Introdução
Os mandamentos revelam a vontade de
Deus para um relacionamento saudável com o Senhor e com o próximo. São válidos
para nossas vidas como princípios éticos fundamentais explicados e expandidos
por Jesus no Novo Testamento. Uma forma correta de interpretar um mandamento
bíblico é verificar seu lado proibitivo e modo positivo como ele pode ser
concretizado em nossas vidas.
O décimo mandamento é uma proteção
em nossas vidas contra a cobiça desmedida, portanto contra a inveja.
A palavra inveja é muitas vezes
confundida em seu significado com ciúme. E realmente tem um sentido prático
muito próximo. Segundo o dicionário Aurélio inveja é: 1
Desgosto pelo bem alheio. 2 Desejo de possuir o que outro tem (acompanhado de
ódio pelo possuidor). Ciúme então segundo o
Aurélio é: 1 Receio ou
despeito de certos afetos alheios não serem exclusivamente para nós. 2 Inveja. 3
Receio.
Ou seja, apresenta-os como sinônimos com pequenas diferenças.
Então poderíamos dizer que o ciúme é
cobiça pela riqueza e a honra do outro, a inveja é algo que se faz acompanhar
de rancor. A inveja não é
necessariamente querer para nós mesmos, mas simplesmente querer que seja tirado
do outro.
Os termos bíblicos que encontramos
para esse sentimento são:
Chamad –
Palavra hebraica que é traduzida por cobiça. Tem o sentido de “possuir no coração uma intenção oculta que
mais tarde se manifesta em ações concretas de furto e roubo” (Reifler,
2009).
Pleonexia – Palavra
grega que traz o sentido de “desejo
incontrolável de possuir o mundo e seus bens materiais, poder, influência e
prestigio” (Reifler, 2009).
Philarguria – “Amor desordenado pelo mundo” (Reifler,
2009).
Epithumia –
Também do Novo Testamento, é traduzida por “cobiça,
intenção impura, ambição, desejo intenso, desejo ardente, aspiração”
(Reifler, 2009).
I – Textos bíblicos proibitivos do A. T.
No Antigo Testamento há muitos
textos que apresentam a versão inibidora e crítica do décimo mandamento.
Mencionaremos apenas alguns.
Observemos que desde o Gênesis este
sentimento maligno tenta o ser humano, Gênesis 3.6 descreve suas
características principais: influencia o paladar, é agradável á vista e afeta a
mente: “Vendo a
mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore
desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao
marido, e ele comeu”.
Números 11.4 descreve a cobiça do
povo de Israel em voltar a comer as comidas egípcias, quando murmuraram contra
o Senhor porque desejam comer carne: “E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande
desejo das COMIDAS dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar
e também disseram: Quem nos dará carne a comer?” Vemos no contexto que mesmo tendo sido abençoados
pelo Senhor com a providência do maná, mostravam-se insatisfeitos. O cobiçoso normalmente será ingrato, não
reconhecerá o que o Senhor já fez por ele.
2 Samuel capítulo 11 nos mostra Davi
cobiçando Bate-Seba e o resultado disso foi a quebra também do sétimo e do sexto
mandamentos. Ele adulterou e depois assassinou. Esse texto deve nos fazer
refletir que a cobiça pode começar de
modo muito sutil, mas pode vir a dominar o coração e levar a consequências
desastrosas.
Um texto bastante lembrado é o da
cobiça de Acabe pela vinha de Nabote em 1 Rs 21.1-7:
“1Sucedeu,
depois disto, o seguinte: Nabote, o jezreelita, possuía uma vinha ao lado do
palácio que Acabe, rei de Samaria, tinha em Jezreel.
2Disse
Acabe a Nabote: Dá-me a tua vinha, para que me sirva de horta, pois está perto,
ao lado da minha casa. Dar-te-ei por ela outra, melhor; ou, se for do teu
agrado, dar-te-ei em dinheiro o que ela vale.
3
Porém Nabote disse a Acabe: Guarde-me o SENHOR de que eu dê a herança de meus
pais.
4
Então, Acabe veio desgostoso e indignado para sua casa, por causa da palavra
que Nabote, o jezreelita, lhe falara, quando disse: Não te darei a herança de
meus pais. E deitou-se na sua cama, voltou o rosto e não comeu pão.
5
Porém, vindo Jezabel, sua mulher, ter com ele, lhe disse: Que é isso que tens
assim desgostoso o teu espírito e não comes pão?
6 Ele
lhe respondeu: Porque falei a Nabote, o jezreelita, e lhe disse: Dá-me a tua
vinha por dinheiro; ou, se te apraz, dar-te-ei outra em seu lugar. Porém ele
disse: Não te darei a minha vinha.
