Segundo o costume judaico, quando
uma moça estava prestes a casar-se, deveria adquirir um vaso de alabastro cheio
de perfume. Se levasse o vaso de alabastro cheio de perfume, ela seria bem
sucedida na casa de seu marido. Mas se levasse apenas um pequeno vaso, com
pequena porção do perfume, a recepção não seria tão calorosa. Por isso, o vaso
de alabastro cheio de perfume significava muito para a moça desejosa de
casar-se. Maria tinha preparado esse vaso havia muito tempo: ano após ano viera
ela economizando aqui e ali, para adquiri-lo. Todavia, quando ela se encontrou
com Cristo, seu coração abriu-se em adoração ao Senhor. Ela O amava tanto que
quando Jesus foi a Betânia, ela trouxe seu tesouro mais precioso, o vaso de
alabastro cheio de perfume. Removendo a tampa, ela derramou o unguento sobre a
cabeça do Senhor e em Seus pés, enxugando-os com seus cabelos. Muitas pessoas
vão à Igreja pelo caminho do ritualismo e pensam ter cultuado a Deus. Mas, Deus
não aceita esse tipo de culto. Deus quer seu tesouro, seu coração; Deus quer você inteirinho, inclusive seu vaso de
alabastro cheio de perfume.
Elucidação
Chegamos à etapa final do Evangelho
de Marcos. Nos capítulos 14 a 16, Marcos começa a descrever o processo da
crucificação e ressurreição de Jesus.
O livro todo anuncia e prepara o
leitor para esse tão esperado momento: a morte de Jesus (2:20; 3:6;8:31;9:11-13,31;10:33-34).
Mas a cruz não é só o tão esperado
momento no Evangelho de Marcos, ela é o tão esperado momento para todo o Antigo
Testamento! Toda a história da humanidade aguardava esse momento. O tão
esperado Cordeiro pascal está prestes a ser morto. Todos os grandes eventos e
sacrifícios do Antigo Testamento apontavam para esse momento. Hoje nós temos o
privilégio de entrarmos na história e caminhar com o Servo Sofredor até o
momento em que Ele se torna o Cordeiro pascal que tem o seu sangue derramado,
promovendo verdadeira salvação e um êxodo eterno. Mas não acaba na morte,
andaremos até o momento em que Servo se torna o Filho do Homem, ascende à
direita de Deus e recebe todo poder!
Tudo o que ocorre nesses momentos
preparativos para a morte de Jesus está sob o total domínio do Senhor. Esse texto,
que mostra três reações distintas à pessoa de Jesus deve ser observado com essa
correlação.
I – A reação de Caifás, conspiração, Mc 14.1 e 2; Mt 26.1-5.
Estava muito próxima a festa da
Páscoa, a principal celebração religiosa dos judeus que comemorava a libertação
daquele povo da escravidão do Egito. Aquela festa era seguida imediatamente
pela Festa dos Pães Asmos, que eram sete dias de festas. A alta liderança
religiosa judaica estava reunida, o Sinédrio, o local de reunião era a casa de
Caifás, que era o sumo sacerdote (Mt 26.4). A grande discussão deles era como
poderiam prender e matar Jesus. O ódio deles por Jesus só havia crescido. Eles
não desejavam que Jesus fosse morto durante a festa da Páscoa, queriam ser
discretos. A conspiração deles estava armada, o plano deles era que tudo ocorresse
após as festas. Naquela época a festa da Páscoa e dos Pães Asmos atraíam uma
grande multidão de judeus que viviam em outras regiões, estimula-se que a
população de Jerusalém era de 30 mil pessoas, e durante a Festa circulava umas
500 mil pessoas em Jerusalém. Então matar Jesus naquele momento seria chamar
muito a atenção, mas os planos deles esbarram nos propósitos eternos do Senhor.
Já estava determinado pelo Senhor
que Cristo seria o nosso cordeiro pascal, por isso em Apocalipse 13:8 está
escrito que o Cordeiro de Deus foi morto desde a fundação do mundo, cordeiro
remete ao sacrifício pascal. O propósito divino era que Jesus fosse morto na
Páscoa. Jesus seria morto apenas no tempo do propósito divino, Herodes tentou
matá-lo quando ele era bebê (Mt 2.13-15); houve outras tentativas de assassiná-lo
(Lc 4.28-30; João 5.18; 7.30; Marcos
12:13; Lc 19:47-48).
