Marcos 6.1-6
Introdução: Você
realmente crê em Deus?
Contam que um alpinista, desesperado
por conquistar uma altíssima montanha, iniciou sua escalada depois de anos de
preparação. Como queria a glória só pra si, resolveu subir sem companheiros.
Durante a subida, foi ficando mais
tarde e mais tarde e ele, para ganhar tempo, decidiu não acampar, sendo que
continuou subindo... e, por fim, ficou escuro.
A noite era muito densa naquele
ponto da montanha, e não se podia ver absolutamente nada. Tudo eram trevas,
visibilidade zero, a lua e as estrelas estavam encobertas pelas nuvens.
Ao subir por um caminho estreito, a
poucos metros do topo, escorregou e precipitou-se pelos ares, caindo a uma
velocidade vertiginosa.
Naqueles breves segundos da sua
queda, sua vida passava-lhe inteira à sua frente. Quando a morte já lhe era
certa, de repente, um fortíssimo solavanco... causado pelo esticar da corda à
qual estava amarrado e que, por sorte, prendera-se às rochas.
Nesse momento de solidão, suspenso
no ar, não havia nada que pudesse fazer, senão pedir socorro aos céus: -
Meus Deus, ajude-me!
De repente, uma voz vinda dos céus
lhe pergunta: - Que queres que eu te faça?
- Salva-me, meu Deus! Respondeu o
alpinista.
- Crês realmente que Eu posso salva-lo?
- Sim, Senhor, eu creio.
- Então, corta a corda!
- Crês realmente que Eu posso salva-lo?
- Sim, Senhor, eu creio.
- Então, corta a corda!
Depois de um profundo momento de
silêncio, o alpinista agarrou-se ainda mais à corda.
- Porque duvidas... Não
crês que eu posso salvá-lo? Insistiu a voz. – Se creres, verás a glória
de Deus.
Conta a equipe de resgate que, no
outro dia, encontraram o alpinista morto, congelado, com as mãos firmemente
agarradas à corda... a apenas dois metros do chão.
Elucidação:
O Evangelho de Marcos, conforme amplo consenso é
aceito cronologicamente como o primeiro dos quatro evangelhos. Acredita-se que
tenha sido escrito entre 64 e 70 d. C., possivelmente em Roma. Característica
de Mc é o tema do segredo messiânico. Jesus cura enfermos, opera milagres,
sendo reconhecido até mesmo por espíritos imundos; porém, associado a isto
sempre está a ordem de não o revelar. A perspectiva da cruz está presente desde
o início do evangelho. Já no princípio de sua atuação está selado o destino de
Jesus (Mc 3.6).
Jesus
viveu em Nazaré, uma pequena cidade da região da Galiléia. Presumi-se que
tratava-se de uma cidade de pouca importância porque não chegou a ser
mencionada no Antigo Testamento, nem nos livros apócrifos I e II Macabeus. Mas
foi ali que Jesus viveu e este texto nos mostra um momento peculiar em que
Cristo prega entre seus conterrâneos mais próximos.
JESUS E A
INCREDULIDADE DOS NAZARENOS
I - JESUS É REJEITADO PELOS NAZARENOS,
V. 1-4
Durante trinta anos Jesus viveu naquela cidade. Tinha diante de todos
uma vida perfeita, imaculada. Jesus convivia com eles, comendo e vestindo-se
como qualquer um deles. São essas pessoas, que o conheciam em seu cotidiano que
agora é alvo de sua preocupação, é a eles a quem agora ele proclama as boas
novas da salvação.
Aquelas pessoas sabiam perfeitamente quem era aquele nazareno. Era o
"o carpinteiro". Conheciam sua família, alguns possivelmente eram
seus clientes na carpintaria de seu pai.
Mas aquele carpinteiro era o mesmo ser que criou os céus e a terra, o
mar e tudo o que nele existe, o próprio filho de Deus que tomou sobre si a
forma de servo e condescendeu a viver como ser humano, ganhando o pão do suor
do seu rosto. Isso é amor que excede todo entendimento (Ef 3.19).
