"Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados" (Mt 5.4 NVI).
Introdução
Eu diria que consolar alguém não é algo fácil, para
alguns sofrimentos da vida faltam palavras que deem conta. Inclusive muitas
vezes quem está em sofrimento tem como mais importante a presença das pessoas
que estão ao seu lado do que aquilo que elas poderiam dizer. A dor do luto,
acredito seja a mais terrível que podemos sentir nesta vida e um dos grandes erros
que algumas pessoas cometem é dizer para alguém que está em sofrimento “não
chore”. A pessoa precisa chorar e por mais que tentemos falar algo útil nesse
momento sabemos que somente o SENHOR é quem conforta o coração.
Elucidação
Ao olhar para esse texto temos que admitir que ele
apresenta um aparente paradoxo, é como se Jesus estivesse dizendo “feliz os
infelizes”. Entretanto, atentemos melhor para ele e percebamos que não há
nenhum paradoxo ou contradição aqui.
I –
Que choro é esse do qual nos fala o texto?
A)
Não é o choro do sofrimento pelos problemas da vida.
Jesus nos diz que no mundo teremos aflições (Jo 16.33).
Vivenciaremos então esse choro por diversos motivos. Esse choro é
compreensivo, e certamente encontraremos no Senhor o consolo de nossas dores.
Inclusive podemos dizer que as bem-aventuranças tem como pano de fundo Isaías
61, onde dentre outras coisas é dito: “O Espírito do Soberano, o SENHOR,
está sobre mim, […] para consolar todos os que andam tristes [...]” (Is
61,1 e 2). Mas não podemos a partir daí olhar para essa bem-aventurança sob uma
ótica como a teologia da libertação que acaba interpretando as palavras de
Jesus como sendo prioridade dele libertar-nos do sofrimento presente. É bem
verdade que em Cristo encontramos consolo, e não apenas no presente, mas
de modo mais pleno no futuro eterno, no entanto não é desse choro que o texto
nos fala.
B)
Não é o choro pelo medo da consequência de nossos atos imprudentes.
Ilustração: alguém flagrado em ato delituoso poderá
chorar quando está diante do fato de que passará anos em regime de reclusão.
Entretanto, isso nem sempre é arrependimento e também não é desse choro que a
Palavra nos diz aqui.
C)
Não é o choro do remorso.
De acordo com alguns
dicionários, a palavra remorso deriva do latim remorsus. Sendo um
particípio passado de remordere, significa algo como “tornar a
morder”. Logo, é quando uma pessoa relembra de uma parte difícil da sua vida e
se tortura frequentemente com esse erro. (https://www.psicanaliseclinica.com/remorso/)
Embora esteja presente no remorso o sentimento de
culpa pelo ato cometido, a lamentação e arrependimento (esse
arrependimento não é o bíblico). Exemplo muito claro dessa situação é o de
Judas, chorou profundamente, mas seu choro foi mero remorso pelo erro, desespero
sem nunca olhar para a graça de Deus. Houvesse judas se arrependido do
pecado não teria cometido suicídio (Mt 27.3-5).
Aqui chamo a atenção que arrepender-se de um ato por
ser moralmente errado, contrariar padrões éticos aprendidos socialmente ou
no contexto familiar muitas vezes não é mesma coisa que arrepender-se porque
ofendeu a santidade de Deus, contrariou a vontade do SENHOR, desobedeceu aos
preceitos divinos. Pode aparentar que é algo igual, mas não é.
D)
trata-se do choro pelos pecados.
O texto não pode ser considerado desconectado
do versículo anterior. O bem-aventurado que chora aqui é aquele que é pobre
de espírito e logo reconhece sua condição pecaminosa.
Chorar pelos próprios pecados. “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação,
que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte”. (2 Co 7.10).
Comenta William Barclay que chorar é o
termo da língua grega mais forte para denotar dor e sofrimento, o mesmo termo
para se referir à morte de um ente querido. É a expressão usada por Jacó
(SEPTUAGINTA) quando acreditou que seu filho José estava morto.
Passamos a chorar pelo pecado quando o vemos da perspectiva de
Deus, não com olhos mundanos. Para o mundo o pecado não é algo
sério, é até um divertimento, algo normal. Alguns pecados inclusive são
defendidos como moralmente corretos. Porém, todo pecado é uma ofensa à
santidade de Deus independentemente de como a sociedade o tem tratado.
Não podemos está conformados em viver à semelhança do mundo, logo devemos agir como aconselha Tiago: "Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração.
Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza" (Tg 4.8-10).Chorar pelos pecados dos outros. “Torrentes de água nascem dos meus olhos, porque os homens não
guardam a tua lei” (Sl 119.136). Jesus
chorou sobre a cidade impenitente de Jerusalém. Paulo disse: “Pois muitos
andam entre nós…e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de
Cristo” (Fp 3:18).
Há situações que não afetam
diretamente a nós, mas devemos ser sensíveis a elas: chorar quando o nome de
Cristo é escandalizado por comportamentos de alguns cristãos, quando os valores
morais do evangelho são vilipendiados na sociedade, chorar até pela falta de
choro pelo pecado no contexto da igreja.
Como
chorar pelos nossos pecados como deveríamos?
II – O que nos impede de
chorar pelos nossos pecados?
A) Normalizarmos o pecado
como algum comum e aceitável.
Quando
não olharmos o pecado com a devida seriedade podemos correr o risco de tomar
como algo natural, aprendemos a naturalizá-lo ao ponto de estarmos sendo
tolerantes com o pecado em nossas vidas.
B) O desespero de pensar que
não há solução.
Ou seja,
a falta de confiança de que seja qual for o pecado cometido a graça do Senhor é
maior.
C) Soberba.
Olhamos
para nós mesmos e nos vemos como muito corretos. Não percebemos que não estamos
bem por falta de humildade diante do Senhor
Pecamos
nos relacionamentos com as pessoas, mas culpamos o outro justificando nossas
ações. Como iremos chorar pelo pecado se pensamos que o problema é o outro?
III – Qual o consolo para os
que choram pelos pecados?
Como é exatamente o consolo
do Senhor? Primeiramente é a convicção de que fui perdoado pelo Senhor
uma vez que vivenciei a tristeza pelo pecado, confessei minha iniquidade, e há
em mim o desejo de não mais praticá-lo.
Miquéias 7.18-19: “Quem,
ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da
transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para
sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós;
pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas
profundezas do mar”.
“Bem-aventurado aquele cuja
iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o
Senhor não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo” (Sl 32.1-2)
Em
segundo lugar o consolo de Deus diz da presença do Espírito Santo. O
Espírito Santo é nosso Consolador. Sabemos que temos ao nosso dispor o poder
espiritual que ele nos concede para que possamos resistir ao pecado e viver em
conformidade coma vontade do Senhor.
E ainda temos consolação da promessa divina acerca de eternidade
em sua presença, quando não apenas estaremos livres de todos os nossos pecados
como também de todos os infortuneos dessa vida,
Apocalipse 21.1-4.
Conclusão
Como sei se estou vivendo conforme Mateus 5.4? A forma como lido
com a realidade do pecado na minha vida e na vida das pessoas. Não permita que
o pecado lhe vença, chore pelos seus pecados.
Chorar não necessariamente é derramar lágrima, é como você se encontra nossa alma com relação ao pecado.
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