"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito,
falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,
dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5.18-21).
Introdução
A temática do Espírito Santo é
bastante atrativa, no entanto, poucas doutrinas foram na história de igreja tão
deturpada. Muito do que se crê sobre o Espírito Santo e o seu agir em algumas
igrejas ditas evangélicas quase nada ou nada tem a ver com o que está revelado
na Palavra. Há muitas coisas atribuídas ao Espírito Santo erroneamente.
Antes de adentrarmos ao texto
lembremos que o Espírito Santo não é uma coisa ou um poder, mas uma pessoa. O
Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Às vezes em nossa
linguagem cotidiana podemos incorrer em erro falando de forma muito acentuada
sobre o poder do Espírito Santo ao ponto de esquecermos que seu poder não está
dissociado de sua pessoa.
Neste texto Paulo não utiliza o nome
completo, mas apenas Espírito, no entanto ele está escrevendo sobre o Espírito
Santo. O próprio nome da terceira pessoa da Trindade declara acerca de sua
santidade, desse modo é mais do que evidente que a primeira característica de
uma pessoa cheia do Espírito é uma vida em santidade diante do Senhor.
Inclusive o texto em seus versículos anteriores diz de procedimentos práticos
de quem vive à luz do evangelho.
Vejamos neste texto um pouco sobre
viver na plenitude do Espírito.
I – Viver a plenitude do Espírito Santo é viver uma vida de
autocontrole, v.18.
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito" (Ef 5.18-21).
Paulo utiliza de uma linguagem
comparativa. Em uma comparação encontramos semelhanças ou discordâncias. Ele
afirma que não devemos estar nos embriagando com vinho pelo motivo de que neste
estado há dissolução. A palavra dissolução tem o sentido de desregramento,
licenciosidade, um estilo de vida debochado. Bem sabemos como fica uma pessoa
quando se encontra alcoolizada, muitos perdem o controle, falam bobagem, tem
atitudes que em um estado sóbrio possivelmente não teria.
Ao contrário deste comportamento
reprovável o apóstolo aconselha aos irmãos a estarem buscando ser cheios do
Espírito, desse modo percebemos que uma das principais características de
alguém que está sendo cheio do Espírito é o autocontrole. Não se trata de um autocontrole
natural, mas influenciado pelo Espírito Santo, por isso pode-se dizer que Ele
estará controlando nossas vontades, nossos desejos e nossos sentimentos.
Em Gálatas 5.23 está relacionado o
domínio próprio como uma das especificidades do fruto do Espírito. Então como
alguém pode afirmar que por está cheio do Espírito não tem autocontrole sobre
suas ações?
É importante também relembrarmos que
uma vida sobre o controle do Espírito é uma vida controlada pela Palavra de
Deus. No texto de Colossenses 3.16 está escrito: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos
mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração”. As palavras de Cristo estão
na Bíblia, e é por desprezo à Bíblia que muitos têm errado quanto à doutrina do
Espírito Santo.
Evite o extremo da experiência
pessoal dissociada da análise bíblica, assim como deve se ter cuidado com o extremo
oposto, exacerbado conhecimento teórico sem o domínio do Espírito na vida
prática, consequentemente sem oração, sem culto, sem consagração ao Senhor.
No mesmo versículo percebemos que
viver a plenitude do Espírito Santo não se trata de uma opção.
II – Viver a plenitude do Espírito Santo é uma ordem do Senhor
para a igreja, v. 18. “enchei-vos do
Espírito”.
Enchei-vos (pleroustê) é um verbo que está no imperativo na voz passiva do
tempo presente. O sentido é: “vocês
devem, constantemente e continuamente, deixar que o Espírito de Deus tome conta
de suas vidas...” (BD, p. 165 cit. Rienecker & Rogers p. 399, 1995).
