Introdução
Qual o seu
conceito de história? O que você espera para o futuro? Você crê no fim do mundo
conforme nós o conhecemos? Sendo você cristão, qual a sua expectativa da volta
de Cristo? Ele pode voltar a qualquer momento ou você imagina que ele voltará
apenas quando alguns sinais estejam cumpridos?
Elucidação
1. A linguagem apocalíptica.
Na Bíblia
existem muitos gêneros literários, ou formas de literaturas diferentes, uma
delas é o apocalipse. Algumas das características de uma literatura
apocalíptica são as palavras de juízo e a predição de acontecimentos futuros e
linguagem figurada que não podem ser interpretadas literalmente. Desse modo,
Marcos 13 é um sermão de Jesus com uma linguagem predominantemente
apocalíptica.
2. As correntes interpretativas: preterista e futurista.
Estamos diante
de um texto de difícil interpretação. Há basicamente duas correntes de
interpretação para esse texto. A primeira é dos preteristas, ou seja, afirma-se
que Jesus está falando apenas de acontecimentos de sua época, por isso o nome
preterista, que se refere ao pretérito ou passado. A segunda é a corrente
futurista que por sua vez afirma que Jesus fala de acontecimentos que se
realizarão no fim dos tempos, futuro.
3. A nossa interpretação adotada.
Acredito que
neste sermão Jesus faz predições acerca de sua época, ou seja, que já se cumpriu
na história; bem como previsões que ainda se concretizarão. Portanto adotamos
uma interpretação que é uma mescla das posições preterista e futurista.
I – Jesus anuncia um tempo
de dor para os israelitas, v. 1, 2, 14-19; 28-31.
1. O Templo seria destruído, Jerusalém invadida, v.1-2, 14-19.
O Templo de
Jerusalém havia sido reconstruído pelo rei Herodes, e era uma construção
magnífica, um orgulho para a nação judaica. Ali se centralizava a religiosidade
judaica. Diante das palavras dos discípulos Jesus não faz nenhum elogio à
arquitetura daquele templo, à beleza que havia nele, ao quanto ele era
imponente. De nada valia toda aquela beleza frente á impiedade do povo ao qual
pertencia.
Jesus não busca
de sua igreja a beleza de grandes construções, o luxo. De nada adianta templos
magníficos se a Palavra do Senhor não estiver sendo honrada, se não houver
espaço nos corações para a operação do Espírito Santo. Somos nós como Templos
do Espírito que de fato interessa à Cristo.
Evidentemente
que isso não é desculpa para sermos desleixados quanto à organização do nosso
local de adoração, não há nenhum problema em estarmos em um ambiente
confortável.
A palavra
profética de Jesus cumpriu-se no ano 70 da era Cristã, quando o general Tito
invade Jerusalém. O Templo é incendiado pelos romanos, seus muros derrubados.
Jesus está
anunciando que os judeus viveriam uma grande tribulação. O abominável da
desolação no versículo 14 então é o General Tito que entra na parte externa do
templo, profanando-o, conforme as profecias de Daniel (Dn 9.27; 11.31–12.11).
Por isso as palavras de Jesus acerca de fuga no v. 15 a 19, e seu lamento pelas
grávidas (v.17).
2. Aquela geração viveria aquelas dores, 28-31.
Um versículo de
difícil entendimento é o v. 30: “Em
verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”.
Jesus estava se referindo aos acontecimentos do fim dos tempos usando como via
os acontecimentos que sobreviriam a Israel, é uma profecia para tempo próximo e
também para o tempo distante.
V. 31 As palavras do Senhor certamente se cumpriram no passado
relativamente à Israel, se cumprirão no que diz respeito ao futuro da humanidade
de um modo geral e da Sua igreja. O fim está próximo, e por mais que dure ainda
2 mil anos, o fim está cada vez mais próximo. Se não o fim do mundo, pelo menos
o fim da vida de cada um. Isto é tão certo como o fato de que as palavras do
Senhor permanecem para sempre, mesmo que se queira destruí-las, ignorá-las,
apagá-las, usurpá-las e usá-las para enganar as pessoas, elas permanecem.
II – Jesus anuncia tempos
difíceis para sua igreja, v. 3-13, 14-23.
V. 4 e 5 Quando
Jesus estava no Monte das Oliveiras os discípulos chegam a ele e lhe fazem a pergunta de
quando tudo aquilo aconteceria, mas esta pergunta está mais ampla no evangelho segundo Mateus: “Dize-nos quando
sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do
século” (Mt 24.3b). Assim sendo Jesus passa a falar de sua vinda dizendo
como a igreja deve estar se portando.
