SALMO 52 - CONFIANÇA EM DEUS DIANTE DA MALDADE DO ÍMPIO

 


Por que você se vangloria do mal e de ultrajar a Deus continuamente?, ó homem poderoso.
Sua língua trama destruição; é como navalha afiada, cheia de engano.
Você prefere o mal ao bem, a falsidade, em lugar da verdade. Pausa
Você ama toda palavra maldosa, ó língua mentirosa!
Saiba que Deus o arruinará para sempre: Ele o agarrará e o arrancará da sua tenda; ele o desarraigará da terra dos vivos. Pausa
Os justos verão isso e temerão; rirão dele, dizendo:
"Veja só o homem que rejeitou a Deus como refúgio; confiou em sua grande riqueza e buscou refúgio em sua maldade! "
Mas eu sou como uma oliveira que floresce na casa de Deus; confio no amor de Deus para todo o sempre.
Para sempre te louvarei pelo que fizeste; na presença dos teus fiéis proclamarei o teu nome, porque tu és bom (Sl 52).


Introdução

 

No mundo caído no pecado no qual vivemos torna-se inevitável que em algum momento estejamos lidando com pessoas que são extremamente vis. Estarão presentes nas relações sociais que de algum modo poderemos estar submetidos: em alguns contextos pode ser um governante ditador; em outros um empregador insensível; muito comum, infelizmente, que pessoas estarem um relacionamento abusivo; em muitos momentos podemos estar nos relacionando pessoalmente com alguém que é manipulador; etc. Perceba que em todos esses exemplos há pessoas que de algum modo estarão em posição de falar algo que pode lhe prejudicar; de expressar sua crueldade por meio das palavras e ações.

 

 

Elucidação

 

Este Salmo foi escrito a partir do contexto histórico que se encontra em 1 Samuel cap. 21 a 22. Vejamos um breve resumo:

1.    Davi havia derrotado Golias e por isso tinha sido aclamado pelo povo, o que despertou a inveja de Saul que passou a querer matá-lo.

2.    Estava fugindo de Saul (dica de Jônatas, filho de Saul) devido ao seu temor a Deus!

3.    Na fuga, Davi foi a Nobe, lugar próximo a Jerusalém (I Sm 21:1).

4.    Em Nobe, mente a Aimeleque ou Aís, sumo sacerdote, bisneto de Eli e filho de Aitube.

a.  Come dos pães da proposição que eram renovados aos sábados e em número de 12, dos quais serviam somente os sacerdotes (Ex 25:30; Lv 24:5-9; Mc 2:25,26).

b. Apanha a espada de Golias que estava ali guardada como memorial no santuário.

Observação: estava ali detido, talvez por causa de lepra (Lv 14:4, 11, 21) Doegue (Idumeu. Seu nome significa tímido).

 5.    De Nobe, vai para Gate

a. Com medo de Aquis, se fez passar por doente mental diante do rei dos filisteus.

6.    Saul persegue Davi, chega em Nobe e dá ordens de extermínio dos sacerdotes e familiares (I Sm 22:18-19);

a. Saul dá ordens a seus soldados para matar os sacerdotes e familiares;

b. Guardas recusam, mas Doegue executa a ordem tresloucada de Saul (85 sacerdotes + 300 familiares, entre crianças, mulheres, animais são mortos por Doegue e seus comandados).

7.    Continuou fugindo e foi parar na caverna de Adulão (significa refúgio) que ficava distante uns 25 km ao sudoeste de Jerusalém, na metade do caminho entre Gate e Hebron.

8.    Na caverna encontrou:

a. Seus familiares que por causa de Saul também fugiam por medo de retaliações

b. Tornou-se chefe de um grupo de pessoas – “Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens.” (I Sm 22:2).

9.    Após isso, foi para Mispa de Moabe, para o rei de Moabe, lugar seguro, onde deixou seus pais até saber o que Deus iria fazer com ele. Ali ficou um pouco de tempo.

