1 Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade,
2 mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos.
3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?
4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus.
5 Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes.
6 Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram.
7 Quase três horas depois, entrou a mulher de Ananias, não sabendo o que ocorrera.
8 Então, Pedro, dirigindo-se a ela, perguntou-lhe: Dize-me, vendestes por tanto aquela terra? Ela respondeu: Sim, por tanto.
9 Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão.
10 No mesmo instante, caiu ela aos pés de Pedro e expirou. Entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a, sepultaram-na junto do marido.
11 E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a notícia destes acontecimentos.
INTRODUÇÃO
Esse é um texto à primeira vista bastante
desconfortável. Quem o lê pela primeira vez poderá facilmente pensar o quão
rigoroso foi o Senhor. “Será que não poderia ser de outro modo?”
Ademais, algo que às vezes pode passar despercebido é que parece o relato de um
evento estranho, ocorrem mortes e sepultamentos secretos. Evidentemente que
temos de olhar pra o contexto não à luz do nosso tempo, mas entendendo a época
e lugar dos eventos.
A igreja estava recém-organizada, as
lideranças aos poucos se estabelecendo de modo mais institucional, sua dinâmica
de existência ainda se consolidando. Tudo o que viesse a ocorrer naquele
momento no contexto da igreja seria de grande importância para seu contexto
interno nos momentos seguintes.
O texto nos revela algo terrível: um casal
que aparentou uma vida enquanto na verdade vivia outra.
I – A HIPOCRISIA DA
REALIZAÇÃO APARENTE, V.1-4.
A igreja nunca pode esquecer que a todo
momento o diabo busca oportunidade de nos colocar em uma situação de desagrado
ao Senhor: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8). O
inimigo de nossas almas é muito astuto, quando uma estratégia não dá certo ele
parte outra. Vejamos, por exemplo, como ele atacou a igreja em Jerusalém nos
seus primórdios. Ele utilizou três estratégias sucessivamente; uma física (perseguição),
uma moral (subversão) e uma profissional (distração).
O
ataque físico se deu por meio da perseguição por parte dos sacerdotes conforme
mostrado no capítulo 4 de Atos.
Mas isso não surtiu efeito, os apóstolos continuaram pregando, inclusive
fazendo menção à cura milagrosa registrada no capítulo 3 como testemunho da
graça e poder de Deus por meio de Cristo presentes na vida da igreja. A igreja
continuava também vivendo o evangelho, havia unidade, e atos voluntário de
generosidade, como no caso de Barnabé, (vs. 32-36). É então que o inimigo
muda sua estratégia e tenta minar algo tão belo que estava acontecendo na
igreja. Ananias e safira dão espaço em seus corações a artimanhas malignas.
Mais adiante, quando essa estratégia
falha o inimigo tenta afastar os apóstolo da prioridade da pregação e oração (cap.
6).
Estejamos então alerta às astutas ciladas do
Maligno.
Ananias
e safira caíram na cilada de quererem ser vistos pela comunidade como pessoas
generosas, mas não tinham as mesmas intenções que Barnabé. Tudo o que fazemos
como expressão de nossa vida com Deus não deve ser norteado pela busca do
aplauso humano (Mt 6.1-6, 16-18). Ananaias infelizmente caiu nesse erro.
O problema era sério e por isso as consequências
foram funestas. Se o Senhor não castigasse à altura a igreja composta por pessoas
acostumadas a ver a hipocrisia na vida dos fariseus e saduceus, poderiam pensar que na igreja de Cristo Jesus
as coisas não eram tão diferentes afinal. O Senhor Jesus já havia alertado
quanto ao fermento dos fariseus (Lc 12.1). O grande pecado daquele casal foi a
hipocrisia, eles não eram obrigados a doar todo o valor da venda do bem que lhe
pertencia, mas eram obrigados a serem verdadeiros.
III – O JUÍZO DIVINO
PRODUZ TEMOR, V. 5-11.
