Atos 2.46 - A IGREJA QUE QUEREMOS SER (parte 3)



"Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração".

Introdução

Já tivemos a oportunidade de refletir sobre a importância do ensino bíblico correto na vida da igreja, tomando como base a igreja primitiva que era perseverante na doutrina dos apóstolos. Também sobre a comunhão daquela igreja, sua prática do partir do pão de casa em casa que expressa essa comunhão bem como era momento em que também vivenciavam a Santa Ceia estabelecida por Cristo. Percebemos também que a igreja primitiva era perseverante na oração.
Em nosso segundo estudo desse texto refletirmos sobre o temor que estava presente no coração dos cristãos com relação ao Senhor e àquilo que é santo. Refletimos sobre a realidade dos milagres na vida da igreja primitiva bem como no contexto atual.
Agora, no v. 46 desejamos enfatizar a forma de culto realizada na igreja primitiva e também a importância da continuidade do congregar na vida do cristão.


UMA IGREJA DE ADORAÇÃO COLETIVA


I – A ESSÊNCIA DO CULTO NA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA.

Primeiramente entendamos historicamente como se desenvolveu a questão das reuniões de culto na igreja primitiva:
a) inicialmente a igreja se reunia no Templo como diz em Atos 2.46. Isto acontecia porque os judeus não percebiam o quão diferente era o cristianismo do judaísmo, depois que notaram a diferença não permitiram a entrada dos cristãos naquele recinto;
b) paralela às reuniões oficiais de adoração coletiva os irmãos se reuniam também nos lares, certamente para orarem juntos, tomarem refeições juntos, vivendo assim a comunhão cristã;
c) durante algum tempo a igreja esteve sem templos, dependendo de reunir-se coletivamente em residências ou qualquer outro lugar que pudesse comportar muitos irmãos;
d) após os períodos das perseguições, assim que a igreja pôde mais livremente adorar ao Senhor passou a ter os templos como lugares oficiais de culto.
Mas voltemos para o período neotestamentário propriamente dito, para vermos a forma de realização do culto.
O culto no Novo Testamento era realizado de forma simples e de modo que todos pudessem participar. Ninguém estava assistindo culto, mas todos tinham a consciência de estar cultuando. Cada um contribuía conforme o Espírito Santo lhe concedesse para a edificação de todos, havia a leitura de salmos, entoavam hinos e cânticos espirituais, alguns traziam revelação, e aqueles que falavam em línguas tinham essas línguas interpretadas por outros irmãos (I Co 14.26; Ef 5.19). Tudo o que era realizado no culto público na igreja do período apostólico tinha o objetivo da edificação, desse modo o apóstolo Paulo é bastante duro quanto à falta de ordem no culto na igreja dos coríntios no que tange ao uso dos dons espirituais (I Co 12 – 14).  Paulo deixa claro que tudo no culto deveria ser feito com ordem e decência (I Co 14.40). Decência infelizmente é o que estava faltando aos coríntios na celebração da Ceia do Senhor, estavam realizando esta reunião solene sem que houvesse o discernimento espiritual que o momento da Ceia do Senhor exige, foram, portanto, foram severamente repreendidos por Paulo (I Co 11.17-34).
          Talvez o fato mais importante sobre o culto no Novo Testamento é que ele centralizava-se em Cristo. O culto era totalmente cristocêntrico.
          Na igreja dos primeiros anos não havia um grupo especial de sacerdotes como no Israel do Antigo Testamento. Ainda não havia uma liderança eclesiástica desenvolvida em hierarquia, mas a autoridade dos apóstolos era inquestionável. Contudo, aos poucos o Espírito Santo foi direcionando a igreja em organização.
Há pessoas em nossos dias que desprezam o reunir-se coletivamente por acreditarem que Jesus não deixou uma igreja como instituição humana. De fato Jesus não deixou instituição como conhecemos em nossos dias, contudo, deixou um povo direcionado pelo Espírito. E foi o Espírito Santo que esteve presente na vida da igreja quando ela se organizou como instituição. É ainda na igreja apostólica que começa a instituir ministérios de acordo com os dons concedidos pelo Senhor, assim, havia presbíteros, diáconos, mestres e guias (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). Inclusive na Bíblia encontramos o relato do primeiro concílio da igreja para tratar da inclusão dos gentios na igreja e a comunhão com os judeus convertidos (Atos 15.1-6). Tudo isto muito antes de Constantino. Sendo assim, peca quem em nossos dias não aceita a igreja instituída como autoridade e busca viver separado da comunhão dos santos.
Lembremos que o texto traz a ênfase da perseverança daqueles irmãos nos momentos de adoração.


II – A IMPORTÂNCIA DO CULTO PARA O CRISTÃO INDIVIDUALMENTE.

