"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5.3 ARA).
Introdução
Com
o passar do tempo as palavras “pobre” e “rico” passaram a deixar algumas
pessoas desconfortáveis em alguns contextos. Algumas pessoas não gostam de
ouvir falar ou mesmo afirmar que são pobres, outras, também não se sentem
confortáveis com tal afirmação de que são ricas. E é óbvio que estamos
considerando esses termos apenas em um aspecto de seu uso, a denotação
material. Mas são palavras que podem ser usadas de diversas formas.
I – O que significa bem-aventurados?
O termo em grego é Makarios (macarios),
que pode ser traduzido por bem-aventurado, afortunado, feliz (RIENICKER; ROGERS,
1995). Entretanto, precisamos entender que o significado de algumas palavras
bíblicas tem que ser compreendidas em um contexto teológico, isto é, não é
suficiente para compreender o texto meramente transpô-la para o sentido usual
do presente. Dito isso, podemos então afirma que aqui não há uma afirmação acerca
de como as pessoas se sentirão, mas o que Deus pensa delas por serem como são,
ou seja, na perspectiva da consideração divina são felizes aqueles que são
pobres de espírito.
O
sermão não é sobre felicidade,
mas vivenciar a comunhão com o SENHOR, quando esta comunhão é real, a
felicidade poderá estar presente mesmo em circunstâncias desfavoráveis, não uma
felicidade ilusória, pueril, boba, sem crítica e autocrítica, mas uma satisfação
na alma que transcende a realidade de sofrimento presente, não permitindo que
este sofrimentos seja determinante para sentimentos como gratidão, quietude na
alma e disposição para obedecer ao Senhor.
II – o que é ser pobre de espírito?
Para
maior clareza alguns conceitos são mais bem elucidadosquando consideramos
primeiro o que não significam.
A. Não é pobreza financeira.
Admitimos
que o contexto judaico naquela época era constituído por pessoas em sua maioria
bastante pobres, e lembramos que a nação se encontrava em estado de dominação
sob os romanos. E aqueles que dominam sempre exploram os dominados, tal
situação aumenta o nível de pobreza de uma nação. Essa condição somada a outras
fomentava aquela esperança dos judeus por um messias libertador político/social.
Quando
Jesus chega anunciando o Reino de Deus, logo de início deixa evidente que sua
missão não é a libertação temporal e momentânea de algumas condições sociais opressoras.
Jesus se compadecia de todos os que sofriam, dos pobres aos enfermos; no
entanto, já no início de seu ministério público, na tentação no deserto, recusou-se
a transformar pedras em pães, com isso declarando que estava repudiando a ideia
de estabelecer um reino material (Mt 4.4). Mesmo quando multiplicou pães, para
que a multidão eufórica não o tomasse como rei, retirou-se para o monte (Jo
6:15). E diante de Pilatos inquirido sobre ambições políticas diz claramente: “o
meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36). Desse modo, seria incongruente
pensar que aqui Jesus estivesse falando acerca dos pobres em aspecto material.
B. Não é ter uma vida espiritual pobre.
Uma
vida espiritual pobre seria a vida que deveria ser experienciada
na plenitude do evangelho de Cristo, mas que a pessoa não faz usos de toda a providência divina para vida em
comunhão com o SENHOR. Significa então que a pessoa não se dedica à oração,
não se alimenta da Palavra de Deus como deveria, não expressa a fé por meio de obras
que glorificam ao Senhor, não exerce sua confiança no Senhor para as questões
práticas de sua vida, não investe tempo em estar em adoração ao Senhor, não busca
vivenciar a comunhão na igreja de Cristo, etc.
C. Não é ausência de autoestima.
A pessoa
pobre de espírito não é alguém que olha para si e desvaloriza-se. Não enxergar
as qualidades das quais o SENHOR o(a) dotou não é humildade. Inclusive ao agir desse
modo a pessoa se coloca em uma situação na qual deixa de glorificar a Deus
pelos dons, virtudes e talentos que o SENHOR lhe concedeu.
Necessitamos
de ter o equilíbrio de pensar acerca de nós mesmos sem nos exaltarmos e sem nos
depreciarmos. A postura deve ser a mesma do apóstolo Paulo: “Mas, pela graça
de Deus sou o que sou [...]” (1 Co 15.10).
