“Tem
cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo
assim, salvarás tanto a ti mesmo como a teus ouvintes” (1
Tm 4.16).
Introdução
Grande é o desafio que o pregador
tem diante de si. Pecador escolhido dentre pecadores para anunciar a Palavra
daquele que é Santo para os pecadores. Pregar constitui um exercício de grandes
dificuldades, não é fácil preparar um bom sermão bíblico, exige-se bastante
empenho no estudo do texto bíblico para interpretá-lo corretamente e
transmiti-lo sob a forma de um sermão. No entanto, aquele que foi vocacionado
para a pregação da Palavra não pode jamais esquecer que o sermão deve começar
em sua vida antes de chegar aos seus destinatários. Desse modo, a espiritualidade
da vida do pregador é de essencial importância para o seu sucesso ministerial.
Ao abordarmos este tema, devido a
imensidão de detalhes a respeito da temática “espiritualidade” se faz necessário
restringirmos ao máximo àquilo que esteja interligado com o sagrado exercício
da pregação evangélica.
I
– A importância da oração na correlação com o sermão.
Quem prega a Bíblia deve ser uma
pessoa de oração. A oração deve ser algo contínuo na sua vida. Devemos orar
antes de iniciarmos o preparo de um sermão para que o Senhor nos ilumine a
mente e nos conduza à compreensão correta do texto. Devemos orar para que o
conteúdo que o Senhor nos concedeu em nossos estudos para ser transmitido a
igreja possa edificar vidas e levar pessoas à conversão a Cristo. Devemos orar
pedindo a unção necessária para pregar o evangelho. Devemos orar pelos
resultados da pregação. E devemos orar em prol da glorificação do nome do
Senhor. Tudo isso significa que não temos o direito de nos intitularmos
pregadores do evangelho de Jesus Cristo se em Cristo não vivenciamos a comunhão
com o Deus Triúno por intermédio da oração.
Joe Mckeever em um artigo publicado
no livro “A arte e o ofício da pregação
bíblica” afirma que uma oração que ele fez ao Senhor foi “Senhor [...] faça de mim um pregador”
(Robison & Larson, p. 91, 2009). Em resposta Deus falou ao seu coração que
ele deveria ser mais específico, então ele colocou os seguintes pedidos:
Quero
que a mensagem de Deus me acerte em cheio, tomando completamente meu coração.
Quero
pregar com paixão genuína.
Quero
uma boa sintonia com a pregação. Estou cansado daquele olhar sem expressão no
rosto das pessoas. Quero fazer contato com elas, para transmitir a mensagem de
maneira eficaz.
Quero
ver vidas transformadas. (Robison & Larson, p. 92, 2009).
Sem oração não pode haver pregação
com unção do Espírito Santo. Unção para a pregação é a capacitação espiritual
concedida pela graça de Deus por meio do meio Espírito Santo para o desempenho
da pregação.
Pregar sob a unção do Espírito não é meramente
falar bonito. Na Grécia, o filósofo grego Aristóteles identificava três
ingredientes essenciais em seu ensino sobre retórica: o logos (o que nós
dizemos), o etos (o que nós somos) e o patos (a paixão que
levamos à tarefa). Tudo isso pode produzir um bom discurso, mas somente quando
o Espírito Santo manifesta o seu poder é que estar presente a unção. Oremos
então para o Senhor abençoar a nossa pregação com a sublime presença do
Espírito Santo.
E você, o que deseja na sua
pregação?
II
– A pureza de vida do pregador.
Vivemos em uma época na história da
igreja brasileira em que há um grande descrédito quanto a postura ética dos
pregadores. Vez por outra surgem escândalos sobre algum pastor e isso acaba por
manchar a imagem de toda a classe. A realidade é que de fato há muitas pessoas
subindo aos púlpitos sem que realmente esteja vivendo aquilo que tem se proposto
a pregar. A vida tem contraditado a prédica. Há então um grande problema de
integridade que atinja a vida dos pregadores da atualidade. Consideremos dois aspectos relativos a uma
vida pura do pregador: a integridade pessoal e a questão da veracidade.
1.
Integridade pessoal
Integridade: Virtude ou qualidade do
que é íntegro; reto; incorruptível; inatacável; perfeito; completo; inteireza;
retidão; imparcialidade. (Grande Dicionário enciclopédico Novo Brasil)
“Havia
um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus
e que se desviava do mal” (Jó 1:1).
a)
É necessária integridade pessoal na sexualidade.
A área da sexualidade é uma das mais
melindrosas para todo cristão, por isso se faz mister mencionar a importância
apara vida do pregador ter autodomínio saudável nesta área. Muitos outros
pecados que um pregador pode cometer será menos difícil conseguir da igreja o
perdão e reconquistar a confiança do que o pecado cometido na área sexual.