“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hebreus 10:25).
          Em Hb 10.25 fica exposto que já naquela época alguns irmãos encontravam-se negligentes quanto à importância de estarem congregando.
Há várias razões fundamentais que favorecem individualmente o cristão que congrega com frequência:

a) é animado espiritualmente pela comunhão com os irmãos.
Viver em comunhão uns com os outros é uma necessidade espiritual. Essa necessidade é antagônica ao nosso egoísmo e arrogância. Os chamados desigrejados não compreendem isso e erram ao afirmar que não precisam congregar. Acertam ao dizer que podem adorar a Deus em todo lugar, mas pecam ao não desejar ter encontros coletivos com o Senhor.
Viver em comunhão em contexto de igreja é às vezes desafiador, sabemos dos problemas que podemos enfrentar: pessoas que podem nos ofender, nos magoar, nos decepcionar e ou até mesmo agir de forma maligna com más intenções. Contudo, a recíproca também é verdadeira, poderemos ser nós a estar agindo dessa forma com as pessoas. De qualquer forma são oportunidades concedidas pelo Senhor para desenvolvermos o perdão, a paciência, a tolerância, e assim vivermos o amor cristão.
Apesar dos problemas que podem ser encontrados, somos uma família: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Efésios 2:19). Temos o mesmo Cristo, o mesmo Espírito, a mesma fé, temos uma ligação espiritual e nossa relação deve estar voltada para superar o que nos separa e contribuirmos mutuamente para o crescimento espiritual de cada um. Diante dos desafios individuais é muito bom sabermos que não estamos sozinhos, temos pessoas a lutar juntamente conosco: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade” (Eclesiastes 4:9-12). Há momentos em que precisamos da ajuda de outros, assim como há momentos que poderemos estar sendo ajudadores para outros. É muito bom saber que você pode contar com alguém. Por isso o apóstolo Paulo usou essas palavras: “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Filipenses 2.4).
Necessitamos uns dos outros para nos mantermos aquecidos espiritualmente.
E no v. 12 o pregador afirma que estaremos muito mais protegidos se não estivermos sós. Juntos nós podemos ser mais resistentes. Verdadeiros amigos defendem uns aos outros. Por isso na igreja a recomendação paulina é para que nosso comportamento possa estar favorecendo essas relações de amizade:
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia (Efésios 4.29-31).
A vida em comunidade na igreja do Senhor deve estar sendo local de desenvolvimento de amizades que nos fortalecem na caminhada cristã sobrecarregada de adversidades. A igreja deve ser lugar de amigos verdadeiros. Vivenciamos desapontamentos, decepções, mas ainda assim poucas coisas proporcionam tanta satisfação como a verdadeira amizade.

b) tem a oportunidade de desenvolver seus dons.
É na relação com outros que desenvolvemos nossos dons. O Senhor nos concede dons para que sejamos seus instrumentos para a edificação do corpo de Cristo. Esse é o fim proveitoso para o qual a manifestação do Espírito é concedida (1 Co 12.7).
Usando e desenvolvendo nossos dons na perspectiva correta o Senhor estará sendo glorificado em nossas vidas. Que no desenvolvimento de nossos dons possamos ter a consciência de servidão mutua: “... e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” “Mas o maior dentre vós será vosso servo” (Mt 20.27, 28; 23.11).       

c) estará sendo instruído na Palavra e assim será edificado espiritualmente.
O dever de todo povo de Deus no culto é ouvir a Palavra. Entretanto, há de ser observado que ao mesmo tempo isso lhe constitui um direito, não diante de Deus, mas diante daqueles a quem Deus escolheu para ser canal de Sua voz. A igreja do Senhor precisa certificar-se de que aquilo que tem ouvido de fato é Palavra de Deus. Não pode ser meramente passiva no ato do ouvir, isso pode ser constrangedor para alguns pregadores, mas ao mesmo tempo é motivador, pois o obrigará a estudar mais, a orar mais, a buscar mais ao Senhor.
No culto coletivo o ato de adoração é individual, a reverência ao Senhor, a atenção à Sua Palavra é um ato de adoração a Deus! Crentes maduros espiritualmente são crentes edificados na Palavra de Deus!


III – OS DESAFIOS PRÁTICOS DO CULTUAR COLETIVAMENTE EM NOSSOS DIAS.

1. Ter cuidado para não acostumar-se tanto com a igreja que ao invés de alegrar-se por estar em um ambiente de adoração a Deus centralizar-se nos problemas da instituição.
2. Não ser atraído pelo que não é bíblico. Muitos podem estar em um templo, em um suposto culto evangélico, mas um culto não aceitável ao Senhor.
3. Teu cuidado para não valorizar outras coisas mais do que estar em adoração ao Senhor.


Conclusão

Que o nosso alvo como igreja seja oferecer ao Senhor a adoração que lhe é devida da forma prescrita na Palavra, buscando simplesmente o louvor da sua glória e com certeza Ele estará cumprido sua parte nos edificando espiritualmente por meio de sua Palavra aplicada a nós pelo Espírito Santo.

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