dois relatos sobre a
criação do homem). No entanto, é suficiente a aceitação incontestável de que o
homem foi criado primeiro. Essa ordem é importante e o apóstolo Paulo chega a
usá-la como justificativa teológica para tratar do papel do homem e da mulher
na igreja.
2. A representação
Foi concedido a Adão o papel
representativo da raça humana diante de Deus, em vista disso quando Eva peca o
gênero humano ainda não é visto como caído, isto só ocorre no momento do pecado
de Adão. É dito em 1 Co 15.22: “Porque, assim como, em Adão, todos morrem,
assim também todos serão vivificados em Cristo”. Foi à ele que Deus chamou para prestação de contas,
não a Eva (Gn 3.9).
3. A
nomeação
Deus
colocou como missão para Adão nomear suas criaturas (Gn 2.19-20). Percebemos na
Bíblia que aquele que nomeia exerce autoridade sobre o que recebe nome. Vemos
Deus mudando o nome de Abrão para Abraão (Gn 17.5); Nabuconodosor, rei da
Babilônia, deu novos nomes a Daniel e seus três amigos (Dn 1.1-7). A cultura
antiga prontamente entendia esse conceito e certamente as Escrituras ao relatar
que Adão nomeou sua auxiliadora que Deus lhe deu revela com isso a autoridade
dele sobre ela (Gn 2.23).
4. O
propósito
Deus criou Eva para que fosse
auxiliadora de Adão: “Disse
mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora
que lhe seja idônea” (Gn 2.18). Auxiliadora não
significa inferior, mas tem o sentido de ajudadora. Embora admitamos que um
auxiliador possa estar em condições de igualdade ou de superioridade da pessoa
auxiliada, no contexto de Gênesis a idéia denota autoridade, e Adão neste caso
tinha uma auxiliadora de menor autoridade do que ele.
5. O mistério
“Eis porque deixará o
homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma
só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.31, 32).
O relacionamento conjugal de certo
modo simboliza o relacionamento do Senhor com a igreja. Neste relacionamento a
igreja deve viver submissa a Cristo, pois é o seu Senhor, semelhantemente Deus
estabeleceu que a mulher deve viver em seu relacionamento conjugal submissa ao
seu marido:
“Porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da
igreja...” (Ef 5.23).
III. TEXTOS BÍBLICOS UTILIZADOS NO DEBATE SOBRE
MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO
1. (Jz
4.4-10) - O caso de Débora no Antigo Testamento
Débora, profetisa,
mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo. Ela atendia debaixo da
palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os
filhos de Israel subiam a ela a juízo. Mandou ela chamar a Baraque, filho de
Abinoão, de Quedes de Naftali, e disse-lhe: Porventura, o Senhor, Deus de
Israel, não deu ordem dizendo: Vai, e leva gente ao monte Tabor, e toma contigo
dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom? E farei ir a ti
para o ribeiro Quisom a Sísera, comandante do exército de Jabim, com os seus
carros e suas tropas; e o darei nas tuas mãos. Então, lhe disse Baraque: Se
fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei. Ela respondeu:
certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que
empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera. E saiu
Débora e se foi com Baraque para Quedes. Então, Baraque convocou a Zebulom e a
Naftali em Quedes, e com ele subiram dez mil homens; e Débora também subiu com
ele. (Jz 4.4-10).
Alguns igualitaristas recorrem ao
relato de Débora no Antigo Testamento para provar que a Bíblia aprova a mulher
em papel de liderança na igreja de Deus. O
capítulo 4 de Juízes nos trás este relato, que vale apena ser analisado.
Os argumentos igualitaristas são que
Débora julgava o povo naquela época, liderou o povo em Batalha contra Sísera,
comandante do exercito do rei de Canaã. Logo, assumia um papel de liderança no
Israel daquela época.
Devemos observar que o livro de
Juízes é claro em suas palavras que naquele tempo não havia rei em Israel: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um
fazia o que achava mais reto” (Jz
21.25). Desse
modo, jamais pode ser utilizado o argumento de que Débora governava o povo. Outra
forma de entendermos isso é observarmos a palavra hebraica utilizada para
julgava em Jz 4.4: “Débora, profetisa,
mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo”. O verbo hebraico shaphat, “julgar”, não significa nesse
contexto reger ou governar, mas decidir controvérsia, deliberar com sabedoria
nas questões civis, políticas, domésticas e religiosas entre as pessoas. Fica
claro pelo versículo seguinte que o seu julgamento era algo particular, não um
julgamento político para toda a nação.
Quanto à liderança em batalha
olhemos para o texto atentamente para ver quem liderou o povo, Débora ou
Baraque. Vemos que ela insistiu que ele deveria lidera o povo em batalha, como
era ordem divina, v. 6, ela foi à batalha, mas como diz o texto: “subiu com
ele” v. 9-10, ou seja, sob a sua liderança. E a Bíblia ainda diz que os homens
foram após ele, não após Débora, v. 14. O que fica claro então é que Débora
serviu de encorajamento para Baraque, que estava pecando por não assumir sua
posição de líder como homem.
É
dito também que Débora era profetisa, v. 4, mas o papel de profetisa não era de
uma atividade docente, ela apenas transmitia as mensagens de Deus.
2. As
profetisas
Segundo os igualitaristas os
exemplos de profetisas no Antigo Testamento como Miriã, Débora e Hulda podem
ser tomados como exemplos para a aceitação de mulheres na liderança hoje.
É
importante entender que a função do profeta era de entregar a palavra do
Senhor, sem nada a ela acrescentar, enquanto que aos sacerdotes cabia a
responsabilidade de ensinar ao povo de Deus os seus estatutos e seus
mandamentos.
“... e para ensinardes aos
filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado por intermédio
de Moisés” (Lv
10.11).
A verdadeira
instrução esteve na sua boca, e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou
comigo em paz e em retidão e da iniquidade apartou a muitos. Porque os lábios
do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens
procurar instrução, porque ele é mensageiro do SENHOR dos Exércitos (Ml 2.6, 7).
Assim como no Antigo Testamento no
Novo Testamento as mulheres podem profetizar, porém não lhes é autorizado
assumir o papel de mestres, não podem à semelhança dos sacerdotes no Antigo
Testamento ensinarem ao povo de Deus, (1 Co 11.5; 1 Tm 2.12; 3.2; Tt 1.6).
3. Em Atos
dos Apóstolos
Mas o que ocorre é o
que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz
o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos
velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito
naqueles dias, e profetizarão. (At 2.16-18).
Baseados neste texto aqueles que
defendem a ordenação feminina afirmarmam que no Pentecostes foi abolida toda
distinção de gênero, pois o texto afirma que o Espírito, conforme a profecia
que se encontra em Joel 2.28-29, haveria de ser derramado sobre “filhos e
filhas, servos e servas”, e todos, independentemente de gênero receberiam os
dons espirituais para capacitar a igreja ao serviço.
