Tiago 2.1-13 - A IMPARCIALIDADE DO AMOR NO CONTEXTO DA IGREJA

 


Elucidação


O apóstolo Tiago escrevendo aos irmãos dispersos que se reuniam na sinagoga para adorar ao Senhor lhes instruiu que não deveriam seguir o exemplo dos fariseus quanto ao tratamento aos irmãos. Os fariseus eram sempre propensos a rotular, discriminar, valorizar as pessoas pelo seu status social, pela sua condição financeira e coisas do tipo. Eles deveriam tratar uns aos outros com a devida honra e respeito, sem distinção de classe social. Deveriam tratar os mais pobres materialmente com a mesma honra que tratavam os de elevada condição social. Tiago deixa claro que a atitude errada deles demonstra claramente o quanto eles eram transgressores de toda Lei. Pois a Lei mosaica exigia uma obediência completa. Aqueles que estão em Cristo então deveriam agir de forma diferente. O amor deveria ser a base para o relacionamento entre eles, independentemente de qualquer questão exterior.

 

I – Adotar critérios mundanos seria negar os valores da fé em Cristo, 1-4.

 

Como são os critérios mundanos? Os critérios mundanos de ação estão sempre baseados em sentimentos e intenções egoístas. Trata-se o rico de modo especial, dando honra porque no fundo deseja ter algum proveito daquilo que o rico pode fazer por ele. Trata-se o mais pobre com indiferença porque está diante dele trás implicações morais, ou seja, o que fazer para ajudar essa pessoa. Para evitar essa questão a indiferença é uma fuga.

O problema é que ambas as formas de tratamento são contrárias à fé em Cristo. Tiago nos diz que a fé que devemos ter em Cristo deve ser destituída da acepção de pessoas.  Acepção: é fazer julgamentos e estabelecer diferenças baseadas em considerações externas, tais como a aparência física, status social ou cor de pele.  Aqui podemos tirar uma séria consequência de um modo de agir contrário ao que Tiago aconselhou, se agirmos com acepção de pessoas estaremos na realidade negando nossa fé em Cristo. Por que isso?  Porque Jesus não valorizava as pessoas pela cor da pele, pela beleza das roupas, pelo dinheiro. Jesus não julgava as pessoas pela aparência (Mt 22:16).

           Para ilustrar que na igreja do SENHOR todos devem ser tratados de modo igual Tiago apresenta uma situação na qual cristãos poderia estar agindo de modo pecaminoso, conforme os padrões mundanos se dessem mais honra a alguém a  partir de critérios que levam em conta questões financeira  e de status.

 

II – Adotar critérios mundanos seria desconsiderar a ação da graça de Deus, 5-7.

 

 No v. 5 a ênfase de Tiago é sobre a soberana escolha de Deus. O texto não está dizendo que Deus escolheu os pobres, santificando a pobreza como algo em si, mas que Deus escolheu os que para o mundo são pobres, ou seja, que em graça Deus agiu na contramão dos critérios mundanos. Concedeu salvação tendo como critério Sua soberania e sua graça, jamais qualquer coisa no homem. A salvação não está baseada em mérito humano nem mesmo em nossas obras. A salvação não é nem comprada nem merecida (Ef 1:4-7; 2:8-10). Deus não leva em conta diferenças nacionais, sociais ou de qualquer outro tipo; diante d’Ele todos são pecadores necessitados de Sua graça.

Tiago nos mostra então que nossa acepção com as pessoas está em contraste com a forma de Deus agir. Aqueles que são desprezados a partir dos critérios mundanos são alcançados pelo SENHOR e recebem a maior de todas as riquezas.

Tiago leva-os a reflexão mostrando-lhes como a atitude deles estava sendo incoerente. Denuncia então três pecados que os ricos daquele contexto cometiam: oprimiam os pobres, isto é, não pagavam um salário justo (Tg 5.1-6); leva-os aos tribunais, ou seja, a justiça era comprada para lhes favorecer; e blasfemavam o nome de Cristo.

