Introdução
O povo de Deus é em muitos aspectos
um tipo muito estranho. Em Gênesis 14-15, Abraão é visto como um brilhante
exemplo de fé. Entretanto, em Gênesis 16 ele age contrário a fé. Essa
inconsistência não é algo exclusivo de Abrão, nós também vivenciamos isso com
muita frequência. Estamos sujeitos a influências de diferentes forças, Gálatas
5.16-17 nos revela a luta travada em nós entre o Espírito Santo e carne: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais
satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito,
e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais
o que, porventura, seja do vosso querer”. Embora sejamos esse campo de
conflito interior nos alegramos por Deus não permitir que a verdadeira fé
salvadora venha a fracassar: “porque todo
o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a
nossa fé” (I João 5:4).
I.
A falta de confiança na promessa divina leva ao desastre, v. 1-6.
Deus muitas vezes espera para agir
até que Seus planos se tornem humanamente impossíveis de serem realizados. Abrão
tinha oitenta e cinco anos e não tinha tido filhos e Sara havia passado da
idade de poder engravidar.
Qual a esperança que eles poderiam
ter de terem um filho? A resposta é claro, deveria ser que a promessa de Deus
era suficiente para eles. Deus sempre mantém Sua palavra. Todavia, Ele faz isso
de maneira que Ele mesmo venha a ser glorificado. O Seu tempo e métodos são
muitas vezes uma prova para a carne. Nós
devemos aprender que a fé deve ser acompanhada de paciência para poder aguardar
calmamente para Deus cumprir a Sua palavra. É como nos diz Hb 10:35-36: “Não abandoneis, portanto, a vossa
confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de
perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa”.
Essa paciência era justamente o que estava faltando a Sarai e Abrão. A
consequência disso é que não resistirão à tentação de agir segundo a carne para
apressar um pouco os planos divinos.
Note como a aproximação da tentação
pode ser sutil:
A. Ela veio por meio de uma
pessoa justa [I Pedro 3:6].
A tentação veio para Abrão por meio
de Sarai, que era uma pessoa justa como declara o texto de 1 Pedro 3.6.
B. Ela veio de uma pessoa
próxima de Abraão.
Abrão deu ouvidos à sua esposa em
uma questão na qual ele deveria ter permanecido com o que Deus tinha dito.
C. Ela foi uma bem
intencionada tentativa de "ajudar a Deus".
Embora eles quiseram ver concretizado
o que o Senhor prometera, tentaram fazer conforme seu método e seu tempo ao
invés de confiar no método do Senhor e no tempo do Senhor. Estratégias humanas
não podem trazer melhoras ao plano divino.
A estratégia de Sarai era contrária
ao plano de Deus para o casamento.
No texto há um elemento cultural
muito comum daquela época. A poligamia que é narrada várias vezes no A. T.
embora fosse culturalmente aceitável não tinha a aprovação divina. A Palavra
nos mostra que o propósito divino é a união de um único homem com uma única
mulher, isso é o que constitui biblicamente o casamento, conforme Gênesis 2.24,
citado por Jesus em Mt 19.5: “...deixará
o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”.
O propósito do casamento é a
felicidade do casal e a geração de filhos tementes a Deus. A poligamia é
inimiga destes propósitos divinos. Não houve nenhum casamento polígamo em que o
ciúme e a amargura não entraram. Em Gênesis 21.1-11 estão algumas consequências
dessa infeliz decisão de Sarai. Depois
que Agar deu a luz, ela começou a provocar e irritar Sara. Abrão então permitiu
que Sarai a "colocasse em seu devido lugar". Isto causou um
ressentimento tão grande, que Agar fugiu de casa.
A atitude errada de Sarai e Abrão
gerou inveja, ciúme e ódio. Não poderia ser diferente. Atitudes carnais só leva
a consequências desagradáveis.
II
– Ações reparadores do Senhor, v. 7-16
Sem dúvida, enquanto Agar vagueava,
ela começou a refletir e a se acalmar. Enquanto ela estava descansando em uma
fonte de água, o Anjo do SENHOR (Jeová) apareceu a ela. A referência ao Anjo do
Senhor diz de Jesus na Antiga Aliança, que neste momento aparece para trazer
restauração. Agar foi instruída a voltar para a casa de Abraão, humilhar-se sob
as mãos de Sarai para que pudesse se cumprir o plano que Deus tinha para ela.
Provavelmente ela mesma já estava contemplando isto.
Agar aparentemente era uma mulher
justa. Ela parece ter ficado muito impressionada com este encontro com o
Senhor.
Agar também estava impressionada
pelo fato de que Deus era um Deus que sempre a via. Dali em diante ela se
referia a Deus como "Tu és Deus que me vê". Ela deu o nome ao poço no
qual ela se encontrara com Deus de Beer-Laai-Rói, que significa "o poço
Daquele que vive e me vê". Quantas pessoas nunca perceberam que Deus vê
seus atos e pensamentos. Eles ficariam chocados em saber que Deus presta
atenção neles. Que nós vivamos como
aqueles que se lembram de que são observados pelos "olhos que tudo
vê" de nosso Senhor.
O Senhor também faz promessas a Agar
(v.10-12). Aparentemente por causa de Abraão, Deus abençoou Agar e Ismael
[Gênesis 17:18]. Entretanto, os descendentes de Ismael se tornaram inimigos de
Israel. Isto não ilustra o fato de que a
obra de Deus feita no poder ou sabedoria da carne sempre produzirá problemas, e
por fim prejudicará a obra do Senhor?
Veja as promessas e
profecias feitas a Agar:
a. Seus descendentes seriam
uma multidão.
b. Ela teria um filho que se
chamaria Ismael.
c. Ismael seria um homem
violento, que ao mesmo tempo se oporia e sofreria oposição.
Aparentemente o
povo Árabe, descendente de Ismael, tem exemplificado isto.
Nos versículos 15 e 16 é relatado o
nascimento de Ismael. Ismael nasceu de uma escrava e foi concebido estritamente
pelo poder da carne. Ele permanecerá para sempre como uma figura daqueles que
buscam a salvação através da lei. Como Paulo explica na epístola aos Gálatas no
capítulo 4:
21 Dizei-me vós, os que
quereis estar sob a lei: acaso, não ouvis a lei?
22
Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da
livre.
23
Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a promessa.
24
Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na
verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar.
25
Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está
em escravidão com seus filhos.
26
Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe;
27
porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama,
tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os filhos da abandonada
que os da que tem marido.
28
Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque.
29
Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu
segundo o Espírito, assim também agora.
30
Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo
algum o filho da escrava será herdeiro com o filho da livre.
31
E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e sim da livre.
Conclusão
1. Cuidado com conselhos,
ainda de pessoas que lhe sejam queridas, mas que contrariam a vontade divina
para sua vida.
2. Deus restaurou o caos
produzido pela decisão errada de Sarai e Abrão. Mas todos os três sofreram as
consequências daquela decisão. Muito cuidado com as decisões a serem tomadas em
sua vida. Que possas confiar no Senhor, que possas saber ter paciência
esperando nele! Confia no Senhor, não tente resolver as coisas à parte da
vontade divina.
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