1. Ela não deve estar buscando sinais, v. 6.
Jesus passa
agora a falar o que sucederia a partir daquele momento, ele fala de um futuro
distante, mas ilustra esse futuro distante com aquilo que já poderia ser
percebido em sua época. A humanidade enfrentaria tempos difíceis, com a
história caminhando para um fim, ele haveria de voltar, mas sinaliza para os
seus discípulos, consequentemente para sua igreja, alguns sinais que são
indicadores de sua volta. Embora os exemplos citados por ele estejam presentes
em toda história da humanidade é indubitável que com o passar dos séculos houve
um gradual aumento de cada um deles.
a) Falsos cristos, v.6, 21-23
A palavra
cristo, do hebraico Mashiach (messias) significa “ungido”, escolhido. Desse
modo, Jesus está afirmando que surgirão muitos que estarão se colocando nessa
posição de salvador. Pessoas que anunciariam uma palavra de salvação
colocando-se no lugar de próprio Jesus. Não se refere aqui a sujeitos com
delírio religioso e de grandeza como é o caso de Henri Cristo, mas de
indivíduos como o polêmico Rev. Monn, falecido em 2012, um sul-coreano que se
autoproclamava o messias dessa nova era. Fundou a Igreja da Unificação,
acumulou uma fortuna de bilhões de dólares e ensinava que a obra de Jesus foi
incompleta e que ele iria concluí-la. E um falso cristo, é mais um de tantos
falsos profetas. Aqui no Brasil o número de falsos profetas e de pessoas que se
deixam enganar por eles é lastimoso. Jesus diz que essas pessoas realizarão
sinais, milagres, e enganarão a muitos. E não é assim que acontece? E não é
isso o que temos visto?
b) Guerras, v.7
Inúmeras foram
as guerras desde essa palavra profética de Jesus. E o número cresce ao decorrer
da história. Registra-se mais de 300 guerras desde a segunda Guerra Mundial,
pequenas nações surgiram, novas fronteiras foram demarcadas, às vezes com
tinta, às vezes com sangue. Tomamos conhecimento apenas do que interessa à
mídia nos informar. A indústria armamentista é uma das que mais faturam, e hoje
podemos falar de armas atômicas, nucleares, químicas e biológicas. Lembremos
dos conflitos recentes na Albânia, Ruanda, Bósnia, Kosovo, Chechênia, Sudão e
Oriente Médio. São guerras tribais na África. Guerras étnicas na Europa e Ásia.
Guerras religiosas na Europa. E atualmente, a liberdade de expressão, os
direitos humanos estão sendo suprimidos na Venezuela com muita violência.
Fiquemos alerta! Mas Jesus diz que não devemos nos assustar e que ainda não é o
fim.
c) Catástrofes naturais e
fome, v. 7-8.
Mais uma vez
repito que estas coisas sempre ocorreram desde que o pecado entrou no mundo. O
que estamos denotando é o seu aumento gradual. Em 79 d.C., a cidade de Pompéia,
na Itália foi sepultada pelas cinzas de Vesúvio. Em 1755 60 mil pessoas
morreram por terrível terremoto em Lisboa. Em 1906 um terremoto avassalador
destruiu a cidade de São Francisco na Califórnia. Em 1920 a província de Kansu
na China foi arrasada por um terremoto. Em 1923 Tókio foi devastada por um
terremoto. Em 1960 o Chile foi abalado por um terremoto que deixou milhares de
vítimas. Em 1970 o Peru foi arrasado por um imenso terremoto.
Nos últimos
anos vimos o Tissunami na Ásia, invadindo com ondas gigantes cidades inteiras.
O furacão Katrina deixou a cidade de New Orleans debaixo de água. Dezenas de
outros tufões, furacões, maremotos e terremotos têm sacudido os alicerces do
planeta terra, destruindo cidades e levado milhares de pessoas à morte. Só no
século XX houve mais terremotos do que em todo o restante da história.
A fome é um
retrato vergonhoso da perversa distribuição das riquezas. Enquanto uns acumulam
muito, outros passam fome. A fome alcança quase 50% da população do mundo.
d) A igreja perseguida, v. 9, 11-13.
