João 17.20 - 26


Introdução: Nesta oração magnífica relatada aqui em todo o capítulo 17 do evangelho de João, Jesus faz um rápido panorama do discipulado que ele realizou na vida daqueles homens. Intercede por eles, pedindo que o Pai os guarde do mal, que os santifique e que os mantenha em unidade. A riqueza doutrinária e de aplicação prática para nossas vidas desse texto é grandiosa, o mesmo expressa os mais profundos desejos do filho de Deus com relação aos seus discípulos antes de caminhar para a cruz. Diante da complexidade desse texto queremos refletir apenas sobre um dos aspectos da oração sacerdotal, que é a questão da unidade na igreja do Senhor.


COMO JESUS CONSIDEROU A UNIDADE DOS DISCÍPULOS


I – JESUS INTERCEDEU POR UNIDADE PARA SUA IGREJA, V. 20, 21ª.

           O grupo dos discípulos não exatamente aquilo que chamaríamos de um grupo coeso, não havia de fato unidade nos relacionamentos. Havia inveja entre eles, uns queriam vir a ter mais destaque do outros dentro das expectativas deles quando Jesus viesse a restabelecer o reino a Israel.
           A oração de Jesus abarcava aqueles discípulos que se encontravam ali com ele assim como todos aqueles que por eles seriam evangelizados. Consequentemente a mesma oração pode ser aplicada a nós uma vez que ele pede não apenas por aqueles que estavam presentes, mas por aqueles que também iriam ainda crer.
          Jesus não pede ao Pai riqueza para sua igreja, não pedi fama, influência política, poder secular, etc. Sua oração dizia respeito à santidade, aos discípulos serem guardados do mal e à unidade.
           A unidade pedida por Cristo não é unidade institucional, não é algo meramente aparente, não é algo que pode ser produzido de modo carnal. É uma unidade espiritual em toda sua essência, primeiramente porque só é possível por já haver uma unidade no sentido de ligação no Espírito por sermos todos participantes D’ele, isto é, unidade por sermos de uma mesma família espiritual. Em segundo lugar é uma unidade espiritual porque a sua realidade no contexto diário da vida da igreja só ocorre mediante o agir do Espírito Santo na vida dos crentes. Este fato não exclui de modo algum a responsabilidade de cada cristão individualmente de atuar como alguém disposto a preservar a unidade do espírito no vínculo da paz.
           É necessário ser dito também que não há unidade realmente bíblica à parte da Verdade revelada. Esta unidade é construída sobre o fundamento da verdade (Ef 4.1-6 – uma confissão doutrinária no contexto da unidade da igreja). Por isso, a tendência ecumênica de unir todas as religiões, afirmando que doutrina divide enquanto o amor une é uma falácia. Não há unidade cristã fora da verdade.
           Jesus chega a dize no v. 21 que a nossa unidade deve ser semelhante à unidade que há entre ele e o Pai. Não há e nunca houve qualquer tipo de conflito entre o pai e o Filho, há uma unidade de natureza e propósito inimaginável para a natureza humana caída, mas ainda assim podemos estar nos comportando de acordo coma natureza de cristo em nós. Se nascemos de Deus, se somos co-participantes da natureza divina, se nascemos do Espírito então não devemos viver em um clima de disputa. A nossa origem espiritual nos compele a buscarmos a unidade: “Se há, pois alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendes o mesmo sentimento”. (Fp 2.1,2)


II – JESUS INTERCEDEU PELA COMUNHÃO DA SUA IGREJA COM ELE, 21b.

           O pedido de Jesus por comunhão dos seus discípulos com ele e o com o Pai é muito mais do que meramente uma influência no comportamento moral. Trata-se aqui da ligação espiritual que haveria de ser realidade por intermédio do ministério do Espírito Santo na vida dos discípulos. Jesus está falando da realidade espiritual do novo SER, da salvação. Ele já havia dito antes, conforme registrado no cap. 14 que quando o Paráclito viesse, eles teriam um novo conhecimento entre a relação espiritual que há entre eles e a Trindade. “Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós em mim, e eu, em vós”. É então que a consequência disto será obediência conforme ele mesmo diz no v. 21 de Jo 14: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Jesus enfatiza mais uma vez o aspecto da comunhão que redunda em obediência prática em Jo 15, obediência esta que é o fruto ali mencionado por ele. Ao falar de uma forma ilustrativa dele como sendo a videira verdadeira deixa evidente que os discípulos permanecendo nele por meio da obediência de sua palavra, Ele permaneceria na vida deles de forma abençoadora (v.7), levando-os a frutificar, sendo reputados, portanto como verdadeiros discípulos seus. Tudo isso quer dizer que somos chamados à comunhão, somos chamados a frutificar objetivando a glória de Deus: “Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornarei meus discípulos” (Jo 15.8).
           A igreja do Senhor necessita de mais comunhão com o seu Senhor, a noiva necessita estar mais pura diante do seu noivo, no entanto, isto só estará ocorrendo de modo coletivo se individualmente eu e você estivermos comprometidos com esta necessidade. A igreja de Cristo que se reúne como igreja local em um templo para adorá-lo não precisa meramente de mais crentes, não precisa de mais religiosos, não precisa de evangélicos fast food (momentâneos em sua vida espiritual que diante da primeira dificuldade se afastam da comunhão dos irmãos, deixam de congregar; amantes do imediatismo e desejam unicamente consumir aquilo que de material e temporal podem obter por meio de uma suposta vida com Deus), NÃO, a igreja de Cristo precisa é de verdadeiros discípulos, que buscam a comunhão pela alegria dessa comunhão.


