Introdução
Interessante
como em contos infantis caminhos que o personagem não deveria trilhar faz com
que a estória aconteça. Em Chapelzinho Vermelho por exemplo tudo ocorre porque
a personagem seguiu um caminho que não deveria. Se ela não houvesse trilhado o
caminho da floresta não recomendado por sua mãe as coisas na estória não aconteceriam
de forma interessante.
Saulo
estava seguindo um caminho também, um caminho de erro, embora pudesse pensar
que estava fazendo a coisa certa. E é aí nesse caminho, na estrada de Damasco que
Deus faz as coisas na história de sua vida ficarem interessantes.
Elucidação
Quem foi o Saulo? Era um jovem promissor no caminho entre os fariseus. Poderia
vir a ser rabi no futuro, veio a aprender de um dos maiores mestres de sua
época, Gamaliel (At 22.3). Era como ele mesmo menciona muito zeloso pela Lei.
Diante da ameaça do Cristianismo vemos referência a seu respeito como alguém
que se opõe veementemente. Estava presente no martírio de Estevão (At 7.58). Liderou
uma perseguição à igreja de Jerusalém (At 8.3).
Sua importância para o cristianismo.
Hoje
lembramos de Saulo (nome hebraico) pelo seu nome romano, Paulo, o maior
missionário da história do cristianismo, exegeta, apóstolo aos gentios,
teólogo. Um exemplo de vida, de santidade ao Senhor. Muitos livros já foram
escritos sobre ele, foi usado pelo Senhor para escrever muitas epístolas que
expõem o evangelho de Cristo de modo magistral.
Sua conversão.
Mas
o texto no qual nos desbruçamos nesse momento nos fala de sua conversão, nos mostra
não apenas a sua experiência pessoal, mas também como o Senhor de modo
maravilhoso agiu poderosamente na sua vida.
I – A manifestação da soberania e graça divina na
conversão de Saulo, v. 1-9.
Os
versículos 1 e 2 nos mostram como Saulo estava tão empenhado em perseguir os
cristãos. O que vemos é um homem em sincero zelo religioso, ele realmente
pensava está agradando a Deus com toda sua ira contra os cristãos. As cartas
que ele recebe davam autoridade a ele, pois os romanos deixavam a cargo dos
judeus suas questões religiosas, desse modo ele tinha soldados ao seu dispor para
essa perseguição. Os primeiros crentes eram chamados os do caminho, discípulos, cristãos. Para esses a prisão e serem
conduzidos a Jerusalém diante do Sinédrio (o tribunal religioso dos judeus) poderia significar a morte.
Mas
o SENHOR tinha um grande propósito na vida desse homem. De modo soberano se
manifestou a ele. Saulo teve uma visão do próprio Cristo. Uma grande
luz, uma voz inesquecível, e um altivo Saulo ao chão! A pergunta de Cristo: “Saulo,
Saulo, por que me persegues?” nos faz pensar nessa maravilhosa comunhão
espiritual entre Cristo e sua igreja, ao ponto de aqueles que perseguem a
igreja estarem perseguindo a Cristo. A igreja é o Corpo de Cristo (1 Co 12.27),
logo, aqueles que odeiam a igreja estão odiando Cristo, aqueles que amam a
igreja estão amando Cristo.
A graça divina é manifestada a Saulo. Um homem que era o perseguidor da igreja é escolhido primeiramente
para a maior das dádivas - a salvação – e também para um privilegiado
serviço - ser um futuro apóstolo aos gentios.
Por
conta da refulgente luz Saulo esteve temporariamente cego (v.9). Somente quando
esteve cego fisicamente percebe que vivenciou uma cegueira espiritual em toda
sua vida e que somente agora de fato seus olhos foram abertos para a verdade!
Saulo
não tinha nenhuma inclinação para Cristo, odiava os cristãos, estava cego espiritualmente,
não haveria como vir a Cristo se não fosse por ação da soberana graça do Senhor.