10.  O profeta Gade, porém lhe disse para sair daquele lugar seguro e ir para Judá e ele foi.

Depois de todas essas experiências: fugindo cansado, com fome, com medo, chegou a mentir ao sumo sacerdote, sentiu-se depois culpados pela morte dos sacerdotes e familiares, encontrava-se dentro de uma caverna, onde escreve esse salmo. E por meio dele Deus fala a nós hoje. E podemos aprender sobre confiança em Deus diante das malignidades por parte de pessoas ímpias.

 

 

I – O engano audestrutivo vivenciado pelo ímpio, v. 1-5.

 

Como podemos ver a partir do contexto histórico e da epígrafe do nosso texto, há a referência direta a Doegue. Um homem que já tinha uma posição elevada, mas inescrupulosamente estava disposto a qualquer coisa para cair nas graças do rei. Almeja muito mais do que tinha e para conquistar o que desejava os fins justificariam os meios.

Eu diria que uma questão fundamental aqui não é tanto a posição social do indivíduo, mas a intenção do seu coração. Nesse caso podemos afirmar que pessoas como Doegue poderão estar cruzando o nosso caminho todos os dias. Homens, mulheres que por falta de temor diante de Deus são capazes de qualquer coisa.

Davi denuncia o pecado da língua na pessoa de Doegue (v.2-4). Quem é mau caráter, falso, falará sempre o que lhe for útil para obter o desejo de seu coração. Não haverá preocupação com a verdade. Vivenciará a máxima de que “uma mentira dita muitas vezes torna-se uma verdade”. Os políticos sabem bem sobre isso.

Tiago, irmão do Senhor nos fala sobre a língua nos seguintes termos:

“[...] é um fogo; é um mundo de iniqüidade. [...] contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno.
[...] É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero” Tg 3.6, 8 NVI).

Salomão disse que “O homem de coração perverso não prospera; e o de língua enganosa cai na desgraça” (Pv 17.20 NVI).

Para o hebreu a língua representava o caráter da pessoa. Disse Jesus a respeito dos fariseus:Raça de víboras! Como poderiam homens maus como vocês dizer o que é bom e correto? Pois a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12.34).

Mas Davi anuncia que quem vive desse modo, falando sempre o que lhe apraz para conseguir o que quer receberá por fim o julgamento divino (v. 5).

 

 

II – A atitude do justo diante da maldade do ímpio, v. 6-7.

 

Temerão, para que não venha a praticar os mesmos pecados que tais pessoas. A malignidade de Doegue começou a tomar forma a partir do momento que ele delatou Davi. Diante disso precisamos aprender a lição de sermos muito cautelosos com nossas palavras, para que não estejamos agindo impiamente. Lembremos que o Senhor Jesus nos adverte afirmando que prestaremos conta de nossas palavras: (Mt 12.36-37):

Eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por sua palavras serão condenados (Mt 12.36-37 NVI).

Por que tanto valor é dado às palavras? Porque nossas palavras revelam a fonte de nossos prazeres, a lealdade do nosso coração, o Deus a quem servimos nesta vida.

É necessário entender que a revelação bíblica é progressiva e que no contexto veterotestamentário o salmista considera que uma atitude de desdém para quem está em impiedade seria aceitável diante de Deus. Sabemos hoje que pela revelação do evangelho em Cristo que devemos ter um olhar de misericórdia, de compaixão por essas pessoas, o que não implica ingenuidade. Perceber que as pessoas vivem imersas em suas maldades porque são escravas do pecado não significa colocar-se em uma posição de vulnerabilidade, ou seja, dando condições de que lhes prejudique. Devemos orar por tais pessoas, para que O SENHOR mude seus corações, mas ao mesmo tempo sermos precavidos diante de suas maldades.

 

 

III – A atitude pessoal do salmista diante da maldade do ímpio, v.8-9.