Assim sendo trata-se aqui de uma ordem, e não cumprimento de uma ordem bíblica
constitui pecado. A conclusão evidente é que todo cristão que não se deixa
encher pelo Espírito Santo está em pecado. É muito comum nas igrejas
evangélicas pessoas serem disciplinadas por terem caído na tentação da embriagues.
Quando o Rev. Billy Grahan presenciou um diácono ser excluído por embriaguez em
uma igreja nos Estados Unidos ele contestou dizendo: “algum diácono já foi excluído por não ser cheio do Espírito Santo?” (sic).
Embora culturalmente acabamos, em termos práticos, não vendo como um dever, é
exatamente desse modo como a Palavra nos apresenta o ser cheio do Espírito. Não
é uma alternativa, absolutamente todo crente deve buscar isso para sua vida.
Percebamos ainda que buscar ser cheio do
Espírito implica todo o nosso viver cristão.
III – Viver a plenitude do Espírito Santo é viver o afastamento
do pecado, v. 18. “Não vos embriagueis
com vinho”.
Embriagues é pecado, mas não buscar ser cheio do Espírito também
é. É necessário então estarmos nos afastando do pecado para que possamos estar
sendo cheios do Espírito Santo.
O contexto imediato desse versículo
nos mostra Paulo fazendo uma comparação da vida antes do compromisso com Jesus
Cristo e depois, mostrando que o cristão agora não pode, não lhe é permitido,
viver segundo a vaidade de seus próprios pensamentos (v. 17), não pode mentir
(v. 25), pode irar-se com moderação buscando a reconciliação (v. 26), não pode
furtar (v. 28), não pode falar palavra torpe, isto é, injustas, não edificantes
(v. 29), deve se afastar de toda amargura, cólera, ira desenfreada que leva ao
pecado, blasfêmias e malícia (v. 31), deve ter cuidado com a cobiça (5.3), com
a incontinência, impureza e avareza (v. 5). Assim sendo, todos os dias o
cristão precisa lembrar que embora houvera sido trevas agora é luz no Senhor e
por isso deve andar como filho da luz.
Esta outra expressão imperativa do
texto nos lembra de nossa responsabilidade em estarmos nos afastando do pecado.
Esta linguagem ilustrativa do vinho denota algo pecaminoso. Ninguém pode
afirmar que está cheio do Espírito Santo se está sendo dominado pelo pecado, e
aí não importa quais sejam suas experiências sobrenaturais. Mas afastar-se do
pecado sempre será um desafio para todos. Como podemos fazer isso? Os
versículos seguintes nos dão essa resposta.
V. 19 – 20: "falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,
dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo" - mostram o meio como podemos estar nos afastando do pecado ao mesmo tempo em que
já é uma consequência de uma vida cheia do Espírito.
Quando Paulo escreve “falando entre vós com Salmos” está
fazendo uma referência à Palavra de Deus. Os judeus dividiam o A.T. em Lei,
Escritos e Profetas, e às vezes para falar de todas as Escrituras se referiam
meramente como sendo os Salmos ou a Lei, portanto ele faz uma referência à
Palavra de Deus. Ao usar o particípio imperativo “laloustês”, que é traduzido para o nosso gerúndio “falando”, traz o sentido de que a
Palavra deve ser tema da conversa dos cristãos. Não significa que a todo tempo
estaremos falando da Bíblia, mas que Sua Palavra deve estar de modo natural em
nossos diálogos.
Ele ainda ressalta o louvor ao
Senhor, a espontaneidade do cântico espiritual como sendo um dos exercícios
espirituais que podemos realizar para que estejamos nos afastando do pecado. E
trata-se aqui de louvores que expressem as verdades de Deus, não qualquer
cântico. São meios de graça, ou seja, meios que nós nos utilizamos para nosso
benefício espiritual.
