Introdução
O
ser humano tem algumas necessidades básicas comuns a todos: temos as
necessidades fisiológicas como comida, água, sexo e sono; mas também temos
outras necessidades. Possuir bens pessoais (roupas, dinheiro, etc) e sentir-se
bem no trabalho que realiza são também necessidades humanas e traz um
sentimento de autossatisfação. Tudo isso aproveitado de modo sensato é algo
bom. O pecado está no ato de as pessoas distorcerem o sentido da satisfação de
suas necessidades vivendo então de modo egoísta e desrespeitando o direito dos
outros de igualmente sentir-se realizados.
O
oitavo mandamento nos protege quanto ao direito humano individual de usufruir
na relação com o outro aquilo que nos advém como dádiva divina para a vida: é
uma proteção à propriedade individual.
I – O que proíbe o
oitavo mandamento?
São
muitos os textos bíblicos com relação a esse mandamento. No A. T. temos as
proibições bem específicas a cerca de algumas modalidades de descumprimento
desse mandamento. O negócio fraudulento (Ex 22.9); o uso de duas medidas, que
era algo muito comum (Lv 19.35-37; Dt 25.13-16; Pv 11.1; 20.10;) o roubo de
animais (Êx 22.1); o arrombamento de casas (Êx 22.2). No N. T. temos o
contundente texto de Efésios 4.28: “Aquele que furtava não furte mais;
antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com
que acudir ao necessitado”.
Há
também os exemplos de acontecimentos de roubos e suas consequências tristes. A
Bíblia diz que Absalão furtava o coração do povo (2 Sm 15.6). Raquel roubou os
ídolos domésticos da casa de seu pai (Gn 31.19, 30); Acã teve um fim trágico
por conta de seu roubo (Jz 7.1-26). Os tempos de Oséias eram tempos de
corrupção generalizada (Os 4.1, 2). Deus mesmo acusa o povo de roubo por
serem sonegadores dos dízimos e ofertas (Ml 3.8).
Mas
podemos definir roubo biblicamente como algo mais amplo do que meramente tirar
alguma coisa física de alguém. Podemos citar como exemplo a exploração
de preços por meio de cartel, adulteração de produtos, suborno,
desvio de verbas públicas, plágio,
ou seja, qualquer forma de desonestidade pessoal, comercial ou até
governamental. O atraso do pagamento do trabalhador também é citado como roubo
(LV 19.13; Dt 25.13-16).
II – Como podemos
obedecer ao oitavo mandamento?
Quais
os deveres exigidos no oitavo mandamento?
a) Honestidade
comercial
Espera-se
de um filho de Deus, que diz viver na verdade e justiça, que de fato haja em
suas relações sociais com honestidade em todos os momentos. Não deve então ser
diferente com relação ao comércio. Assim, aquele que compra tem que
pagar. Aquele que vende tem que entregar o seu produto conforme
anunciado. Também não se deve aderir ao plágio, ou seja,
passar-se por legítimo autor de uma obra que não é sua.
b) O trabalho honesto
Seja
qual for o trabalho, contanto que em si mesmo não constitua ato pecaminoso, é
bênção do Senhor. “Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos
seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá
bem” (Sl 128. 1 e 2).
Todos devem trabalhar. Interessante
que o mandamento acerca do descanso implica ordem a que todos trabalhem (Êx
34.21). O povo de Israel compreendeu bem isso, o preguiçoso não era bem visto
na comunidade. Salomão aconselha: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso,
considera os seus caminhos e sê sábio” (Pv 6.6).
A
esse respeito o apóstolo Paulo chega a dizer que “se alguém não quiser
trabalhar, não coma também” (2 Ts 3.10). E ainda: “Aquele que
furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é
bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Efésios 4.28).
O trabalho
traz satisfação. Trabalha-se para o
autossustento e da família, esse é o principal motivo, mas o trabalho em si já
é fonte de satisfação pessoal. Trabalhar no que se ama fazer é um prazer
realizador. Não podemos desconsiderar que para muitas pessoas trabalhar é algo
penoso. Há também situações degradantes referentes ao trabalho como a
exploração de mão de obra barata, o trabalho escravo, etc. Vivemos em um mundo
caído no pecado e tudo isso é consequência da realidade humana no pecado. Mas
isto não muda o fato de que o trabalho foi estabelecido pelo Senhor e é fonte
de realização pessoal.
O trabalho
deve ser feito com sinceridade. “Tudo
quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para
homens” (Cl 3.23).
Para
o cristão o trabalho é imbuído de um compromisso ético que não visa meramente
relação de fidelidade com o outro (empregador, empregado, cliente, etc.), mas
também a relação com Deus. A honestidade no trabalho, a dedicação e a
sinceridade são qualidades que glorificam a Deus naquilo que Ele concedeu para
realizar.
Os
empregadores devem ser justos. Atrelado ao trabalho
honesto está o dever por parte dos empregadores de serem justos, serem íntegros
para com seus funcionários pagando salário digno e em dia (Dt 24.15; Ef
6.9; Cl 4.1). Paulo apresenta até uma razão escatológica para isso:
o Senhor de todos é o mesmo e a Ele
todos prestarão contas (Cl 4.1).
c) Alegrar-se com a providência
divina.
“Aprendi a viver
contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser
honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de
fartura, como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele
que me fortalece” (Filipenses
4.11-13).
Desse
modo devemos viver em contentamento. Contente em Fp 4.11 é uma autossuficiência interior oposta à falta ou
ao desejo das coisas materiais. Ou seja, não é o ter alguma coisa que irá
ditar a alegria do cristão, mesmo na ausência de posses materiais é possível ao
cristão estar em alegria e grato ao Senhor pelas dádivas já concedidas.
Contudo,
lembremos que a Palavra condena a idolatria ao dinheiro, que leva as pessoas a
outras formas de pecado como a injustiça, a luxúria, a opressão, etc. Tudo isso
está expresso em Tiago 5.1-6. É essa
atitude na vida que é condenável pelo Senhor Jesus ao dizer que muitos ricos
não entrarão no reino dos céus, pois colocam o seu coração na riqueza. Mas o
ser rico em si não é algo maligno, e aquele a quem o Senhor concede
prosperidade pode usufruir de seus bens e devem ser instrumentos de Deus para
abençoar outros.
O
cristão então deve encontrar o equilíbrio ideal entre o ter e o ser. Ter bens
sem ser arrogante e egoísta, mas sendo grato ao Senhor. Quando não tiver o que
deseja não ser ingrato por conta dessa falta.
Conclusão
1. Não é ter ou não
ter coisas que garante a felicidade, mas viver o amor de Deus. Amar a Deus
estar acima de tudo, e tudo podemos receber de suas mãos com gratidão.
2. Se Deus te fez ou
fará prosperar nesse mundo, você não pode esquecer de ser generoso como
instrumento de Deus para abençoar outros. Se o Senhor te exaltar em algum
momento na vida não permita que o orgulho roube o seu amor para com as
pessoas.
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