No
v. 2 fica claro que aquelas pessoas puderam ver e ouvir a forma maravilhosa
como ele ensinava e presenciar ele realizando cura, no entanto, conforme o v.
5, fez muito pouco comparado com o que poderia faze se houvesse verdadeira fé
naquelas pessoas. Ficaram admirados, mas ao invés de se aterem ao conteúdo do
ensinamento de Jesus, escandalizavam-se porque aquele que lhes ensinava era o
mesmo que eles conheciam já há tantos anos.
O
que torna os homens incrédulos não é nem a ausência de evidências, nem as
dificuldades da doutrina cristã. Antes é a falta de desejo para crer. Eles amam
o pecado. Estão presos ao mundo em sua cultura depravada. Nesse estado mental,
nunca lhes falta razões que aos seus olhos são plausíveis para justificar a
vontade que tem de não crer. Excessivamente pecaminoso é o pecado da
incredulidade.
Ainda
como salvos é possível que a incredulidade atinja nossos corações, não
evidentemente no que tange a Cristo como nosso salvador, afinal, algum momento
de dúvida que alguém possa ter e então venha a se perguntar se realmente é
salvo não significa necessariamente incredulidade. Mas me refiro aqui à
incredulidade quanto aos atos do Senhor em nossa vida diária. Estou me referindo
à incredulidade de que o Senhor poderá mudar o coração de alguém que é
perverso, ou então da resolução de um problema que aos nossos olhos pareça sem
solução. Se deixarmos de nos alimentar da Palavra, de vigiar e orar, a
incredulidade poderá se fazer presente. É aí que nos cabe pedir à semelhança
dos discípulos: "Senhor aumenta-nos
a fé" (Lc 17.5).
V.
3: Mas quem ele pensa que é? Não é o carpinteiro, o filho de Maria? Nós
conhecemos seus irmãos e irmãs, que moram aqui entre nós. Perguntam pela
legitimidade de sua pregação. Um simples carpinteiro, filho de carpinteiro, que
aprendera o ofício com o pai e que certamente prestava serviços às pessoas do
lugar, arroga-se o direito de ensinar na sinagoga.
Aquelas pessoas estavam familiarizadas com Jesus. Mas a familiaridade em
termos de vivência religiosa muitas vezes gera o desprezo. Vemos aqui que as
pessoas estão inclinadas a subestimar as coisas com as quais estão
familiarizadas. Que possamos ver o extraordinário (que é a essência espiritual)
naquilo que é ordinário (que vivenciamos constantemente em nossa vida cristã).
Isto é, que cada culto não seja apenas mais um culto, mas uma oportunidade que
o Senhor te concede de uma mudança radical em sua vida, uma oportunidade de
você ofertar a ele uma adoração excelente. Que no momento de celebração da Ceia
você enxergue Cristo na cruz por você! Que cada oportunidade de trabalhar no
serviço do Reino de Deus você entenda que o Senhor está te dando a honra de
você glorificá-lo. Assim sendo, não deixe que rotina da vida cristã abafe a
maravilha do que é servir a Cristo.
V.
4: Frente às indagações, Jesus não permanece calado e cita um provérbio
popular. Entre os seus ele não é aceito, nem reconhecido. Entre nós, o dito se
expressa assim: santo de casa não faz
milagre. É que algumas pessoas não valorizarem aqueles a quem conhecem bem,
com quem convivem:
Ilustração: Vejam, por exemplo, como
algumas comunidades cristãs nem sempre sabem valorizar aqueles que estão com
eles como pregadores e pastores. E alguns pregadores acabam por ser mais
valorizados em contextos nos quais não convive.
II -
JESUS AGIU DE ACORDO COM A FÉ DELES, V. 5.
É
dito no texto que Jesus não pôde realizar ali milagres, com exceção da poucas
curas.
Quando diz que ele não
pôde, não significa aqui limitação do poder de Jesus, mas que optou em não
realizar mais milagres onde preconceituosamente estava sendo rejeitado. Na
verdade, se Jesus realizasse grande milagres para favorecer a pecadores
incrédulos estaria de modo indireto contribuindo para a dureza de coração
deles, ou seja, a falta de repreensão seria como dizer que estava tudo bem.
