Introdução
Falar de disciplina nos
nossos dias não é algo muito popular. Em nome da liberdade individual muitos
crentes atualmente passam a acreditar que a igreja nada tem a ver com suas
vidas fora do contexto do templo. Infelizmente muitas igrejas e pastores acabam
por serem convenientes com esta forma de pensar e bastante brandos a esse
respeito, isso porque não querem ser impopulares, e terminam por fim sendo omissos
em seu dever pastoral.
O termo “disciplina” é utilizado em
muitos sentidos. Podemos usá-lo para nos referir a uma área de ensino, ao
exercício da ordem, ao exercício da piedade ou à medidas corretivas no seio da
igreja.
I – Formas erradas de aplicação
da Disciplina
a) Disciplina aplicada sem
misericórdia
A severidade excessiva
por parte de quem aplica a disciplina é vista na história da igreja e faz
lembrar uma mentalidade medieval de uma época em que a liderança da igreja
romana aplicava a disciplina em forma de excomunhão e com o instrumento da
Inquisição onde tal prática era realizada sem nenhum amor para com o pecador.
Infelizmente no contexto evangélico atual não será raro vermos casos de
aplicação disciplina destituída do amor, sem misericórdia. Há muitos casos em
várias igrejas que pessoas ficam disciplinadas em tempo excessivo em contraste
com a gravidade do seu pecado.
b) Disciplinas em caso que não há
necessidade.
Não há base bíblica
para aplicar a disciplina à pessoas que se arrependeram do seu pecado, deste
que esse pecado não seja algo escandaloso para a vida da igreja.
Também não há base
bíblica para disciplinar alguém que esteja meramente contrariando a cultura
estabelecida acerca de usos e costumes de uma determinada comunidade, desde que
esta contrariedade não seja um pecado em si mesmo.
II – Quando deve haver a
disciplina
A Disciplina deve ser
aplicada em casos de pecado sem arrependimento, como é demonstrado no exemplo
de 1 Co 5, onde não vemos nenhum indício de arrependimento da pessoa
disciplinada.
Alguns textos bíblicos
especificam alguns pecados que devem ser disciplinados:
1 Co 5.1-13 – Pessoas cuja prática traz escândalo á igreja:
1 Tm 1.12; 2 Tm 2.17-18; 2 Jo 9-11 – Pessoas que ensinam heresias.
Rm 16.17 – Pessoas que provocam divisão na igreja.
2 Ts 3.6-10 – Aqueles que são tomados pela preguiça também deve ser
disciplinado.
Há um princípio geral
que deve servir de orientação à igreja nestes textos. Todos eles mostram
pecados que são públicos e causam escândalo ao evangelho.
A aplicação prática é
que quando alguém está arrependido e seu pecado foi algo secreto sem haja a
possibilidade de vir a se tornar público, o pastor ou o Conselho da igreja pode
acompanhá-lo sem que haja a necessidade de aplicar a disciplina.
III – Como deve ser aplicada a
Disciplina
Biblicamente a
Disciplina na igreja tem triplo objetivo:
1) Restabelece o pecador (Mt 18.15; 1 Co 5.5 e Gl 6.1);
2) manter a pureza da igreja (1 Co 5.6-8); e
3) dissuadir outros (1 Tm 5.20).
Na aplicação da
disciplina alguns passos são fundamentais (Mt 18.15-17). Sabendo-se que esses
passos são orientadores e, que, portanto, às vezes poderá haver a necessidade
de se pular um ou outro desses passos.
a) Abordagem individual.
“Se teu irmão pecar vai
argui-lo entre ti e ele só...” (v.15). Sabemos que confrontação ás vezes é algo
complicado, e deve ser feito sempre em amor (Pv 27.5-6). Nem sempre as pessoas
aceitarão que seus pecados sejam confrontados, mas sempre há a possibilidade do
arrependimento.
b) Admoestação privada.
Caso não houver arrependimento
deve se levar ao processo duas ou três testemunhas. Isto não é para
constranger, mas para beneficiar o ofensor, pois a objetividade do caso é
preservada e se diminui as chances de injustiça. Na lei mosaica ninguém poderia
ser condenado sem duas ou três testemunhas (Nm 35.30; Dt 17.6 e 19.15).
c) Pronunciamento público (v. 17).
A reação dos demais
membros da igreja deve ser de orar pela pessoa disciplinada e evitar comentários
desnecessários (2 Ts 3.14-15), e vigiar a si próprio (1 co 10.12). Neste
estágio há restrição temporário à participação da mesa da Santa Ceia do Senhor
(1 Co 11.27).
d) Exclusão pública (v. 18). Este é o último estágio, que deve
ocorrer apenas se prosseguir a dureza de coração de quem está em pecado. Jesus
disse que considerar como gentio (a quem não era permitido entrar nos átrios do
templo do Senhor) e publicano (que eram considerados traidores e apóstatas).
A disciplina eclesiástica não é algo de se realizar facilmente, mas deve
ser conduzida na presença do Senhor.
VI – Implicações teológicas
a) Quanto à adoração.
A verdadeira adoração “é a mais nobre atividade de que o homem,
pela graça de Deus, é capaz.” (Stott, 1970). Uma igreja adoradora e
tolerante com o pecado é uma contradição (Ap 2.18-29).
b) Quanto às marcas da igreja.
Defendemos, juntamente
com os Reformadores, que não Pode haver verdadeira igreja de Cristo onde o
evangelho não estiver sendo pregado fielmente, os sacramentos ou (ordenanças na
linguagem batista) não estiverem sendo utilizados corretamente e disciplina
eclesiástica estiver sendo omitida. Igreja sem Disciplina não é verdadeira
igreja de cristo, pois a disciplina visa também a preservação da pureza da
noiva de Cristo (2 Co 11.1-3).
c) Quanto ao evangelismo
Como a igreja poderá
ter voz ativa contra o pecado se ela estiver tolerando o pecado. Uma igreja sem
disciplina proclama uma liberdade desconhecida, ou rejeitada, pelos seus
próprios membros.
Conclusão
Vivemos em uma era sem
restrições e sem limites. Por isso, talvez, a questão da disciplina na igreja
seja tão incompreendida e até negligenciada. Muitos questionam a legitimidade
da sua aplicação - "com que direito?" Outros se
revoltam quando a recebem. É preciso que saibamos que o direito e a autoridade
da disciplina procedem do Senhor da igreja, que a comanda. É preciso que nossos
olhos sejam abertos para que verifiquemos que a rejeição da disciplina é um
grande mal. A recusa de sua aceitação ou a revolta por ela significam agir
contra o objetivo maior, que é o reconhecimento do pecado, o arrependimento
sincero e a restauração à plena comunhão da igreja visível.
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