 

Davi utiliza uma ilustração muito bela para falar acerca de si em relação a Deus. Ele diz que é “uma oliveira que floresce na casa de Deus”. Evidentemente que a expressão “casa de Deus” aqui é uma referência ao tabernáculo como a todo lugar onde o povo se reunia em adoração a Deus, uma vez que ainda não existia o Templo, que haveria de ser construído pelo seu filho Salomão.

Assim comenta Adan Clarke:

“estarei na casa de Deus, cheia de vigor espiritual, produzindo folhas sempre-verdes e frutos anuais, como a azeitona quando plantada em solo adequado e em boa situação. Isso não significa que havia oliveiras plantadas na casa de Deus; mas ele estava na casa de Deus, como a azeitona estava em seu devido lugar e solo”. Pesquisado em: https://versiculoscomentados.com.br/index.php/estudo-de-salmos-52-8-comentado-e-explicado/).

 

Enquanto Doegue confiava em suas artimanhas ele declara confiança no amor de Deus. Esta confiança não é simplesmente algo para o presente, para uma resolução momentânea e que se dissipará caso isso não ocorra. Ele faz questão de denotar que será perpétua.

No v. 9 a ARA diz “esperarei no teu nome” enquanto a NVI “proclamarei o teu nome”, uma diferença de tradução que surge da diferença de manuscritos utilizados, entretanto a centralidade é que Davi confia no Deus que fez uma aliança com ele, ele volta-se para Deus em face a tanta injustiça, perseguição sofrida. O seu louvor ao Senhor permanece, uma vez que Deus “fez isso”, ou seja: o plantou como oliveira – símbolo de vitalidade.

A bondade do Senhor é enaltecida por Davi, apesar da situação em que Ele se encontrava, ele tanto mantinha sua esperança para o futuro como não deixaria de exaltar ao SENHOR.

 

 

Aplicação

 

1. Para aqueles que são semelhantes a Doegue, só podemos dizer arrependam-se e entreguem suas vidas  a Cristo, pois somente assim a centralidade de sua existência não será aquilo que deste mundo podem adquirir, mas o prazer da comunhão com ele!

 

2. Para você que vive essa condição de ser alvo de maldade dos ímpios, quero conduzi-lo a um texto bíblico que ao guardar em seu coração você estará mais seguro a não agir em conformidade com as atitudes deles, Filipenses 4.6-9:

6Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que ele já fez. 7Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede todo entendimento e que guardará seu coração e sua mente em Cristo Jesus. 8Por fim, irmãos, quero lhes dizer só mais uma coisa. Concentrem-se em tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é correto, tudo que é puro, tudo que é amável e tudo que é admirável. Pensem no que é excelente e digno de louvor. 9Continuem a praticar tudo que aprenderam e receberam de mim, tudo que ouviram de mim e me viram fazer. Então o Deus da paz estará com vocês.

Pessoas que colocam em prática esses versículos estarão apaziguando o coração com fé e esperança nas promessas do SENHOR, e é desse modo que poderá de fato estar pagando o mal com o bem, amando a quem lhes persegue. A língua não será usada de forma maligna, mas seguirá o conselho de Paulo em Colossenses 4.6: “O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um” (Cl 4.6).

 

 

3. Lembre-se que como servo (a) você tem de viver compromisso com a verdade, por viver a verdade de Deus em sua vida deve expressar sempre verdades em suas palavras, ou seja, não falar simplesmente algo que venha a lhe beneficiar, mas ser verdadeiro de modo que glorifique a Deus e promova o bem do outro!

 

4. Não apenas contemple aqueles que estão vivendo a consequência de suas maldades, ore por eles, pregue o evangelho de Cristo a eles!

 

5. Que sua confiança esteja sempre no SENHOR, nunca haja confiando em suas artimanhas, em saídas que não correspondem à providência divina, ímpios é que agem desse modo, que você possa agir diferente, pois você é “oliveira plantada na casa de Deus”!

 

 

Conclusão

 

Vivemos em um mundo caído no pecado, mas estamos em Cristo, por isso nossas ações e palavras podem e devem ser diferentes das dos ímpios!

 

 

 


 

 

 

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