Introdução
É
interessante como esse é um dos mais controversos mandamentos. Ninguém discute
a relevância do “não matarás”, “não mentirás” ou de alguns outros mandamentos.
Contudo, se tratando do quarto mandamento as opiniões se dividem. A divisão de
opinião gera alguns extremos. Há aqueles que assumem uma postura bastante
legalista quanto ao quarto mandamento, ou seja, obedecem estritamente o dia de
sábado como dia santo. Há outros que entendem que não é uma exigência para
aqueles que estão na Nova Aliança em Cristo, logo, não levarão a sério a guarda
do sétimo dia.
Qual
a interpretação correta desse mandamento para nós cristãos? Qual a importância
que você tem dado a esse mandamento? Reflitamos um pouco sobre esse assunto.
I – O que exige o
Mandamento?
A
palavra “sábado” é originada de expressão hebraica que tem o sentido de folgar,
feriar, respirar, cessar, desistir, parar.
A
ênfase no versículo 8 recai sobre a lembrança. O sábado
deveria ser lembrado. Em Dt. 5.12 fala de guardar o
sábado. Não se trata de uma mera lembrança, mas era um memorial que apontava
para a obra de Criação. Em Gn 2 e 3 está escrito: “E havendo Deus
terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a
sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque
nele descasou de toda a obra que, como Criador, fizera”.
Conforme
Êx. 20 e 23.12 (cf. Lv 23.3), o descanso sabático é realçado em sua importância
para com os animais, os servos e os
estrangeiros. Seria dia de descanso para todos, não apenas para o
cidadão judeu.
Em
Êxodo 16 vemos o relato da providência divina enviando o maná no deserto para o
povo. Deveriam recolher todos os dias, no sétimo dia, porém, não o fariam, pois
era o dia do repouso (Êx 16.4, 15-21; 22-44). Percebe-se que o princípio da
confiança na providência divina está presente na observância desse mandamento.
Inclusive em Deuteronômio 5.11-15 quando repete as palavras de Êxodo 20, há um
acréscimo: o descanso relaciona-se ao alívio da escravidão sob os
egípcios (Dt 5.15), ou seja, à lembrança da providência divina. Deveriam
então ter essa lembrança com corações gratos ao Senhor pelo livramento.
Em
Êx 31.12-18 é claramente apresentado como um
sinal da relação de Deus com o seu povo.
Em
Lv. 23.3 o sábado torna-se dia oficial de culto em Israel:
Há muitos textos que trazem algum detalhe sobre o Sabat no Antigo Testamento, como Is 58.13 e 14 o profeta adverte quanto ao que deveriam deixar de fazer nesse dia e quanto ao que lhes era exigido pelo Senhor para que sobre eles houvesse bênçãos: "Se você vigiar seus pés para não profanar o sábado e para não fazer o que bem quiser em meu santo dia; se você chamar delícia o sábado e honroso o santo dia do Senhor, e se honrá-lo, deixando de seguir seu próprio caminho, de fazer o que bem quiser e de falar futilidades, então você terá no Senhor a sua alegria, e eu farei com que você cavalgue nos altos da terra e se banqueteie com a herança de Jacó, seu pai. " Pois é o Senhor quem fala" (Is 58.13-14). Isto é, o profeta está convocando o povo a honrar ao Senhor, deleitar-se n’Ele. Assim, o Senhor é quem deve ser reverenciado, não o sábado em si.
Há
um inegável rigor da parte do Senhor em sua exigência para o povo da Aliança na
guarda do sábado. Tanto que a
punição para o descumprimento era a pena capital. Há um exemplo em Números
15.32-36. Com isso o Senhor está mostrando ao seu povo que todos os seus
mandamentos são sérios, e devem ser observados.
Infelizmente
com o tempo a guarda do sábado tornou-se mero formalismo, ficou esquecida a
prática da busca ao Senhor no dia santo, de modo a ser apenas um ato externo de
religiosidade judaica.
II – O Sábado no Novo
Testamento
Houve
no ministério de Jesus um crescente conflito com os fariseus quanto a guarda do
sábado. Eles acusavam Jesus de violar o sábado, e Jesus denunciava a hipocrisia
deles e que eles haviam entendido a Lei de forma errada. No ensino de
Jesus o homem não foi criado por causa do sábado, mas o sábado por causa do
homem (Mt 12.1-14). O
sábado também era dia de promover o bem, preservar a vida, e sim, ter o
merecido descanso. E o valor intrínseco do sábado é o dedicar-se ao Senhor.
