Introdução
Relembremos um pouco a história da
vida de Jacó. O primeiro momento de destaque é quando ele se aproveita da
fraqueza de seu irmão para conseguir o direito à primogenitura (25.27-34).
Depois ele engana seu pai, já muito idoso e perdendo a visão, fingiu ser seu
irmão para ganhar a bênção por parte de seu pai. Foi enviado por este a Padã-Arã
para que da família de labão tomasse uma esposa para si, no caminho recebe uma
revelação divina (28.18-22), o curioso desse texto é ele fazer uma promessa ao
Senhor de que se o Senhor o livrasse em sua jornada ele faria dele o seu Deus.
Betel significa Casa de Deus, Jacó aqui está sendo como cristãos que estão na
cada de Deus, mas que Deus verdadeiramente não habita seu coração. Em seguida
ele chega a Padã-Arã, conhece Raquel, por quem logo se apaixona, e trabalha
sete anos para poder casar com ela, mas é enganado por Labão e acaba tomando
como esposa a Lia, depois desses sete anos trabalha mais sete anos para Labão
pelo privilégio de casar com Raquel. Em seguida vemos artimanhas de ambas as
partes, de Labão e de Jacó, mas Jacó consegue enriquecer e resolve voltar à sua
terra natal. Na volta, Labão o persegue, mas acaba por fazer uma aliança com
ele. Depois disso ele prossegue sua jornada e fica sabendo que seu irmão está
vindo ao seu encontro, o que gera em si um grande temor (28 – 32).
Em toda essa trajetória Jacó foi
ambicioso, fraudulento, confiou em sua próprias forças não no Senhor, não teve
Yavé como o seu Deus, era o Deus de Isaque e de Abraão, mas não o dele. Jacó
faz lembrar muitos de nós hoje, e, em certa medida a todos nós em alguns momentos.
Faz lembrar o cristão que usa de estratégias erradas para conseguir o que
almeja, que confia em suas próprias astúcias não no Senhor. Faz lembrar alguém
que foi educado em lar cristão, mas que ainda não se comprometeu com o Senhor.
Mas o texto que hora abordamos mostra o momento mais importante da vida deste
homem, o momento em que ele teve um encontro com Deus, momento de salvação do
Senhor em sua vida.
I – Jacó, um homem que confiava em suas
estratégias, v.3-8; 13 – 21.
Nos versículos 1 e 2 é trazida a
informação de que ele ver anjos de Deus como que acampados próximos ao seu
povo. Apesar disso seu coração está temeroso, pois terá de passar pelas terras
de seu irmão. Vinte anos se passaram desde que ele o enganou. Havia então um
abismo entre eles, Jacó temia a vingança de Esaú, temia pela sua família. Ele
procura se antecipar à situação, foi até bastante astuto, a estratégia que
consta nos versículos 13 a 21 é bastante inteligente, mandou presentes a Esaú
com intervalos de tempo contando com isso que Esaú fosse levado à reflexão
aplacado pelos presentes. Mesmo orando ao Senhor, transparece uma falta de
confiança de que o Senhor o livraria.
O que Jacó não sabe é que o Senhor
já havia trabalhado no coração de Esaú. A despeito de suas faltas passadas ele
se mostra no capítulo 33 um homem mudado. Acontece com frequência que quando
uma situação de discórdia não é resolvida o rancor pode vir a crescer, contudo
também há a possibilidade de reflexão e perdão devido ao amadurecimento e
melhor compreensão do fato ocorrido.
O que fica claro aqui é que Jacó
ainda não aprendera a confiar plenamente no Senhor. E quanto a você? Certamente
poderá viver situações que à semelhança de Jacó o medo poderá estar presente. É
evidente que o Senhor concedeu inteligência para ser posta em prática, no
entanto nunca esqueça que a confiança n’Ele é a melhor expressão de sabedoria.
Suas estratégias pouco efeito surtirão em comparação com o que o Senhor pode
fazer.
II – Um homem que reconhecia sua indignidade, v.
9-12.
Mas Jacó não era apenas falhas, como
todos nós também havia nele algo virtuoso. Ele sabe como ele é, e aqui, neste
momento tão crucial, temendo que sua família viesse a perecer diante do poderio
de Esaú ele ora ao Senhor. Em sua oração ele reconhece sua indignidade (v.10),
assim como reconhece a bondade do Senhor em sua vida. Saiu sem nada da casa de
seu pai e retorna agora rico e com uma família grande. É interessante também
que em sua oração ele fala acerca da aliança que o Senhor estabeleceu com ele.