Devemos, no entanto, observar o texto com mais atenção, ele afirma que
independentemente de gênero pessoas terão sonhos e visões, e profetizarão, no
entanto, estes dons não estão no Novo Testamento ligados às exigências para o
presbiterato ou pastorado. A concessão de dons carismáticos não traz consigo a
exigência ou autorização para a ordenação ao ministério. E conquanto o Novo
Testamento mencione profetizas (At 21.9; 1 Co 11.5), é ressaltado que elas
deveriam orar e profetizar com a cabeça coberta, expressão cultural da época
para testificar que elas estavam se submetendo à autoridade (1 Co 11.3-15).
Ademais, o “profetizar” no Novo Testamento não se refere a ensino oficial nem
doutrinário da igreja.
As
mulheres foram fundamentais nos primeiros dias da igreja primitiva, e pela
graça de Deus recebem dons do Senhor juntamente com os homens, sem restrições.
Isto, porém, não implica ordenação para elas.
“Ele, pois, começou a
falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no
consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus.” (At 18.26)
Aqueles que defendem o ministério
pastoral feminino afirmarão que este texto é uma prova de que havia ministério
feminino na igreja do Novo Testamento, pois supõem que Priscila juntamente com seu
marido Áquila ao exporem o caminho de Deus a Apolo estavam em pleno exercício
do seu ministério, logo, Priscila exercia ministério do ensino. Ora, esse argumento
é falaz porque quando atentamos para o texto percebemos que a exposição que
eles fizeram a Apolo foi em particular não em público. A
proibição bíblica defendida pelos complementaristas é de que as mulheres não
podem ensinar à igreja reunida para cultuar, formada por homens e mulheres. A
instrução particular, como crentes que estão em conversa cotidiana acerca do
Senhor nada encontra de empecilho nas Escrituras.
Outro argumento utilizado aqui é
que, quando algumas vezes que é mencionado o casal, Priscila é mencionada antes
de Áquila. Os igualitaristas então afirmam que tal
ordem dos nomes significa que Priscila tinha proeminência na igreja, era a
líder da equipe ministerial. A verdade é que é difícil afirmar o que a ordem
dos nomes significa aqui. Wayne
Grudem em seu livro “Confrontando o
feminismo evangélico” chega a citar F. F. BRUCE (1973, p. 271) para
discutir esta questão:
Paulo
geralmente coloca Prisca (Priscila) antes de Áqüila, seu marido; talvez porque
tivesse ela a personalidade mais notável dos dois, embora alguns tenham
inferido que o nível social dela era superior ao dele. Ela pode
ter pertencido [...] a uma nobre família romana, enquanto ele era um judeu
oriundo do Ponto, no norte da Ásia Menor” (GRUDEN,
WAYNE, 2009, p. 87).
Desse modo é muito difícil afirmar ao certo o sentido do nome de
Priscila vir mencionado antes do de Áquila. É bom lembrar que em 1 Co 16.19
Paulo menciona Áquila primeiro, e com certeza este é um texto com conexão
ministerial: “As igrejas da Ásia os saúdam. No Senhor, muito vos
saúdam Áqüila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles”.
4. (Rm
16.1-2) - Febe como líder
“Recomendo-vos a nossa
irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no
Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar;
porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive” (Rm 16.1-2).
Estranhamente há quem interprete o
que Paulo diz acerca de Febe sobre ela ter sido protetora de muitos, inclusive
dele, como tendo sido líder na igreja. Ora, isso é estranho haja vista que o próprio
Paulo chega a afirmar que nem mesmo os apóstolos de Jerusalém tinham autoridade
sobre ele (Gl 1.11-12; 2.6).
Ademais os léxicos traduzem o verbo “prostátis” como “protetora, benfeitora,
guardiã”, traz o sentido de uma mulher que estava sempre pronta a socorrer,
algo bem próximo de um ministério diaconal, aliás, é bem possível que ela tenha
sido diaconisa.
5. (Rm 16.7) - Era Júnias uma apóstola?
Romanos 16.7 diz: “Saudai Andrônico e
Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os
apóstolos e estavam em Cristo antes de mim”.
Frequentemente os apoiadores do
ministério pastoral feminino utilizarão este texto para provar que Júnias era a
esposa de Andrônico e também apóstola, e afirmam também que ele era apóstolo. Tendo
Júnias como base seria então legal falar de pastora, haja vista que houve
apóstola. Duas coisas precisam ser aqui esclarecidas, primeiro; se Júnias de
fato era uma mulher, e segundo; se essa pessoa assim como Andrônico eram
apóstolos.
O
texto diz que eles eram notáveis entre os apóstolos. O sentido de “entre os
apóstolos” não significa que eles fossem apóstolos, mas sim, que eles eram bem
conhecidos dos apóstolos. Assim
sendo, mesmo Júnias sendo mulher não seria apóstola, assim como Andrônico não o
era. Ademais, Júnias, no grego é iounian,
e segundo o “Novo Testamento grego
analítico” esta palavra é um substantivo no caso acusativo, no gênero
masculino, no número singular. Logo,
Júnias era um homem, amigo e companheiro de Andrônico na obra missionária,
portanto, este texto não pode ser usado com legitimidade pelos igualitaristas.
6. (1 Tm
2.11-15) - Devem as mulheres ficarem caladas nas igrejas?
A mulher
aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça
autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado
Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu
em transgressão. Todavia, será preservada através da sua missão de mãe,
se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso. (1 Tm 2.11-15).
Este possivelmente é o texto mais
conhecido e debatido acerca do ministério pastoral feminino. É fundamental para
o argumento complementarista, e os igualitaristas tentam de vários modos
comprovar que a interpretação correta do mesmo não proíbe o ministério ordenado
das mulheres.
Um dos argumentos igualitaristas
sobre esse texto é que ele não é válido para os nossos dias porque Paulo está
proibindo algumas mulheres que estavam ensinando falsa doutrina na igreja de
Éfeso e portanto, refere-se apenas àquele contexto. Ora, não há nenhum indício
na epístola que corrobore com este ponto de vista, pelo contrário, todas as
vezes que Paulo fala acerca de hereges se refere unicamente a homens:
“...tendo rejeitado a boa consciência, vieram a
naufragar na fé. E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais
entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem” (1 Tm 1.19b, 20).
“Além disso, a linguagem deles corrói como câncer;
entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a
ressurreição já se realizou, estão pervertendo a fé a alguns” (2
Tm 2.17-18).
Assim sendo, o argumento de que mulheres
estavam ensinando heresia na igreja de Éfeso é insustentável.
