Mateus 5.1-2 - O SERMÃO DO MONTE

 



"Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo..." (Mt 5.1-2).


Introdução


Jesus acabara de passar quarenta dias de tentação no deserto onde vencera as investidas do diabo, então começou seu ministério público ensinando a mensagem do reino de Deus, alguns discípulos se uniram a ele, sua fama se espalhou por toda a região da Síria, grandes multidões o procuravam, pois ele havia curado muitos enfermos. Neste momento, possivelmente para fugir das multidões ele subiu ao monte (STOTT, 1981) e proferiu o que ficou conhecido como o seu mais famoso sermão. Mas antes de entramos propriamente no conteúdo se faz necessário responder algumas perguntas acerca do sermão do monte.

 

 

I - A quem é dirigido o sermão do monte? Quem eram os ouvintes de Jesus?

 

Pensar sobre esse sermão abrangidos nos capítulos 5 ao 7 de Mateus trás à nossa mente aquelas imagens reproduzidas nos filmes que retratam esse momento: Jesus proferindo essas palavras para uma multidão ali presente, todos atentos, ouvintes, literalmente como uma palestra. Entretanto, algumas observações aqui: o texto nos diz que “seus discípulos se aproximaram dele, e ele começou a ensiná-los”, ou seja, quem ouviu o sermão foram os discípulos, não todo o povo ali reunido, e trata-se de um ensino para esses discípulos.

Não se trata também de um sermão como entendemos sermão hoje em dia, mas podemos usar expressão que foi utilizada pela primeira vez por Agostinho.

 

 

II - Quem tem condições de viver o que nele está contido?

 

Realmente o que Jesus falou aqui é de uma grandeza maravilhosa, constrangedora, ao ponto de alguns comentaristas chegarem a afirmar que são apenas padrões ideais, que na prática são inatingíveis, no entanto tais comentaristas estão equivocados. De fato seriam inatingíveis se considerássemos vivenciar o que aqui está exposto pela nossa força, sem a dependência do Espírito. Assim, segue-se as respostas à nossa pergunta.

Quem tem condições de viver o que se encontra no sermão do monte é quem já nasceu de novo, Jo 3.3, “no Sermão do Monte não nos é recomendado: Vivei deste modo e vos tornareis cristãos. Pelo contrário, somos ali ensinados: Visto que sois cristãos, vivei deste modo”. (D. Martin Lloyd-Jones).

Só é possível viver o que aqui está expresso quem é capacitado pelo Espírito Santo. O homem natural é incapaz de agradar a Deus. Somente aquele que agora é habitação do Espírito pode encarar este Sermão e praticá-lo de fato, II Co 3.5 – “[...] a nossa capacidade vem de Deus”; Fp 4.13: “Tudo posso naquele que me fortalece”.

Quem está disposto a esforçar-se. A dependência do Espírito não nos desobriga do nosso interesse e dedicação pessoal em buscar por em prática o conteúdo dos ensinos. Jesus enfatiza nossa responsabilidade diante da realidade do Reino de Deus: “Desde os dias de João batista até agora, o Reino de Deus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele” (Mt 11.12). “Esforcem-se para entrar pela porta estreita, pois lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13.24).

O sermão do Monte é o ensino de Jesus aos discípulos acerca do caráter cristão em contraste com aqueles que não vivem a realidade do Reino. Trás a diferença dos que estão na luz daqueles que estão nas trevas, dos que tem vida em Cristo daquelas que estão em morte espiritual. Está contido nele requisitos morais, éticos e absolutos. O Senhor nos propõe uma justiça que deve exceder a dos escribas e fariseus (Mt 5.20).

Tendo respondido algumas perguntas essenciais pomos observar um resumo desse sermão.

 

 

III – Um resumo do Sermão do Monte

 

O sermão do monte trás diversos temas que perpassam o nosso relacionamento com Deus e a forma como nos relacionamos com as pessoas. Assim, temos:

 

a. O caráter do cristão (5:3-12)

Infelizmente nem sempre as bem-aventuranças são vistas nessa perspectiva do caráter cristão. Elas não são uma expressão da preocupação de Jesus acerca da felicidade subjetiva, mas uma declaração de que são felizes ou abençoados aqueles que estão vivenciando esses sinais de conduta. São felizes não porque seja o alvo máximo de Deus para nossas vidas nesse mundo, mas porque quanto mais nos aproximamos d’Ele mais nossa vida se torna plena. As bênçãos divinas repousam sobre ele(a). Percebam meus irmãos, todos os cristãos devem ser pobres de espírito, chorar pelos seus pecados e pelas suas dores diante do Pai, serem humildes, ter fome e sede de justiça, serem misericordiosos, serem puros de coração, serem pacificadores, estarem dispostos a vivenciarem a justiça do reino de Deus ainda que venham a padecer perseguição por isso. De igual modo todos os cristãos vivenciarão as bênçãos por um comportamento digno dos filhos de Deus, ou seja, são participantes do Reino dos Céus, serão consolados, receberão a terra por herança, serão satisfeitos, obterão misericórdia, verão a Deus na pessoa do Senhor Jesus Cristo, serão chamados filhos de Deus e terão uma grande recompensa no céu! Nenhum cristão verdadeiro, redimido estará excluído dessas bênçãos.

