Atos 9.1-31 - O soberano e gracioso amor transformador de Deus

 



Introdução

 

Interessante como em contos infantis caminhos que o personagem não deveria trilhar faz com que a estória aconteça. Em Chapelzinho Vermelho por exemplo tudo ocorre porque a personagem seguiu um caminho que não deveria. Se ela não houvesse trilhado o caminho da floresta não recomendado por sua mãe as coisas na estória não aconteceriam de forma interessante.

Saulo estava seguindo um caminho também, um caminho de erro, embora pudesse pensar que estava fazendo a coisa certa. E é aí nesse caminho, na estrada de Damasco que Deus faz as coisas na história de sua vida ficarem interessantes.

 

Elucidação

 

Quem foi o Saulo? Era um jovem promissor no caminho entre os fariseus. Poderia vir a ser rabi no futuro, veio a aprender de um dos maiores mestres de sua época, Gamaliel (At 22.3). Era como ele mesmo menciona muito zeloso pela Lei. Diante da ameaça do Cristianismo vemos referência a seu respeito como alguém que se opõe veementemente. Estava presente no martírio de Estevão (At 7.58). Liderou uma perseguição à igreja de Jerusalém (At 8.3).

Sua importância para o cristianismo.

Hoje lembramos de Saulo (nome hebraico) pelo seu nome romano, Paulo, o maior missionário da história do cristianismo, exegeta, apóstolo aos gentios, teólogo. Um exemplo de vida, de santidade ao Senhor. Muitos livros já foram escritos sobre ele, foi usado pelo Senhor para escrever muitas epístolas que expõem o evangelho de Cristo de modo magistral.

Sua conversão.

Mas o texto no qual nos desbruçamos nesse momento nos fala de sua conversão, nos mostra não apenas a sua experiência pessoal, mas também como o Senhor de modo maravilhoso agiu poderosamente na sua vida.

 


I – A manifestação da soberania e graça divina na conversão de Saulo, v. 1-9.

 1Enquanto isso, Saulo ainda respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor. Dirigindo-se ao sumo sacerdote, 2pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, de maneira que, caso encontrasse ali homens ou mulheres que pertencessem ao Caminho, pudesse levá-los presos para Jerusalém. 3Em sua viagem, quando se aproximava de Damasco, de repente brilhou ao seu redor uma luz vinda do céu. 4Ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”

5Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?”
Ele respondeu: “Eu sou Jesus, a quem você persegue. 6Levante-se, entre na cidade; alguém dirá o que você deve fazer”.
7Os homens que viajavam com Saulo pararam emudecidos; ouviam a voz, mas não viam ninguém. 8Saulo levantou-se do chão e, abrindo os olhos, não conseguia ver nada. E os homens o levaram pela mão até Damasco. 9Por três dias ele esteve cego, não comeu nem bebeu.

Os versículos 1 e 2 nos mostram como Saulo estava tão empenhado em perseguir os cristãos. O que vemos é um homem em sincero zelo religioso, ele realmente pensava está agradando a Deus com toda sua ira contra os cristãos. As cartas que ele recebe davam autoridade a ele, pois os romanos deixavam a cargo dos judeus suas questões religiosas, desse modo ele tinha soldados ao seu dispor para essa perseguição. Os primeiros crentes eram chamados os do caminho, discípulos, cristãos. Para esses a prisão e serem conduzidos a Jerusalém diante do Sinédrio (o tribunal religioso dos judeus) poderia significar a morte.

Mas o SENHOR tinha um grande propósito na vida desse homem. De modo soberano se manifestou a ele. Saulo teve uma visão do próprio Cristo. Uma grande luz, uma voz inesquecível, e um altivo Saulo ao chão! A pergunta de Cristo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” nos faz pensar nessa maravilhosa comunhão espiritual entre Cristo e sua igreja, ao ponto de aqueles que perseguem a igreja estarem perseguindo a Cristo. A igreja é o Corpo de Cristo (1 Co 12.27), logo, aqueles que odeiam a igreja estão odiando Cristo, aqueles que amam a igreja estão amando Cristo.

A graça divina é manifestada a Saulo. Um homem que era o perseguidor da igreja é escolhido primeiramente para a maior das dádivas - a salvação – e também para um privilegiado serviço - ser um futuro apóstolo aos gentios.

Por conta da refulgente luz Saulo esteve temporariamente cego (v.9). Somente quando esteve cego fisicamente percebe que vivenciou uma cegueira espiritual em toda sua vida e que somente agora de fato seus olhos foram abertos para a verdade!

Saulo não tinha nenhuma inclinação para Cristo, odiava os cristãos, estava cego espiritualmente, não haveria como vir a Cristo se não fosse por ação da soberana graça do Senhor.

Talvez a sua e minha conversão não tenha sido um episódio tão dramático quanto o de Paulo, mas de igual modo só viemos a Cristo porque primeiro ele cruzou o nosso caminho e soberanamente nos fez “cair em terra”, nos fez perceber nossos pecados.