Estejamos, portanto, alerta, para subir ao púlpito O Senhor exige santidade de
cada um de nós. Cuidado com atração sexual por pessoas especialmente
tentadoras, cuidado com a pornografia, cuidado com o uso indevido da internet,
cuidado para manter-se fiel ao seu cônjuge.
b)
É necessária integridade pessoal nas finanças.
Ninguém deve buscar uma vida de
pregação da Palavra com interesse financeiro. A honestidade nesta área da vida
é imprescindível. Quem prega deve estar preocupado em satisfazer o rebanho e
não usufruir-se dele.
c)
É necessária integridade pessoal na prestação de contas
Entenda-se aqui prestação de contas
primeiramente à Deus, mas também, prestação de contas à igreja. Responderemos
ao Senhor por tudo quanto temos anunciado à igreja, por isso é necessário que
diariamente possamos prestar contas àquele que nos designou à pregação.
A prestação de contas à igreja advém
da realidade que servimos ao Senhor servindo à igreja. Nosso trabalho é um
trabalho a partir da igreja e por intermédio dela. Não somos independentes.
Prestar contas à igreja não é ser tolhido na liberdade da pregação, mas
entender seu compromisso e corresponder a ele.
2.
A questão da veracidade
A questão da veracidade pode ser
observada diante dos seguintes cuidados que o pregador ou pregadora deve
atentar.
a)
Exegese e hermenêutica: pregando a Palavra fidedignamente.
O termo Exegese vem
do grego, ex, "fora" ou "para fora" e agein,
"guiar", ou seja, "liderar" ou "explicar". A
palavra portuguesa Exegese é usada para indicar "narrativa",
"tradução" ou "interpretação". Exegese, portanto, é a arte
e ciência de explicar e comentar um texto. (http://www.palavradaverdade.com/print2.php?codigo=3471, acessado
em 25/04/14).
A palavra hermenêutica é uma
transliteração do termo grego hermeneutike.
Hermeneutike é derivado do verbo hermeneuo que pode ser traduzido por
explicar. Em Lucas 24:25-28 encontramos a palavra hermenia = explicou, como a raiz da palavra sendo hermenêutica.
Sendo assim, hermenêutica é a ciência que nos ensina os princípios, as leis e
métodos de interpretação.
A questão da veracidade é também uma
questão de fidelidade. Fomos chamados para anunciar a Palavra, nada mais, nada
menos. Distorcer por mínimo que seja o conteúdo bíblico a ser exposto é cair em
pecado, devemos lutar contra essa tentação.
b)
O problema do plágio.
Ocorre plágio quando alguém expressa
um pensamento nas mesmas palavras de outra pessoa sem fazer a devida
referência. Outra forma de plágio muito comum por parte de pregadores tem sido
pregar mensagens de outros pregadores copiadas da internet. Não esqueçamos:
plágio é pecado.
c)
O problema da manipulação.
O pregador não pode manipular, isto
é, incutir uma linha de ação nas pessoas que de fato elas não aceitariam
normalmente. Devemos trabalhar com motivação, o que é bem diferente.
Quem prega a Palavra nunca pode esquecer
que o púlpito não pode ser utilizado para intimidar as pessoas à submissão,
ainda que estejamos sendo desrespeitados.
III
– O pregador e a sua satisfação em Cristo.
A questão da satisfação deve ser
encarada, e com sinceridade, pois a primeira atitude para se resolver um
problema é admitir sua existência. Alguns pregadores podem se encontrar
insatisfeitos por vários motivos. E a insatisfação pode levar ao fracasso
moral, e isto porque quanto mais insatisfeitos estivermos mais vulneráveis à
tentação nos encontraremos.
Dallas Willard faz a seguinte
declaração:
Os fracassos morais de ministros normalmente estão relacionados a uma
dessas três coisas: sexo, dinheiro ou poder. Isso sempre resulta do
descontentamento.
Os ministros estão
se esforçando para alcançar algo e começam a sentir: Eu mereço algo
melhor. Eu me sacrifico tanto e ganho tão pouco. E assim vou fazer isto. A
garantia mais infalível contra o fracasso é estar em paz e satisfeito com Deus,
de modo que, quando o mau procedimento se apresenta, ele não é nem mesmo
interessante. É assim que permanecemos longe da tentação. (Robinson &
Larson, 2009).
Características e um pregador
satisfeito
No contexto evangélico atual estar em
sucesso o pregador que consegue um grande público, que é reconhecido, que estar
à frente de uma grande igreja, que estar prosperando materialmente, que recebe
muitos convites para pregar, etc. Por conta do distorcido conceito de sucesso
ministerial presente nas igrejas da atualidade esta questão da satisfação se
torna um grande problema. Mas o pregador
satisfeito em Cristo terá duas características presentes em sua vida.
