Por Dallas Willard
Nos tempos iniciais do meu ministério, passei enormes períodos absorto nas Escrituras e em grandes escritores espirituais. O Senhor tornou possível que eu passasse dias inteiros — sem nenhuma necessidade de me preparar para alguma coisa ou fazer um exame — absorvendo as Escrituras. Devorei livros de grandes pregadores espirituais. Esse foco foi fundamental para minha jornada espiritual, para encontrar satisfação em Cristo.
Experimentar Deus dessa forma me leva à satisfação em Cristo e a falar a outros com base nessa satisfação. Não existe substituto para a simples satisfação na Palavra de Deus, na presença de Deus. Isso afeta todas as suas ações.
É provável que homens e mulheres no ministério que não estão encontrando satisfação em Cristo demonstrem isso com esforço excessivo e preparação excessiva para falar e sem paz a respeito do que fazem depois que o fazem. Se nós não chegarmos a um lugar de descanso em Deus, recordaremos e pensaremos: Ah, se eu tivesse feito isso, ou: Ah, se eu não tivesse feito isso. Quando você chega ao lugar em que está bebendo profundamente de Deus e confiando que ele atua com você, existe uma paz a respeito do que você transmitiu.
Uma de minhas grandes alegrias veio quando me levantei de uma cadeira para andar até o púlpito e o Senhor me disse: “Agora lembre-se, o que importa é o que eu faço com a Palavra entre os seus lábios e com o coração deles”. Essa é uma lição tremenda. Se você não confia que Deus fará isso, então ele o deixa fazer o que você estiver fazendo e isso não leva a muita coisa. Mas uma vez que você relaxa e reconhece que nós somos sempre inadequados, mas nossa inadequação não é o problema, está pronto para tirar esse peso de si. Então a satisfação que você tem em Cristo é derramada sobre tudo que você faz.
O pregador que não ministra nessa satisfação também está em um terreno perigoso. Os que experimentam fracasso moral são aqueles que não viveram uma vida profundamente satisfeita em Cristo, quase sem exceção. Sei que minhas tentações resultam de situações em que estou insatisfeito, nada contente. Estou preocupado com alguma coisa ou não sentindo a suficiência que eu sei que está ali. Se eu tenho fortes tentações, elas nascem de minha insatisfação.
Os fracassos morais de ministros normalmente estão relacionados a uma dessas três coisas: sexo, dinheiro ou poder. Isso sempre resulta do descontentamento.
Os ministros estão se esforçando para alcançar algo e começam a sentir: Eu mereço algo melhor. Eu me sacrifico tanto e ganho tão pouco. E assim vou fazer isto. A garantia mais infalível contra o fracasso é estar em paz e satisfeito com Deus, de modo que, quando o mau procedimento se apresenta, ele não é nem mesmo interessante. É assim que permanecemos longe da tentação.
Nós passamos bastante tempo em projetos e programas. Temos demais deles, e eles se colocam no caminho. O que realmente precisamos são pregadores que permaneçam na simplicidade, manifestem e declarem as riquezas de Cristo na . Não existe nada na terra que esteja próximo de competir com isso para o beneficio e interesse humanos.
Quando as pessoas ouvem pregadores que estão satisfeitos, percebem que muito mais está vindo deles do que das palavras que proferem. Quando ouço pregadores assim, percebo alguma coisa fluindo deles. Esses pregadores estão em paz. Eles não se esforçam para fazer alguma coisa acontecer.
Essa é uma das maiores questões para os ministros hoje por causa do modelo sucesso que nos é oferecido. Temos a ideia de que devemos fazer alguma coisa acontecer e assim precisamos que nossos cultos simplesmente funcionem bem. A bênção final do culto ainda nem terminou quando os responsáveis pela direção do culto já estão dizendo uns aos outros: “Como você acha que foi?”, ou: “Foi realmente muito bem”. A verdade é que nós não sabemos como foi. Do ponto de vista de Deus, só na eternidade saberemos como foi. Essas pessoas não estão em paz se estão tentando administrar resultados dessa forma.
Uma marca dos pregadores que atingiram grande satisfação é que estão em paz, e eles amam o que fazem. A paz flui deles. Sinto que, desses pregadores, vem alguma coisa até mim que é mais profunda que palavras. Os ouvintes percebem a mensagem abrindo possibilidades para sua vida. Na presença desse tipo de pregador. as pessoas encontram maneiras de realizar o bem que está diante de seu coração.
Isso é a água viva. Jesus levou essa abertura de possibilidades até as pessoas.
Em João 8.11, quando ele disse à mulher pega em adultério: “Agora vá e abandone sua vida de pecado”, eu não acho que ela pensou: Eu tenho que fazer isso. Ela experimentou as palavras de Jesus como: Isso é realmente possível,. Eu posso fazer isso.
Essa é uma das características da pregação que resulta de uma vida satisfeita.
Outra marca de pregadores satisfeitos é que eles sabem ouvir. Eles sabem ficar quietos na presença de outros porque não estão sempre tentando fazer alguma coisa acontecer. Uma pessoa assim tem a capacidade de ouvir pessoas e chegar à percepção das necessidades que estão por baixo das necessidades sentidas. Nós devemos ficar atentos às necessidades sentidas das pessoas, mas devemos saber que o jogo está em um nível mais profundo da alma.
Uma grande parte do que o pastor faz na pregação e na vida é ouvir e ajudar as pessoas a sentirem suas necessidades reais, não apenas necessidades superficiais. O pregador satisfeito fala a partir de um coração que ouve. Já que as pessoas freqüentemente não sabem o que realmente precisam, uma pregação dessas pode ajudá-las a descobrir. Isso requer uma amplidão que apenas vem se seu cálice está transbordando porque está sendo bem cuidado por Deus.
Podemos tomar medidas para encontrar essa profunda satisfação e pregar a partir do poço dentro de nós.
Encorajo os pastores a terem tempo substancial toda semana em que não fazem nada a não ser desfrutar Deus. Isso significa caminhar ao longo de um rio, observar uma flor, ouvir música ou observar seus filhos ou netos brincando sem sua tentativa constante de controlá-los. Experimente a plenitude de Deus, pense a respeito das coisas boas que Deus fez por você e perceba que ele realizou algo bom com você. Se há um problema em fazer isso, então trate do problema, porque não podemos realmente servi-lo se não o amamos genuinamente.
Henri Nouwen disse que o maior obstáculo para o amor por Deus é o serviço para Deus. O serviço precisa resultar da vida e força dele fluindo por meio de nós para vidas receptivas. Use uma hora, sente em um lugar confortável em silêncio e não faça nada senão descansar. Se você adormecer, não há problema. Precisamos parar de nos esforçar em demasia. Talvez haja uns poucos pastores para os quais isso não é problema, mas para a maioria é. Precisamos fazer isso não apenas por nós mesmos, mas para darmos um exemplo para aqueles a quem falamos.
Há espaço para o esforço, sem dúvida, mas ele nunca faz por merecer nada e nunca deve tomar o lugar de Deus dentro de nós. Nossos esforços devem ser empenhados para dar espaço a ele em nossa vida.
Bibliografia
ROBSON, Haddon & LARSON, Craig B. (org.) - A arte e o ofício da pregação bíblica: um manual abrangente para os comunicadores da atualidade. São Paulo, Shed Publicações, 2009.
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