Jesus fala
também da perseguição religiosa. A igreja primitiva viveu o seu período de
perseguição, muitos cristãos foram mortos nas arenas romanas devorados por
leões, queimados vivos, etc. Houve perseguição aos verdadeiros cristãos por
parte dos judaizantes, da intolerância da Igreja Católica Romana na Idade Média
com a Santa Inquisição, dos governos totalitários, do nazismo, do comunismo, das
religiões extremistas como o islamismo.
O interessante
de tudo isso é que não devemos viver com obsessiva preocupação buscando em tudo
o que acontece sinais da volta de Cristo. Jesus ao falar sobre esses assuntos o
faz em um tom que nos leva a compreender que essa não deve ser a nossa
prioridade.
2. A igreja deve trabalhar, v. 10.
A nossa
prioridade é o anúncio do reino de Deus a todas as nações, isto é, a todos os
povos, todas as etnias. Em face a tudo o que acontece, diante de todos os
sinais não devemos viver buscando saber quando Cristo voltará, mas cumprindo
nossa missão de anunciar o evangelho da salvação. O que Jesus diz é que ele
voltará apenas quando o evangelho for devidamente anunciado no mundo. Cumpramos
então a nossa missão!
3. A igreja deve confiar no seu Senhor, v. 11.
Jesus diz para
seus discípulos que diante da perseguição que sobreviria a eles, o testemunho
que haveriam de dar acerca de Cristo viria pela capacitação do Espírito Santo.
Deveriam confiar no Senhor.
Estamos vivendo
nos últimos dias, a igreja de Cristo ainda enfrentará grandes desafios,
inclusive acredito que passará pela grande tribulação relatada nos v. 14 a 22 e
ilustrada pela invasão de Jerusalém pelos romanos.
Mas diante de
tudo isso, os versículos 24 a 26 nos fala especificamente acerca da volta de
Cristo.
III – Jesus anuncia um
acontecimento glorioso para sua igreja, v. 24-27.
1. Haverá sinais na natureza, v. 24, 25.
A bem da
verdade trata-se não apenas de sinais, mas de transformação total de tudo o que
existe conforme conhecemos. O fim do mundo por assim dizer. Tudo se desfará,
será o caos, para que haja um novo início. Assim confirma 2 Pe 3.10-13: “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do
Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se
desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.
Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os
que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do
Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os
elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa,
esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”.
2. O povo de Deus será reunido, v. 26-27.
É a declaração
da volta de Senhor Jesus, aqui não há mais um Jesus humilhado, mas em toda a
sua exaltação, ele vem para julgar, na plenitude do seu poder e glória! Não é mais
o Salvador, mas o Justo juiz! Não haverá mais espaço para arrependimento, essa
época já terá passado. Aqueles que o escarneceram, que o desprezaram, sentirão
todo o fulgor de sua ira. Aqueles que viveram o seu amor usufruirão mais desse
amor, de uma comunhão sem medida.
V. 27 Todos os escolhidos do Senhor serão reunidos, arrebatados,
e estarão diante do Senhor para toda a eternidade.
3. Há a necessidade de
vigilância, v. 32-37.
O próprio Jesus
Cristo declara não saber a data de sua volta naquele momento em seu estado de
humilhação. Mas é claro que, no céu, em seu estado de Exaltação ele sabe o dia
em que virá julgar vivos e mortos. As seitas heréticas é que tentam estipular
uma data para a volta de Jesus, as escrituras não autorizam isto, nos é dito
sim para vigiar. Estejamos alerta, fazendo uma sábia leitura de nosso tempo.
Vigiemos e oremos para que não estejamos caindo em tentação, mas sendo livres
do mal (cf. Mt. 6.13).
E aqueles que
ainda não estão em Cristo, que possam se arrepender de seus pecados para que também
possam viver em vigilância aguardado a vinda do Senhor.
Conclusão
1. Que você não seja indiferente à Palavra do Senhor. Que não
seja como os exemplos relatados em Lc 17.26-30: “Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do
Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé
entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. O mesmo aconteceu nos dias
de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia
em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos.
Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar”.
2. Que você não esteja entre aqueles que estão sendo cristãos
apenas nominalmente, apenas honrando Jesus com os lábios, ele adverte quanto a
isso: “Hipócritas! Bem profetizou Isaías
a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração
está longe de mim” (Mt 15.7, 8). Mas que possa viver essa maravilhosa
esperança da volta de Cristo!
(Sermão pregado no Culto Solene da Igreja Batista dos Guararapes no dia 23 de fevereiro de 2014).
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