"Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração".
Introdução
Já tivemos a oportunidade de refletir sobre a
importância do ensino bíblico correto na vida da igreja, tomando como base a
igreja primitiva que era perseverante na doutrina dos apóstolos. Também sobre a
comunhão daquela igreja, sua prática do partir do pão de casa em casa que
expressa essa comunhão bem como era momento em que também vivenciavam a Santa
Ceia estabelecida por Cristo. Percebemos também que a igreja primitiva era
perseverante na oração.
Em nosso segundo estudo desse texto refletirmos
sobre o temor que estava presente no coração dos cristãos com relação ao Senhor
e àquilo que é santo. Refletimos sobre a realidade dos milagres na vida da
igreja primitiva bem como no contexto atual.
Agora, no v. 46 desejamos enfatizar a forma
de culto realizada na igreja primitiva e também a importância da continuidade
do congregar na vida do cristão.
UMA IGREJA DE
ADORAÇÃO COLETIVA
I – A ESSÊNCIA DO
CULTO NA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA.
Primeiramente entendamos historicamente como
se desenvolveu a questão das reuniões de culto na igreja primitiva:
a) inicialmente a igreja se reunia no Templo como diz em
Atos 2.46. Isto acontecia porque os judeus não percebiam o quão diferente era o
cristianismo do judaísmo, depois que notaram a diferença não permitiram a
entrada dos cristãos naquele recinto;
b) paralela às reuniões oficiais de adoração coletiva os
irmãos se reuniam também nos lares, certamente para orarem juntos, tomarem refeições
juntos, vivendo assim a comunhão cristã;
c) durante algum tempo a igreja esteve sem templos,
dependendo de reunir-se coletivamente em residências ou qualquer outro lugar
que pudesse comportar muitos irmãos;
d) após os períodos das perseguições, assim que a igreja
pôde mais livremente adorar ao Senhor passou a ter os templos como lugares
oficiais de culto.
Mas voltemos para o período neotestamentário
propriamente dito, para vermos a forma de realização do culto.
O culto no Novo Testamento era realizado de
forma simples e de modo que todos pudessem participar. Ninguém estava assistindo culto, mas todos tinham a consciência de
estar cultuando. Cada um contribuía conforme o Espírito Santo lhe
concedesse para a edificação de todos, havia a leitura de salmos, entoavam
hinos e cânticos espirituais, alguns traziam revelação, e aqueles
que falavam em línguas tinham essas línguas interpretadas por
outros irmãos (I Co 14.26; Ef 5.19). Tudo o que era realizado no culto público
na igreja do período apostólico tinha o objetivo da edificação, desse modo o
apóstolo Paulo é bastante duro quanto à falta de ordem no culto na igreja dos
coríntios no que tange ao uso dos dons espirituais (I Co 12 – 14). Paulo deixa claro que tudo no culto deveria
ser feito com ordem e decência (I Co 14.40). Decência infelizmente é o que
estava faltando aos coríntios na celebração da Ceia do Senhor, estavam realizando
esta reunião solene sem que houvesse o discernimento espiritual que o momento
da Ceia do Senhor exige, foram, portanto, foram severamente repreendidos por
Paulo (I Co 11.17-34).
Talvez o
fato mais importante sobre o culto no Novo Testamento é que ele centralizava-se
em Cristo. O culto era totalmente cristocêntrico.
Na igreja
dos primeiros anos não havia um grupo especial de sacerdotes como no Israel do
Antigo Testamento. Ainda não havia uma liderança eclesiástica desenvolvida em
hierarquia, mas a autoridade dos apóstolos era inquestionável. Contudo, aos poucos
o Espírito Santo foi direcionando a igreja em organização.
Há pessoas em nossos dias que desprezam o
reunir-se coletivamente por acreditarem que Jesus não deixou uma igreja como instituição
humana. De fato Jesus não deixou instituição como conhecemos em nossos dias,
contudo, deixou um povo direcionado pelo Espírito. E foi o Espírito Santo que esteve presente na vida da igreja quando ela
se organizou como instituição. É ainda na igreja apostólica que começa a instituir
ministérios de acordo com os dons concedidos pelo Senhor, assim, havia
presbíteros, diáconos, mestres e guias (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp
1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). Inclusive na Bíblia encontramos o
relato do primeiro concílio da igreja para tratar da inclusão dos gentios na
igreja e a comunhão com os judeus convertidos (Atos 15.1-6). Tudo isto muito
antes de Constantino. Sendo assim, peca quem em nossos dias não aceita a igreja
instituída como autoridade e busca viver separado da comunhão dos santos.
Lembremos que o texto traz a ênfase da
perseverança daqueles irmãos nos momentos de adoração.
II – A IMPORTÂNCIA DO
CULTO PARA O CRISTÃO INDIVIDUALMENTE.
“Consideremo-nos também uns aos outros, para
nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o
Dia se aproxima.” (Hebreus 10:25).
Em Hb 10.25
fica exposto que já naquela época alguns irmãos encontravam-se negligentes
quanto à importância de estarem congregando.
Há várias razões fundamentais que favorecem
individualmente o cristão que congrega com frequência:
a) é animado espiritualmente pela comunhão com os irmãos.
