Eclesiastes 7.1 e 2 - O que é melhor para nós?


 Introdução

         Você sabe o que é bom para você? Já houve momentos em que você quis muito alguma coisa e se frustrou em seu desejo? Já aconteceu de tempos depois você perceber que aquilo que almejava não era afinal tão bom quanto imaginava? O que é melhor para você?


Elucidação

       No final do capítulo 6 o pregador traz todas aquelas questões relativas ao viver humano, observadas a partir da perspectiva humana. Inevitavelmente há de se lembrar de sua máxima nos capítulos anteriores: vaidades de vaidades tudo é vaidades. O homem pensando saber o que é bom para ele, vivendo separado de seu criador, vive ausência de sentido das coisas e um autoengano. A partir do capítulo 7.10 ao 14 ele traz algumas respostas interessantes contrapondo a ilusão daqueles que querem viver suas vidas sem considerar a providência divina. Especialmente o versículo 14. Versículos 1 ao 9 é uma ponte entre a pergunta e a resposta. Mas queremos nos ater aos versículos 1 e 2 que traz a reflexão de coisas que parecem não ter nada de bom, mas que afinal podem ser bem proveitosas a nós.

O que é melhor para nós?

A resposta nos vem pelo pregador, por inspiração divina. Até o v. 8 há uma série iniciada pela expressão “melhor”.


I – O valor boa fama.

Melhor é a boa fama do que o unguento precioso. Essa afirmação tem por base o costume da antiguidade de ungir o cadáver com especiarias e perfumes para torná-lo mais apresentável. Contudo, o pregador vai dizer que é melhor o bom nome do que o corpo perfumado no leito da morte. Parece, pelo menos no momento, trazer a ideia de que o corpo estando ungido, perfumado, está disfarçado, seu cheiro será menos incômodo. Afinal, essa é uma das características do perfume. Pensemos em outras: o perfume também tem a função de atrair outros àqueles que os usa. Veja por exemplo as propagandas televisivas de perfumes, sempre um indivídua que por usar determinada marca atrai as pessoas, torna-se agradável às pessoas, mesmo se elas sem o tal perfume não seja tão atraente.
Pensemos então na boa fama, na boa reputação. O bom nome atrai outros, e ao contrário do ocorre com o perfume, que é extremamente passageiro, o bom nome perdura até depois da morte. Por isso que ele diz que melhor é o dia da morte do que o dia do nascimento. Pois é no dia da morte que as pessoas lembrarão e melhor valorizarão a boa reputação. A boa reputação é a melhor forma de viver apresentado pelo pregador em mundo com tantas contradições, mundo de prosperidade e pobreza, mundo em que tudo é passageiro. Viver com uma boa reputação é o melhor caminho apresentado pelo pregador em um mundo sob o domínio de Deus. Viver então de tal forma que o nosso nome permaneça mesmo depois de nossa morte física. Pode ser aplicado como uma ênfase quanto ao que estamos fazendo com nossas vidas. Ou seja, o que dirão de você depois de partir, que marcas você deixará nas pessoas com quem se relacionou, que reputação ficará de você na sociedade?


II – Melhor é o momento da tristeza.

Melhor é a morte do que o nascimento. A passagem da primeira metade do versículo 1 para a segunda é algo surpreendente. São palavras muito contrárias à opinião normal. Como assim o dia da morte é melhor que um dia tão alegre como o do nascimento. Evidentemente que não podemos desconsiderar que se trata de uma literatura poética, mas que essas palavras Koellet tenta expressar uma grande lição.
O pensamento comum e que mais é atraente às pessoas é que tudo o que representa tristeza deve ser afastado de nossas vidas. Vivemos em uma época na qual o estar ou o aparentar estar bem é valorizado de forma impensada pelas pessoas. Vivemos uma conjuntura social de aparência de felicidade. As pessoas postam suas fotos nas redes sociais na tentativa de mostrar os quanto estão felizes. Na produção cultural de nossa época tudo o que tiver uma tonalidade triste, sombria, fica relegado ao ostracismo. Até mesmo nos cultos contemporâneos as pessoas entendem que o culto foi “abençoado” quando o ambiente foi alegre, extrovertido, leve e produziu uma leveza na alma dos presentes.
Contraponto tudo isso o pregador faz afirmações tão impopulares.
Melhor é ir à casa onde há luto. É muito bom participar de momentos festivos. Celebrar faz parte de usufruir as dádivas divinas nesta existência. Devemos comemorar nossos momentos de conquistas, devemos inclusive nos alegrar com as conquistas dos que nos rodeiam. Entretanto, tem de ter consciência do caráter ilusório da tentativa de permanecer em estado de festividade. A vida não é feita só de festas, precisamos de ocasiões nas quais poderão ser feitas reflexões profundas. E é quando nossa humanidade está diante da prova inconteste de sua fragilidade que mais somos reflexivos. E poucos momentos são capazes de proporcionar reflexões tão profundas quando momentos fúnebres.
O pregador chama a atenção para pensarmos acerca de nossa fragilidade. A consciência da morte nos traz benefícios. Há algumas reflexões que todos por força da ocasião poderão fazer em momentos fúnebres:
“Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao pó” (3,20). Está diante do fato da morte é ter a consciência da nossa igualdade enquanto humanos: morre o rico, morre o pobre, morre o filósofo, morre o ignorante, morre o famoso, morre o anônimo. A morte a todos nivela. 
Diante do fato da morte de outro refletimos que um dia também morreremos. A melhor forma de viver segundo o pregador é refletirmos que devemos viver com a consciência de nossa futura morte.
Pode até ser dito que a morte confere sentido à vida. A certeza da morte quando pensamos a respeito (coisa não comum) leva-nos a viver mais intensamente. Intensamente não no sentido de entregue aos prazeres do pecado, mas de aproveitar aqueles momentos que podem até ser singelos, mas que são tão preciosos. É como disse o poeta argentino Jorge Luis Borges:

