Êxodo 33.12-23 - COM A PRESENÇA MANIFESTA DE DEUS, SEMPRE AVANTE!

 


Disse Moisés ao Senhor: "Tu me ordenaste: ‘Conduza este povo’, mas não me permites saber quem enviarás comigo. Disseste: ‘Eu o conheço pelo nome e de você tenho me agradado’.
Se me vês com agrado, revela-me os teus propósitos, para que eu te conheça e continue sendo aceito por ti. Lembra-te de que esta nação é o teu povo".
Respondeu o Senhor: "Eu mesmo o acompanharei, e lhe darei descanso".
Então Moisés lhe declarou: "Se não fores conosco não nos envies.
Como se saberá que eu e o teu povo podemos contar com o teu favor, se não nos acompanhares? Que mais poderá distinguir a mim e a teu povo de todos os demais povos da face da terra? "
O Senhor disse a Moisés: "Farei o que me pede, porque tenho me agradado de você e o conheço pelo nome".
Então disse Moisés: "Peço-te que me mostres a tua glória".
E Deus respondeu: "Diante de você farei passar toda a minha bondade, e diante de você proclamarei o meu nome: o Senhor. Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão".
E acrescentou: "Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo".
E prosseguiu o Senhor: "Há aqui um lugar perto de mim, onde você ficará, em cima de uma rocha.
Quando a minha glória passar, eu o colocarei numa fenda da rocha e o cobrirei com a minha mão até que eu tenha acabado de passar.
Então tirarei a minha mão e você verá as minhas costas; mas a minha face ninguém poderá ver" (Ex 33.12-33 NVI).

Introdução


Um dos missionários mais famosos da história da igreja é David Livingstone. Era escocês, viveu no século XIX, nasceu em 1813. Também foi médico. Foi missionário na África, evangelizando e fazendo atendimento médico. Acompanhado pelos nativos fez várias expedições, atravessou florestas, planícies. Em 1858 atravessou a África Meridional de um extremo a outro. Era Metodista, se opunha ao tráfico de escravos e por isso entrou em conflito contra traficantes holandeses. Faleceu em 1º de março de 1873. Dentre seu legado deixa à posteridades umas frases que gostaria de aplicar aqui: “Deus, envia-me para qualquer lugar, desde que vás comigo. Coloca qualquer carga sobre mim, desde que me carregues, e desata todos os laços de meu coração, menos o laço que prende o meu coração ao Teu”. E ““Eu irei não importa aonde, contanto que seja para a frente.

 

Elucidação


Recapitulando um pouco a história do povo israelita até então: o SENHOR chamou Abraão do meio da sua parentela e lhe prometeu que dele faria uma grande nação. Em sua peregrinação ele chega a Canaã, e o SENHOR lhe promete que daria aquela terra aos seus descendentes. Tempos depois a descendência de Abraão precisa ir a ao Egito para fugir da fome que estava havendo em toda aquela região, após a morte de José o povo vivenciou uma estado de escravidão coletivo por 400 anos quando então Deus chama Moisés no deserto para trazer libertação ao povo. De modo dramático e espetacular o povo sai do Egito, atravessa o Mar Vermelho naquele milagre épico. Moisés então sobe ao Monte Sinai para receber do SENHOR revelação acerca da sua vontade para o povo. Deus estabelece um pacto com esse povo: Ele seria o seu povo, o adoraria e atrairia outras nações a adoração do verdadeiro e único Deus, Yavé seria o seu Deus, os protegeria e lhes daria uma terra muito produtiva, bastava tão somente eles viverem em fidelidade. Mas enquanto Moisés estava no Monte o povo impaciente por sua demora erige para si uma estátua de bezerro de ouro e começa adorá-la, Deus os pune extirpando do meio do povo os idólatras. Agora, ele recebe uma ordem: “sai desse lugar com o povo que você tirou do Egito, e vá para a terra que eu prometi com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó” (v. 33.1). Costumeiramente Moisés tinha diálogos com Deus em uma tenda fora do acampamento: a Tenda do Encontro, onde o SENHOR lhe falava “face a face”.  O nosso texto nos mostra um desses diálogos de Deus com Moisés, e alguns pedidos de Moisés a Deus.