III – JESUS RELACIONOU A UNIDADE COM A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO, 21c, 23b.

           Se aqueles que estão no mundo olham para nós que afirmamos ser igreja de Cristo e ao invés de enxergar o amor ver apenas ódio e divisão obviamente rejeitará a mensagem do evangelho, e ainda que admita a verdade do evangelho rejeitará nossa propriedade de apregoar este evangelho. As igrejas não devem viver em competição entre si, denominação X denominação, não pode perder o foco da evangelização, pelo contrário deve as denominações somar forças na proclamação do evangelho. Isto não significa que não devam lutar contra as heresias presentes no contexto de várias denominações que querem se rotular como evangélicas, mas que muitas delas nada tem de evangelho. É o evangelho que devemos proclamar e nessa proclamação o próprio evangelho deve ser preservado. É o caráter apologético da igreja. E segundo Francis Schaeffer, a unidade da igreja é a apologética final. Se queremos atrair pessoa para serem discípulas de cristo, elas precisam ver em nós que de fato somos discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35). Os cristãos devemos nos portar como testemunhas de Cristo, não como advogados de acusação e juízes dos nossos irmãos, e como consequência afastando os pecadores do Salvador.
           Diante dessas verdades maravilhosas presentes neste texto queremos lembrar aos irmãos:

Aplicações: 1. Não importa o quão belo seja o templo de uma comunidade cristã, o quão famosa seja a igreja na cidade por algum projeto social que tenha (coisa rara), quão numeroso seja o número de membros que congregam; se não houver unidade entre as pessoas tudo isso estará no final das contas sendo um engodo. A igreja somos nós não os templos, a preocupação que devemos ter é uns com os outros não meramente com uma instituição. Thomas Brooks escreveu: “A discórdia e a divisão não condizem com cristão algum. Não causa espanto os lobos importunarem as ovelhas, mas uma ovelha afligir outra é contrário à natureza e abominável”.


2. Você está satisfeito com a sua comunhão com Deus? Ou há algo que lhe incomoda? Há áreas de sua vida que você percebe não está consonante com a realidade do discipulado cristão?


3. Você entende que verdadeira unidade na igreja só é possível se estiver havendo unidade com o Deus Triúno? E que reciprocamente só pode haver comunhão com Deus se você estiver vivendo bem com seus irmãos?


4. Se você realmente se preocupa com a proclamação do evangelho, se ama realmente aqueles que estão escravizados pelo pecado e deseja vê-los libertos em Cristo estará entendendo que a forma como convive na igreja influencia na evangelização a ser realizada como a mesma.
           Tenha sabedoria, não fale de problemas que acontecem no contexto da igreja diante de pessoas que não são ainda regeneradas em Cristo. Uma coisa é um pregador de púlpito denunciar que há problemas de relacionamentos em nosso meio, outra bem diferente é você está falando mal de um irmão ou da igreja de uma forma geral. O que você fala tem que glorificar a Cristo e atrair as pessoas a um relacionamento com Deus.


Conclusão: Gostaria de concluir fazendo menção aos v. 24 a 26 que fazem parte da unidade de pensamento desse texto. Jesus pede ao Pai que aqueles que lhe foi dado estejam com ele na eternidade para que contemplem a sua glória. Passaremos toda a eternidade com o Senhor e juntos, portanto, estejamos aprendendo a viver em unidade desde já.
           Esta parte da oração é reconfortante e cheia de grande sensibilidade. Na eternidade conheceremos a Cristo como de fato somos conhecidos por ele. Nós, que pela graciosa iluminação do Espírito Santo compreendemos que Cristo foi enviado pelo Pai, também na eternidade entenderemos melhor o sentido profundo de nossa irmandade em Cristo. E o amor de Cristo em nós, com o qual amamos nossos irmãos então será perfeito.
           A Deus toda a Glória, hoje e para todo o sempre! Aleluia!



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