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
Trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, seria mais relaxado.
Seria mais bobo do que fui;
Na verdade encararia muito poucas coisas com seriedade.
Seria menos higiênico,
correria mais riscos,
faria mais viagens,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais em rios.
Iria mais a lugares que nunca tivesse ido.
Comeria mais sorvetes e menos verduras.
Teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui dessas pessoas que viveu sensata
e corretamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar atrás,
Procuraria ter bons momentos.
Se não sabem, disso é que é feita a vida,
Somente de momentos. Não percam o agora.
Eu fui uma dessas pessoas que nunca ia a parte alguma
sem levar um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda chuva e um esparadrapo;
Se pudesse voltar a viver,
viajaria mais levianamente.
Se pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no princípio da primavera
e seguiria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na calçada,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com as crianças;
se tivesse outra vez a vida pela frente ...
Mas já se vai, tenho 85 anos e estou morrendo.

Isto não implica viver de modo egocêntrico. O pregador alerta em muitos momentos o engano de estar sujeito a uma mentalidade de acúmulos de riquezas pela riqueza, de curtir a vida desenfreadamente. A vida com intensidade aqui é viver com simplicidade de acordo com os parâmetros divinos, viver a vida de forma solidária, terna, e também comprometendo-se na luta por justiça social.
O funeral e a casa de festa mostra-nos que estamos em mundo de prosperidade e adversidade, um mundo no qual vivemos momentos de alegria e tristeza.
  

Aplicação

1. Você que é cristão deve lembrar que preservar um nome na sociedade é um dever porque o seu nome está abaixo do nome você carrega: o de Cristo. Se você causa escândalo é o nome de Cristo que está escandalizando, se dá motivos de ser bem lembrado é o nome de Cristo que estará sendo exaltado. Tiago diz em 2.7 que o nome de Cristo foi invocado sobre nós. Somos o povo que carrega o nome do Senhor. Paulo em seu contexto exorta os servos em 1 Tm 6.1 a serem obedientes aos seus senhores unicamente para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.

2. O momento da morte é um instrumento de Deus para nos levar a refletir sobre a vida. É interessante como as pessoas presentes em um funeral ficam atentas à pregação do evangelho, tal reverência muitas vezes não ocorre em um casamento por exemplo. O que é a morte para você? Para o cristão não deve ser algo assustador. O apóstolo Paulo chega a dizer em Filipenses que o morrer é lucro (ver Fp 1.21-22). Porque quando partirmos iremos nos encontrar com o Senhor, que é incomparavelmente melhor do que qualquer alegria desse mundo. Mas enquanto aqui estamos que possamos orar com o salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12).

3. Para o cristão a morte é uma bem-aventurança. Ap 14.13: “Então, ouvi uma voz do céu dizendo: Escreve: Bem-aventurado os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das sua fadigas, pois as suas obras os acompanham”. A morte é o fim, não de nossas vidas, mas de nossas dores, de nossas tristezas, de nossas fadigas, do pecado em nós. Por meio do pecado veio a morte ao mundo, e por meio da morte o pecado sai de nós. Por tudo isso que o salmista declara: “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte de seus santos” (Salmo 116:15).


Conclusão

Você sabe realmente o que é melhor para sua vida? Você um dia irá morrer, lembre-se disso.


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