"Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor teu Deus te dá" (Ex 20.12 NVI)
Introdução
Os
quatro primeiros mandamentos tratam do relacionamento direto com Deus. A partir
do quinto mandamento há o tratado ético revelado pelo Senhor sobre como devemos
estar nos relacionando com as pessoas. É evidente que a forma como nos
relacionamos uns com os outros está conectado ao nosso relacionamento com o
Senhor.
Neste
mandamento, que é a provisão social do Senhor para o seu povo no que tange ao
cuidado das pessoas quando chegar à velhice há uma promessa explícita nele.
Essa promessa: “para que te prolongue os seus dias na terra” não
deve ser entendido meramente como promessa de longevidade, mas, também, como de
manutenção da família e da sociedade. É a promessa de que honrando pai e
mãe a vida será respeitada.
Assim
sendo, é extremamente importante refletirmos neste mandamento.
I – A família no
contexto hebraico
As
formas de ser família é um conceito que está situado diferentemente em épocas e
culturas. A família no contexto hebraico era um núcleo mais extenso do que
concebemos como família tradicional. A tribo era vista como uma extensão
familiar.
O
mandamento de honrar pai e mãe vai então além do contexto parental. Honrar o
pai e a mãe é honrar também pai e mãe de modo geral, inclusive de outros núcleos
familiares e de outras tribos, ou seja, honrar até os pais e mães que não
eram os seus.
Podemos
dizer que este mandamento foi assimilado culturalmente pelo povo hebreu, o
próprio contexto social e histórico favorecia isso.
Por
que os idosos eram tão valorizados no contexto hebraico?
Há
na Bíblia textos que conferem especial honra e dignidade aos idosos:
“Quem amaldiçoar seu
pai e sua mãe será morto” (Êx 21.17).
“Diante das cãs te
levantarás, e honrarás a presença do ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o
Senhor” (Lv 19.32).
Uma
razão para a alta consideração às pessoas idosas é que elas tinham a
experiência acumulada do povo com o Senhor e assim, intermediavam essa
experiência aos mais jovens (Êx 13.14; Dt 6.20ss).
A
honra aos pais era algo tão sério que naquele contexto o Senhor ordenou a pena
capital para aqueles que não obedecessem (Dt 21.18-21).
Há
conselhos nas literaturas de sabedoria para que ouvissem o ensinamento
concedido pelos pais.
“Ouve a teu pai, que
te gerou, e não desprezes a tua mãe, quando vier a envelhecer” (Pv 23.22).
A
expressão utilizada no A. T. para "honra" no referido texto é KABED,
que significa "dar peso, dar importância, dar significado, valorizar,
venerar, ter apreço, prestigiar" (Reifler, 2009).
II – Jesus e o Quinto
Mandamento
É
evidente que enquanto pessoa dentro do contexto familiar ele viveu o mandamento
com relação a seus pais de criação, Maria e José. Mas o que nos importa no
momento é o embate com os fariseus sobre esse assunto.
E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para
guardardes a vossa própria tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e
a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Vós,
porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias
aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o
dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando
a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos
transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes (Marcos 7:9-13 ARA).
Honrar pai e mãe estava sendo algo distorcido pelos fariseus na época de Jesus.
Jesus afirma que eles utilizam de uma sutileza para se esquivar de cumprir os
preceitos divinos a respeito do cuidado para com os pais.
Para se esquivar da responsabilidade familiar eles priorizaram sua tradição
acima da Palavra de Deus. A Corbã era
uma oferta que davam ao Templo e que consideravam que após comprometerem
seu dinheiro, seus bens, não poderiam utilizar para nenhum outro fim. Tudo o
que era classificado como Corbã não poderia ser destinado para outra
finalidade, ainda que só passasse para o Templo após a morte do indivíduo. Ao
usarem dessa sutileza e coisas semelhantes invalidavam em suas vidas a Palavra
de Deus. Está aqui, portanto, demonstrado um desprezo à autoridade de Palavra.