O SENHOR exige que o sirvamos de modo
integral. Todas as vezes que o povo do Senhor pensou que poderia haver meia
consagração vivenciou o juízo divino. Há alguns exemplos bem clássicos no
Antigo Testamento. Em Josué 6 está o
relato da grande vitória da conquista de Jericó pelos israelitas, mas no
cap. 7 aquele mesmo exército sofre uma derrota para um exército bem mais
inferior do que o de Jericó. Eles estavam confiantes, mas o Senhor não lhes deu
a vitória dessa vez, o motivo, o pecado
de Acã. “Prevaricaram os filhos de Israel nas coisas condenadas... porque
Acã, tomou das coisas condenadas” (Js 7.1). Ele mesmo declara seu pecado: “Quando
vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma
barra de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que
estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo”
(Js 7.21).
Outro
triste exemplo é Nadabi e Abiú, filhos de Arão. Em Lv 10.1, 2 vemos que eles
foram mortos pelo Senhor porque se atreveram a oferecer fogo estranho ao Senhor, quando o correto seria agir como se encontra em Lv
16.12. E II Sm 6.3-4, 6-7 relata a morte
de Uzá por ter se atrevido a tocar na Arca do Senhor, ainda que sua
intenção tenha sido boa, mas a sua atitude foi errada. Ainda podemos lembrar
que o Senhor rejeitou a adoração de Caim em Gn 4.3-5. Em I Jo 3.11-15 vemos
que Caim não estava em condição de cultuar a Deus porque odiava a seu irmão.
Todos esses exemplos mostram uma consagração a Deus pela metade embora os atos
externos aparentem outra coisa. Revelam também o descaso com as exigências
divinas não elevando a sério o culto ao Senhor. E esse também foi um problema
em Ananias e sua esposa e cúmplice Safira, não estavam demonstrando temor ao
Senhor, não estavam cultuando ao Senhor de modo sincero.
Todo aquele que “brincar” com a vida espiritual
receberá a devida disciplina (1 Co 5). Quando o Senhor disciplina um membro da
igreja, além de beneficiar aquele membro individualmente a vivência coletiva da
igreja está também considerada.
Devemos então ter cuidado como temos agido,
usufruir da graça do senhor não é abusar de sua graça.
A verdade é que quem vive consagrado a Deus
pela metade quando estiver diante da decisão entre Deus e seus interesses
optará por seus interesses. Acontece que isso atrai juízo divino.
O
grande problema de Ananias foi querer aparentar ser o que não era. A igreja não poderia nascer em mentira, mas na verdade,
em unidade, de modo responsável pelas suas ações.
Aplicações
1. Não há nada oculto que não venha a ser revelado. E é
justo que seja assim.
2. Muitos crentes infelizmente não têm temor do Senhor. Não veem como é perigoso brincar com as coisas sagradas.
Não pensemos que Deus não julga o pecado.
3. Consagração é administrada por Deus em nossas vidas.
Não somos nós que decidimos o que deve ser feito, verdadeiramente consagração é
fazer tudo o que Deus manda.
4. Eu e você não
somos obrigados a fazer nenhum voto ao Senhor. Mas se uma vez o fizermos temos
necessariamente que cumpri-los.
5. Será que também estamos sendo infiéis como Ananias e
Safira? Será que também temos nos consagrado pela metade?
6. Se viermos a sofrer que não seja por estarmos em
oposição ao Senhor, mas por vivermos ao seu lado (Hb 10.26-31).
7. Meia consagração é reter algo que pertence ao Senhor.
8. Ao contrário de Ananias e Safira nós ainda temos tempo. Que possamos lembrar que horrível coisa é
cair nas mãos de do Deus vivo.
Conclusão
Ser o que se é exige coragem, não é algo
fácil, mas é sempre o melhor caminho. Se quem temos sido não está sendo o que
deveria ser, a saída não é fingirmos para vender uma falsa imagem de nós, mas
buscarmos ao Senhor para obter mudança.
0 Comentários