"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos" (Mt 5.6).
Introdução
A
fome e a sede são as necessidades mais básicasdo ser humano. Só podemos de
farto pensar em buscar outras formas de nos satisfazer se essas já estiverem
supridas: lazer, sucesso, ser estimado socialmente, tudo isso é inevitavelmente
secundário.
A
ilustração da satisfação dessas necessidades nos leva a pensar o quão essencial
e básico para a vida espiritual é o que Jesus exige que esteja presente na vida
daquele que está no Reino. A busca por essa justiça mencionada é tão fundamental
que Cristo utiliza a linguagem “ter fome e sede”.
I - A FOME E A SEDE QUE NÓS NÃO DEVEMOS TER.
Eu
gosto de mencionar que o ser humano é um ser de desejo. A vontade, o querer, o
desejo por algo, às vezes nem sempre tão discernível, mas sempre estará presente;
e se não estiver certamente que essa pessoa não estará bem, perdeu o prazer por
viver. Esse desejo de algo é comum e
necessário nesta vida. Porém, em virtude do pecado o ser humano deseja
autossatisfação de uma forma distorcida. Por isso a fome e sede de muitos será
pela fama, pelo poder, pelo dinheiro, pelo sexo, etc. Cada uma dessas
coisas tem uma capacidade de atração enorme. A busca desenfreada por elas nada
mais é do que a alma humana em busca de completude, a alma clama por
preenchimento. Entretanto, ela erra onde pode ser encontrada essa completude,
esse sentido de existência, isso porque está escravizada pelo pecado. Por a pessoa
se encontrar morta espiritualmente, escrava do pecado, sem percepção espiritual
correta, buscará saciar seu vazio interior de diversos modos. A alma estará
inquieta como diz Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso
coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”.
A
partir do momento que a alma descansa em Deus ela se satisfaz e deseja mais
daquilo que a preenche:“Minha alma tem sede do Deus vivo” (Sl 42:2).
Isaías diz: “Com minha alma suspiro de noite por ti e, com o meu espírito
dento de mim, eu te procuro diligentemente…” (Is 26:9).
John
Stott em seu livro Contracultura Cristã, que é um comentário sobre o Sermão do
Monte, menciona três formas de justiça na Bíblia: a justiça legal, ajustiça moral
e a justiça social.
II – SENTIDOS DE JUSTIÇA NA BÍBLIA.
A) A justiça de Deus já presente em nossas vidas, Rm 5.1.
A
justiça legal trata-se da justiça de Cristo imputada a nós pelo Senhor por
aceitar a obra de Cristo pagando o nosso pecado. A obediência do Senhor Jesus
ofertada ao Pai em nosso lugar. O justo morrendo pelos injustos. Essa justiça
de Cristo é atribuída a nós quando o Espírito Santo gera fé em nossos corações
na obra de Cristo, nos conduz ao arrependimento e sucessivo compromisso como
Senhor. Agora somos justificados diante de Deus acerca da culpa do pecado
adâmico. Não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.
Mas
no texto de Mateus não é dessa justiça que Jesus está falando.
B) A justiça que devemos promover.
“Senhor, venha o teu
reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu” (Mt 6.10).
Não
podemos ser omissos na promoção dos direitos civis, na integridade nos
negócios, nas causas sociais em prol dos menos favorecidos socialmente, etc.
Na
história da igreja temos grandes exemplos de pessoas que se destacaram na promoção
da justiça social:
1) John Wesley realizou obras sociais como apoio
na reforma educacional, apoio na reforma das prisões, apoio na abolição da
escravatura; 2) Martin Luther King
lutou contra o preconceito racial.
Lutar
pela igualdade social é dever de todo cristão. Conquanto essas pessoas possam
ter marcado seus nomes na história, eles não estavam sozinhos, muitos anônimos
estiveram participando ativamente dessas lutas.
Ainda não é sobre esse tipo de justiça que Jesus está falando.
C) A justiça que devemos desejar.
A justiça moral trata-se de um viver correto na presença do Senhor. Diz
respeito às nossas ações, mas não é apenas uma conformidade exterior às
normas, diz de nossas motivações, daquilo que é interior. É nessa perspectiva
que mais adiante o Senhor Jesus diz aos discípulos:
“Se a vossa justiça
não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos
céus” (Mt 5:20).
Voltando os olhos para trás, podemos
ver que as quatro primeiras bem-aventuranças revelam uma progressão espiritual
de inexorável lógica. Cada passo conduz ao seguinte e pressupõe o anterior.