Frente à ordem dada pelo SENHOR (V. 1) analisemos um pouco esse diálogo.

 


I – A preocupação de Moisés, v.12-16.

 

O texto nos mostra de modo bastante claro como Moisés se encontrava preocupado com algumas questões diante da futura jornada que estava diante de si como líder daquele povo, então ele queria a garantia de que tudo iria dar certo. Isso por alguns motivos:

Primeiro: ele sabia que aquele povo era obstinado. O SENHOR havia dito isso a Moisés acerca do povo (v. 3), e que, portanto, enviaria um anjo adiante deles, mas efetivamente sua presença não estaria com eles. Moisés não contesta a obstinação do povo, mas reconhece que sem a presença do SENHOR o desafio de liderar aquele povo parecia algo intransponível. Por isso apela para o fato de que o SENHOR mantinha uma íntima relação com ele. A expressão “conhecer pelo nome” fala dessa comunhão. Conhecer significava proximidade.

Segundo: ele queria continuar agradando ao SENHOR. Se eu acho graça aos teus olhos, ou seja, se me vês com agrado.   Por mais que pareça ousada a forma de Moisés falar com Deus, vemos que o SENHOR responde a ele de modo positivo.

 

II – As respostas do SENHOR, v. 14 - 17.

 

Deus diz a Moisés que o acompanhará, promete sua presença para ele. Parece estranho então que depois ele ainda continue pedindo ao SENHOR sua presença, mas é simples; ele não quer a presença divina apenas para ele, mas para todo o povo em sua caminhada, ele está pensando não apena sem si, mas na comunidade. E Yavé afirma que atenderá seu pedido. Agora Moisés poderia ficar tranquilo, e descansar no SENHOR.

Perceba que não são apenas as bênçãos do SENHOR que ele quer, não apenas vitórias, mas Sua presença. Prosperidade, bênçãos de qualquer tipo nada significam sem a comunhão do Deus abençoador.

Moisés sabia que não iria ser fácil dali por diante, muitos seriam os inimigos, no entanto, sua insistência é porque NADA pode substituir a presença de Deus. Estando em sua presença por mais que seja difícil trilhar o deserto podemos nos sentir seguros: Mesmo que eu ande pelo vale do sombra da morte, a tua vara e teu cajado me consolam” (Sl 23.4). Deus é meu refúgio e fortaleza, portanto não temeremos ainda que as águas tumultuem e espumejem, e na sua fúria, os montes se estremeçam (Sl 46.1,2).

Mas apesar de Deus responder tão positivamente Moisés ainda faz um pedido muito interessante.

 

III – O incomum pedido de Moisés, v.18.

 

Moisés sente necessidade de algo mais, pede para contemplar a glória do SENHOR.

No Antigo Testamento a expressão hebraica KABOD denota a glória divina. Quando se aplica a Deus, significa a manifestação luminosa da Sua pessoa, Sua gloriosa revelação de Si mesmo, é a própria realidade da Sua presença. Fazia sentido para o contexto histórico de Moisés tal pedido, para nós pedirmos de igual modo seria um equívoco por algumas razões: A glória divina no Antigo testamento manifestada no Sinai, no Templo, por entre a nuvem, no fogo, na luz, manifesta-se agora em Jesus e por meio de Jesus: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).

Quanto a nós, embora não tenhamos estado juntamente com os discípulos, visto pessoalmente a Cristo, sabemos que o veremos na eternidade, e contemplaremos eternamente sua glória.

Mas vejamos a graciosa resposta do SENHOR Moisés:

 

IV – A graciosa resposta do SENHOR, V. 19-23.

 

A resposta do SENHOR foi bastante incomum no sentido de que o pedido de Moisés parece-nos bastante ousado, no entanto, o SENHOR concede o que ele pede, não da forma que ele imaginava ser possível, e não por merecimento dele, mas por expressão da graça divina. Dentro dessa resposta vemos expressões que denotam uma antecipação daquilo que o SENHOR faria na história daquele povo na peregrinação no deserto quanto como se revelaria a Moisés muito em breve.

Em sua jornada como líder daquele povo Moisés veria muitas vezes o agir bondoso do SENHOR.

