Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados!
Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!
Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer.
Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; minha força foi se esgotando como em tempo de seca.
Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: "Confessarei as minhas transgressões ao Senhor", e tu perdoaste a culpa do meu pecado.
Portanto, que todos os que são fiéis orem a ti enquanto podes ser encontrado; quando as muitas águas se levantarem, elas não os atingirão.
Tu és o meu abrigo; tu me preservarás das angústias e me cercarás de canções de livramento.
Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você.
Não sejam como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento mas precisam ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem.
Muitas são as dores dos ímpios, mas a bondade do Senhor protege quem nele confia.
Alegrem-se no Senhor e exultem, vocês que são justos! Cantem de alegria, todos vocês que são retos de coração!
Introdução
Uma
das melhores emoções que podemos sentir é o alívio. Ele nos vem depois de um
momento de pressão. Como é bom sentir-se aliviado, por exemplo, após ser curado
de uma enfermidade grave, ou após passar em um concurso, ou após conseguir um
emprego depois de longo tempo desempregado, ou até mesmo após a satisfação de
uma necessidade fisiológica básica, etc. O Salmo 32 inicia com a expressão de
alívio por parte de salmista após ser perdoado por Deus.
Elucidação
Este
salmo é um “masquil”, do hebraico: “instrução” ou “poema instrutivo”, escrito
para lembrar ao pecador o prazer do perdão dos pecados. Escrito por Davi após
aquele episódio tão triste em sua vida que envolveu adultério, assassinato,
mentira, falsidade. Desejou Bate-Seba, mulher de Urias, adulterou com ela,
tentou esconder que o filho que Bate-Seba esperava era dele, quando isso não
deu certo planejou a morte de Urias. Veio a casar com Bate-Seba, mas a criança
após nascer adoeceu e morreu. Antes disso Davi só foi despertado para entender
a gravidade de seu pecado porque o SENHOR usou o profeta Natã para repreendê-lo
(2 Sm 11–12).
Mas
o nosso texto nos mostra o alívio, a felicidade vivenciada por ele após o perdão
e a tentativa de ensinar como é precioso o perdão do SENHOR.
I – Uma difícil trajetória no estado de pecado, v.1-5.
Davi
não se arrependeu imediatamente do seu erro. Durante quase um ano viveu como
quem não cometeu algo tão grave. Quando finalmente arrependeu-se escreveu dois
salmos, primeiro o Salmo 51 no qual também fala de seu arrependimento, depois
este salmo 32.
Para
demonstrar a abrangência do pecado Davi utiliza três termos diferentes nos
versículos 1 e 2:
Iniquidade (transgressões
– NVI), do heb. pesha’, que
indica “rebelião”, afastamento de Deus, e, portanto, implica pecado voluntário;
Pecado, do heb chata’ah. Pecado do ponto de
vista de errar o alvo, falhar no cumprimento do dever;
Dolo (hipocrisia –
NVI), do heb. remiyyah, “engano”, ou seja, ausência
de percepção da falsidade em si mesmo e da culpa aos olhos de Deus ou dos
outros.
Assim
podemos perceber que as atitudes de Davi constituíram ações de rebelião nas
quais ele teve tempo de arrepender-se, mas não o fez; falhou no seu dever de
viver em obediência a Deus e ser um exemplo para seu povo; e durante algum
tempo não vivenciava o peso da culpa pelo se erro, vivia se autoenganando como
se tudo estivesse bem.
Um
dos grandes problemas atuais que impedem de as pessoas reconhecerem seus
pecados é a postura pós-moderna da desvalorização
do sentimento de culpa, isto é, a ideia de que a culpa é uma coisa que não
pode ser admitida. As pessoas então são incentivadas a não se sentirem culpadas
pelas suas ações. A culpa é transferida para situações do passado que
determinam o agir do presente; a culpa não é vista como pessoal, mas das condições
desfavoráveis que o indivíduo vivencia; ou então a culpa é dos outros que
fizeram a pessoa reagir ao que lhe foi feito; etc. Mas a forma correta de lidar
com a culpa não é negá-la nem transferi-la. Isso não faz bem, é necessário
admitir o pecado.
Veja
como ele descreve seu estado enquanto não reconheceu o pecado na sua vida (v.