Talvez
a sua e minha conversão não tenha sido um episódio tão dramático quanto o de
Paulo, mas de igual modo só viemos a
Cristo porque primeiro ele cruzou o nosso caminho e soberanamente nos fez “cair
em terra”, nos fez perceber nossos pecados.
O
texto nos mostra ainda que aquele homem que fora um perseguidor dos cristãos
viria a ser usado pelo Senhor de forma maravilhosa.
II – Os planos soberanos de Deus para a vida de Saulo, v.10-16.
Desde
o início de sua trajetória espiritual Saulo teve de aprender a humildade, no
texto vemos como o SENHOR o coloca sob uma condição em que precisa da ajuda de
Ananias.
Ele viria a ser um proclamador do evangelho de Cristo aos
gentios e aos judeus, independentemente da condição social desses. De fato nos
planos divinos estava determinado que ele seria usado para fundar muitas
igrejas locais, alcançar muitas cidades com a pregação do evangelho, pregar
diante de autoridades civis, ser exemplo para a vida da igreja em toda sua história
nesse mundo, e partir desse mundo em fidelidade até seu último suspiro.
Ele
também viria a ser um grande exemplo para a igreja do que é sofrer por amor a
Cristo (v. 16). Sofrer por Cristo
foi algo constante em sua vida. E ele descobriu que isso é um privilégio, ser
participante dos sofrimentos de Cristo é algo glorioso, incompreensivo a este
mundo. O relato que ele faz acerca de seus sofrimentos em prol do Reino de Deus
é algo tocante:
“São eles servos de
Cristo? — estou fora de mim para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei
muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto
à morte repetidas vezes.
Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.
Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri
naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar.
Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios,
perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios;
perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos
irmãos.
Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e
muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.
Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha
preocupação com todas as igrejas.
Quem está fraco, que eu não me sinta fraco? Quem não se escandaliza, que eu não
me queime por dentro?
Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza.
O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não estou
mentindo.
Em Damasco, o governador nomeado pelo rei Aretas mandou que se vigiasse a
cidade para me prender.
Mas de uma janela na muralha fui baixado numa cesta e escapei das mãos dele” (2 Coríntios 11:23-33).
Quero
te dizer que todo salvo será de algum modo participante dos sofrimentos de Cristo,
ou seja, sofrerá porque é salvo: passará por provações, poderá ser perseguido porque
serve a Cristo, será alvo dos ataques do Inimigo de nossas almas, sofrerá
na luta interior contra o pecado. Jhon Stott chegou a dizer: “O sofrimento é,
pois, a característica dos seguidores de Cristo. Não deveremos nos surpreender
se a hostilidade anticristã aumentar, mas, antes, se ela não existir”.
Mas
mesmo e porque sabe de tudo isso que você possa participar do que é ser membro
do Corpo de Cristo.
III – Os primeiros momentos de vida de Saulo com a igreja, v.17-31.
Vemos
nos versos 17 a 19 como Saulo passou a vivenciar as bênçãos espirituais como
filho de Deus. Foi cheio do Espírito
Santo, com quem sempre veio a manter um relacionamento de sensibilidade
espiritual. Em seu ministério esteve sempre sendo direcionado pelo Espírito
Santo (At 16.6-10 – vemos o Espírito Santo o proibindo de pregar em alguns
lugares porque naquele momento queria usá-lo na Macedônida). Recomendou a
igreja para que em suas atitudes não entristecessem ao Espírito Santo (Ef
4.30).
Foi curado. Voltou a ver, embora possivelmente Deus tenha deixado
sequelas em sua visão para lhe ensinar a humildade.
Perceba
um detalhe nesse relato, tanto o recebimento do Espírito Santo quanto a cura
veio por meio da imposição de mãos de Ananias. Isso nos ilustra o quanto é
importante para Jesus a comunhão dos
seus redimidos.
