Introdução
Este hino tem um refrão que expressa pedido ao Senhor de salvação, de
restauração. Este refrão está nos v. 3, 7 e 19. É difícil dizer quem foi o seu
autor, o mais provável é que não foi o mesmo Asafe da Época de Davi, pois o
salmo apresenta considerações históricas diferentes daquela época, a não ser
que seja um salmo profético. Mas o mais provável é que o contexto é o momento
quando o povo de Deus é levado para o cativeiro. De qualquer modo o contexto é
então de ruína e clamor à Deus por restauração.
I - O salmista clama ao pastor de Israel,
v.1-3.
Na trajetória de Israel o cuidado do Senhor como pastor é incontestável.
Libertação de uma escravidão, providência ao caminhar no deserto; o Senhor lhes
concedeu água, comida (mesmo em face aos murmúrios deles), concedeu que suas
roupas não se desgastassem, houve preservação da saúde (apenas com exceção para
o castigo quando pecavam terrivelmente contra o seu Deus) e houve vitórias
contra inimigos muito mais fortes e melhor preparados para a batalha. O Senhor
enviou profetas para adverti-los de seus pecados, mesmo quando recusaram o
domínio divino sobre a nação por meio dos profetas, mas o Senhor não os
desamparou, concedendo-lhes sempre homens que os repreendiam, chamando-os ao
arrependimento.
Em tudo isso nós vemos o cuidado providencial divino. Na vida da sua
igreja não é diferente. Também somos preservados do mal. Também fomos libertos
de nossa escravidão no pecado, de nossas iniquidades. Também usufruímos de sua
providência maravilhosa. Também temos o privilégio de sermos repreendidos pela
Palavra e de o Senhor levantar homens e mulheres como instrumentos seus para
repreender-nos.
Mas então, estava o povo de Deus em uma situação calamitosa e pedem ao
Senhor para que mais uma vez ele se esteja agindo em resgate deles (v.2). E
quanto a nós? Qual tem sido a nossa oração? Conquanto sejamos tocados
constantemente pelo nosso contexto existencial, ou seja, nossos problemas
pessoais, nossas indecisões, nossos anseios; tudo aquilo que nos aflige de
alguma forma com certeza nos leva a orar ao Senhor pedindo o seu auxílio. E de
fato assim deve ser. O que não pode acontecer é esquecermos que o pedido não pode
ser apenas individual. Há outros que passam por situações semelhantes. A igreja
do Senhor sofre em nossos dias necessitando de restauração. Há aqueles que
estão tão cegos quanto à sua realidade espiritual que não percebem esta
necessidade. Pelo o quê você tem orado? O que tem lhe incomodado? Espero que
você não esteja tomado por prioridades egoístas.
Enquanto Igreja Batista (nome da
igreja) temos também motivo para pedir restauração ao nosso supremo pastor?
Como está o nosso serviço diário enquanto igreja, precisa de restauração? Que
cada um der a sua resposta.
v. 3 Observemos que o coro deste hino é
um pedido duplo:
a) Pede que o Senhor se volte para nós:
"faze resplandecer o teu rosto".
Ou seja, que ele tenha misericórdia de nós, nos faz lembrar bastante a
bênção sacerdotal: "O SENHOR te abençoe e te guarde; o
SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o
SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê
a paz" (Nm
6.23-26).,
b) Pede que ele nos faça voltar-nos para
ele: "Restaura-nos, ó Deus".
É o reconhecimento sincero de uma necessidade urgente. Ele reconhece que
o povo se afastou da comunhão, que estavam vivendo a consequência do seu
pecado. Restauração para o povo de Deus primeiramente é livramento da
influência maligna do pecado. A igreja de Cristo deve insistentemente fazer
esse clamor atualmente.
O povo de Deus estava sob a ira divina, e o salmista faz uma indagação
muito importante no v. 4.
II - O salmista pergunta pela duração da
ira divina, v.4-7.
Vemos no versículo 4 que segundo o salmista Deus estava irado com a
oração do seu povo. Como é terrível quando o povo de Deus não reconhece o seu
pecado, como destruidora é a soberba na vida do miserável pecador que não
reconhece que depende unicamente da graça divina. Que você minha irmã, meu
irmão jamais tenha em seu coração sentimento semelhante ao daquele fariseu ao
orar no templo, que via a si mesmo como muito justo: “Propôs também esta parábola a alguns que
confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois
homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro,
publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó
Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos
e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o
dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem
ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê
propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e
não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha
será exaltado”.
(Lc 18.9-14). Oração carregada de soberba atrai não a misericórdia, mas a ira
divina.
E a ira do Senhor se manifestou na vida deles infligindo-lhes o
sofrimento (v.5), deixando-os em uma situação de humilhação diante das outras
nações (v.6). Se uma igreja trilhar o caminho da soberba, ela colherá a
humilhação para sua vida. E pode até ser que venha a ser aplaudida pelas
pessoas, pelo mundo, mas diante do único de quem realmente importa estará sendo
considerada uma igreja que tem fama de que vive, mas na verdade está morta,
como a igreja de Sardes (Ap 3.1). O mesmo vale para o cristão individualmente.
v.7 A saída de tal situação é a
conversão, comunhão e confiança da salvação. "E seremos
salvos" denota a
confiança do salmista no Senhor.
