ECLESIASTES 11.1-6 - O DESCONHECIMENTO DA PROVIDÊNCIA E A RESPONSABILIDADE HUMANA



Introdução

O que você faz quando não tem certeza sobre algo que você deseja que aconteça em sua vida? O que é essa incerteza para você? O que faz você parar diante um projeto? O que te faz insistir?


Elucidação

No livro de Eclesiastes vemos o Pregador (Coelet) trazer uma mensagem que nunca deixa de ser contemporânea porque fala de sentidos da vida relacionados ao que fazemos. Sua máxima é: “vaidades de vaidades, tudo é vaidade” (1.2). Assim, anteriormente ele já mencionou que:
a) Tudo é vaidade (tese geral, 1.2);
b) A vida é passageira (prova da tese), e o tempo de nossa vida está nas mãos do Senhor, cap. 3);
c) No cap4 ele mostra que na vida há dor e sofrimento e mesmo quando há tranquilidade isso pode ser passageiro;
d) No cap 5 ele declara que o acúmulo das possessões materiais que o homem sem Deus busca adquirir nunca lhe será suficiente, sempre haverá um vazio não preenchido pela sua riqueza. Os prazeres aos quais ele poderia se entregar também não o satisfaria, nem mesmo a sabedoria na perspectiva meramente humana lhe será suficiente;
e) Cap 7-12 – Somente Deus pode ensinar ao homem o que é melhor parar ele, contraditando o seu desejo pela fama e sua tentativa de sempre evitar os infortúnios. Por isso ele reconhece o valor dos momentos de tristeza que conduz à reflexão (7.2). É bom então enxergar as próprias falhas e buscar a sabedoria do Senhor (7.20).
Dentro então desse contexto o Pregador nos traz conselhos para algumas incertezas que esquecemos diante da providência divina. E o que devemos fazer em face à nossa limitação.



I – INCERTEZAS ACERCA DOS RESULTADOS, V.1 E 2.

O v. 1 é bastante lembrado, e há várias opiniões diferentes dos estudiosos bíblicos acerca de sua interpretação. Dentre elas Salomão estaria fazendo referência a um costume egípcio que ficou na memória dos judeus de que aqueles lançavam as sementes quando as cheias do Rio Nilo estavam baixando. E assim nascia o trigo, a cevada onde estavam essas sementes. Outros afirmam que ele está fazendo referência ao comércio marítimo de trigo em sua época. O pão então é o trigo que futuramente daria os lucros almejados. Os navios que partiam com o trigo também poderiam voltar com especiarias, produtos de diversos tipos.
Alguns pregadores gostam de fazer menção a esse versículo interpretando-o de forma figurada dizendo que o pão lançado sobre as águas é a pregação do evangelho. Até Spurgeon seguiu essa linha. Entretanto, isso não faz juz ao texto.
Seja qual ato literal que esteve na mente de Salomão ao escrever essas palavras o certo é que ele está ensinando a agir independentemente das incertezas do amanhã. Isto é condizente com o contexto.
Assim, como é dito no v. 2, não sabendo o que pode ocorrer amanhã, seja comigo ou com outras pessoas, esta incerteza não deve bloquear quilo que tenho como certo, que é meu dever de repartir, de ser instrumento para abençoar outras pessoas. “Reparte o que você tem com sete”, ou, seja liberal de forma abundante; “até mesmo com oito”, ou seja, além da expectativa.
O que Coelet está dizendo é que na vida há incertezas, não sabemos das possíveis desgraças do amanhã, não sabemos se os navios de fato voltarão com os resultados almejados.
Sondando esses mistérios da vida o Pregador expande seu raciocínio das coisas práticas da providência divina para o fato de nossa ignorância dessa providência.


II – INCERTEZAS ACERCA DOS DESÍGINIOS DIVINOS, V. 3 E 5.