Viver em comunhão uns com os outros é uma
necessidade espiritual. Essa necessidade é antagônica ao nosso egoísmo e
arrogância. Os chamados desigrejados não compreendem isso e erram ao afirmar
que não precisam congregar. Acertam ao dizer que podem adorar a Deus em
todo lugar, mas pecam ao não desejar ter encontros coletivos com o Senhor.
Viver em comunhão em contexto de igreja é às
vezes desafiador, sabemos dos problemas que podemos enfrentar: pessoas que
podem nos ofender, nos magoar, nos decepcionar e ou até mesmo agir de forma
maligna com más intenções. Contudo, a recíproca também é verdadeira, poderemos
ser nós a estar agindo dessa forma com as pessoas. De qualquer forma são
oportunidades concedidas pelo Senhor para desenvolvermos o perdão, a paciência,
a tolerância, e assim vivermos o amor cristão.
Apesar dos problemas que podem ser encontrados,
somos uma família: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas
concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Efésios 2:19). Temos
o mesmo Cristo, o mesmo Espírito, a mesma fé, temos uma ligação espiritual e
nossa relação deve estar voltada para superar o que nos separa e contribuirmos
mutuamente para o crescimento espiritual de cada um. Diante dos desafios individuais
é muito bom sabermos que não estamos sozinhos, temos pessoas a lutar juntamente
conosco: “Melhor é serem dois do que um, porque têm
melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai,
porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se
dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se
alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três
dobras não se rebenta com facilidade” (Eclesiastes 4:9-12). Há momentos
em que precisamos da ajuda de outros, assim como há momentos que poderemos
estar sendo ajudadores para outros. É muito bom saber que você pode contar com
alguém. Por isso o apóstolo Paulo usou essas palavras: “Não
tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é
dos outros” (Filipenses 2.4).
Necessitamos uns dos outros para nos
mantermos aquecidos espiritualmente.
E no v. 12 o pregador afirma que estaremos
muito mais protegidos se não estivermos sós. Juntos nós podemos ser mais
resistentes. Verdadeiros amigos defendem uns aos outros. Por isso na igreja a recomendação paulina é para que nosso
comportamento possa estar favorecendo essas relações de amizade:
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e
sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim,
transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e
ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia (Efésios 4.29-31).
A
vida em comunidade na igreja do Senhor deve estar sendo local de
desenvolvimento de amizades que nos fortalecem na caminhada cristã
sobrecarregada de adversidades. A igreja deve ser lugar de amigos
verdadeiros. Vivenciamos desapontamentos, decepções, mas ainda assim poucas
coisas proporcionam tanta satisfação como a verdadeira amizade.
b) tem a oportunidade de desenvolver seus dons.
É na relação com outros que desenvolvemos
nossos dons. O Senhor nos concede dons para que sejamos seus instrumentos para
a edificação do corpo de Cristo. Esse é o fim proveitoso para o qual a
manifestação do Espírito é concedida (1 Co 12.7).
Usando e desenvolvendo nossos dons na
perspectiva correta o Senhor estará sendo glorificado em nossas vidas. Que no
desenvolvimento de nossos dons possamos ter a consciência de servidão mutua: “... e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso
servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” “Mas o maior dentre vós será
vosso servo” (Mt 20.27, 28; 23.11).
c) estará sendo instruído na Palavra e assim será
edificado espiritualmente.
O dever de todo povo de Deus no culto é ouvir
a Palavra. Entretanto, há de ser observado que ao mesmo tempo isso lhe
constitui um direito, não diante de Deus, mas diante daqueles a quem Deus
escolheu para ser canal de Sua voz. A igreja do Senhor precisa certificar-se de
que aquilo que tem ouvido de fato é Palavra de Deus. Não pode ser meramente
passiva no ato do ouvir, isso pode ser constrangedor para alguns pregadores,
mas ao mesmo tempo é motivador, pois o obrigará a estudar mais, a orar mais, a
buscar mais ao Senhor.
No culto coletivo o ato de adoração é
individual, a reverência ao Senhor, a atenção à Sua Palavra é um ato de
adoração a Deus! Crentes maduros espiritualmente são crentes edificados na
Palavra de Deus!
III – OS DESAFIOS
PRÁTICOS DO CULTUAR COLETIVAMENTE EM NOSSOS DIAS.
1. Ter cuidado para não acostumar-se tanto com a igreja
que ao invés de alegrar-se por estar em um ambiente de adoração a Deus
centralizar-se nos problemas da instituição.
2. Não ser atraído pelo que não é bíblico. Muitos podem
estar em um templo, em um suposto culto evangélico, mas um culto não aceitável
ao Senhor.
3. Teu cuidado para não valorizar outras coisas mais do
que estar em adoração ao Senhor.
Conclusão
Que o nosso alvo como igreja seja oferecer ao
Senhor a adoração que lhe é devida da forma prescrita na Palavra, buscando
simplesmente o louvor da sua glória e com certeza Ele estará cumprido sua parte
nos edificando espiritualmente por meio de sua Palavra aplicada a nós pelo Espírito
Santo.
1 Comentários
Que voltemos a ser como essa igreja primitiva 🙌🏽
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