Outra
bênção espiritual recebida foi participar da comunidade de fé de forma
integral, recebeu o batismo. O
verdadeiro salvo não pode negar-se ao batismo, se o fizer estará em desobediência
ao Senhor!
A
sua experiência inicial de anunciar Cristo em Damasco teve como consequência
perigo à sua vida, v. 19-25. Imagine a surpresa dos líderes da Sinagoga, que o
esperava com autorização para prender os cristãos, mas ele chega justamente
anunciando a Cristo. Esses líderes tinham o apoio do governador de Damasco e do
rei Aretas, que dominava aquela região naquele momento.
Em
Jerusalém teve dificuldade para ser aceito devido o receio da igreja de que sua
conversão não fosse algo real, v. 26-27, de que fosse uma tentativa de se
infiltrar para prender mais facilmente os cristãos. Novamente vivencia perigo
de morte, v. 28-30, até ser enviado para Tarso.
O
texto ainda nos diz no v. 31 que a igreja passou a ter um breve período
de paz. Não apenas por conta da conversão de Saulo, mas também porque naquela
época Calígula havia ascendido ao trono e quis erguer uma estátua sua no Templo
de Jerusalém, então toda a atenção dos judeus se voltaram para essa questão.
Mas até nisso vemos a ação soberana do Senhor dando um pouco de alívio ao cristãos,
que foi útil ao crescimento da igreja.
Aplicação
1. A conversão é obra de Deus. É Deus que age de forma soberana e graciosa. Produz arrependimento
por meio de Seu Santo Espírito e leva a entender a mensagem do evangelho. Saulo
queria agradar a Deus com sua própria justiça, mas o Deus o leva a entender que
o Messias que esperava era o Crucificado. O faz entender que nos basearmos em
nossa própria justiça é um pecado mortal, que Cristo morreu efetuando a justiça
nova e verdadeira, a única que vale diante de Deus, e que por isso podemos nos
aproximar de Deus mediante a fé na obra dele. Mais adiante ele escreve sobre
essa graça e soberania divina: “Mas Deus me separou desde o ventre materno e me
chamou por sua graça. Quando lhe agradou revelar o seu Filho em mim para que eu
o anunciasse entre os gentios, não consultei pessoa alguma" (Gálatas 1:15,16).
2. O fato de Saulo cair
por terra diante da visão de Cristo de certo modo ilustra que aquele a quem o
Senhor Jesus alcança com sua graça soberana é humilhado diante dele. Não há
verdadeira conversão sem essa humilhação, que está presente como reconhecimento
da miserabilidade no pecado. Se você ainda não tem Cristo, reconheça seu
pecado, reconheça sua necessidade dele! Aquele que já vive em Cristo mantenha
essa humildade em seu coração!
3. A conversão
produz transformação. Paulo teve seu
caráter transformado, suas prioridades de vida mudadas, uma nova percepção, um
novo sentido para sua vida. Passou a viver totalmente de forma diferente de
como vivia, de perseguidor passou a ser perseguido porque agora era um novo
homem.
4. A conversão gera envolvimento com a igreja. Todo aquele que é verdadeiramente convertido envolve-se
com a igreja. Busca viver a comunhão com a igreja, busca servir ao reino.
Portanto, cuidado com a mentalidade difundida nos nossos dias na qual algumas
pessoas tentam desestimular os cristãos a não estarem congregando! Os desigrejados
podem até serem sinceros quanto a seus sentimentos, mas estão em um engano
quando se afastam de uma igreja local, perdem nas oportunidades de vivenciar
comunhão e serviço!
Conclusão
Como
nos contos infantis, Saulo estava a seguir um caminho, mas Deus o trouxe para
outro e mudou a sua história. Quando apraz a Deus trazer alguém para esse
caminho, como diz em Is 35.8-10, esse Caminho Santo será trilhado até mesmo por
quem aparentemente não haveria nenhuma possibilidade de trilhá-lo. Esse caminho
foi ao encontro de Saulo e lhe disse “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida'' (Jo 14.6).
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