Começando, temos de ser "humildes de espírito", reconhecendo nossa
completa e total falência espiritual diante de Deus.Depois, temos de "chorar" por causa disto, por causa dos
nossos pecados, sim, por causa do nosso pecado: a corrupção de nossa
natureza decaída, e o poder do pecado e da morte no mundo. Terceiro, temos
de ser "mansos", humildes e gentis para com os outros, permitindo que
nossa pobreza espiritual (confessada e chorada) condicione o nosso
comportamento em relação a eles e também para com Deus.E, quarto, temos de ter "fome e sede de justiça". Pois de que
vale confessar e lamentar o nosso pecado, ou reconhecer a verdade a nosso
respeito diante de Deus e dos homens, se pararmos aí? A confissão do pecado
deve levar à fome de justiça. (STOTT, 1981, grifo nosso)
Interessante
que podemos afirmar que as quatro bem-aventuranças restantes mostram o que
acontece ao vivenciarmos essa fome e sede de justiça: seremos misericordiosos
(v.7), puros de coração (v.8), pacificadores (v.9) e por fim por conta de tudo
isso, perseguidos (v.10).
É
dessa justiça que Jesus está falando, que deve estar presente na vida de todo
salvo.
V – A BÊNÇÃO DESTINADA AOS QUE TEM FOME E SEDE DE JUSTIÇA.
a) Satisfação
Temos
necessidade diária da presença do SENHOR, e essa necessidade é de fato
satisfeita. “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que
crê em mim jamais terá sede” (Jo 6:35). Ao falar essas palavras Jesus está
dizendo que a pessoa que nunca havia encontrado satisfação, agora, n’Ele encontra,
nunca mais viverá sedenta e faminta, pois dele estará alimentada. Evidentemente
que é necessário assim como ocorre com o alimento físico estarmos nos
alimentando diariamente de Cristo. Todos os dias orando, todos os dias abrindo
o coração para a Palavra de Deus.
Em Cristo a alma humana encontra satisfação, encontra sentido. Se antes buscava o prazer pelo
prazer, voltava-se a todo tipo de coisa em busca de satisfazer-se, isso não
era possível. Todo o desejo humano distorcido sob o domínio do pecado, desse
modo a busca pelo poder, dinheiro, fama, sexo era algo a dominar o coração que
nunca se encontrava satisfeito. Agora em Cristo tudo isso encontra
equilíbrio: a fama já não tem mais o mesmo atrativo, o sexo estará presente
de modo equilibrado, a relação de poder não será mais de opressão, mas de
servidão, o dinheiro não será mais um fim em si, mas um meio a ser usado de
modo sábio; porque alma está satisfeita em Cristo tudo isso agora é possível.
b) A satisfação é eterna.
“Aquele, porém, que
beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede, pelo contrário, a água que
eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo
4:14).
É
no céu que nunca teremos fome ou sede, a satisfação será plena e eterna. De modo
muito belo nos diz Apocalipse: “Nunca mais terão fome, nunca mais
terão sede. Não cairá sobre eles sol, e nenhum calor abrasador, pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às
fontes de água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima" (Ap
7.16-17).
Conclusão
Que
a prioridade na sua vida seja sempre o reino de Deus e sua justiça, que você
possa ter fome e sede das coisas espirituais! Em Mt 6.3 o Senhor Jesus vai nos
dizer acerca das nossas preocupações diárias: “Busquem, pois, em primeiro
lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas
a vocês” (Mt 6.33).
De
modo prático então o que fazer? Podemos resumir nesses cinco pontos:
1. 1. Mantenha-se confiante em Deus. Sejam quais forem as circunstâncias, problemas ou
necessidades?
2. Ore sempre a Deus.
Confesse seus pecados a Ele, agradeça-lhe por tudo o que já te concedeu. Veja
como por meio da oração seu relacionamento com o Senhor se torna mais íntimo.
3. 3. Leia a Bíblia. Sem
sua leitura, sem sua reflexão você definhará espiritualmente. A Palavra de Deus
tem que ser um alimento diário.
5. Aja solidariamente.
Seja alguém que de fato ajuda pelo mero bem do outro. Envolva-se em algo que
não sejas por você, mas pelo outro. O trabalho voluntário é ótimo exemplo, no
qual a pessoa dedica seu tempo e talento sem retorno financeiro, mas com um
retorno de satisfação maravilhoso.
STOTT, John
R. W. Contracultura Cristã: A mensagem do Sermão do Monte. ABU
Editora S/C, São Paulo, SP,
1981.
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