Ali estava um homem de caráter
reprovável, mas que sabia disso, e que sabia era indigno de tanta bondade,
tanta misericórdia da parte do Senhor para sua vida.
Penso que quando analisamos bem como
o Senhor tem sido bondoso conosco, como a sua fidelidade é algo constante, como
a sua presença é abençoadora devemos nos sentir desconcertados, constrangidos;
devemos reconhecer intensamente nossa indignidade.
Jacó está no momento mais
angustiante de sua vida. São nesses momentos que fazemos as orações mais
sinceras ao Senhor, que melhor podemos perceber nossas falhas de caráter. Mas
são momentos que podem ocorrer grandes mudanças, os versículos seguintes mostram
isso.
III – Um homem de quem o Senhor não desistiria,
22-32.
Agora chegou o momento decisivo, o
momento de estar a sós com Deus, o momento mais crucial, mais angustiante, no
entanto, mais transformador da vida de Jacó. Entendamos que tudo o que se passa
nessa cena retrata toda a vida de Jacó, que esse evento físico, circunstancial
aponta para toda a vida espiritual, para toda a luta interior que havia no
coração daquele homem.
O homem com quem Jacó luta
fisicamente é o mesmo com quem ele vem lutando espiritualmente toda a sua vida,
o próprio Deus. Os intérpretes bíblicos mencionam que neste texto é o próprio Anjo
do Senhor, ou seja, o próprio Jesus. Ele fere a coxa de Jacó (v. 25), como
lembrança de que este não devia mais andar na sua própria força.
Esse momento do versículo 26 é
amplificado pelo texto de Oseias 12.4: “... lutou com o anjo e prevaleceu; chorou e lhe pediu mercê
[...]”. Ele chorou pedindo a bênção do Senhor. E qual bênção ele
queria? Ele queria o livramento da fúria do seu irmão, mas não apenas isso,
pois ele sabia que sua situação se devia a seu mau caráter, ele queria,
portanto, mudar, ser outro homem, sair daquele encontro uma nova criatura.
Já tivemos um encontro definitivo
com Cristo, já fomos mudados pelo Senhor. Mas à vezes percebemos que necessitamos
de algo mais, há algo mais que precisa ser mudado, há algo mais que precisa ser
deixado de lado para prosseguirmos na caminhada, há uma falha de caráter que
precisa ser corrigida. Quero instar você nesse momento a se agarrar com o
Senhor e não soltá-lo até que isso aconteça!
Quando o anjo do Senhor pergunta a
Jacó qual o seu nome, a resposta se iguala a uma confissão: Jacó = enganador,
usurpador (v. 26 e 27). Mas este fraudador astucioso agora recebe o nome o de
Israel (v. 28) que significa “aquele que
luta com Deus”. Os seguidores de Cristo, às vezes, são chamados o Israel de
Deus (Gl 6.16) i.e., aqueles que lutam com Deus. Deus não quer que seu povo
seja inerte, mas que o busque com zelo a fim de receber suas bênçãos e sua
graça (Mt 5.6; 6.33; 7.7,8; 11.12;).
Quando Jacó sai daquele lugar ao
qual ele deu o nome de Peniel (face de Deus) ele está mancando (v. 31). Pelo
resto da vida ele andará dessa forma. Assim também ocorre conosco quando o
Senhor nos toca de algum modo, quando nos faz sentir profundamente nossa
fraqueza, então nunca mais "andamos" do mesmo modo.
O Senhor não quer que você continue
a mesma pessoa obstinada, presunçosa, ou levadas por qualquer outra
carnalidade, ele lutará com você porque muito lhe ama, outros poderiam desistir
de você, mas ele te ama tanto que jamais desistirá de você!
Conclusão
Watchaman Nee: “Quando somos derrotados por Deus, realmente prevalecemos e perdemos a
confiança em nós mesmos. Toda vez que descobrimos que não podemos mais, é nesta
hora que vencemos”.
Temo que com muita frequência somos
o Jacó antes de transpor o Jaboque, mas que sejamos mais intensamente o Jacó
que viveu o Peniel.
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