Introdução
Os
dez mandamentos podem e devem ser vistos de forma mais abrangente pela igreja.
São eles parâmetros para a vida do povo de Deus revelado a Israel, quando tinha
saído da escravidão do Egito e começaria sua peregrinação até a Terra
Prometida. Nessas circunstâncias o Senhor diz o que exige deles enquanto povo
da Aliança. Os Dez Mandamentos são então formas de viver que agradam ao Senhor;
trazem as proibições ao comportamento inadequado bem como é dito o que deve ser
feito. Assim, é um código de ética para o povo de Deus.
O
povo de Deus da nova Aliança em Cristo Jesus deve também olhar para esses
mandamentos observando-os em obediência, considerando a amplitude a eles trazido
pelo evangelho de Cristo.
Vejamos
o primeiro desses mandamentos considerando-o a partir do Antigo Testamento e
sua conceituação no Novo Testamento.
I – As proibições no Antigo Testamento.
O A. T. traz a proibição a toda forma de idolatria.
Êxodo
23.13. “Em tudo o que vos tenho dito, andai
apercebidos. Do nome de outros deuses nem fareis menção; nunca se ouça da vossa
boca o nome deles” (Versão Almeida Atualizada).
Ocorre
nesse texto uma proibição de sequer lembrar os nomes dos falsos deuses das
nações pagãs, não deviam nem citá-los. Isso é relevante para o contexto
cultural dos judeus uma vez que eles consideravam o uso do nome de alguém como
indicativo de relacionamento, era como identificar-se com tal pessoa.
“Não fareis para vós ídolos, nem vos levantareis imagem de
escultura, nem estátua, nem poreis pedra figurada na vossa terra, para
inclinar-vos a ela; porque eu sou o SENHOR vosso Deus” (Lv
26:1).
“Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem
não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura” (Is
42:8).
Mas
diante desses textos como poderíamos formular respostado do porquê que Deus
exige exclusividade?
Primeiramente,
podemos dizer que a exigência divina pela exclusividade da devoção humana se dá
pelo fato de sua singularidade, ou seja, Ele é único, o
criador de todas as coisas, o único SER NECESSÁRIO. Portanto exige que sua criação volte-se a
Ele. “Eu sou o Senhor” (v.2). Em Isaías 40:12-31
consta um relato de Sua grandeza nas colocações de que as nações para Ele são
como uma gota de água em um balde, nem todas as florestas da terra seriam suficientes para o fogo do altar, por ser incomparável é um insulto
representá-lo por meio de imagens, e, domina tão absolutamente sobre todas as
coisas que destrói os príncipes e
governadores do mundo com o sopro de sua boca. Palavras vívidas para demonstrar
a grandeza do Senhor.
Em
segundo lugar ele exige exclusividade por ser um Deus pessoal, “teu Deus” (v.2). O singular aqui é proposital, a
mensagem é que os mandamentos falam de um Deus que, apesar de Sua grandeza, se
relaciona pessoalmente com seus filhos amados. É interessante que em muitos
momentos no A.T. está presente a expressão “Deus de Abraão,
de Isaque, e de Jacó”, isso porque o relacionamento do Senhor com cada
um deles é singular. De igual modo Ele se relaciona com cada um de nós,
particularmente.
Em
terceiro lugar Ele exige exclusividade porque é um Deus que age.
Ele diz que é o Deus que libertou o povo da escravidão (v.2). É um Deus
presente, que salva, que se relaciona.
Além
do pecado da idolatria está implícito neste mandamento a proibição ao ateísmo.
Ateísmo
na perspectiva bíblica tem duas formas:
a) Teórica:
“Disse o néscio no seu coração: Não há Deus” (Sl
14:1).
Esse
é o tipo de ateísmo presente na mentalidade da comunidade científica, nos
intelectuais, ou mesmo em algumas pessoas que simplesmente não conseguem
acreditar que há um Deus soberano, criador de todas as coisas. Mas a Bíblia
chama essa suposta sabedoria humana de loucura.
b) Prática:
Aqui
muitos se enquadram, pois diz daqueles que afirmam acreditar que há Deus, até
acreditam em Jesus e afirmam que Ele também é Deus, contudo, vivem suas vidas
como se ele não existisse, sem temor e sem nenhuma devoção.