Ele ainda cita no v. 20 a gratidão
em todas as ocasiões. Evidentemente que jamais podemos entender como gratidão
pelo mau moral. Não é gratidão a Deus pelo nosso pecado ou pecado de terceiros,
não é isso que o apóstolo está ensinando. Essa gratidão à qual ele se refere é
a respeito das circunstâncias que vivenciamos, ao sabermos que nossas vidas
estão em suas mãos e que ele pode em sua soberania fazer com que momentos
desagradáveis a nós estejam redundando em bênçãos espirituais, conforme Rm
8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito”.
E no v. 21 a comunhão entre os irmãos
no temor de Cristo é outra forma de estarmos nos afastando do pecado e nos
aproximando mais do Senhor. Paulo coloca essa comunhão como “sujeitando-vos uns aos outros”. Embora
a nossa Bíblia faça uma divisão com uma epígrafe, o v. 22 está falando do mesmo
assunto começando a fazer aplicações para o âmbito familiar. Desse modo ele
passa a demonstrar que a mulher cheia do Espírito Santo é aquele que sabe se
submeter a seu marido (v. 22), o marido cheio do Espírito Santo é aquele que
ama a esposa de forma abnegada, como Cristo amou a igreja (v. 25), os filhos
cheios de Espírito obedecem e respeitam seus pais (6.1-3). Os pais, e aqui a
referência é para os homens, pois o original grego usa uma palavra que diz
respeito aos homens, devem disciplinar seus filhos ensinando os caminhos do
Senhor (v. 4).
Ele prossegue dizendo aos servos para
serem obedientes aos seus senhores como a Cristo, sendo sinceros (v. 5), e aos
senhores para agirem com brandura e justiça sabendo que ambos têm um mesmo
Senhor e para com Ele não há acepção de pessoas (v. 9).
É observando textos como esse que
podemos ter uma clara noção de uma vida na plenitude do Espírito Santo.
Aplicações
1. Cuidado
com as esquisitices que podem ser observadas em alguns meios evangélicos que nada
têm do Espírito Santo. Ser cheio do Espírito Santo é ter autocontrole, então
quanto mais cheio você estiver mais normal será o seu comportamento. Atrevo a
afirmar que atitudes de pessoas em alguns cultos como pular freneticamente,
fazer sons bizarros etc. não são manifestações de alguém que está cheio do Espírito
Santo, pode ser proveniente de uma questão psíquica, suas emoções ou influência
demoníaca.
2. Embora
Paulo fale do vinho como exemplo de algo que faz as pessoas perderem o controle
podemos fazer uma aplicação para qualquer coisa em nossas vidas que nos leve a
descontroles. Que pecado aprisiona o teu domínio próprio? Pense sobre isso e
lute contra tal pecado para buscar ser cheio do Espírito Santo.
3. É
interessante que nesses versículos Paulo contempla a corporatividade, a
coletividade. Ele utiliza sempre o plural. A busca pelo enchimento do Espírito
não é uma odisseia individual. Algumas pessoas se enganam neste ponto, pois desejando
serem cheias do Espírito se isolam das pessoas. Embora haja a dimensão
individual não podemos esquecer a dimensão coletiva.
4. Quer ser
cheio do Espírito, seja bom pai, boa esposa, bom marido, um bom filho, etc.
5. Como alguém
pode afirmar ser cheio do Espirito e ser desonesto no seu trabalho? Se você é
cheio do Espírito então também é um funcionário honesto, um patrão justo, as
relações sociais estarão em conformidade com a vontade de Deus.
Conclusão
Embora todos nós que somos salvos tenhamos o Espírito Santo em
nossas vidas, pois foi Ele quem nos convenceu do pecado e produziu o novo nascimento,
ilumina nossas mentes para entender as Escrituras, Ele intercede por nós com
gemidos inexprimíveis, nos batizou no corpo de Cristo, habita em nós,
necessitamos ainda assim de sua plenitude em nossas vidas, ser cheio dele em
nosso viver diário, viver a plenitude desse relacionamento maravilhoso.
1 Comentários
Artigo muito bom.
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