3-4). Ainda que não havia encontrado o caminho do arrependimento, as
conseqüências se faziam presentes, ele fala de questões psicológicas e físicas,
não estava bem, havia muitos conflitos mentais. “Tua mão pesava sobre mim”
traz o sentido de consciência pesada. E tudo isso somatizava em seu corpo
atingindo sua saúde.
Ele
somente pôde encontrar paz quando confessou seu pecado (v.5). Por isso que ele
podia dizer que é muito feliz a pessoa a quem as transgressões são perdoadas.
Davi experimentou um terrível estado de pecado, mas pôde usufruir das riquezas
da graça do SENHOR.
II – O resultado de encontrar em Deus o perdão, v.6-7.
Primeiramente
ele ressalta a importância de buscarem ao SENHOR em oração para poder usufruir
do alívio do perdão, e isso enquanto há tempo (v.6). Embora Deus seja
compassivo e longânimo, rico em perdoar, a pessoa pode vivenciar um estado de
pecado que por muito se acostumar nele já não se importa mais, naturaliza sua
condição, minimiza. Deus não é encontrado porque a pessoa não mais o busca para
obter perdão. Mas quem o busca vivencia a
segurança que ele descreve: “Quando as muitas águas se levantarem elas não
o atingirão”. Uma imagem que faz lembrar naquele contexto a inundação nos
vales e canais depois de uma forte chuva, quando então havia pânico. O exemplo
dado por ele era bem conhecido. Ele usa essa imagem para mostrar que o perdão
traz a sensação de segurança como quem recebe livramento numa circunstância de
inundação. Ele repete esse sentimento de segurança no versículo 7 acrescentando
a alegria que agora estava presente
a expressar-se nos cantos que enaltecem os livramentos do SENHOR na sua vida.
III – O Senhor fala ao salmista, v.8-9.
“Eu
te instruirei e o ensinarei”. Há no v. 8 uma
complicação hermenêutica. Alguns comentaristas afirmam que as palavras são de
Deus em resposta ao arrependimento sincero de Davi, outros afirmam que são as palavras
de Davi refletindo sua responsabilidade como alguém que tem o dever de instruir
outros no caminho do SENHOR. Uma vez que ele vivenciou tais momentos de queda e
restauração aconselha então para que outras pessoas prestem atenção no que ele
tem a ensinar a respeito. Contudo, iremos adotar aqui a primeira interpretação,
pois entendemos que agora ele escreve profeticamente aquilo que Deus lhe falou.
O SENHOR diz que lhe ensinaria o caminho
correto, iria cuidar dele, mas que ele atentasse para seus ensinamentos, não
agisse feito um cavalo que necessita de cabresto. No v.9 A recomendação é clara, ande corretamente, não espere que
seja necessário o uso de freios e rédeas, ou seja, disciplina e sofrimento para
despertar para o arrependimento e confissão.
IV – A conclusão do salmista v. 10-11.
O
ímpio há de sofrer. Ainda que viva todos
os prazeres do pecado imagináveis neste mundo, sofre desde já como consequência
de seus pecados o juízo divino e sofrerá eternamente. Mas aqueles que confiam
no SENHOR alcançam dele misericórdia (ARA), ou seja, Ele não nos trata conforme
os nossos pecados, mesmo quando nos castiga sua misericórdia está presente.
Desse modo: alegrem-se, cantem de alegria vocês que são retos de coração.
Afinal, pecam, mas são restaurados, tem muitos motivos então para celebrar a
bondade, a fidelidade, e a misericórdia do SENHOR.
CONCLUSÃO
Interessante
que o Apóstolo Paulo utiliza este Salmo para falar da justificação em Cristo em
Rm 4.6-8: “[...] Davi declara ser bem-aventurado o homem a
quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados
aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado
o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado”.
Quero
que você faça seguinte exercício mental: pense nos pecados de Davi, todo o
escândalo, toda maldade que ele cometeu. Agora troque Davi por você: pense em
todos os seus pecados. Mas você pode sentir-se aliviado, pois Cristo morreu na
cruz para que você pudesse viver a alegria do perdão. E todos os dias essa alegria
pode se renovar, pois todos os dias você pode usufruir mais do perdão do
SENHOR!
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