Introdução
Um dos missionários mais famosos da
história da igreja é David Livingstone. Era escocês, viveu no século XIX,
nasceu em 1813. Também foi médico. Foi missionário na África, evangelizando e
fazendo atendimento médico. Acompanhado pelos nativos fez várias expedições,
atravessou florestas, planícies. Em 1858 atravessou a África Meridional de um
extremo a outro. Era Metodista, se opunha ao tráfico de escravos e por isso entrou
em conflito contra traficantes holandeses. Faleceu em 1º de março de 1873.
Dentre seu legado deixa à posteridades umas frases que gostaria de aplicar aqui: “Deus, envia-me para
qualquer lugar, desde que vás comigo. Coloca qualquer carga sobre mim, desde
que me carregues, e desata todos os laços de meu coração, menos o laço que
prende o meu coração ao Teu”. E ““Eu
irei não importa aonde, contanto que seja para a frente.”
Elucidação
Recapitulando um pouco a história do povo israelita até então: o
SENHOR chamou Abraão do meio da sua parentela e lhe prometeu que dele faria uma
grande nação. Em sua peregrinação ele chega a Canaã, e o SENHOR lhe promete que
daria aquela terra aos seus descendentes. Tempos depois a descendência de
Abraão precisa ir a ao Egito para fugir da fome que estava havendo em toda
aquela região, após a morte de José o povo vivenciou uma estado de escravidão
coletivo por 400 anos quando então Deus chama Moisés no deserto para trazer
libertação ao povo. De modo dramático e espetacular o povo sai do Egito, atravessa
o Mar Vermelho naquele milagre épico. Moisés então sobe ao Monte Sinai para
receber do SENHOR revelação acerca da sua vontade para o povo. Deus estabelece
um pacto com esse povo: Ele seria o seu povo, o adoraria e atrairia outras
nações a adoração do verdadeiro e único Deus, Yavé seria o seu Deus, os
protegeria e lhes daria uma terra muito produtiva, bastava tão somente eles
viverem em fidelidade. Mas enquanto Moisés estava no Monte o povo impaciente
por sua demora erige para si uma estátua de bezerro de ouro e começa adorá-la,
Deus os pune extirpando do meio do povo os idólatras. Agora, ele recebe uma
ordem: “sai desse lugar com o povo que você tirou do Egito, e vá para a
terra que eu prometi com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó” (v. 33.1).
Costumeiramente Moisés tinha diálogos com Deus em uma tenda fora do
acampamento: a Tenda do Encontro, onde o SENHOR lhe falava “face a face”. O nosso texto nos mostra um desses diálogos
de Deus com Moisés, e alguns pedidos de Moisés a Deus.
Frente à ordem dada pelo SENHOR (V. 1) analisemos um pouco esse
diálogo.
I – A preocupação de Moisés, v.12-16.
O texto nos mostra de modo bastante claro como Moisés se
encontrava preocupado com algumas questões diante da futura jornada que estava
diante de si como líder daquele povo, então ele queria a garantia de que tudo iria dar certo. Isso por alguns
motivos:
Primeiro: ele sabia que
aquele povo era obstinado. O SENHOR havia dito isso a Moisés acerca do povo (v.
3), e que,
portanto, enviaria um anjo adiante deles, mas efetivamente sua presença não
estaria com eles. Moisés não contesta a obstinação do povo, mas reconhece que
sem a presença do SENHOR o desafio de liderar aquele povo parecia algo intransponível.
Por isso apela para o fato de que o SENHOR mantinha uma íntima relação com ele.
A expressão “conhecer pelo nome” fala dessa comunhão. Conhecer significava
proximidade.
Segundo: ele queria
continuar agradando ao SENHOR. Se eu acho graça aos teus olhos, ou seja, se me vês
com agrado. Por mais que pareça ousada a forma de Moisés falar com Deus,
vemos que o SENHOR responde a ele de modo positivo.
II – As respostas do SENHOR, v. 14 - 17.
Deus diz a Moisés que o acompanhará, promete sua presença para
ele. Parece estranho então que depois ele ainda continue pedindo ao SENHOR sua
presença, mas é simples; ele não quer a presença divina apenas para ele, mas para todo o povo em sua caminhada, ele está pensando não apena sem si, mas na
comunidade. E Yavé afirma que atenderá seu pedido. Agora Moisés poderia ficar tranquilo,
e descansar no SENHOR.
Perceba que não são apenas as bênçãos do SENHOR que ele quer, não apenas vitórias, mas Sua presença. Prosperidade, bênçãos de qualquer tipo nada
significam sem a comunhão do Deus abençoador.
Moisés sabia que não iria ser fácil dali por diante, muitos seriam
os inimigos, no entanto, sua insistência é porque NADA pode substituir a presença de Deus. Estando em sua presença
por mais que seja difícil trilhar o deserto podemos nos sentir seguros: “Mesmo
que eu ande pelo vale do sombra da morte, a tua vara e teu cajado me consolam” (Sl 23.4). “Deus é meu refúgio e
fortaleza, portanto não temeremos ainda que as águas tumultuem e espumejem, e
na sua fúria, os montes se estremeçam” (Sl 46.1,2).
Mas apesar de Deus responder tão positivamente Moisés ainda faz um
pedido muito interessante.
III – O incomum pedido de Moisés, v.18.
Moisés sente necessidade de algo mais, pede para contemplar a
glória do SENHOR.