Infelizmente há de ser dito que pode ser visto muito erro na igreja em nossos dias a esse respeito. Pecam contra o SENHOR igrejas que não dão a devida atenção a alguém que entrou no templo com roupas sujas que demonstram sua pouca condição financeira. Peca contra o SENHOR quem trata melhor membros que tem mais dinheiro na igreja.  Pecam contra o SENHOR líderes que dão demasiada honra a políticos e ainda lhes concedem o microfone para falar de política na igreja. Tais critérios de tratamento são mundanos.

 

III – A lei de Deus não pode ser relativizada, 8-11.

 

De forma muito inteligente Tiago utiliza uma argumentação para com aqueles judeus que se gabavam de obedecer à lei de Deus, mostrando-lhes que eles estavam na verdade desobedecendo. Primeiramente lembra-lhes de Lv 19.18: “Ame seu próximo como a si mesmo”. Depois mostra que é considerado transgressor da Lei (Decálogo) qualquer um que descumprir um dos mandamentos, ainda que obedeça os outros. E ao usar o exemplo do “não matarás” certamente que ele tem em mente o que Jesus disse sobre esse mandamento em Mt 5.21 e 22. Basicamente Jesus falou que o ódio, o desprezo, a anulação do indivíduo é uma forma de assassinato. Então, na argumentação de Tiago eles estavam relativizando a Lei porque estavam matando as pessoas no sentido em que desconsiderava sua existência ou seu valor por serem pessoas. Preocupavam-se em não adulterar ou obedecer outro mandamento, mas esqueciam de demonstrar amor pelas pessoas.

 

IV – Quem viver conforme os critérios mundanos não terá a aprovação divina, v.12-13.

 

Aqui no versículo 12 Tiago afirma que o procedimento deles deveria ser como alguém que será julgado pela lei da liberdade, da graça em Cristo, não a Lei Mosaica, pela qual eles certamente teriam muito prejuízo ao serem julgados por ela. Tiago está mostrando que atitude deles estava demonstrando falta de misericórdia para com as pessoas. Ao invés de estarem julgando as pessoas pela aparência deveriam ser misericordiosos e tratar a todos igualmente.

Misericórdia tem um significado muito profundo. Na teologia ela tem um significado de não aplicar a punição merecida. Ou seja, quando nós pecamos, muitas vezes Deus não nos pune, não nos castiga com o castigo que mereceríamos receber.
           Deus foi infinitamente misericordioso conosco nos concedendo a salvação. Usa de sua misericórdia a cada dia em nossas vidas como diz Jeremias em Lamentações 3.22, 23; logo temos o dever de usar de misericórdia para com todos, afinal, a misericórdia fundamenta-se no amor. O Senhor tem misericórdia de quem quer, como é expresso em Romanos 8, nós porém, não temos esta escolha, quando a negligenciamos estamos incorrendo em pecado.

 

Conclusão

 

1. Como deve agir quem está na igreja, foi abençoado pelo SENHOR com uma boa condição financeira e de fato tem Cristo em sua vida? Deve entender que não poderá ser privilegiado em qualquer aspecto em comparação com os outros. Deve saber que não terá nenhum cargo ou ministério por conta de sua condição financeira.

 

2. Do lado da igreja ou da liderança não deve haver favoritismo. Cargos e ofícios

Devem ser ocupados de acordo com os dons e outros critérios bíblicos.

 

3. O tratamento mútuo na igreja deve ser a partir do princípio da graça de Deus. Não merecemos salvação, mas graciosamente nos concedeu; desse modo imitando o SENHOR expressarei amor tratando bem independentemente de qualquer característica exterior da pessoa; não deve entrar em questão a classe social, a cor da pele, a ideologia política, etc.

 

4. Nossas ações devem ser sempre pautadas não pela forma mundana de agir, mas pela Palavra de Deus. Lembremos que seremos julgados pelo SENHOR!

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