Até quando irá durar o castigo divino? Até o cumprimento do seu
propósito. Até que estejamos de fato reconhecendo os nossos pecados, mas não apenas
teoricamente, mas deles nos afastando, como mostra o livro de Hebreus 12.4ss, a
correção do Senhor vem pelo fato de não estarmos lutando contra o pecado. E que
bom que é assim, é prova de amor paternal (v.7). O beneplácito divino seria
justamente não nos afligir, mas ele o faz porque necessitamos disto: "Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a
grandeza das suas misericórdias; porque
não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens" (Lm 3: 32-33)
Mas, mesmo olhando para sua vida, perceba o quanto o Senhor tem cuidado
de você e o quanto tem cuidado da sua igreja.
III - O salmista reconhece que o Senhor
sempre cuidou do seu povo, v.8-15.
Nos v. 8-11 ele usa ilustração da videira que foi trazida do Egito e
plantada por um cuidadoso agricultor. Essa ilustração traz à mente
relacionamento. No Evangelho de João cap. 15 Jesus também faz uso dessa
ilustração. O texto inicia com Jesus afirmando ser a
videira verdadeira e o Pai como sendo o agricultor. Deus é tanto aquele que
planta como aquele que cultiva a videira. Foi ele que nos pôs em um
relacionamento especial com Cristo mediante a operação do Espírito Santo e
mantêm-nos neste relacionamento, é como nos diz 1 Co 12.13: "Pois, em um só Espírito, todos nós
fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um só espírito". Estamos ligados a Cristo de uma forma
mística, como um organismo vivo, sendo que espiritual. Nos v. 12 e 13 o
salmista diz (em linguagem poética) que o Senhor derrubou as cercas que ele
mesmo havia estabelecido em volta de Israel como uma forma do seu cuidado, e
que por isso seus inimigos podiam invadir.
Para nós que somos igreja do senhor, essas cercam que nos protegem e nos
qualificam como igreja de Cristo são os sacramentos ou ordenanças estabelecidas
para vida da igreja, de modo que sempre que há ausência ou debilidade naquilo
que nos constitui enquanto verdadeira igreja de Cristo estaremos necessitando
de restauração. Estamos falando da Ceia do Senhor, do batismo, da disciplina, e
fiel pregação da Palavra. Não há igreja saudável e não há cristão saudável sem
a vivência fiel dessas ordenanças. A remoção ou deturpação provoca debilidade
espiritual na vida da igreja. Não desprezemos jamais o que Deus estabeleceu
para saúde espiritual da Sua igreja, como alguns tem feito de modo muito
especial no que diz respeito à disciplina eclesiástica e à pregação da Palavra.
Se os muros da igreja estiverem ruindo (v. 13), seus inimigos estarão se
fortalecendo. E não estamos mencionando as pessoas que antipatizam pelos
cristãos, mas de algo muito mais destrutivo: O pecado, as heresias e a frieza
espiritual. E a melhor forma de combatermos isso para a restauração da vida
espiritual da igreja é por meio da fiel pregação da Palavra de Deus, da
aplicação correta da disciplina e da ministração dos sacramentos, que estarão
denotando e conclamando à uma comunhão mais íntima com o Senhor.
Nos v. 17 e 18 vemos o poder de Deus visto em Jesus, a causa da
perseverança dos santos. Podemos confiar que o nosso clamor terá uma resposta
positiva da parte do Senhor, pois ele nos sustenta em Cristo, nos vivifica, nos
levanta em meio à queda, como nos diz em Pv 24.16: "O justo cairá sete vezes e se
levantará...".
Que o Senhor nos vivifique à cada dia para prestarmos a Ele o culto que
lhe é agradável, conforme o v. 18. A restauração traz consigo o culto, a
gratidão, o louvor.
Aplicações
1. Se você reconhece que está em
debilidade espiritual e precisa de restauração, humilhe-se diante do Senhor e
certamente Ele te erguerá.
2. Que haja em você um constante clamor
pela sua igreja e pela igreja de Cristo presente em outros contextos.
3. Se você vier a ser disciplinado pelo
Senhor não desanime, ele faz tudo por amor a você.
4. Cuidado com o sentimento de
autossuficiência, reconheça que você está firme espiritualmente é porque o
Senhor te sustenta.
5. Não permite que nada interfira na sua
alegria com Cristo, não permita que o pecado o prive do prazer dessa comunhão.
Conclusão
Como forma de conclusão gostaria de citar mais uma vez Nm 6.23-26:
"O Senhor te
abençoe e te guarde;
O Senhor faça
resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;
O Senhor sobre ti
levante o seu rosto e te dê a paz".
1 Comentários
Que benção, muito edificante essa palavra Deus continue te usando
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