Jesus
não estava se levantado contra a instituição do sábado em si, não falava contra
o mandamento divino, mas contra os acréscimos dos rabinos a este mandamento. A
tradição oral dos judeus a esse respeito, acumulada por séculos, encontrou
forma escrita nos tratados Shabbath e Erubin, onde
eles detalhavam como as pessoas deveria se portar no dia de sábado. Foram esses
acréscimos que Jesus não aceitou praticar.
Jesus
não revogou o quarto mandamento, seja por ação ou palavra, mas cumpriu e
atualizou as promessas do A. T. (Mt
5.17-18; 2 Co 1.20). Ele declara ser senhor do sábado (Mt 12.8). Quanto
a questão do descanso ele afirmou que Deus trabalha todos os dias (Jo 5.16-18),
não permitindo uma interpretação literal da ideia do descanso divino (Êx
31.17).
Ocorre
no Novo Testamento e na tradição da igreja uma gradual mudança do dia de sábado
para o domingo como dia de celebração oficial da igreja ao Senhor.
a) Jesus convida todos ao verdadeiro descanso, que não é em um dia, mas nele:"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt 11.28- 30).
b) Jesus ressuscitou em um dia de domingo: "No primeiro dia da semana, bem cedo, estando ainda escuro, Maria Madalena chegou ao sepulcro e viu que a pedra da entrada tinha sido removida.
Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "Paz seja com vocês!" (Jo 20.1,19).
c) A prática dos irmãos primitivos era reunir-se aos domingos para a celebração da Santa Ceia: "No primeiro dia da semana reunimo-nos para partir o pão, e Paulo falou ao povo. Pretendendo partir no dia seguinte, continuou falando até à meia-noite" (At 20.7).
d) Uma vez que desfrutamos de Cristo em nossas vidas o apóstolo Paulo diz que o cristão não pode ser julgado por causa de comidas, festas, sábados, ou seja, meros atos externos de religiosidade, pois os preceitos do A. T. eram sombras da comunhão que havia de vir: "Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado.
Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo" (Cl 2.16,17).III – O Sábado hoje
para a igreja.
Nem legalismo, nem
antinomismo.
Legalismo
é um equívoco de que as pessoas imaginam agradar a Deus por meio da obras,
desse modo, para a questão abordada, seria considerar um dia santo no sentido
literal, sem observar seu conteúdo moral e de lição espiritual, e imaginar que
meramente observá-lo seria agradável ao Senhor. Não é isso o que a Palavra nos
ensina sobre o quarto mandamento. Ao invés de trazer paz o legalismo aprisiona
a consciência da pessoa. O Adventismo do Sétimo Dia é um exemplo atual de
doutrina herética quanto a guarda do sábado.
O
antinomismo por sua vez é dizer que nada neste mandamento é útil a nós por ser
do Antigo Testamento e sermos da Nova Aliança em Cristo Jesus. É outro
equívoco, pois pela graça o cristão precisa se preocupar em obedecer o quarto
mandamento.
O
caminho para a obediência do quarto mandamento é a fé que atua pelo amor (Gl
5.6).
Conclusão
1. Quais têm sido
suas prioridades aos domingos? Obedecer à lei do Senhor é importante ou algo
pelo que se pode “passar por cima”? O que você pode fazer para organizar suas
atividades de modo a ter o domingo dedicado a Deus?
2. Santificar o
domingo não é santificar o dia em si, mas dentro do possível, em uma sociedade
moderna como a nossa, na qual muitos precisamos trabalhar aos domingos,
reservar tempo para adorar ao Senhor e também valorizar o momento do descanso
como dádiva divina.
3. Santificar o
domingo é consagrar a Deus as primícias de nosso tempo. Não significa viver
ativismo desenfreado nesse dia, mas tê-lo como momento de ouvir a Palavra, momento
de edificação.
4. Para a igreja
enquanto comunidade local é bom lembrar que fidelidade não é quantidade, mas
qualidade, ou seja, viver o domingo como Dia do Senhor não significa viver
ativismo.
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