 

b. A realidade do que somos em Cristo e a influência que devemos exercer (5:13-16)

É o que demonstra essas duas metáforas do sal e da luz. Seremos influentes no sentido de que atrairemos as pessoas a Cristo se mantivermos nosso caráter conforme exposto nas bem-aventuranças.

 

c. A justiça do cristão (5:17-48)

Aqui diante de uma pergunta que poderíamos fazer: “qual deve ser a atitude do cristão para com a lei moral de Deus expressa no Antigo Testamento?” Jesus traz a resposta contrariando aqueles que hoje em dia querem riscar o Antigo Testamento de suas vidas. No entanto, a resposta de Jesus é bastante constrangedora para esses (ver v. 17).

Jesus deu, então, seis ilustrações desta justiça cristã melhor (5:21-48), relacionando-a com o homicídio, com o adul­tério, com o divórcio, com o juramento, com a vingança e com o amor. Em cada antítese ("Ouvistes que foi dito ... eu, porém, vos digo . . ."), rejeitou a acomodada tradição dos escribas, reafirmou a autoridade das Escrituras do Velho Testamento e apresentou as decorrências plenas e exatas da lei moral de Deus. (STOTT, 1978).

Curioso que podemos observar um paralelo entre Jesus e Moisés; Moisés recebeu a Lei no Monte Sinai, e aqui vemos Jesus em um monte reinterpretando a lei e ensinando com autoridade para a vida dos discípulos.

 

d. A piedade do cristão (6:1-18)

Contrapondo o formalismo e a hipocrisia dos fariseus Jesus ensina sobre temas como as boas ações que devem ser exercidas unicamente pelo amor, não para ser visto e aplaudido. Ensina ainda sobre a oração e o jejum.

 

e. A ambição do cristão (6:19-34)

O "mundanismo" do qual os cristãos devem fugir pode ter apa­rência religiosa ou secular. Por isso, devemos ser diferentes dos não-cristãos, não apenas em nossas devoções, mas também em nossas ambições. Cristo modifica especialmente a nossa atitude para com a riqueza e os bens materiais. É impossível adorar a Deus e ao dinheiro; temos de escolher um dos dois. As pessoas do mundo estão preocupadas com a busca do alimento, da bebida e do vestuário. Os cristãos devem ficar livres destas ansie­dades materiais egocentralizadas e, em lugar disso, devem dedicar-se à expansão do governo e da justiça de Deus. É o mes­mo que dizer que a nossa ambição suprema deve ser a glória de Deus e não a nossa própria glória, nem mesmo o nosso próprio bem-estar material. É uma questão do que buscamos "em pri­meiro lugar". (STOTT, 1981).

 

f. Os relacionamentos do cristão (7:1-20)

Os cristãos estão presos em uma complexa teia de relaciona­mentos, todos eles partindo do nosso relacionamento com Cristo. Quando nos relacionamos devidamente com ele, os nossos de­mais relacionamentos são todos afetados. Novos relacionamentos surgem, e os antigos se modificam. Assim, não devemos julgar o nosso irmão, mas servi-lo (vs. 1-5). Devemos também evitar oferecer o evangelho àqueles que decididamente o rejeitam (v. 6); devemos continuar orando ao nosso Pai celestial (vs. 7-12) e tomar cuidado com os falsos profetas, que impedem que muita gente encontre a porta estreita e o caminho difícil (vs. 13-20). (STOTT, 1981).


g.  Uma dedicação cristã (7:21-27)

Não basta chamá-lo de "Senhor" (vs. 21-23) ou ouvir os seus ensinamentos (vs. 24-27). [...] Só quem obedece a Cristo como Senhor é sábio. Pois quem assim procede está edificando a sua casa sobre o alicerce da rocha, que as tempestades da adversidade e do juízo não serão capazes de solapar.

As multidões ficaram perplexas com a autoridade com que Jesus ensinava (vs. 28, 29). É uma autoridade à qual os discí­pulos de Jesus de cada geração devem submeter-se. A questão do senhorio de Cristo é relevante hoje em dia, tanto com refe­rência a princípios como à aplicação prática, da mesma maneira que o era quando originalmente ele pregou o Sermão do Monte (STOTT, 1981).

 

 

Conclusão

 

Estamos manifestando as qualidades recomendas pelo Sermão do Monte em nossas vidas diárias? Estaremos refletindo melhor sobre isso e tendo, pela graça do SENHOR mais uma vez oportunidade de conformarmos nosso caráter ao caráter de Cristo!



Referência

 

STOTT, John R. W. Contracultura Cristã: A mensagem do Sermão do Monte. ABU Editora S/C, São Paulo, SP, 1981.

 


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