Primeiramente estar em paz e ama o que
faz. Não estar tentando administrar resultados do seu trabalho, apenas
confia no Senhor e por isso consegue usufruir essa paz e ter alegria de pregar
independentemente de qual seja o público quantitativo. O pregador em paz irá
fluir paz na pregação que atingirá o ouvinte.
Outra característica é saber ouvir. O pregador deve
buscar a capacidade de perceber as necessidades reais de seus ouvintes que
muitas vezes estarão ocultas por uma necessidade manifesta. Saber ouvir é
perceber o que de fato necessitam. Um pregador satisfeito terá mais
possibilidade de pôr isso em prática, de falar a partir do que ouve.
IV
– Alguns conselhos práticos.
Gostaria neste ponto de citar alguns
conselhos práticos para os pregadores da Palavra. Esses conselhos são do Pr.
Renato Vagens, Pastor Presidente da Igreja Cristã Aliança, em Niterói, RJ.
1- Pregue para a glória de Deus. A motivação do ministro deve ser a
glória do Senhor e não a exaltação do seu próprio nome e ministério.
2- Evite o
improviso. Suba ao púlpito convicto daquilo que irá falar ao coração daqueles
que o Senhor os confiou.
3- Mate-se de
estudar e ressuscite através da oração. O ministro que não dedica tempo ao
estudo bíblico e a oração não vale um vintém.
4- Não caia na
tentação de pregar um sermão politicamente correto. Pregue a Palavra de Deus!
Pregue as Escrituras.
5- Você não foi
chamado por Deus para promover entretenimento aos ouvintes. Você é um pregador
do Evangelho. Anuncie Cristo, pregue Cristo e proclame as inexoráveis verdades
da Palavra de Deus.
6- Não seja
superficial. Muito pelo contrário, seja profundo não suas colocações. Contudo,
lembre-se que profundidade não está relacionado a falar de modo difícil.
Spurgeon por exemplo era profundo, todavia, qualquer pessoa que o ouvia
conseguia entendê-lo.
7- Não pregue outra
coisa a não ser Cristo Crucificado. Você não foi chamado para pregar técnicas
de psicanálise, psicologia humana, ou auto-ajuda. Você não foi chamado para
pregar outra mensagem a não ser o Evangelho de Cristo.
8- A Bíblia deve
ser a fonte da sua mensagem. Por mais interessante e profundo que seja um
livro, a Biblia é a nossa única e exclusiva regra de fé, portanto, é dela
que devemos extrair e fundamentar nossos sermões.
9- Cuidado
com a arrogância. O púlpito é um lugar santo. Você não foi chamado para
testesmunhar sobre os seus feitos e sim sobre a grandeza de Deus. Os puritanos
tinham por hábito nunca relatarem no pulpito aquilo que faziam ou deixavam de
fazer e sim expor as Escrituras.
10- Pregue com fogo
e razão. Jonathan Edwards costumava dizer que o pregador precisa ter luz na
mente e fogo no coração.
11- Pregue com o
coração enchargado pelo amor. O pregador que não ama não pode pregar o
evangelho. O amor é um dos fundamentos da nossa mensagem. O pregador ama as
pessoas por isso prega.
12 - Pregue
exclusivamente a Palavra de Deus.
E por fim lembre-se: "O pregador não é um profissional; seu ministério não é uma profissão." (E.M. Bounds)
E por fim lembre-se: "O pregador não é um profissional; seu ministério não é uma profissão." (E.M. Bounds)
Pense nisso!
Renato Vargens
(http://renatovargens.blogspot.com.br/2013/01/12-conselhos-preciosos-aos-pregadores.html),
acesso em 26/04/14).
Conclusão
Tenhamos em mente que a tarefa da
pregação é a mais sublime atividade a que uma pessoa possa se dedicar, e as
exigências do Senhor para nós são bastante elevadas, ele é Santo e exige
santidade do seu povo, e nós que pregamos a Palavra devemos ser os primeiros a
viver uma vida santa.
E que nunca saia de nossa mente 2
Coríntios 4.5 a 7: “Porque não nos
pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como
vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas
resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação
do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, este
tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de
nós”.
Bibliografia
BARTH, Karl. A proclamação
do Evangelho. Centro Acadêmico Eduardo Carlos Pereira, São Paulo, 1963.
ROBINSON & LARSON
(organizadores), Hadon; Craig B. A arte e ofício da pregação bíblica: um manual
abrangente para comunicadores da atualidade. Editora Shedd Publicações, São
Paulo, SP, 2009.
LLOYD-JONES, D. Martin.
Pregação & pregadores. Editora Fiel, 4ª edição, São José dos Campos, SP,
1998.
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