No Antigo
Testamento a expressão hebraica KABOD denota a glória divina. Quando se aplica
a Deus, significa a manifestação luminosa da Sua pessoa, Sua gloriosa revelação de Si mesmo, é a própria realidade da Sua
presença. Fazia sentido para o contexto histórico de Moisés tal pedido,
para nós pedirmos de igual modo seria um equívoco por algumas razões: A glória
divina no Antigo testamento manifestada no Sinai, no Templo, por entre a nuvem,
no fogo, na luz, manifesta-se agora em Jesus e por meio de Jesus: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós.
Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de
verdade” (Jo 1.14).
Quanto a nós,
embora não tenhamos estado juntamente com os discípulos, visto pessoalmente a
Cristo, sabemos que o veremos na eternidade, e contemplaremos eternamente sua
glória.
Mas vejamos a graciosa resposta do SENHOR Moisés:
IV – A graciosa resposta do SENHOR, V. 19-23.
A resposta do SENHOR
foi bastante incomum no sentido de que o pedido de Moisés parece-nos bastante
ousado, no entanto, o SENHOR concede o que ele pede, não da forma que ele
imaginava ser possível, e não por merecimento dele, mas por expressão da graça divina.
Dentro dessa resposta vemos expressões que denotam uma antecipação daquilo que o
SENHOR faria na história daquele povo na peregrinação no deserto quanto como se
revelaria a Moisés muito em breve.
Em sua jornada como
líder daquele povo Moisés veria muitas vezes o agir bondoso do SENHOR.
Deus diz a ele: você verá minha bondade (v.19). E de
fato a bondade do SENHOR foi manifestada de diversos modos. O SENHOR lhes deu
leis justas que regulamentou suas vidas de modo que poderia ser totalmente
diferentes dos povos pagãos. Deu vitórias a eles sobre inimigos muito
superiores militarmente. Deu-lhes uma terra para viver. Enquanto peregrinou no
deserto Moisés viu muito da bondade do SENHOR.
Acredito que eu e você
também temos visto da bondade de Deus enquanto peregrinamos no deserto desse
mundo.
E por fim também veria a compaixão e misericórdia do SENHOR
no seu relacionamento com aquele povo rebelde (v.19).
Tanto a sua misericórdia é soberana quanto a sua compaixão, ou seja, Ele teve
misericórdia de quem quis, teve compaixão de quem quis ter compaixão, logo
exerceu do seu juízo sobre o povo em alguns momentos de infidelidade deste.
Tudo isso eram formas
de Moisés contemplar indiretamente a glória de Deus.
E por fim ele contemplaria um pouco da glória do SENHOR, V.
20-23. No versículo 11 é dito que Moisés falava face a
face com Deus, parece contradizer o que é dito no v 20, mas só parece. No v
11 a ideia é mais existencial, Deus lhe falava de fato, e havia em Moisés
uma intuição espiritual e intelectual para compreender o que Deus lhe dizia, a
expressão indica comunhão. No v. 20 trata-se da essência divina, e isso nem
Moisés nem qualquer outro ser poderia contemplar.
Deus diz a Moisés que
deixaria ele ver um pouco de Sua glória, como o faz, e está revelado no cap
34.4-7.
Ao mesmo tempo em que
Deus se revela a nós mantém-se em mistério no sentido de que
nunca poderemos compreendê-lo totalmente, contemplá-lo em toda a sua essência,
se pudéssemos ele não seria Deus ou nós seríamos deuses.
No deserto que devemos
trilhar nessa vida não necessitamos de uma contemplação luminosa da pessoa de
Deus, já contemplamos a glória da Sua Pessoa nos seus atos
de amor, misericórdia, graça, justiça e redenção!
Ao olhar para esse
texto reflita e aja:
Aplicação
1. Em suas
orações ao SENHOR o que você tem expressado de preocupação? O que tem ocupado
sua mente? Tem pensado só em si? Lembre-se que você não atravessa o deserto
desse mundo sozinho(a)!
2. Assim
como aqueles israelitas também estamos em uma jornada. A diferença para nós é
que não necessitamos de um líder carismático a quem Deus dará alguma revelação
especial de sua Pessoa. Ele já se revelou a nós em Jesus Cristo e Sua Palavra.
Desse modo por estarmos em Cristo e termos o Espírito Santo temos o que é
necessário para nossa jornada. Assim
como o povo deveria fazer sob a liderança de Moisés, seguir em frente em meio
ao deserto, siga em frente!
3. O SENHOR te chamou pelo teu nome, sim, você é inclusive mais privilegiado nesse
sentido do que Moisés. Moisés estava sobre uma rocha física diante da glória do
SENHOR, você está firmada na Rocha espiritual, que é Cristo, para refletir a
glória do SENHOR neste mundo.
4. Podemos
considerar o deserto um símbolo deste mundo, e que temos a ordem de Deus para
seguir avante. E considerando que Moisés quando desceu do Monte o seu rosto
estava brilhando pelo pouco que tinha contemplando da glória do SENHOR (Ex 34. 29-35),
que você possa ter encontros com Deus que o leve a avançar nesse deserto de
modo que todos possam ver sua face brilhar! E ela estará brilhando quando
Cristo estiver sendo visto nas suas ações, nas suas palavras!
Conclusão
Talvez você não tenha um chamado para ir à África como David
Livingstone, mas tem um chamado para ir ao mundo, viver Cristo, vencer o
inimigo de sua alma nos embates espirituais diários, peregrinar neste mundo,
tendo a preocupação não apenas consigo, mas também com o povo do qual você faz
parte e com as pessoas que estão neste deserto sedentas espiritualmente. Muitos
serão os obstáculos, muitos serão os desafios, mas com o SENHOR SIGA SEMPRE
AVANTE!
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