Outro
argumento igualitarista para este texto é que as palavras traduzidas por
“homem” e “mulher” têm o sentido de marido e esposa, como ocorre em outros
textos. Porém convém observar que quando as palavras podem ser traduzidas por
“marido” e “esposa” elas vêm acrescidas de um pronome possessivo, ou então
claramente o contexto é referente ao casamento. Vejamos alguns exemplos:
1
Coríntios 7.2 (NTLH): “cada
homem deve ter a sua própria (heuatou) esposa, e cada mulher, o seu próprio
(idion) marido”.
1
Coríntios 7.12: “se
algum homem tem mulher incrédula”
(o contexto claramente se refere a casamento.
Efésios
5.22: “As
mulheres sejam submissas ao seu próprio (idiois) marido, como ao Senhor”
O contexto de 1 Timóteo 2 trata
evidentemente de homem e mulher genericamente, ademais seria um tanto estranho
Paulo fazer uma proibição apenas para as mulheres casadas, o que implicaria que
as solteiras poderiam exercer autoridade de homem, desse modo Paulo escreve a
respeito de todos, casados e solteiros.
É dito ainda que na expressão “não permito” no versículo 12 Paulo
utiliza um verbo no presente de indicativo ativo, que pode muito bem ser
traduzido por não estou permitindo agora, pois o presente do indicativo ativo
se refere a ação de quem está praticando o ato naquele momento, no caso em
questão, a ação de Paulo de não permitir que as mulheres ensinassem. E
a justificativa dada pelos igualitaristas é que as mulheres não estavam em
condição intelectual de ensinar o evangelho, mas logo estivessem qualificadas
teriam a devida autorização para tal. Este
argumento se aceito, então deveríamos também considerar como temporário e não
válido para os nossos dias todos os textos em que Paulo utiliza o presente do
indicativo para proibir ou exortar em uma situação específica, não considerando
como válido para os nossos dias, mas com certeza ninguém contestará a validade
atual de textos como 1 Timóteo 2.1: “Antes
de tudo, exorto (parakalô, presente do indicativo) que se use a prática de
súplicas, orações, intercessões, ações de graças em favor de todos os homens”;
Romanos 12.1: “Rogo-vos (parakalô, presente do indicativo), pois,
irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santos e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Em
ambos os casos a exortação de Paulo é válido para todas as épocas, assim como o
que ele coloca em 1 Tm 2.12. O mandamento de Paulo de que as mulheres não poderiam
falar na igreja não é uma proibição temporária.
Vejamos então outro texto que proíbe
as mulheres de exercerem o ministério ordenado de ensino da Palavra de Deus:
Os espíritos dos
profetas estão sujeitos aos próprios profetas; porque Deus não é de confusão, e
sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres
caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas
como também a lei o determina. (1
Coríntios 14.34).
Os igualitaristas acusam os
complementaristas de serem inconsistentes por não obedecerem plenamente a
proibição paulina de que as mulheres devam permanecer caladas nas igrejas.
Os
complementaristas não podem ser tidos como incoerentes a guisa desse texto,
pois a proibição aí expressa não é referente a não poder falar nada. É mais do
que evidente no próprio texto que não há nenhuma proibição ao exercício
feminino no louvor, na oração ou por meio de qualquer fala que não seja o
ensinamento das Escrituras. O texto em seu contexto fala da ordem no culto, de
que uns profetizavam e outros deveriam julgar a profecia. Em tal julgamento o
ensinamento estará contido, como expressamente proíbe que as mulheres ensinem
na igreja, tal proibição refere-se então à interpretação da profecia.
Há um argumento igualitarista que
afirma que o texto em questão por tratar da ordem no culto não pode ser
inferido para o mais na igreja, apenas para o culto, sendo assim, seria
aceitável, por exemplo, uma presidência de igreja feminina. Ora, este argumento
é autodestrutivo, pois a igreja melhor se manifesta em sua essência justamente
no culto. A própria palavra “eklesia” que é traduzida por igreja
tem o sentido de “assembléia, reunião”.
IV. A QUESTÃO CULTURAL NO NOVO TESTAMENTO
1. Como
Jesus tratou as mulheres
Contrariando a cultura de seu tempo
Jesus tratou as mulheres de modo digno a surpreender não apenas a elite
religiosa de sua época, mas também seus próprios discípulos. Era indigno a um
homem, especialmente um profeta, e Jesus era reconhecido como profeta pelo
povo, conversar publicamente com uma mulher, e muito especialmente sendo esta
mulher conhecida como sendo alguém a viver em lascívia. Vemos no capítulo 4 de
João Jesus conversando com alguém assim, desse modo quebrando esta barreira,
assim como quebrando a barreira de dialogar com uma pessoa da região de Samaria.
Jesus também teve mulheres como ajudadoras em seu
ministério. Se dispôs a ir à casa de
Marta e Maria para ensiná-las, episódio que leva alguns igualitaristas a
pensarem que legitima então as mulheres ensinarem na igreja, haja vista que
Jesus as ensinou, estaria indiretamente abrindo precedentes para elas ensinarem
a outras pessoas que não fossem mulheres também. Jesus, sem sombra de dúvida,
tratou as mulheres muito diferente dos seus contemporâneos.
Os igualitaristas, então, argumentam
que em Jesus foi iniciado um processo de emancipação feminina. E se não colocou
mulheres em seu ministério era porque a sociedade ainda não estava pronta para
suportar tamanho radicalismo, mas suas atitudes deixam claro que nada impede
que no futuro as mulheres não poderiam ocupar liderança na igreja. É estranho
usar tal argumento, haja vista que Jesus nunca deixou de fazer aquilo que teria
que ser feito por causa da sociedade ainda não estar pronta. Mais radical do que
ter admitido uma mulher em seu colégio apostólico foi ter chamado a classe
religiosa dominante, fariseus, saduceus e escribas, de raça de víboras, sepulcros
caiados, hipócritas, filhos do diabo, etc. Respondemos a tal argumento que se
Jesus tencionasse que mulheres deveriam ocupar liderança sobre homens em sua
igreja ele sem dúvida teria sim colocado apóstola em seu ministério, nenhum contexto
histórico-social seria capaz de impedir seu radicalismo, que sempre estivera
presente em atitudes e palavras.
Jesus
libertou as mulheres, e esta é uma expressão muito utilizada pelos
igualitários. Mas ao afirmar que Jesus libertou as mulheres não podemos de modo
algum entender que ele agiu conforme a agenda feminista de épocas recentes. Ele
de fato aceitou que mulheres aprendesse aos seus pés, seu ministério era
sustentado financeiramente por mulheres ricas, e até mesmo em sua ressurreição
as primeiras testemunhas eram mulheres. Porém, ele em momento algum disse a
elas que não deveriam ser submissas a seus maridos, nem tampouco recrutou
alguma delas para seu colégio apostólico. Ele libertou as mulheres, mas as
libertou como libertou os homens, como libertou as crianças, como libertou todo
aquele que confessa seus pecados e o recebe como seu Senhor e Salvador, Jesus
as libertou da escravidão do pecado, as libertou para a vida eterna. Ele não
cumpriu uma agenda social feminista, mas cumpriu uma agenda espiritual para o
Reino de Deus.