Na prática então, não ajudavam os pais sob o pretexto de que não poderiam
gastar aquilo que estava consagrado ao Templo. Procuravam relativizar o que
claramente era um dever instituído pelo Senhor, é por conta de atitudes como
essa que Jesus relembra o que o Senhor disse por meio do profeta Isaías: “Este
povo se aproxima de Mim com a sua boca, e honra-Me com seus lábios, mas o seu
coração está longe de Mim. E em vão Me adoram, ensinando como doutrinas os
preceitos de homens” (Mt 15:8, 9, Bíblia NKJV).
III – Honrar pai e
mãe nos dias atuais
a) Conflitos de
gerações
Conflito
de geração é algo que sempre existiu e sempre existirá neste mundo.
Geração significa um
grupo de pessoas nascidas em uma mesma época e por isso compartilham a mesma
forma de pensar e agir. Uma geração é composta por características comuns como:
filosofia de vida, forma de lidar com problemas familiares, influência cultural
como música, literatura, arte de modo geral; os relacionamentos no trabalho, na
sociedade; como as pessoas lidam com a autoridade, suas preferências e gostos
como alimentação e toda a questão da educação.
No
período bíblico uma geração durava mais ou menos 40 anos. A sociedade atual é muito diferente da de alguns anos
atrás. Uma geração dos dias atuais dura mais ou menos 20 anos.
Conflitos são
inevitáveis. Conflito é justamente a oposição de interesses, sentimentos e
ideias. Neste ponto há um desafio duplo: para
os pais, serem compreensivos e entenderem que a geração atual é
diferente da época de sua juventude, por exemplo, há algumas décadas o
respeito aos pais era algo mais formal. Para
os jovens há o desafio de viver de acordo com sua geração sem ser
desrespeitoso para com a forma de pensar e agir da geração anterior. Requer
também compreensão.
b) Os deveres dos
filhos
No reino de Deus a questão da autoridade segue uma lógica
diferente do contexto do mundo. Exercício de autoridade não é sinônimo de
domínio e sujeição, mas de cuidado e dedicação. Os pais então, conquanto
devam ser respeitados pelos filhos, não podem esquecer este princípio.
Os
filhos devem obedecer aos pais, mas é evidente que em conflitos entre a
obediência à autoridade paterna ou qualquer autoridade e aos preceitos divinos,
importa obedecer a Deus do que aos homens. “Quem ama seu pai ou sua mãe
mais do que a mim não é digno de mim [...]” (Mt 10.37). “[...] importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).
“Filhos,
obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra teu pai e tua mãe
(que é o primeiro mandamento com promessa)” (Ef 6.1, 2).
“Filhos, em tudo
obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor” (Cl 3.20).
Vivemos dias no quais muitos não respeitam as autoridades paternas, porém,
percebemos que na maioria dos casos tais atitudes são fruto de uma educação
defeituosa.
O dever de cuidar dos
pais, “Honra a teu pai e a tua mãe”, v. 2.
O
sentido de honrar traz também a ideia do cuidado. Ou seja, o mandamento
divino é uma proteção aos pais para quando chegarem à velhice, ou em estado de
doença. E não se trata apenas de ajuda financeira, mais importante que
isso é a presença amorosa, o respeito, o apoio e proteção em todos os sentidos.
É fato que muitas vezes a atitude de abandono por parte de alguns filhos é uma
resposta àquilo que eles mesmos sofreram por parte de seus pais, mas isto não
justifica a negligência para com eles. Cuidar dos pais é princípio
bíblico, o cristão que fizer o contrário, diz a Palavra que está agindo de
forma pior do que os ímpios. Escrevendo a respeito dos cuidados para com as viúvas
o apóstolo Paulo transmite à Timóteo: "Ora, se alguém não tem
cuidado dos seus, e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior
do que o descrente" (1 Tm 5.8).
IV – “Honrar pai e
mãe” – uma aplicação para o contexto social
a) Os “pais” como
autoridades civis
Pais
são aqueles que detém o cuidado, aqueles que estão acima de nós, seja em
capacidade ou em sua responsabilidade. No contexto social essa responsabilidade
é do governo. Em Romanos 13.1-7 há as recomendações quanto ao dever de honrar
as autoridades civis.