Jesus haveria de ser morto sim, mas
não por ser conforme a ótica deles um líder fracassado, mas porque era o eterno
plano do Senhor: “sendo este entregue
pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o
por mãos de iníquos” (At 2.23). Em sua soberania o Senhor utiliza-se até da
vilania desses homens maus.
Pv 19.21 “Muitos propósitos há no coração do homem,
mas o desígnio do SENHOR permanecerá”.
Sl 2.1-6 “Por que se enfurecem os gentios e os povos
imaginam coisas vãs?
Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o
SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo:
Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas.
Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles.
Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá.
Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião”.
Mas além dessa reação de Caifás,
podemos notar nesses momentos preparatórios à crucificação um relato muito
tocante acerca de uma mulher que valorizou acima de tudo a oportunidade de estar
com Cristo.
II – A reação de Maria, adoração, Mc 14.3-9; Jo 12.1-8.
O texto de Marcos não cita o nome
dessa mulher, mas ficamos sabendo por João que se trata de Maria, irmã de
Lázaro e Marta. Jesus estava em Betânia, a última sede de seu ministério e
cidade de seus três amigos, Lázaro, Marta de Maria.
Há algumas características na reação
de Maria que devem ser observadas:
a) Maria deu o seu melhor, v. 3-5.
Maria utiliza um vaso de alabastro,
um tipo de vaso próprio para produtos valiosos, pois sua borda é fina o
suficiente para evitar desperdício. O conteúdo do vaso que Maria usou era
nardo, um perfume extremamente valioso. Judas calculou o conteúdo daquele perfume
em 300 denários (Jo 12.5). Um denário era o equivalente a um dia de trabalho,
assim aquele nardo valia 300 dias de trabalho.
Maria foi extravagante na sua
adoração ao Senhor, deu o melhor de si, o melhor que pôde, e isso foi o mais
importante, mais importante até do que o próprio valor do perfume.
UNGIR A CABEÇA =
ao ungir a cabeça de Jesus, Maria proclama que Jesus é o verdadeiro Rei, que
Ele é o Messias (o Ungido de Deus).
UNGIR OS PÉS =
lavar os pés e passar perfume nos pés era o serviço do mais baixo escravo da
sociedade. Ao ungir os pés de Jesus com o mais caro dos perfumes, Maria está
proclamando ser a mais baixa de todas as escravas e que Jesus é o seu grande
Senhor.
Ao quebrar o frasco é como se ela
estivesse dizendo que poucas gotas não são suficientes diante da dignidade de
Jesus
Hoje às vezes estamos dando o mínimo
para Jesus. O mínimo de voz durante o louvor, o mínimo de força durante a
semana para ler a Palavra, o mínimo de tempo, o mínimo de bens, o mínimo de
contato com os irmãos.
b) Maria buscou agradar só ao Senhor, v.3-7.
Maria não estava preocupada com a
aprovação ou desaprovação dos discípulos, com o que poderiam pensar dela, seu
desejo é de agradar ao Senhor.
c) Maria demonstrou seu amor em tempo oportuno, v. 7-8.
Ela não deixou para depois, não
perdeu a oportunidade que estava diante dela, sabia que o seu senhor haveria de
morrer, e antecipa-se a ungir o seu corpo. É interessante que outras mulheres
buscaram ungi-lo quando ele foi sepultado (Mc 16.1-6), mas ele já não estava
mais no túmulo.
O que tens a entregar ao Senhor,
faze-o hoje, não deixe para depois.
d) Maria foi elogiada pelo Senhor, 8-9.
A atitude de Maria foi aceita pelo
Senhor a tal ponto que ele diz que onde o evangelho do reino fosse anunciado
ela seria lembrada.
Enquanto Pedro houvera tentado
dissuadir Jesus de não ir à Jerusalém, de fugir do perigo da morte iminente,
Maria o prepara para a sepultura. De certo modo então Jesus a coloca acima dos
discípulos nesse momento, aquela que estava em um momento de humilhação é
exaltada pelo Senhor, porque todo aquele que se humilhar será exaltado: “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde
de espirito obterá honra” (Pv 29.23); “Quem
a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será
exaltado” (Mt 23.12).
Além de Caifás com os membros do
sinédrio e de Maria, o texto complementa com uma terceira personagem que
representa uma terceira reação a Jesus.