2. Havia apóstolas
no Novo Testamento?
Há aqueles que afirmam
peremptoriamente que havia apóstolas no Novo Testamento, e citam exemplos como
Febe e Júnias. Como ficou demonstrado acima, não se tratava em hipótese alguma
de apóstolas. Ademais, quando foi necessário haver uma substituição apostólica
para a vacância de Judas, os apóstolos poderiam muito bem aproveitar a
oportunidade de pelo menos apresentar uma mulher como candidata, se de fato
houvera sido essa a intenção de Jesus. No entanto, nenhuma é mencionada como
candidata ao apostolado, assim como o Novo Testamento não faz nenhuma menção de
apóstola ou de qualquer mulher que exercesse ministério de Ensino da Palavra.
3. O
parecer do apóstolo Paulo
Alguns afirmarão que o apóstolo
Paulo proibiu as mulheres de falarem na igreja por ser machista e estar
grandemente influenciado pela cultura machista e patriarcal de sua época. Não
nego que o apóstolo viveu em uma cultura machista, mas nego com base na
inspiração das Escrituras, de sua inerrância e infalibilidade que aquilo que
Paulo escreveu não apenas expressava sua opinião, mas era a vontade de Deus
revelada ao seu povo de como a igreja deveria proceder quanto à ordenação de
líderes para Sua igreja. Afirmar que Paulo
escreveu meramente uma opinião machista é indiretamente negar a inspiração
bíblica e desobedecer ao que ele escreve é não aceitar plenamente a autoridade
das Escrituras.
A bem da verdade, Paulo proibiu que
as mulheres ensinassem na igreja não com base em “seu suposto machismo”, mas
utilizou um argumento teológico para tal. Vejamos
o texto: “A mulher aprenda em silêncio,
com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade
de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão,
depois, Eva” (1
Tm 2.11-13). Paulo utiliza claramente de argumentação teológica para coibir o
ministério ordenado feminino. Ele retrocede à criação para provar que a
liderança deve estar no gênero masculino, não por ser um produto de cultura de
época, mas por ser um princípio divino tanto no lar como para a igreja. Portanto, afirmar que Paulo disse o que disse, meramente
influenciado pelo seu contexto cultural é negar o próprio texto que não
menciona o costume da época. Paulo poderia
perfeitamente apelar como base para sua argumentação para aquilo que era
aceitável na sociedade, mas ele volta-se para como as coisas eram no princípio.
4.
Ministério feminino e seu contraponto com a escravidão
Outro
argumento que leva em conta a questão cultural utilizado frequentemente pela
corrente igualitarista é que no Novo Testamento não há uma proibição taxativa
para a escravidão, porém, o evangelho coloca princípios, como a igualdade entre
as pessoas em Cristo, baseados em textos como Gl 3.28: “Dessarte, não pode
haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque
todos vós sois um em Cristo Jesus”,
para afirmar que assim como foi minada as bases da instituição escravocrata,
também no que concerne ao ministério feminino, já que entendem homens e
mulheres são iguais, também concede abertura para que no futuro a igreja
admitisse o ministério feminino ordenado. Mas algumas observações então devem
ser feitas.
Primeiro: Deus nunca ordenou a escravidão, e também
por isso a Sua Lei a delimita e regulamenta. Ainda no Antigo Testamento vemos o
Senhor usar de Sua graça legislando a favor dos escravos, colocando um limite
de duração para sua servidão (Dt 15.12-18; Lv 25.39-43). Por outro lado Ele
ordenou a liderança espiritual dos homens, e em momento algum delimitou o tempo
de duração dessa liderança.
Segundo: Paulo diz aos escravos em 1 Coríntios 7.21: “Fostes chamado, sendo
escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre,
aproveita a oportunidade”. No entanto,
em momento algum ele incentiva as mulheres a aproveitar oportunidades de se
desvencilhar da autoridade do marido ou do presbítero da igreja.
V. REQUISITOS PARA O MINISTÉRIO PASTORAL
Fiel é a
palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário,
portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante,
sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não
violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem
a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois se
alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não
seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do
diabo. Pelo
contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não
cair no opróbrio e no laço do diabo. (1
Tm 3.1-7).
A Palavra de Deus mostra claramente que para aqueles
que almejam o ministério pastoral se faz necessário a presença de alguns requisitos
em sua vida. Alguns desses requisitos podem estar presente na vida de qualquer
cristão independentemente de gênero, porém, há outros que indubitavelmente será
impossível estar presente nas mulheres. Vejamos
então quais são:
1. Apto
para ensinar
Já ficou demonstrado a proibição
bíblica de as mulheres ensinarem na igreja congregada formada por homens e
mulheres. Biblicamente, elas não podem exercer na igreja autoridade sobre os
homens no que tange ao ensino da Palavra e a governo da igreja. Se biblicamente
elas não podem ensinar aos homens na igreja fica então evidente a impossibilidade
de elas cumprirem esse requisito para o exercício do ministério pastoral.
2. Que
governe bem a própria casa
O pastor tem a atribuição de governo,
de exercício de autoridade na igreja. De igual modo, a Palavra coloca o homem
no lar como sendo o líder da família, é ele quem deve governar a família e isto
é um mandamento bíblico (Cl 3.18; 1 Pe 3.1). Se
a mulher não pode de modo algum governar a própria casa sem que esteja pisando
a autoridade de seu marido, como pois ela poderá governar a igreja de Deus?
Além destes dois requisitos acima mencionados
que logicamente impedem que as mulheres exerçam o ministério, não encontramos
nenhum exemplo bíblico de mulheres que exerciam ministério ordenado da pregação
da Palavra nas Escrituras e nenhuma abertura para que viesse a suceder tal
prática para as épocas pós-testamentárias. Absolutamente não há como defender
coerentemente o mistério pastoral feminino com base nas Escrituras.
VI. AS IGREJAS CONTEMPORÂNEAS SOB INFLUÊNCIA
PÓS-MODERNA
As igrejas
dos nossos dias vivem dentro de um contexto sócio-cultural pós-moderno. O
pós-modernismo invariavelmente influenciará todas as instituições de nossa
época, e lamentavelmente a igreja não está imune a ele. Características do
pós-modernismo são o relativismo da verdade, a pluralidade religiosa, o
pensamento débil, etc. No relativismo da verdade, é proclamada que não existe
uma verdade fixa e universal, a verdade é produto da cultura. E quem então poderá
afirmar que uma cultura “A” de fato está com a razão em detrimento daquilo
apregoado pela cultura “B”? Os indivíduos entendem então que tem o direito à
sua própria verdade. O que conta então são os sentimentos e a aceitação daquilo
que é agradável, não a verdade objetiva, esta aliás para o pós-modernista não
existe, ainda que ele não tenha este entendimento intelectual, viverá isto na
prática. Exemplo disto no que concerne à igreja é que diante da mensagem do
evangelho as pessoas dizem “esta é a sua verdade” ou acerca da Bíblia “esta é a
sua interpretação” sentindo-se então à vontade para rejeitar a verdade revelada
de Deus.
