Introdução
Chegamos ao último dos salmos que
retratam o que passava no íntimo de Davi naquele momento tão terrível
vivenciado por ele. Como já observamos em mensagens anteriores ele estava fugindo
de seu filho Absalão, que lhe roubou o trono. Os salmos 3 as 7 nos relatam como
Davi vivenciou esse momento. Tantas foram as experiências: confiança no Senhor apesar
das circunstâncias e até mesmo momentos de ter essa confiança em crise, e até
viveu ocasião em que imaginou que não aguentaria mais. E aqui ele expressa suas
palavras para contrapor as de Cuxe, devido às difamações que estava sofrendo
por meio desse homem.
I – A acusação feita a Davi, v.3 e 4.
Davi inicia em oração
se colocando diante do Senhor do v. 1 a 5 dizendo que seus inimigos sejam vitoriosos
caso as acusações contra ele fossem condizentes coma a verdade. Quem era esse
Cuxe? O título nos diz que ele era da tribo de Benjamim. Lembremos que Saul era
da tribo de Benjamim, e com certeza esse Cuxe assim como outras pessoas dessa
tribo poderia guardar ressentimentos de Davi por ter ocupado o trono. Vemos um
exemplo disso no caso de Simei relatado em 2 Sm 16. 5-14. Portanto, lança-lhe
palavras difamatórias. E qual era a acusação? Cuxe, assim como Simei acusava
Davi de ter usurpado o trono de Saul, tomemos a expressão do v. 4: “se paguei com mal o que estava em paz
comigo” e notaremos que ele acusava Davi de ter traído o
seu rei que estava em paz com ele. O que Cuxe estava a afirmar era que Davi
tinha errado, era que a perseguição de Saul a ele havia sido justa, e que
injustamente Davi se apossou do trono após a morte de Saul. A ideia é que Davi
foi tão perverso que Deus não deixou sua atitude sem o devido castigo, tanto é
que agora ele sofre a usurpação do seu trono.
Interessante que no
mesmo versículo Davi coloca que tal acusação não tinha nenhum fundamento, pois
ele teve inclusive pelos menos duas oportunidades de matar Saul, e não o fez,
pois declarava que o ungido do Senhor foi posto no trono pelo Senhor e ele não
tinha coragem de ir contra a ordenança divina assassinando o seu rei.
Assim como Davi todos
nós poderemos estar vivenciando momentos nos quais acusações falsas possam
estar sendo levantadas contra nossas vidas. E há três níveis que essas
acusações podem surgir:
a) Acusações pessoais.
Todos nós estamos
sujeitos de sofrermos mal entendidos e sermos acusados por pessoas que não analisam
com cautela as situações. Ou então até mesmo sermos acusados falsamente de modo
maligno intencionalmente por alguém que nos queira prejudicar. Inclusive
atualmente qualquer acusação pode tomar proporções inesperadas, pois o advento
da internet, a popularidade da rede social Facebook muitas vezes utilizada para
difamação de outrem, agrava em muito a situação.
b) Acusações contra a igreja.
Por sermos igreja de
Cristo e estarmos no contexto de igreja institucional a acusação à instituição envolve
a todos nós, diz respeito a todos nós.
Lamentável é que maus exemplos fazem gerar na sociedade acusações legítimas,
mas que assume ilegitimidade ao considerar todas as igrejas como sendo iguais.
c) Acusações do diabo.
O diabo ou Satanás é o
acusador por excelência, aliás, a própria expressão “diabo” tem este sentido.
“Você, que fez isto ontem agora tem a cara de pau de vir a igreja hoje posar de
santo?” “Você, fulano fez isto ou aquilo, e terá a ousadia de participar da
Santa Ceia?”
O que fazer irmãos
quando falsas acusações nos atingem?
II – A reação de Davi, v.1 e 2.
a) Volta-se para Deus.
A reação de Davi a tudo
aquilo tudo é voltar-se para Deus. É no Senhor em quem ele se refugia. Ele
clama pelo livramento divino. Ele sabe que aquelas acusações são sérias, ele
não está desprezando-as, e há sim uma preocupação com a sua imagem perante as
pessoas. Devemos sim viver nos importando com o que as pessoas pensam de nós.