Quero começar pelo v. 5. Ele diz de forma clara que somos ignorantes, que há mistérios que não sabemos explicar ainda. Tudo bem se lembrarmos que a Meteorologia hoje pode predizer com provável certeza acerca das correntes de vento e de outros fenômenos naturais. Também a Medicina e Biologia tem sua voz para falar acerca do desenvolvimento humano no ventre materno. Para a época que o texto foi escrito eram grandes mistérios. Quanto a nós podemos lembrar os exemplos de mistérios que ainda a ciência não explica de modo satisfatório como a matéria escura no universo (os cientistas sabem que existe, mas não conseguem detectá-la).
A grande questão é: não podemos compreender as obras de Deus, mas aceitá-las como benéficas, usufruir daquilo que para nós ele providencia. É aí que entra o v. 3 (entendendo-o em seu contexto cultural): as nuvens cheias de água, embora a maior parte caia em oceanos e lagos, também cai na terra possibilitando o plantio. Árvores arrancadas por fortes ventos independentemente de onde caía alguém se beneficiava daquela madeira. Então, podemos não conhecer a providência divina quanto à natureza, mas podemos confiar em sua sabedoria. Por extensão, podemos não conhecer plenamente os seus planos para nossas vidas, mas podemos confiar em sua sabedoria.


III – A RESPONSABILIDADE QUE NOS CABE, V. 1, 2, 4 E 6.

A despeito de tantas incertezas o Pregador ao mesmo tempo vai mostrando que elas não podem ser impedimento para se viver plenamente. Por isso ele está nos instruindo ao que deve ser feito: “Atire o seu pão”, “reparta o que você tem”. Se o agricultor apenas ficasse a observar o vento nunca iria plantar, se vivesse apenas receoso se iria ou não chover nunca iria colher (v.4). Desse modo, não podemos apenas ficar esperando as certezas das condições mais favoráveis para poder agir, pois corremos o risco de nada fazer. O serviço é nossa responsabilidade, o resultado pertence ao Senhor.
Cabe-nos então a responsabilidade de viver a dádiva da vida, isto é, mesmo sabendo que há dias de trevas, deve buscar a alegria da vida (v.8). Alegre-se com as possibilidades da vida (v.9). E para quem melhor ele daria conselhos senão para os jovens, que tem tanto a viver, tantas escolhas ainda a serem feitas, tantos caminhos a percorrer, embora ele alerta que isso não deve ser irresponsavelmente, pois todos prestaremos conta do que fizemos com a vida que Ele nos deu. Assim, também não se deixe tomar pela ansiedade, tendo consciência que a vida é breve (v.10).


APLICAÇÃO

1. O cristão entrega-se à Providência, não acaso. Tem certezas quanto a acontecimento gerais como saber que vai estar com o Senhor na eternidade, mas há a incerteza de quando e como isso irá ocorrer. Tudo está sob a providência do Senhor e não conhecer em detalhes sua providência para nossa vida nesse mundo não deve nos impedir de sermos atuantes e buscar a alegria do viver.

2. Cristo nos ordena nos evangelhos a agirmos, não pensando na recompensa. Boas obras é fruto de nossa salvação em Cristo. Desse modo, ajudar a quem necessita não só é bênção para quem está sendo ajudado, como também para quem ajuda, pois está sendo instrumento da providência divina.

3. Não deixe de viver coisas realizadoras por conta do medo de que pode não dar certo, talvez não consiga. O que podemos fazer é termos a sensatez de nos orientarmos pelo o que Palavra diz, por ex: não olhar apenas a aparência das coisas, mas sua essência, pois há caminhos que nos parecem corretos, mas podem revelar-se como caminhos de morte.

4. Embora você deva ser sensato, não pode usar isso como desculpa para inatividade. Lembre-se que o justo vive pela fé (Hb 10.38). A fé salvadora que se traduz em uma confiança no Deus que nos resgatou. É nesta fé que vivemos nosso cotidiano.


CONCLUSÃO

Podemos não ter certeza sobre muitas coisas da vida, mas não há dúvida que a igreja de Cristo deve agir para o bem do próximo. Que não podemos cruzar os braços, seja no que diz respeito às nossas próprias vidas seja no que diz respeito a ajudar quem está à nossa volta.

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