II – As proibições no Novo Testamento.
O
Novo Testamento é repleto de textos que ampliam as proibições do Antigo
Testamento.
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo
consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde
nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt
6:19-21).
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e
amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a
Deus e a Mamom” (Mt 6:24).
“E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de
vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu
coração está longe de mim; Em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que
são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a
tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas
outras coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de
Deus para guardardes a vossa tradição” (Mc 7.6-9). Esse
texto denuncia a idolatria dos judeus da época de Jesus expressada na vivência
de suas tradições. Buscando observar suas tradições em muitos momentos invalidava
em suas vidas a palavra de Deus. Ou seja, eles queriam oferecer a Deus uma
adoração de acordo com seus próprios pensamentos, não conforme o que o Senhor
exigia. A tradição para eles tornou-se um deus.
Há ainda que se falar sobre outras formas de
idolatria presentes no coração de muitos: coisas às quais as pessoas se deixam
dominar considerando-as como excessivamente relevantes: honra, prestígio,
posição social, orgulho, riqueza (a Bíblia taxativamente chama avareza de
idolatria em Cl 3.5).
III – A versão positiva no Antigo
Testamento.
Versão
positiva significa que ao termos o Senhor como nosso Deus obedecemos a seus mandamentos por meio daquilo que está presente em nosso relacionamento com Ele.
Não ter outros deuses significa saber que o Senhor é suficiente para nós, é
confiar na suficiência de Deus. Desse modo o exercício de uma vida em
fidelidade é também uma forma de obedecer ao primeiro mandamento.
Adorar
ao Senhor pode ser mencionado como expressão de obediência ao mandamento em
questão. Davi em ações de graças nos convoca à adoração: “Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome; trazei
oferendas e entrai nos seus átrios, adorai ao Senhor na beleza da sua
santidade” (1 Cr 16.29).
Temer,
obedecer, amar e servir ao Senhor com integridade. No Antigo Testamento temos
um exemplo em Josué, viveu o primeiro mandamento nesses aspectos. Deixou seu
exemplo de vida como legado e incentivou o povo pouco antes de sua morte: “Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade e
com fidelidade; deitai fora os deuses ao quais serviram vossos pais...”
(Js 24.14).
Todas
as exortações do Senhor que se encontram no A. T. a respeito de questões como
ouvir a Sua voz, guardar sua lei ou palavra, buscar a sua presença, inclinar o
coração para Ele, orar, manter comunhão, diz respeito à obediência do primeiro
mandamento.
IV – A versão positiva no Novo
Testamento.
A
vivência do primeiro mandamento é válida no Novo Testamento em tudo que foi
dito no Antigo, acrescentando-se que viver em Cristo é obedecer este
mandamento. Afinal, quanto mais estamos próximos do Senhor Jesus menos os
ídolos terão espaço em nossos corações.
Certa
vez perguntaram a Jesus qual era o grande mandamento, a resposta: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a
tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande mandamento. O segundo,
semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.37-40). Assim
Jesus expande o primeiro mandamento para o nível horizontal colocando um
mandamento seu que deve está intrínseco ao contido na Lei. Amar a Deus sobre
todas as coisas leva-nos, invariavelmente, a amar ao próximo.
Conclusão
1. Cuidado
com qualquer coisa ou até mesmo pessoa que possa porventura está tomando a
primazia em sua vida. Já dizia Calvino: “o coração do homem é uma fábrica de
ídolos”. Desse modo, não é difícil de perceber como as pessoas vivem as
idolatrias modernas: capitalismo, novas tecnologias da informação (computador,
celular), status, etc.
2. Deus se Revelou para ser conhecido e
reconhecido. Assim, tendo um autêntico conhecimento dele, sabendo o que ele
exige de nós em seus mandamentos, temos ciência do dever de tê-lo como centro
de nossas vidas.
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