Trata-se do nosso testemunho, o nome de Cristo está sobre o nosso nome. Vivemos
uma época em que muitos cristãos não tem essa devida preocupação. Isso fica
expresso na imitação do mundanismo; a forma de vestir, a linguagem, obscena até
para alguns, a forma de escrever no Facebook, a exposição do seu corpo. Cuidado
com essas coisas meus irmãos, especialmente você jovem que é mais tentado pelo
atrativo da exposição pessoal no mundo online.
O cristão precisa se
preocupar sim com a sua honra perante o mundo. E quando tem a sua honra atacada
injustamente deve em primeiro lugar contar com que o SENHOR lhe defenda.
b) Ele faz um desafio
Ele se coloca com a
devida disposição de assumir as consequências caso ele tenha errado, v. 4 e 5.
De certo modo está aqui um desafio. E ele pôde fazer esse desafio porque ele
sabia que não tinha errado. Ele não está dizendo que é perfeito, apenas que
naquilo de que estava sendo acusado ele tinha sua consciência limpa. Nada
melhor do que ter uma consciência limpa quando algo desse tipo nos atingir.
Mas isto deve nos levar
a refletir também o seguinte: se a acusação for verdadeira devemos ter a coragem
de enfrentar as devidas consequências. Quem erra deve enfrentar as
consequências do seu erro.
Uma das marcas da
igreja de Cristo que testemunham dela como sendo verdadeira comunidade cristã é
a Disciplina. A Disciplina aplicada corretamente concede ao disciplinado
enfrentar as devidas consequência de seu pecado, bem como ser restaurado à
comunhão do corpo de Cristo, é, portanto, uma bênção para a vida do cristão.
Muitas vezes somos
muito corajosos para fazer o que é errado, mas sejamos também para assumir
nossos erros.
c) Ele clama pelo juízo de Deus, v. 6-8.
Davi sabe que não está
abandonado às marés de injustiça, ele tem a quem recorrer, ao justo juiz que
tudo ver e tudo a conhece. Ele roga então pelo exercício final dessa justiça e
enfatiza seu rogo no versículo 11. Apesar de todas as injustiças que
presenciamos no mundo e que possamos sofrer, não podemos jamais deixar de
confiar que o justo juiz julgará e dará a todos segundo as suas obras. Não
significa necessariamente que pagarão neste mundo, mas com certeza pagarão
pelos males cometidos quando Jesus voltar em glória.
No versículo 12 fica
implícita a longanimidade divina, o tempo concedido pelo Senhor para que os
ímpios se convertam de seus maus caminhos. Mas esse tempo do arrependimento
terá um fim.
Observe que nos
versículos 14 ele fala daquilo que é natural aos ímpios, usando a ilustração
das dores de parto da mulher ele diz que o ímpio gera malícia e dá a luz a
mentiras. No na cova que ele cava ele mesmo cairá, v. 15, sobre sua própria
cabeça recairá sua violência, v. 16. Mas o servo do Senhor estará protegido
contra suas perversidades. É como o Senhor declara em Is 54.17: "Toda arma forjada contra ti não
prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo tu a condenarás
[...]”.
E Davi conclui
glorificando a Deus pela fé, v. 17. O versículo está no futuro, ele diz que
renderá graças, que cantará louvores, sem ainda o Senhor ter respondido sua
oração e ele já declara sua confiança na resposta divina.
Conclusão
1. Se refugiar na misericórdia de Deus, pois só ele pode reivindicar a
nossa honra diante de acusações malignas.
2. Reconhecer o erro e sofrer a consequência se há culpa, mas se não há
defender até o fim a nossa posição de verdade.
3. Transferir para Deus aquilo só ele é capaz de fazer. Só ele pode
julgar infalivelmente, pode recompensar ao justo e dar a devida paga ao ímpio.
A justiça final de Deus é misericórdia para nós, pois mesmo sendo inocentes em
alguma acusação específica, mas poderemos estar sendo culpados por outros
pecados.
4. E finalmente glorificar o
Senhor pela fé, mesmo que o problema ainda esteja presente.
5. Aprendamos também a não acusar aos outros. Pois isto é fonte de
grande sofrimento para quem é acusado. Cuidado com palavras irônicas, dúbias ou
mesmo acusação direta.
6. Se alguma acusação está pesando sobre você, ou se isso vier a
acontecer no futuro, examine a si mesmo para saber se há algum fundamento de
verdade, caso haja, o caminho é o arrependimento e confissão.
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