Deus diz a ele: você verá minha bondade (v.19). E de fato a bondade do SENHOR foi manifestada de diversos modos. O SENHOR lhes deu leis justas que regulamentou suas vidas de modo que poderia ser totalmente diferentes dos povos pagãos. Deu vitórias a eles sobre inimigos muito superiores militarmente. Deu-lhes uma terra para viver. Enquanto peregrinou no deserto Moisés viu muito da bondade do SENHOR.

Acredito que eu e você também temos visto da bondade de Deus enquanto peregrinamos no deserto desse mundo.

E por fim também veria a compaixão e misericórdia do SENHOR no seu relacionamento com aquele povo rebelde (v.19). Tanto a sua misericórdia é soberana quanto a sua compaixão, ou seja, Ele teve misericórdia de quem quis, teve compaixão de quem quis ter compaixão, logo exerceu do seu juízo sobre o povo em alguns momentos de infidelidade deste.

Tudo isso eram formas de Moisés contemplar indiretamente a glória de Deus.

E por fim ele contemplaria um pouco da glória do SENHOR, V. 20-23. No versículo 11 é dito que Moisés falava face a face com Deus, parece contradizer o que é dito no v 20, mas só parece. No v 11 a ideia é mais existencial, Deus lhe falava de fato, e havia em Moisés uma intuição espiritual e intelectual para compreender o que Deus lhe dizia, a expressão indica comunhão. No v. 20 trata-se da essência divina, e isso nem Moisés nem qualquer outro ser poderia contemplar.

Deus diz a Moisés que deixaria ele ver um pouco de Sua glória, como o faz, e está revelado no cap 34.4-7.

Ao mesmo tempo em que Deus se revela a nós mantém-se em mistério no sentido de que nunca poderemos compreendê-lo totalmente, contemplá-lo em toda a sua essência, se pudéssemos ele não seria Deus ou nós seríamos deuses.

No deserto que devemos trilhar nessa vida não necessitamos de uma contemplação luminosa da pessoa de Deus, já contemplamos a glória da Sua Pessoa nos seus atos de amor, misericórdia, graça, justiça e redenção!

Ao olhar para esse texto reflita e aja:

 

Aplicação

 

1. Em suas orações ao SENHOR o que você tem expressado de preocupação? O que tem ocupado sua mente? Tem pensado só em si? Lembre-se que você não atravessa o deserto desse mundo sozinho(a)!  

 

2. Assim como aqueles israelitas também estamos em uma jornada. A diferença para nós é que não necessitamos de um líder carismático a quem Deus dará alguma revelação especial de sua Pessoa. Ele já se revelou a nós em Jesus Cristo e Sua Palavra. Desse modo por estarmos em Cristo e termos o Espírito Santo temos o que é necessário para nossa jornada. Assim como o povo deveria fazer sob a liderança de Moisés, seguir em frente em meio ao deserto, siga em frente!

 

3. O SENHOR te chamou pelo teu nome, sim, você é inclusive mais privilegiado nesse sentido do que Moisés. Moisés estava sobre uma rocha física diante da glória do SENHOR, você está firmada na Rocha espiritual, que é Cristo, para refletir a glória do SENHOR neste mundo.

 

4. Podemos considerar o deserto um símbolo deste mundo, e que temos a ordem de Deus para seguir avante. E considerando que Moisés quando desceu do Monte o seu rosto estava brilhando pelo pouco que tinha contemplando da glória do SENHOR (Ex 34. 29-35), que você possa ter encontros com Deus que o leve a avançar nesse deserto de modo que todos possam ver sua face brilhar! E ela estará brilhando quando Cristo estiver sendo visto nas suas ações, nas suas palavras!

 

Conclusão


Talvez você não tenha um chamado para ir à África como David Livingstone, mas tem um chamado para ir ao mundo, viver Cristo, vencer o inimigo de sua alma nos embates espirituais diários, peregrinar neste mundo, tendo a preocupação não apenas consigo, mas também com o povo do qual você faz parte e com as pessoas que estão neste deserto sedentas espiritualmente. Muitos serão os obstáculos, muitos serão os desafios, mas com o SENHOR SIGA SEMPRE AVANTE!

 


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