Lembrando
que Jesus está distinguindo as diferenças do caráter daqueles que devem
vivenciar as realidades do Reino de Deus daqueles que não vivenciam tal realidade.
Desse modo, ausência de autoestima ou outras características psicológicas
negativas são vivenciadas por pessoas ímpias também, logo não coaduna com o
conceito que Jesus está apresentando.
Então,
agora podemos afirmar positivamente o que significa ser pobre de espírito.
D) Ser pobre de espírito é reconhecer nossa total
dependência de Deus.
No
grego há duas palavras para designar “pobreza”. Penês = é o homem que tem que trabalhar para ganhar a vida, é
aquele que não tem nada que lhe sobre. É o homem que não é rico, mas que também
não padece necessidades. Ele não possui o supérfluo, mas tem o básico. Ptokós = descreve a pobreza absoluta
e total daquele que está afundado na miséria. É o mendigo, o extremamente necessitado. Aquele
que não tem nada. Esta é a palavra que Jesus usou. Feliz é o homem que
reconhece sua total carência e coloca a sua confiança em Deus. Feliz é o homem que reconhece que o
dinheiro, o poder e a força não significam nada, mas Deus significa tudo.
Ser
pobre de espírito é agir como o publicano: “Deus, tem misericórdia de mim,
que sou pecador” (Lc 18.13).João Calvino disse: “Só aquele que, em si
mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre de
espírito.”
E) Ser pobre de espírito significa entender que toda a
base da nossa aceitação por Deus está nos méritos de Cristo.
Com
muita frequência Jesus denunciou a soberba dos fariseus que se consideravam com
tantos méritos diante de Deus. O texto bíblico faz questão de mostrar o quão Jesus
era escandaloso, contrariando as expectativas religiosas farisaicas sentava para
comer com prostitutas e publicanos, e chegava a dizer que esses precederiam os
religiosos de então no Reino de Deus justamente porque se reconheciam pobres de
espírito, sem condições de estar diante do Senhor. Logo, clamavam pela
misericórdia divina de modo verdadeiro.
Ser pobre de espírito é viver o caminho
da santidade. Vivencia a santidade não
quem se esforça de modo sobre-humano para tal, mas quem deseja profundamente e se
entrega cabalmente ao Senhor para que Ele possa estar operando essa novidade de
vida por meio do Santo Espírito.
III – “Pois deles é o Reino dos Céus” é uma promessa para
o presente.
Vivencia
a realidade do Reino de Deus quem humildemente se coloca em total dependência
do SENHOR para tal. E a vida no reino não é apenas uma promessa escatológica
para o futuro, mas uma realidade já presente para todos aqueles que nasceram de
novo em Cristo Jesus.
Vivenciamos
em Cristo um estado de exaltação espiritual do qual ainda não temos um perfeito
entendimento, mas que a Palavra coloca nos seguintes termos em Efésios 2.6: “e,
juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus”.
Por
sermos pobres de Espírito Ele nos fez ricos espiritualmente: Em 1 Pedro 2.9
diz: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Tudo
isso implica que não vivenciamos apenas as dificuldades, as responsabilidades
de sermos de Cristo, vivenciamos também a glória, o privilégio, a alegria de
pertencermos ao SENHOR.
Conclusão
Algumas
dicas práticas na vida como pobre de espírito:
1. Humilhe-se
constantemente diante do SENHOR (1 Pe 5.6).
2. Tenha cuidado para
não estar buscando a glória para si naquilo que você faz (Mt 6.1-4).
Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita,
de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará" (Mt 6.1-4)
3. No relacionamento
com as pessoas busque viver o conceito da servidão cristã, pois é essencial no
Reino dos Céus (Marcos 9:35; 1 Coríntios
9: 19-23; Romanos 12: 15-16).
4. Se você não é
cristão, que possa vir a entender sua pobreza espiritual, pois não percebê-la
ou não admiti-la não muda a realidade de necessidade do Senhor. Que possa vir a
estar presente arrependimento e fé em sua vida! Que você possa pedir humildemente
o perdão de seus pecados e o dom da vida eterna!
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