No
arcabouço do pós-modernismo está o pragmatismo que apregoa a importância dos
resultados, os fins é o que de fato conta independentemente dos meios. Para o
pragmático, deve ser considerado verdadeiro, e deve ser aceito as idéias,
crenças ou hipóteses que dão certo, que funcionam.
1. Uma
igreja pragmática
O
reflexo na igreja do pragmatismo que faz parte do pensamento pós-moderno dos
nossos dias é a adoção por parte de muitos, daquilo que produz resultado para
encher os templos. Com esta meta em vista será adotada as estratégias mais
estranhas e absurdas para atrair as pessoas à igreja. No âmbito neopentecostal
o sincretismo religioso estará presente, a mistura de práticas do catolicismo
romano, do espiritismo, do candomblé e evangélicas estarão presentes ao mesmo
tempo para satisfação das massas que estão em busca de crescimento financeiro,
solução de problemas familiares, cura de enfermidades e alívio de sofrimento.
Dentro desse contexto, expressões constrangedoras como “arrependimento”,
“confissão de pecados”, “santificação”, “compromisso com Jesus”, “sofrer por
amor a Cristo”, “salvação”, “inferno” e semelhantes, estão descartadas, pois
não cabe em seu marketing. O evangelho então pregado não é o evangelho do
Senhor Jesus Cristo e aqueles que estão buscando tais igrejas não estão buscando
ser discípulos de Cristo e as mesmas igrejas não são de fato igrejas de Cristo.
Fora
do ambiente neopentecostal, mas também influenciado por eles encontramos
igrejas históricas que adotam o pragmatismo em sua agenda litúrgica. O culto
muitas vezes é realizado com uma centralidade humana, o louvor nestes cultos
deve estar dentro de um padrão que agrade a platéia, a pregação não necessita
necessariamente ser de uma exposição bíblica, o importante é falar sobre “os
cinco passos que produzem vitória ou crescimento na vida”. A Teologia nessas
igrejas é humanista, não teocêntrica, logo, é desconcertante falar de soberania
divina em sentido absoluto, é desconcertante falar de predestinação, de decreto
divino. Há uma influência pragmática muito grande também no que diz respeito ao
ministério pastoral.
Os
pastores nessas igrejas em sua maioria buscam viver um sucesso ministerial. No
entendimento deles sucesso ministerial é pastorear uma igreja com muitos
membros, na qual a entrada financeira seja de alto valor. Em busca desse
suposto sucesso se fará de tudo para agradar ao povo de “sua” igreja, desde a
realização de um culto centralizado no homem, no qual de fato Deus não é
glorificado, onde a Palavra de Deus pouco ou nada dela é pregada, até a
consagração de pastoras que a igreja esteja acompanhando a moda de sua época.
Para eles a igreja tem que ser moderna, não pode ficar com pensamentos
retrógrados.
2.
Ministério feminino: fruto do pragmatismo
Por
que as pessoas aceitam o ministério pastoral feminino? Qual é de fato a base para sua aceitação? Em
última instância a maioria das pessoas dará respostas que se baseiam na realidade
da igreja dos nossos dias, enquanto pouquíssimas de fato buscarão basear sua
aceitação nas Escrituras.
A igreja
influenciada pelo movimento feminista admitirá o ministério pastoral feminino
não porque seja bíblico, mas porque se torna então uma igreja mais eclética e
fácil de ser aceita pela sociedade. Trata-se apenas de ceder ao apelo social de
conceder espaço às mulheres em todos os sentidos. Facilmente será usado
argumento acerca da capacidade feminina, de sua sensibilidade, de sua humildade
em servir; mas novamente a aceitação estará baseada em outra coisa que não as
Escrituras.
Algumas mulheres aceitam serem pastoras e algumas igrejas vêem isto como
sendo muito interessante por serem esposas de pastores e portanto estarão
auxiliando seus maridos no ministério. É a busca pela facilitação no serviço do
Reino de Deus, é a tendência para admitir aquilo que dar certo para o serviço
da igreja. Mas perguntamos: É correto aceitar o que dá certo, mas que não é
bíblico? Outrosim as esposas podem auxiliá-los excepcionalmente sem
necessariamente também serem pastoras, e também por terem seus maridos pastores
não devem sofrer a pressão da igreja para que estejam envolvidas em todas as
atividades da igreja. Exigir isto delas é injusto e opressivo, é uma atitude de
desamor da igreja para com elas, pois devemos desenvolver nossos dons com amor
voluntário, não por constrangimento.
Sem
dúvida há uma crise de vocação em nossos dias e algumas pessoas poderão dizer
que se os homens não estão respondendo ao chamado divino para o ministério,
então as mulheres o fazem. Tal argumento é até mesmo indigno para as mulheres, não
as trata com justiça e respeito, pois as coloca meramente como “tapa buracos”.
Coloca-se a possibilidade, à parte do que diz as Escrituras, que se há na
igreja uma crise, se há falta de homem para o exercício do ministério ordenado,
então é totalmente aceitável que uma mulher seja consagrada ao ministério
pastoral. Porém, mais uma vez vemos um argumento com base pragmática, que
dispensa a fé na providência divina, e busca a solução diante de uma crise
contrária à orientação bíblica.
Afirmo então que o ministério pastoral feminino nada mais é do que uma
novidade pós-moderna pragmática sem suficiente base nas Escrituras. As igrejas
que estão aderindo a esta novidade que contraria os princípios bíblicos estão
pecando por deliberadamente ir contrário à vontade revelada do Senhor para Sua
igreja.
VII. PASTORAS EM ATIVIDADE
Ao concordar que o ministério feminino é
antibíblico, logo, estamos diante de um problema prático, pois a maioria das
denominações consta com pastoras em seu rol de ministros. No Brasil, em nível
nacional, dentre essas denominações encontram-se a Convenção Batista
Brasileira, a Convenção Batista Nacional, a Convenção Batista Independente, a
Assembléia de Deus e várias “igrejas” neopentecostais, e pequenas igrejas
pentecostais, onde esta prática se faz muito acentuada. Algumas perguntas precisam
ser respondidas. Como tratar as pastoras que estão em atuação? Seu ministério
deve ser reconhecido? Como elas se sentem diante dessa questão e diante da
crítica complementarista ao seu ministério?
Acredito
que independentemente de quaisquer posições teológicas a respeito desse tema
todos os pastores devem olhar as pastoras com o respeito cristão que lhes é
devido. A posição daqueles que não concordam com o ministério pastoral feminino
não deve ser de segregação, acredito que esta seria uma atitude anti-cristã. Podemos
conviver em harmonia mesmo havendo discordância teológica a respeito desse tema.