O texto nos mostra ainda que aquele homem que fora um perseguidor dos cristãos viria a ser usado pelo Senhor de forma maravilhosa.

 

II – Os planos soberanos de Deus para a vida de Saulo, v.10-16.

10Em Damasco havia um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou numa visão: “Ananias!”
“Eis-me aqui, Senhor”, respondeu ele.
11O Senhor lhe disse: “Vá à casa de Judas, na rua chamada Direita, e pergunte por um homem de Tarso chamado Saulo. Ele está orando; 12numa visão viu um homem chamado Ananias chegar e impor-lhe as mãos para que voltasse a ver”.
13Respondeu Ananias: “Senhor, tenho ouvido muita coisa a respeito desse homem e de todo o mal que ele tem feito aos teus santos em Jerusalém. 14Ele chegou aqui com autorização dos chefes dos sacerdotes para prender todos os que invocam o teu nome”.
15Mas o Senhor disse a Ananias: “Vá! Este homem é meu instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e seus reis, e perante o povo de Israel. 16Mostrarei a ele quanto deve sofrer pelo meu nome”.

Desde o início de sua trajetória espiritual Saulo teve de aprender a humildade, no texto vemos como o SENHOR o coloca sob uma condição em que precisa da ajuda de Ananias.

Ele viria a ser um proclamador do evangelho de Cristo aos gentios e aos judeus, independentemente da condição social desses. De fato nos planos divinos estava determinado que ele seria usado para fundar muitas igrejas locais, alcançar muitas cidades com a pregação do evangelho, pregar diante de autoridades civis, ser exemplo para a vida da igreja em toda sua história nesse mundo, e partir desse mundo em fidelidade até seu último suspiro.

Ele também viria a ser um grande exemplo para a igreja do que é sofrer por amor a Cristo (v. 16). Sofrer por Cristo foi algo constante em sua vida. E ele descobriu que isso é um privilégio, ser participante dos sofrimentos de Cristo é algo glorioso, incompreensivo a este mundo. O relato que ele faz acerca de seus sofrimentos em prol do Reino de Deus é algo tocante:

“São eles servos de Cristo? — estou fora de mim para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes.
Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.
Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar.
Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos.
Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.
Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas.
Quem está fraco, que eu não me sinta fraco? Quem não se escandaliza, que eu não me queime por dentro?
Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza.
O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não estou mentindo.
Em Damasco, o governador nomeado pelo rei Aretas mandou que se vigiasse a cidade para me prender.
Mas de uma janela na muralha fui baixado numa cesta e escapei das mãos dele” (
2 Coríntios 11:23-33).

Quero te dizer que todo salvo será de algum modo participante dos sofrimentos de Cristo, ou seja, sofrerá porque é salvo: passará por provações, poderá ser perseguido porque serve a Cristo, será alvo dos ataques do Inimigo de nossas almas, sofrerá na luta interior contra o pecado. Jhon Stott chegou a dizer: “O sofrimento é, pois, a característica dos seguidores de Cristo. Não deveremos nos surpreender se a hostilidade anticristã aumentar, mas, antes, se ela não existir”.

Mas mesmo e porque sabe de tudo isso que você possa participar do que é ser membro do Corpo de Cristo.

 

III – Os primeiros momentos de vida de Saulo com a igreja, v.17-31.

17Então Ananias foi, entrou na casa, pôs as mãos sobre Saulo e disse: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que apareceu no caminho por onde você vinha, enviou-me para que você volte a ver e seja cheio do Espírito Santo”. 18Imediatamente, algo como escamas caiu dos olhos de Saulo e ele passou a ver novamente. Levantando-se, foi batizado 19e, depois de comer, recuperou as forças.
Saulo passou vários dias com os discípulos em Damasco. 20Logo começou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus. 21Todos os que o ouviam ficavam perplexos e perguntavam: “Não é ele o homem que procurava destruir em Jerusalém aqueles que invocam este nome? E não veio para cá justamente para levá-los presos aos chefes dos sacerdotes?” 22Todavia, Saulo se fortalecia cada vez mais e confundia os judeus que viviam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.
23Decorridos muitos dias, os judeus decidiram de comum acordo matá-lo, 24mas Saulo ficou sabendo do plano deles. Dia e noite eles vigiavam as portas da cidade a fim de matá-lo. 25Mas os seus discípulos o levaram de noite e o fizeram descer num cesto, através de uma abertura na muralha.
26Quando chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo. 27Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus. 28Assim, Saulo ficou com eles e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor. 29Falava e discutia com os judeus de fala grega, mas estes tentavam matá-lo. 30Sabendo disso, os irmãos o levaram para Cesareia e o enviaram para Tarso.
31A igreja passava por um período de paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria. Ela se edificava e, encorajada pelo Espírito Santo, crescia em número, vivendo no temor do Senhor.