7
Então, Jezabel, sua mulher, lhe disse: Governas tu, com efeito, sobre Israel?
Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o
jezreelita”.
Nos
vv. 8-16 vemos o trágico desfecho dessa história, como Jesabel consegue de modo
maligno que se levante falsa acusação contra Nabote e consequentemente a sua
condenação à morte. A cobiça desenfreada
leva invariavelmente as pessoas a quebrarem outros mandamentos.
Em Provérbios encontramos: “Tal é a sorte de
todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui” (Pv 1.19). Acerca da mulher adúltera diz Salomão: “Não cobices no teu
coração a sua formosura, nem te deixes prender com as suas olhadelas” (Pv 6.25). “Não tenhas inveja dos homens malignos, nem queiras estar com
eles” (Pv 24.1). E todos sabemos que momentaneamente Asafe viveu uma
luta interior por não conseguir viver esse princípio ético, como mostrado no
salmo 73.
II – Textos proibitivos do Novo Testamento.
Dentre tantos textos no Novo
Testamento que trazem uma versão inibidora e crítica desse mandamento queremos
fazer ênfase a alguns. No Novo Testamento a principal palavra para cobiça é Pleonexia
“desejo incontrolável de possuir o mundo e seus bens materiais, poder,
influência e prestigio”; e Jesus adverte em vários momentos sobre este perigo: Mt
5.28 “Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma
mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela”. Mt 16.26:
“Pois que
aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará
o homem em troca da sua alma?” Mc 7.20-22: “E dizia: O que sai do homem, isso é o que o
contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus
desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza,
as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura”.
Lc 12.15: “Então,
lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque
a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui”.
Em 1 Timóteo 6.10 o apóstolo Paulo
se refere à cobiça (philarguria), amor desordenado pelo mundo, se referindo do
amor ao dinheiro como sendo a raiz de muitos males, pelo qual muitos se
desviaram da fé.
Há muitos outros textos que podem
ser observados: Rm 7.7; Tg 1.14, 15; 4.2, etc.
III – Como o décimo mandamento deve ser
compreendido por nós hoje.
Trata-se aqui da versão positiva do
mandamento, ou seja, sua abrangência em não apenas deixar de fazer algo, mas a
implicação de ser e fazer.
a) Abençoar ao invés de cobiçar
2 Co 9.5 “Portanto, julguei conveniente recomendar aos
irmãos que me precedessem entre vós e preparassem de antemão a vossa dádiva já
anunciada, para que esteja pronta como expressão de generosidade e não de
avareza”. Esta recomendação bíblica faz-nos refletir que devemos ser
uma bênção para o nosso próximo.
b) Estar satisfeito com o que Deus
providencia.
O melhor exemplo disso no N. T. é o
apóstolo Paulo: “Tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8).
Paulo não está ensinando o relaxamento, muito pelo contrário, ele é grande
incentivador do trabalho; por razões pessoais inclusive conciliou seu
ministério com sua profissão de fazedor de tendas. Ele fala de satisfação e
gratidão pelo o que o Senhor nos concede, ele sentia-se desse modo, grato ao
Senhor. Ele aprendeu a ser grato tanto na abundância quanto na ausência: “Sei o que é passar
necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em
toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou
passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:12-13 NVI).
d) Dedicar-se ao trabalho honesto.
Atos 20.33-35: “De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem
vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário
a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando
assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio
Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber”. Paulo apresenta nesses versículos princípios
construtivos do décimo mandamento: trabalho honesto e assistência liberal a
quem precisa.
e) Ter boa vontade.
1 Pedro 5.2: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós,
não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida
ganância, mas de boa vontade”. Um
princípio que muitos líderes cobiçosos de nossos dias poderiam atentar.
Conclusão
Como
conclusão gostaria de dar algumas sugestões práticas:
1. Vigie
seu coração, caso note brotando a inveja, corte-a na nascente, não der espaço a
ela no coração.
2.
Busque a aprovação de Deus para o que você almeja e se satisfaça com o que Ele
te concede!
3. Não
queira algo que outros tem somente para não ficar por baixo, evite a ambição
desmedida.
4.
Lute para conquistar o que você sonha, mas sem se permitir a inveja para com
aqueles que tem o que você não tem.
5.
“[...] promover ativamente o bem-estar do
próximo em atos de amor fraternal, diaconia, misericórdia e retidão é o caminho
traçado por Deus para cumprirmos corretamente o décimo mandamento”
(Reifler, 2009).
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