Cada pastor tem a plena liberdade de permitir ou não pastoras pregando no
púlpito da igreja à qual ele está responsável. De igual modo os igualitários
devem respeitar a posição complementarista. Obviamente um dos lados do debate
está certo e o outro errado, mas este debate, tanto em sua forma acadêmica,
quanto na prática da igreja deve ser realizado em amor cristão.
A
segunda pergunta aqui exposta não pode ser menosprezada a questão de pequena
importância, e na verdade extrapola o intento deste escrito sua abordagem,
defendo apenas que cada pastora ou candidata ao ministério pastoral tenha plena
liberdade de expressar sua opinião, especialmente em ambiente acadêmico de
seminário maior de teologia.
1. Vocacionada
para o ministério?
Um
argumento muito comum dos igualitaristas é que se uma mulher é chamada para o
ministério certamente recebeu dons da parte de Deus para seu exercício e
portanto, ninguém tem o direito de bloquear o exercício desses dons. As
pastoras em atuação certamente testemunharão acerca de seu chamado e muitas
delas são servas de Deus sinceras e desejam agradar ao Senhor. Algumas
colocações então devem ser dadas consoantes a esta realidade contemporânea da
igreja. Estou convencido de que a Palavra de Deus designa o ministério ordenado
do pastoreio das ovelhas do Senhor a homens a quem o Senhor escolhe e capacita.
Os textos bíblicos já discutidos provam isso. Sendo assim, pergunto: Como então
Deus vocacionaria mulheres a desobedecerem à sua Palavra? A resposta a esta
questão é que elas não foram vocacionadas pelo Senhor. Assim como muitos homens
se enganam pensando ter um chamado de Deus para o ministério, o mesmo ocorre
com todas as mulheres que adentram ao ministério. O seu suposto chamado pode
ter sido um chamado para ela servir no Reino de Deus em outra atividade
ministerial que não seja o pastorado. Defender o pastorado feminino meramente
baseado em um chamado subjetivo é colocar a experiência pessoal acima das
Escrituras, atitude comum de uma cultura pós-moderna e pragmática. No entanto,
certamente estará presente argumentos na defesa do ministério feminino
apontando a eficiência de algumas pastoras, seu desempenho ministerial bem
sucedido, o fato de elas serem boas pregadoras, de serem usadas por Deus para
abençoar muitas vidas, porém mais uma vez isto é apenas apontar para os
resultados, portanto um argumento pragmático, que é como segue:
1. A pastora Eugênia (nome fictício) tem um ministério
muito abençoado.
2. Um ministério abençoado tem a aprovação de Deus.
3. Logo, Deus aprova ministério pastoral feminino.
Ministério abençoado no conceito pós-moderno é ministério com grande
vantagem financeira, onde a pessoa tenha elevado status, e a igreja tenha sua
bancada lotada. Biblicamente, porém, isto é sem fundamento. O apóstolo Paulo
sofreu muito; foi apedrejado, traído por falsos irmãos, humilhado, sofreu
naufrágio, foi preso; no entanto não há dúvida de que seu ministério foi
abençoado no sentido bíblico do termo.
VIII. A MULHER NO SERVIÇO DO REINO DE DEUS
1. Uma
grande contribuição ao reino
Dede
o início da igreja neotestamentária a mulher esteve presente na igreja de forma
marcante. Esteve presente no ministério de Jesus, assim como em sua
ressurreição. Ademais ele veio ao mundo por meio de uma mulher. Na história da
igreja vemos sua presença marcante na obra missionária. Na grande obra
missionária dos irmãos morávios havia em seu meio muitas mulheres como
missionárias. No final do século XVIII e início do XIX houve um avivamento na
Inglaterra e nos Estados Unidos, dentre os líderes cristãos daquela época
encontramos João Wesley. Este homem teve uma mãe notável, Susana Wesley, uma
serva fiel do Senhor que passava muitas horas em oração. Costumava dirigir uma
reunião de oração à qual comparecia umas duzentas pessoas.
No século
XIX duas escritoras foram usadas por Deus de modo singular ao escreverem livros
que impactavam as pessoas a buscarem uma vida de santidade. Trata-se de Phoebe
Palmer e Hannah Whital Smith. A primeira escreveu “The Way of Holiness” (O caminho da santidade), e a segunda “O
segredo de uma vida feliz”.
Dos
missionários enviados à china, dois terços eram de mulheres, e lá foram usadas
por Deus para a redenção de muitas vidas.
São apenas
alguns exemplos, a história da igreja está repleta deles, que provam o quanto
as mulheres foram úteis no serviço do Reino de Deus, de modo especial na obra
missionária.
E
quanto aos nossos dias, alguém poderia perfeitamente formular a pergunta do que
é bíblico conceder espaço a mulher na igreja.
2. A mulher
na igreja hoje
Primeiramente
se faz necessário a observação que a classe feminina é a grande maioria na
igreja dos nossos dias. Mas afinal, o que seria indiscutivelmente bíblico na
atuação feminina na igreja, o que elas podem fazer?
O
ministério feminino não ordenado tem bastantes oportunidades de a mulher servir
ao Senhor na igreja. Ela poderá servir como diretora de educação cristã, superintendente
da Escola Bíblica Dominical, missionárias, diretora de conjuntos de louvor como
coral, direção do louvor no culto dominical, diaconato, tesoureira, secretária
da igreja, aconselhamento formal, leitura pública das Escrituras, oração
pública, dirigente de Círculo de Oração, etc. Ou seja, a mulher não necessita
ser pastora para servir ao Senhor, há muitas oportunidades de trabalho na
igreja.
Há
algumas perguntas que poderiam ser consideradas polêmicas que necessitam de
respostas. São elas: As mulheres podem ensinar a Bíblia para homens, se pode,
em quais casos? As mulheres podem pregar? Podem ser diaconisas?
O
contexto de 1 Tm 2.12 é o proceder correto no culto público. Vemos na Bíblia
momentos nos quais mulheres ensinaram ocasionalmente a homens em particular.
Desse modo nenhum impedimento bíblico há para o ensino ocasional em particular.
Não vejo nada que impeça a mulher de ensinar a Bíblia em um seminário de teologia,
pois neste ambiente embora os presentes constituam a igreja, não se trata de um
culto público, a igreja não está reunida para cultuar.
Em
momento algum vemos pregadoras nas Escrituras. Deus sempre nomeou homem para
pregar a Palavra. No Antigo Testamento, Miriã, Débora e Hulda eram profetisas,
mas não pregaram. No Novo Testamento não havia apóstolas e os pastores
(presbíteros) foram sempre do gênero masculino. A instrução para o futuro é que
eles deveriam ordenar homens para a função da pregação e ensino da Palavra: “E o que minha parte
ouvistes através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e
também idôneos para instruir a outros”
(2 Tm 2.2).
“Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes,
bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:
alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher...” (Tt
1.5-6). Há momentos em que biblicamente as mulheres têm autorização para
ensinar, quando o público for constituído por mulheres ou a reunião for tipicamente
feminina na qual a mensagem é voltada para as mulheres, desde que esteja sob a
autoridade do pastor ou presbítero que delimitando sua atuação, e poderá fazer
as devidas correções se necessárias forem.
Quanto
se as mulheres podem ser diaconisas é necessário termos baste cautela a
respeito.
3. Mulheres
como diaconisas
Na instrução
sobre as qualidades exigidas para o diaconato o apóstolo Paulo fala a respeito
de mulheres:
“Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respitáveis,
não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo” (1 Tm 3.11). Há
quatro interpretações debatidas para esta assertiva. Primeira, “quanto a
mulheres” está se referindo às mulheres dos diáconos. É pouco provável que esta
seja a interpretação correta, pois ele utiliza a expressão “é necessário”,
utilizada também para introduzir as qualificações dos presbíteros e dos
diáconos (v. 2 e 8). Segunda, Paulo pode estar se referindo a todas as mulheres
da igreja. Também pouco provável, por que afinal ele colocaria instruções para
todas as mulheres justamente entre as instruções para os diáconos? Terceira,
ele se refere às assistentes dos diáconos. É a interpretação mais plausível,
porque certamente havia mulheres piedosas que ajudavam os diáconos em suas
atividades. A quarta interpretação é que ele se refere a diaconisas.
Possivelmente não está correta porque Paulo não emprega o termo apropriado para
descrever a função daquelas mulheres, ele não as chama de diaconisas.
Independentemente de qual interpretação de fato seja a correta, fato é
que havia mulheres que exerciam uma ativada de assistência na igreja. E com
certeza poderiam fazer um trabalho diaconal para com as outras mulheres, melhor
do que os homens. A atividade delas de fato era uma atividade diaconal. O
diácono não é responsável pelo ensino da Palavra de Deus à igreja, nem tampouco
é responsável pela administração da igreja. Nas igrejas então que estiverem
dentro desses parâmetros não vejo nenhum impedimento para que haja diaconisa
ordenada, uma vez que não há unanimidade quanto ao texto de 1 Tm 3.11. Ademais,
é muito provável que de fato Febe tenha sido uma diaconisa, se não foi
diaconisa ordenada, mas com certeza exerceu uma atividade diaconal: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está
servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos
santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido
protetora de muitos e de mim inclusive” (Rm 16.1-2).
IX. MULHERES, MINISTÉRIO FEMININO E A HISTÓRIA DA IGREJA
A
tradição cristã, e a história da igreja devem ter um valor para nós, não um
valor normativo acima da Palavra como faz a Igreja Católica Romana. É
importante ressaltarmos que somente a partir do século XX o ministério feminino
começou a ser levado em conta. Caso o ministério feminino fosse aprovado por
Deus, significaria que durante dezenove séculos a igreja encontrava-se em
pecado a respeito desse assunto por não admitir o admiti-lo, ou então, ela
estava correta e o ministério feminino é uma novidade de nossa época
pós-moderna, que logo então a igreja é que se encontra em pecado nesse item no
presente. Fato é que não podemos menosprezar dezenove séculos de produção teológica
da igreja com seus credos e seus teólogos de renome. Vejamos então um pouco de
história no que diz respeito ao ministério feminino e às mulheres.
1. A igreja
antiga
Evidentemente
que na igreja antiga não encontramos muita discussão a respeito desse tema,
podemos fazer referência a rápidas citações de alguns teólogos. CIPRIANO (9
vols.) 5:546 em meados de 258 declara: “Uma mulher deve ficar calada na igreja” (DORIANI, DAN, 2009, p. 155). Segundo Dan Doriani
(op. cit.) Tertuliano embora tenha concedido algum direito ministerial às
mulheres limitou sua participação pública ensinando que elas deveriam estar sob
obediência. Já Orígenes foi mais radical:
Se a filhas de Filipe profetizaram, pelo
menos elas não falaram em assembléias, pois não encontramos esse fato como
evidência em Atos dos Apóstolos. Muito menos no Antigo Testamento. Diz-se que
Débora foi profetisa... Não há prova de que Débora tenha entregado mensagens ao
povo, como fizeram Jeremias e Isaías. Hulda, que foi profetisa, não falou ao
povo, mas somente a um homem, que a consultou em sua casa. O próprio evangelho
menciona uma profetisa Ana... mas ela não falou publicamente. Mesmo se for
concedido a uma mulher o... profetizar, assim mesmo ela não é permitida falar
numa assembléia. (DORIANE, DAN, 2009, p. 155).
2. Jerônimo
Jerônimo,
que viveu de 331 a 420, teve duas discípulas de destaque, Paula, uma
aristocrata romana enviuvada que aprendeu hebraico magnificamente, e veio a
ensinar mulheres em um mosteiro próximo ao de Jerônimo. A outra era Marcella, que
após ficar viúva se dedicou a castidade e ao ascetismo. Estava sempre
aprendendo com Jerônimo e foi muito útil na luta contra hereges desafiando-os
até para debates públicos. Ela reconhecia a autoridade de Jerônimo e sempre
fazia referência a ele, o próprio embora admirasse sua discípula em momento
algum tencionou ordená-la ao ministério do ensino.
3. Crisóstomo
Crisóstomo
(345-407) assume uma posição de que as mulheres deveriam ficar caladas na
igreja, e fala acerca delas com expressões que discordamos, chega mesmo a dizer
que as mulheres são inferiores aos homens, menospreza sua inteligência e
capacidade de liderança. Levado pelo zelo escriturístico afirma absurdos que
não podemos concordar.
4. A Idade
Média
Neste
período encontramos uma figura interessante, uma abadesa ou prioresa
beneditina, Hildegard, no século 12 (1099-1179). Esta mulher foi conselheira de
quatro papas, dois imperadores e o patriarca de Jerusalém. Aos quarenta e três
anos afirmou ter tido uma visão e ouvido uma voz que a mandou falar e escrever.
Podemos afirmar que a discussão acerca da ordenação de mulheres se inicia
quando Hildegard começou a publicar suas visões.
O
grande teólogo Tomás de Aquino (1225-1274) se colocou contrário ao exercício da
mulher ensinar as Escrituras. Sobre Tomás de Aquino Dan Doriani escreve: “Ele diz que mulheres dificilmente
tem mão firme, que são facilmente influenciadas, que não perseguem conselhos da
razão” (DORIANE, DAN,
2009, P. 161). Mas o mesmo autor explica que a intenção de Tomás de Aquino era
também mostrar que muitas mulheres fogem a essa generalizações.
