1 Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande.
2 Respondeu Abrão: SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?
3 Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro.
4 A isto respondeu logo o SENHOR, dizendo: Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro.
5 Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade.
6 Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça.
Introdução
“Depois destes acontecimentos, veio a Palavra
do Senhor à Abrão”. Depois de quase acontecimentos? Depois da
guerra dos quatro reis contra cinco, depois de Ló ser levado cativo e ele
partir para resgatá-lo, depois de sua vitória e do encontro com Melquisedeque,
sacerdote do Deus altíssimo, depois de lhe dar o dízimo de tudo.
Esse texto nos mostra mais um pouco
sobre essa extraordinária pessoa de Abrão.
I
– Abrão, um homem de temores v.1.
Abrão estava cercado por inimigos. O
que poderia estar se passando na cabeça de Abrão naquele momento? Ele havia
enfrentado tropas do rei Quedorlaomer e dos reis que estavam com ele para resgatar
Ló. Contou nessa empreitada com o elemento surpresa e obteve sucesso. Abrão
poderia estar temendo uma represália por parte desses reinos inimigos que o
cercavam. Além disto, havia sim um temor em seu coração acerca de seu futuro,
de como se concretizaria a promessa do Senhor na sua vida.
A Palavra do Senhor a Abrão é: “Não temas, eu sou o teu escudo”. A
despeito de qualquer coisa ele poderia confiar na proteção divina. Isso é
válido para cada um de nós, o Senhor é nosso escudo, a nossa fortaleza, socorro
bem presente na hora da angústia. Como nos diz o salmista: “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas
tribulações” (Sl 46.1).
Deus lhe diz que o seu galardão será
sobremodo grande. Abrão havia se recusado a receber recompensa do rei de
Sodoma, mas o Senhor lhe promete recompensá-lo. Aqueles que abandonam alguma
coisa por amor a Deus nunca perdem por isso, a presença divina já é uma grande
recompensa. Sempre vale a pena renunciarmos algo por amor ao Senhor.
Mas, além disso, Deus lhe ratifica a
Sua promessa.
II
– Abrão, um homem de diálogo com Deus, v.2-4.
Neste diálogo Abrão expõe seus
temores. Ele cria na promessa, mas observava os dados da realidade. Era já
velho, assim como sua esposa. Se morresse sem filhos toda sua herança passaria
para seu servo Eliezer, de acordo com o costume de então.
O diálogo de Abrão com Deus não surge
como incredulidade, mas como argumento da fé. Ele cria sim que o Senhor iria
cumprir sua promessa, o que ele não entendia é como isso iria acontecer. A
grande questão é como Deus iria fazer.
Em nosso diálogo com o Senhor a
importância da sinceridade, uma vez que sabemos que Ele conhece o nosso
coração, é de nos livrar do autoengano. Popularizou-se até com chavões palavras
do tipo: não pergunte ao Senhor o porquê, mas para quê. Uma grande bobagem,
porque afinal dá no mesmo, então, não há nenhum problema se buscamos
compreender a forma do Senhor agir em nossas vidas. Necessitamos disso
inclusive, necessitamos que o Senhor nos fale, que aquiete o nosso coração em
muitos momentos.
Às vezes confundimos sinceridade com
murmuração, mas é possível sermos sinceros sem sermos murmuradores. O
murmurador é sempre queixoso da situação, não guarda apenas para si o que lhe
incomoda, mas está a lastimar-se sem atentar para a providência divina. O
Senhor advertiu Israel por conta de sua murmuração: “Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra min? Tenho
ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra mim” (Nm
14;26). Em I Co 10 Paulo nos adverte a não murmurar como fizeram os israelitas
e foram mortos por isso (Nm 21.4-9 – o episódio da serpente de bronze). Não
podemos murmurar, mas é tolice nos autoenganarmos, se algo nos incomoda devemos
colocar diante do Senhor em oração.
Mas o Senhor reafirma a Abrão a sua
promessa, o herdeiro não seria um estrangeiro, mas aquele que dele seria gerado
(v.4). Deus reanima a sua fé e faz isso
de uma forma maravilhosa.
III
– Abrão, um homem de fé, v.5-6.
Deus conduziu Abrão até fora de sua
tenda. Mandou que ele olhasse para as estrelas. Quem já esteve em um lugar sem
a predominância da iluminação artificial sabe quão belo é o céu estrelado e
como conseguimos ver um número muito maior de estrelas. Essas estrelas
representam não meramente a descendência de Abrão em uma genealogia carnal,
étnica, mas uma descendência espiritual, todos aqueles que viriam a crer em
Deus à semelhança de Abrão. Os filhos de Abraão são os filhos espirituais. (Rm
4.16) e Gl 3.7-8: “Sabei, pois, que os da
fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão
abençoados todos os povos”.
Ao mandar Abrão contemplar as
estrelas, era como se pudesse contemplar as possibilidades da providência
divina, é contemplar a glória do Senhor. Era Deus dizendo a Abrão que o fato de
ele e Sarai já estarem avançados em idade não era nenhum impedimento ao Senhor.
Sua promessa se cumpriria.
Abrão creu nessa palavra e isso lhe foi
imputado por justiça, ou seja, ele foi considerado justo por conta de sua fé. Ele
foi salvo por meio da fé. A justiça lhe foi imputada, isto é, ele não se tornou
merecedor, mas lhe foi concedido porque ele creu na promessa. Paulo esclarece o
que de fato constituía a sua fé: “Ora, a
promessas foram feitas a Abrão e ao seu descendente. Não diz: E aos
descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo”. Abraão, portanto, creu em Cristo, creu na
promessa do Messias, daquele que esmagaria a cabeça da serpente.
Aqueles que creem em Cristo têm a
"justiça de Deus" imputada em favor deles [Romanos 4:22-25; 3:21-22].
À semelhança de Abrão também somos
aceitos pelo Senhor, não por conta de nossa bondade, mas pela justiça de Cristo
que nos é imputada. Nossa justificação em Cristo:
1. Não é alcançada através
das obras [Romanos 4:1-8].
2. Não é alcançada através da
circuncisão [Romanos 4:9-12].
3. Não é alcançada através
da Lei [Romanos 4:13-16]. Ver também Gálatas 3.
Conclusão
1. Durante os momentos de
angústias suas orações, seus pedidos ao Senhor estão permeados pela fé ou pela
incredulidade? Em que você fundamenta sua oração?
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