III – A reação de Judas, negociação, Mc 14.10 e 11.
Judas era um dos doze, andava com
Jesus, comia com Jesus, estava contado entre os discípulos, mas tinha um coração
iníquo, era inclusive desonesto em sua reponsabilidade no ministério de Jesus.
Ele era o tesoureiro do grupo, foi ele quem disse que o perfume que Maria usou
poderia ter sido vendido e o valor dado aos pobres, mas João informa que ele
era ladrão e disse aquilo apenas pensando em fazer um desvio de verba (Jo 12.5
e 6).
O exemplo de Judas retrata uma
pessoa religiosa que pode se autoproclamar um discípulo de Jesus e mesmo assim
continuar nos seus pecados e nunca ter sido realmente salvo!
A verdade é que há muitas pessoas
nas igrejas parecidas com Judas, passam anos ‘seguindo’ a Jesus na expectativa
do que vão conseguir em troca. O resultado é a hipocrisia, fingem ser o que
verdadeiramente não são.
Ao que parece Judas estava bastante
frustrado, ele queria a glória humana, o domínio de um reino terreno, mas o que
estava soberanamente guardo para Jesus era a cruz e por isso no entendimento
dele as coisas estavam indo mal, então busca satisfazer a sua cobiça.
Como vimos os sacerdotes e escribas
não queriam que a morte de Jesus se desse na Páscoa, mas o Senhor usa a
malignidade de Judas para o cumprimento de seu propósito. O plano de Judas é
tão atraente que eles não resistem.
V.11 - “Eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe prometeram
dinheiro”.
Marcos não informa o valor, mas
Mateus, afirma que foram 30 moedas (Mt 26:14-15), o equivalente a 4 meses de
salário, o equivalente ao preço de um escravo. Que contraste com Maria! Enquanto
Jesus se humilhou ao ponto de lavar os pés de Judas, este humilha Jesus ao
ponto de vendê-lo como um escravo.
E assim é diante do Evangelho de
Jesus, ou a pessoa se humilha e O adora como único Senhor e Salvador ou se
afasta com desprezo e rejeição, ainda quando essa rejeição é expressa em uma
linguagem polida, continua sendo rejeição.
Você hoje quer sair daqui mais
semelhante à Maria, ou mais semelhante à Judas?
Aplicações
1. Como é
maravilhosos servirmos a um Deus que tem o controle sobre todas as coisas! Ele
conduziu soberanamente os eventos da morte de Seu Filho Amado! É confortador
então para nós a convicção que Ele conduz maravilhosamente os eventos de
nossas vidas!
2. O que você tem
de precioso para derramar sobre Jesus. Hoje em dia uma das coisas mais
preciosas que as pessoas têm é o tempo. Dedique o seu tempo ao Senhor, em
oração, leitura da Palavra, em busca por edificação espiritual e serviço no
reino.
3. Um adorador não
é aquele que fica guardando para si, mas que dá tudo de si ao Senhor!
Quando foi a última vez que você adorou
ao Senhor de forma extravagante? Quando foi a última vez que você agiu de forma
extravagante para a glória de Cristo?
Maria é um exemplo que deve ser
imitado! Que durante esta semana você esteja sendo extravagante em tudo o que
for fazer para o Senhor!
4. Como podemos
ver, Jesus é realmente o maior polarizador da humanidade. À medida que você O
conhece, à medida que você passa tempo ouvindo Suas palavras: ou você se afasta
dele, ignorando Suas verdades, ou você se aproxima d’Ele, abdicando suas
vontades.
Como está o seu coração? À medida
que você é exposto à Luz do Evangelho – Jesus – o seu coração tem sido atraído
a Jesus ou tem traído Jesus com os seus próprios desejos e vontades?
Conclusão
Que sua reação ao inexplicável amor de Cristo seja semelhante à de
Maria. Judas amou mais o dinheiro do que á Jesus, Caifás e os sacerdotes e escribas
amavam o poder e por isso sua reação a Jesus era de inveja e os impedia de
vê-lo como o Messias aguardado. Mas que você ame a Cristo e toda a sua vida
seja uma demonstração desse amor!
(Sermão pregado no Templo Sede da Igreja Batista dos Guararapes no dia 02 de março de 2014 no Culto Solene).
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