Duns
Scotus (c. 1266-1308), ao concordar que as mulheres não devem ser ordenadas ao
ministério não apresenta nenhuma prova para tal, apenas confia cegamente que a
igreja está certa ao agir assim, ou seja, que certamente a igreja está agindo
de acordo com a vontade de Deus. Ele na realidade acreditava que até seria
benéfico à igreja mulheres no ministério, contudo entendia que a vontade de
Cristo era justa.
Havia
a proibição de as mulheres ensinarem oficialmente na igreja na Idade Média,
porém os movimentos sectários como valdenses e hussitas davam permissão as
mulheres para ensinar e ou pregar. Os valdenses embora não admitissem que as
mulheres de seu movimento pregavam, permitia que ensinassem, o que em sua
prática acabava sendo o mesmo. Os hussitas admitiam as mulheres como
pregadoras.
5. Na
Reforma
Embora
as bases teológicas da Reforma tenha sido a sola
Scriptura, sola fidei, sola gratia,
temas secundários da teologia afetavam diretamente a vida de todas as pessoas.
E evidentemente a questão do ministério feminino teve de ser pensado.
Para
Lutero (1483-1546) as mulheres não poderiam exercer ministério ordenado. Além
de sua argumentação bíblica de que 1 Timóteo 2 proíbe as mulheres de ensinar no
culto público e de o homem ser o cabeça da mulher como diz 1 Coríntios 11.3,
ele enfatizou que as mulheres não poderiam pregar por ter menos capacidade e
raciocínio lógico que os homens. Ademais, ele também ensinou que o pecado
entrou no mundo por culpa de Eva, não de Adão, e que portanto, a sujeição da
mulher faz parte do castigo dado por Deus a ela. O homem é o líder no lar e na
igreja porque foi Deus quem ordenou quem assim fosse.
João
Calvino (1509-1564) era da posição de que as mulheres foram criadas para
obedecer e falava de algum tipo de inferioridade delas. Os exemplos bíblicos
nos quais é encontrado mulheres governando ou profetizando ele afirma que os
mesmos serviam para humilhar os homens e que Deus em sua soberania tinha este
direito de em dados momentos quebrar sua própria regra. Dede o início a sujeição
da mulher era natural, se tornou desagradável a ela a partir do pecado.
6. Os
puritanos
Com
os puritanos ocorre um pouco de evolução quanto ao tratamento justo pra com as
mulheres. Embora alguns deles realmente ensinassem que os homens são
superiores, a maioria deles enfatizou que os homens lideram devido a necessidade
de ordem. Deus organizou a sociedade de modo que possa governar o mundo por
meio de magistrados e súditos, ministros e igrejas, esposos e esposas, pais e
filhos, mestres e servos. Ensinavam o respeito para com a consciência das
mulheres, e não viam nenhum problema de os homens consultar suas esposas em
suas decisões.
A segunda
esposa de George Fox, Margaret Fell, publicou em 1666 um folheto com o título: “A fala de mulheres justificada, provada e
permitida pelas Escrituras”, era então um panfleto protofeminista.
7. No século
XIX
Neste
século paralelamente às lutas sociais pelos direitos da mulher, transformações
ocorreram também na igreja. As mulheres começaram a ter mais oportunidade como
dar aulas, participar de atividades sociais, escrever hinos e trabalhar em
campos missionários. Inicialmente trabalhavam com mulheres, mas aos poucos
devido à necessidade ocasionalmente falavam para homens. Escritoras feministas
cristãs começaram a publicar suas idéias. Dentre elas destacam-se Catherine
Booth, Frances Willard e Katherine Bushnell que escreveram idéias que se
tornaram base para o pensamento igualitário. Dan Doriani as cita:
·
condições sociais temporárias levaram Paulo a proibir
mulheres de ensinar;
·
a proibição contradiz outras partes das Escrituras;
·
os homens lêem as Escrituras seletivamente a fim de
conservar as mulheres em posição subordinada;
·
nega-se a distinção entre ensino público e particular,
de modo que o ensino particular e a profetização por mulheres nega a proibição
de Paulo sobre ensinar e pregar em público. (DORIANI, DAN, 2009, P. 161).
Por
esta época estava em atuação o teólogo Charles Hodge (1779-1878), que
argumentou que ordem e subordinação permeiam o universo inteiro e é fundamental
para sua existência. Afirmou a subordinação feminina, mas provando que isso não
implica inferioridade, para tal utilizou-se do exemplo na Trindade onde o Filho
é subordinado ao Pai, mas igual em natureza.
Este
apanhado histórico é útil para percebermos que na história da igreja o
ministério feminino ordenado nuca esteve presente, logo, se ocorre em nossos
dias, historicamente se trata de uma novidade. É verdade que uma antiga
tradição pode ser meramente um antigo erro. É bem verdade também que a igreja
sempre cometeu seus erros teológicos, em todas as épocas houve heresias contra
as quais ela teve que lutar, talvez por conta disso alguém argumente que
proibir o ministério feminino ordenado tenha sido na história da igreja um
desses erros. Concordo que em alguns momentos teólogos como Lutero e Calvino
tenham falado erradamente acerca de inferioridade feminina, mas temos de
compreender seu sitz in leben. Mas
utilizavam sempre as escrituras, e o que não pode ser admitido é uma
argumentação igualitária que não seja a partir das Escrituras.
CONCLUSÃO
Em
matéria de fé e prática tradicionalmente as igrejas evangélicas têm desde a
Reforma, afirmado que a Bíblia é sua única regra. O que significa que por ela é
que devem ser decididas todas as questões sobre a vida da igreja. Porém
percebemos que ela é muitas vezes desconsiderada de acordo com a conveniência
pragmática dos nossos dias. Também ocorre que mesmo tomando a Bíblia em grande
estima, buscando até por ela se basear, muitos incorrem em erro doutrinário por
falta de uma exegese e uma hermenêutica realmente neutra de preconceitos, pelo
menos até onde isso for possível.
A
questão do ministério feminino deve ser decidida à luz das Escrituras, o que na
prática muitos não o fazem. A Palavra de Deus em nenhum momento ordena ou
aprova o ministério pastoral feminino. Trata-se então de aceitar ou não a
autoridade das Escrituras. A verdade é que coerentemente não se pode sustentar
que a Bíblia é a única regra de fé e prática, se estamos conduzindo a prática
da igreja de acordo com o senso comum, pois é exatamente isso que os
igualitaristas fazem quanto a esta questão. De fato esta é uma posição
desconfortável para todos, mas mesmo as coisas sendo assim, tenho a certeza que
é o melhor, não apenas para a vida da igreja como também de todas as mulheres
que acreditam ter uma vocação para o pastorado. Sem dúvida é necessária muita
humildade da parte delas para se submeter a algo que contraria seus anseios
pessoais, mas a obediência à Palavra conquanto geralmente não seja fácil,
sempre é a melhor escolha.
A
igreja de nossos dias tem pecado contra o Senhor, é tempo de ela retornar à
Palavra.
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