Vemos nos versos 17 a 19 como Saulo passou a vivenciar as bênçãos espirituais como filho de Deus. Foi cheio do Espírito Santo, com quem sempre veio a manter um relacionamento de sensibilidade espiritual. Em seu ministério esteve sempre sendo direcionado pelo Espírito Santo (At 16.6-10 – vemos o Espírito Santo o proibindo de pregar em alguns lugares porque naquele momento queria usá-lo na Macedônida). Recomendou a igreja para que em suas atitudes não entristecessem ao Espírito Santo (Ef 4.30).

Foi curado. Voltou a ver, embora possivelmente Deus tenha deixado sequelas em sua visão para lhe ensinar a humildade.

Perceba um detalhe nesse relato, tanto o recebimento do Espírito Santo quanto a cura veio por meio da imposição de mãos de Ananias. Isso nos ilustra o quanto é importante para Jesus a comunhão dos seus redimidos.

Outra bênção espiritual recebida foi participar da comunidade de fé de forma integral, recebeu o batismo. O verdadeiro salvo não pode negar-se ao batismo, se o fizer estará em desobediência ao Senhor!

A sua experiência inicial de anunciar Cristo em Damasco teve como consequência perigo à sua vida, v. 19-25. Imagine a surpresa dos líderes da Sinagoga, que o esperava com autorização para prender os cristãos, mas ele chega justamente anunciando a Cristo. Esses líderes tinham o apoio do governador de Damasco e do rei Aretas, que dominava aquela região naquele momento.

Em Jerusalém teve dificuldade para ser aceito devido o receio da igreja de que sua conversão não fosse algo real, v. 26-27, de que fosse uma tentativa de se infiltrar para prender mais facilmente os cristãos. Novamente vivencia perigo de morte, v. 28-30, até ser enviado para Tarso.

O texto ainda nos diz no v. 31 que a igreja passou a ter um breve período de paz. Não apenas por conta da conversão de Saulo, mas também porque naquela época Calígula havia ascendido ao trono e quis erguer uma estátua sua no Templo de Jerusalém, então toda a atenção dos judeus se voltaram para essa questão. Mas até nisso vemos a ação soberana do Senhor dando um pouco de alívio ao cristãos, que foi útil ao crescimento da igreja.

 

Aplicação

 

1. A conversão é obra de Deus. É Deus que age de forma soberana e graciosa. Produz arrependimento por meio de Seu Santo Espírito e leva a entender a mensagem do evangelho. Saulo queria agradar a Deus com sua própria justiça, mas o Deus o leva a entender que o Messias que esperava era o Crucificado. O faz entender que nos basearmos em nossa própria justiça é um pecado mortal, que Cristo morreu efetuando a justiça nova e verdadeira, a única que vale diante de Deus, e que por isso podemos nos aproximar de Deus mediante a fé na obra dele. Mais adiante ele escreve sobre essa graça e soberania divina: “Mas Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça. Quando lhe agradou revelar o seu Filho em mim para que eu o anunciasse entre os gentios, não consultei pessoa alguma" (Gálatas 1:15,16).

 

2. O fato de Saulo cair por terra diante da visão de Cristo de certo modo ilustra que aquele a quem o Senhor Jesus alcança com sua graça soberana é humilhado diante dele. Não há verdadeira conversão sem essa humilhação, que está presente como reconhecimento da miserabilidade no pecado. Se você ainda não tem Cristo, reconheça seu pecado, reconheça sua necessidade dele! Aquele que já vive em Cristo mantenha essa humildade em seu coração!

 

 3. A conversão produz transformação. Paulo teve seu caráter transformado, suas prioridades de vida mudadas, uma nova percepção, um novo sentido para sua vida. Passou a viver totalmente de forma diferente de como vivia, de perseguidor passou a ser perseguido porque agora era um novo homem.

 

4. A conversão gera envolvimento com a igreja. Todo aquele que é verdadeiramente convertido envolve-se com a igreja. Busca viver a comunhão com a igreja, busca servir ao reino. Portanto, cuidado com a mentalidade difundida nos nossos dias na qual algumas pessoas tentam desestimular os cristãos a não estarem congregando! Os desigrejados podem até serem sinceros quanto a seus sentimentos, mas estão em um engano quando se afastam de uma igreja local, perdem nas oportunidades de vivenciar comunhão e serviço!

 

Conclusão

 

Como nos contos infantis, Saulo estava a seguir um caminho, mas Deus o trouxe para outro e mudou a sua história. Quando apraz a Deus trazer alguém para esse caminho, como diz em Is 35.8-10, esse Caminho Santo será trilhado até mesmo por quem aparentemente não haveria nenhuma possibilidade de trilhá-lo. Esse caminho foi ao encontro de Saulo e lhe disseEu sou o caminho, a verdade e a vida'' (Jo 14.6).

 

 


 

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