Todos devem sujeitar-se às
autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as
autoridades que existem foram por ele estabelecidas.
Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se
colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem
condenação sobre si mesmos.
Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos
que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o
bem, e ela o enaltecerá.
Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o
mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus,
agente da justiça para punir quem pratica o mal.
Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades,
não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de
consciência.
É por isso também que vocês pagam imposto, pois as
autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho.
Dêem a cada um o que lhe é devido: Se imposto, imposto; se
tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra (Rm 13.1-7 NVI).
1. Não há autoridade
que não venha de Deus (1b).
2. As autoridades que
existem foram por ele estabelecidas (1c).
3. Consequentemente,
aquele que está se colocando contra autoridade está se rebelando contra o Deus
que a instituiu (2a).
Mas
o que tudo isso significa de fato. Estaria Paulo afirmando que o cristão deve
se conformar sem nenhum critério de julgamento acerca da situação social? E se
tais autoridades forem governos autoritários e criminosos? A resposta para isso
é: nós devemos nos submeter até o exato momento em que essa submissão não
implica desobediência à Deus. Vale aqui a máxima expressa pelo apóstolo
Pedro: "Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa
obedecer a Deus do que aos homens" (At 5.29). Quando se promulgam leis
contrárias à lei de Deus o dever cristão é a desobediência civil. Há textos
bíblicos que exemplificam esse princípio (At. 5.29; Ex 1.17; Dn 3 e 6; At
4.18s).
Ademais,
também em Romanos 13 é declarado que as autoridades existem para o nosso bem,
quando praticamos o bem, pois ela é ministro de Deus (v. 4 DIAKONOS). As
autoridades estão, portanto, a serviço de Deus (v.6). Quando o Estado pune o
criminoso está sendo instrumento do Senhor para o exercício de sua ira (v.4).
Submeter-se
às autoridades civis não significa ficar passivo diante da corrupção, da
tirania, ou da anarquia. O cristão como todo cidadão pode estar usando meios
legais para combater um contexto corrupto.
b) Os pais como
autoridades espirituais
Aqui
se faz referência à liderança no contexto da igreja do Senhor. Sem dúvida a
Bíblia fala de que deve haver submissão aos líderes instituídos pelo Senhor
para a edificação da igreja. Embora hoje todo cristão é sacerdote e rei em
sentido espiritual (1 Pe 2.9), o Senhor estabeleceu diferenças funcionais para
o crescimento espiritual da igreja:
E ele designou alguns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para
pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do
ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado (Ef 4.11, 12).
Em
1 Ts 5.12 e 13 Paulo recomenda a que a igreja trate com respeito os que
trabalham presidindo a obra do Senhor:
Agora lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração
para com os que se esforçam no trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e
os aconselham. Tenham-nos na
mais alta estima, com amor, por causa do trabalho deles. Vivam em paz uns com
os outros (1 Ts 5.12-13 NVI).
O
escritor da epístola aos Hebreus também reforça a necessidade de submissão:
Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade
deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para
que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria
proveitoso para vocês (Hb 13.17).
Evidentemente
que em contrapartida a Palavra traz critérios para a prática daqueles que exercem
autoridade na igreja. A atitude pastoral deve ser de proteção e cuidado,
expressos por meio da pregação da Palavra, da oração intercessória e da
exortação pessoal:
Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês,
e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de
Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada:
Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados.
Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não
façam isso por ganância, mas com o desejo de servir.
Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas
como exemplos para o rebanho.
Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a
imperecível coroa da glória (1 Pe 5.1-4 NVI).
Conclusão
Como
as autoridades são delegadas pelo SENHOR obedecê-las é obedecer ao SENHOR.
Viver o Quinto Mandamento é essencial para qualquer grupo social, seja família,
sociedade ou igreja. Sentimos o efeito da quebra do Quinto Mandamento
quando as autoridades são desvalorizadas a partir do contexto do lar, o que
ocorre é que atualmente temos uma geração de pessoas narcisistas, arrogantes,
individualistas e materialistas.
Que
como igreja do Senhor possamos proclamar que obedecer os mandamentos divinos é
essencial não apenas para a igreja, como para a família e para a sociedade!
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