Como
é demonstrado no v. 5, a incredulidade impede o agir de Deus em nossas vidas.
Jesus
estava naquele momento sendo muito misericordioso para com os nazarenos, pois
já havia sido expulso da sinagoga de Nazaré no começo do seu ministério (Lc
4.16-30). Naquela ocasião quiseram matá-lo, então, Jesus mudou-se para
Cafarnaum. Agora, Jesus vai outra vez a Nazaré, dando ao povo uma nova
oportunidade. Uma vez que o povo daquela cidade não aproveitou a oportunidade de
arrependimento, Jesus nunca mais volta a pregar em Nazaré.
É
comum nos cultos quando é feito o convite para o ouvinte do evangelho
desejarmos que ele tenha uma nova oportunidade, mas o fazemos por educação e
por ser o desejo sincero de pessoas que gostariam de ver o outro de posse da
salvação. No entanto, não há nenhuma certeza a esse respeito, ninguém pode
afirmar que a pessoa com certeza terá outra oportunidade. E algo mais deve ser
dito a esse respeito, a recusa do evangelho é uma ofensa a Cristo.
V. 5: Em sua terra natal, Jesus não pôde
realizar grandes milagres, mas apenas curar alguns enfermos mediante a
imposição das mãos. Temos aí dois aspectos a observar: a) na compreensão de Mc,
parece que a cura de enfermos não é algo tão extraordinário, pelo menos para a
sua época, ao contrário do que acontece nos dias atuais, em que se enfatiza e
superestima este aspecto; b) Jesus cura mediante a imposição das mãos. Impor as
mãos significa contato, proximidade do próprio Deus, que se achega e nos toca.
III -
JESUS ADMIRA-SE DA INCREDULIDADE DELES, V. 6.
V 6: Jesus surpreende-se com a
incredulidade de seus conterrâneos. A incredulidade de sua gente contrasta com
a fé encontrada fora de sua terra natal, p. ex., na cura da mulher enferma e na
ressurreição da filha de Jairo. Eles recusam a mensagem de Jesus, recusam
o próprio Jesus. É interessante observar que o texto nos apresenta um Jesus
muito humano. Ele voltou à sua terra, para estar coma pessoa com quem ele
conviveu, com pessoas que esteve presente nas fases de sua vida, no entanto é
rejeitado, e isto certamente causa tristeza. Se você já foi rejeitado por
alguém, se já foi desvalorizado por alguém, se sua pregação não foi aceita
ainda que o conteúdo fosse correto pode então ter uma noção dos sentimentos de
Jesus ao ser rejeitados pelos seus concidadãos. Mas, quero fazer referência ao
fato de que a admiração da incredulidade dos nazarenos e o sentimento de ser
rejeitado não fez Jesus entrar num estado de inércia. Ele "percorria as cidades circunvizinhas, a ensinar".
Independentemente
dos resultados Jesus era perseverante no ensino. Sabemos que a incredulidade de
muitas pessoas estará em alguns momentos nos alarmando, mas que permaneçamos
fiéis em nosso dever de anunciar a obra redentora de Cristo.
Aplicações: 1. Lembre-se que a fé não é algo na qual você deve
viver estagnado, a fé é dinâmica. É somente confiando plenamente no SENHOR que
ele estará operando maravilhas em nossas vidas.
2. Não são somente aqueles que recusam a palavra da
salvação que estão rejeitando a Jesus em nossos dias, todas as vezes que agimos
fora da conformidade do evangelho rejeitamos a Cristo, rejeitamos seu
discipulado em nossas vidas.
3. Não permita que a falta de fé daqueles a quem
você prega ou a falta de resultados práticos observáveis leve você a perder o
foco da sua missão. Haverá sempre aqueles que não creem, mas sempre haverá
aqueles a quem o Espírito Santo estará gerando fé.
Conclusão: Qual é a corda a qual você tem se agarrado que não
permite que confie mais no Senhor? Seria sua inteligência? Seria seu dinheiro?
Ou seria o seu suposto livre exercício de sua liberdade? É necessário que você
corte essas cordas e coloque-se integralmente nas mãos do Senhor.
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