Introdução
A palavra
amor em si mesma já é tão bela e sua expressividade tão profunda que diante da
pergunta tema facilmente quem não fundamenta sua resposta dirá que sim. Somente
se instigado pensará a respeito de sua resposta e das consequências implicadas.
Certamente
que o amor vivenciado entre pessoas do mesmo sexo é um dos assuntos mais em
pauta na sociedade contemporânea, e a igreja deve refletir sobre, pois novas
questões são levantadas e novos desafios são impostos.
Para
tratar desse assunto gostaria de abordar primeiro
a perspectiva da psicologia, depois
a perspectiva da teologia liberal e por fim o posicionamento da teologia
bíblica. Na conclusão gostaria de refletir sobre algumas questões práticas
vivenciadas pela igreja.
I – A PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA
1. A discussão das causas da homossexualidade.
a) Determinada
biologicamente. Este posicionamento
é insustentável cientificamente, e rejeitado pelos próprios homossexuais.
Também anularia as escolhas de vida do indivíduo e não poderiam ser
responsabilizados por seu comportamento.
b) Distúrbio mental. Sem sentido, totalmente inaceitável para os dias atuais.
O DSM (Diagnostic and Statistical
Manual), Manual Diagnóstico e Estatístico para Transtornos Mentais
retirou o termo “homossexualidade” da classificação de doenças mentais em 1973
e em 17 de maio de1990 foi retirado do CID (Código Internacional de Doenças).
Quero
prontamente afirmar como psicólogo que homossexualidade não é doença (daí as
propagandas nas redes sociais que o que não é doença não exige cura) e não é
transtorno psíquico.
c) Fatores
psicossociais. A história de vida da
criança, acontecimentos pretéritos que motivaram a vivência homossexual.
d) Não há uma causa
única. Cada pessoa em seu mundo
vivido fará suas escolhas, podendo sim ter a influência de acontecimentos
marcantes desde a infância, mas que não determinam quem há de se tornar na
vida. Aqui, portanto, inclui-se a preferência individual e volição do indivíduo.
É uma escolha de vida a partir da preferência adquirida. É um modo de ser no
mundo.
2. A luta pela igualdade de direitos.
Como
a psicologia é uma ciência que luta em defesa dos direitos humanos e contra a
violação desses direitos; a visibilidade da causa gay é uma das bandeiras
levantadas de forma intensa pela Psicologia enquanto profissão no Brasil. Desse
modo, de forma oficial a psicologia se põe ao lado da vivência homossexual na
luta pelos direitos de aceitação social, casamento civil em total igualdade de
direitos, adoção de filhos, inserção no contexto religioso, expressão da
sexualidade além do conceito binário, etc.
Assim
estabelece a Resolução nº 1 de 1999 do Conselho Federal de Psicologia:
Art. 3° - os
psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de
comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente
a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. (CFP, 1999).
Considerando a perspectiva da psicologia, e a fidelidade
à Palavra de Deus por aqueles que ao mesmo tempo em que exercem a profissão de
psicólogo também são cristãos, é
delicada e desafiadora a postura a ser tomada.
II – A PERSPECTIVA DA TEOLOGIA LIBERAL
Hoje
se fala de uma teologia produzida a partir da perspectiva gay. Há um esforço de
reinterpretação de alguns textos bíblicos. Inclusive com publicação de bíblias ditas
inclusivas que tanto favorece a luta gay assim como o movimento feminista. A
teologia gay tem como fundamento principal a homossexualidade como um dom
divino, então a aceitação torna-se uma ordenação divina para a igreja (SANTOS, 2003).
Assim define Nicodemus: “A “teologia inclusiva” é uma abordagem segundo a qual,
se Deus é amor, aprovaria todas as relações humanas, sejam quais forem, desde
que haja este sentimento” (NICODEMUS, 2013).
Essa
“teologia” fundamenta-se sobre cinco princípios:
1º A interpretações
dos textos bíblicos que condena a homossexualidade são frutos de preconceito.
Para
Musskopf, teólogo luterano, os relacionamentos mostrados na Bíblia de Jônatas
e Davi (livro de Samuel), Rute e Noemi (livro de Rute), o centurião e seu
“servo” (livro de Mateus capítulo 8.5-13), são vistos pela “teologia gay” como
exemplos de relacionamentos homoafetivos.
2º As passagens que
desaprovam as relações com pessoas do mesmo sexo foram mal traduzidas.
3º O versículos bíblicos que supostamente condenam o homossexualidade
estão desarraigados de seu contexto original.
4º Jesus nunca condenou a homossexualidade.
5º O que a Bíblia
condena é a promiscuidade entre os homossexuais, assim como condena entre os
heterossexuais, não há condenação da relação homossexual monogâmica.
Percebe-se
então que a questão do debate ocorre sob a égide da exegese e da hermenêutica.
É necessário que sejam praticadas com seriedade, do contrário a Bíblica poderá ser
torcida com o objetivo de favorecer visões preconcebidas.
Para
Santos (2003), comete-se então três erros básicos na hermenêutica da teologia
gay: o subjetivismo, o cientificismo e a arbitrariedade.
a) Subjetivismo
A
experiência individual na verdade fornece sua chave hermenêutica. O sentido do texto bíblico é determinado pelo leitor a
partir de sua experiência pessoal. Veja esse exemplo de uma fala de uma suposta
pastora lésbica: “Para mim é inconcebível que Deus tenha criado alguém como eu,
incapaz de mudar, para depois condenar essa pessoa ao inferno” (DALAS, 1998 apud.
SANTOS, 2003).
Quem
tem a si mesmo como parâmetro para a verdade esquece e ou não entende textos como Jeremias 17.9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas
[...]”.
b) Cientificismo
Recebe
essa nomenclatura por se basear em pressupostos das ciências sociais para a
interpretação das escrituras. Assim pronunciou Troy Perry: “A informação
científica, as alterações sociais e a experiência pessoal são as maiores forças
de mudança na maneira pela qual interpretamos a Bíblia” (PERRY, 1990 apud.
SANTOS, 2003). Para sua forma de entender a Bíblia os escritores bíblicos
desconheciam a complexidade da orientação homossexual, por isso que condenaram.
Logo, não pode se aplicar aos nossos dias. Curiosamente dizem crer na Bíblia,
mas não a veem como sendo suficiente, infalível e inerrante; aceitam dela
apenas o que lhes é conveniente.
c) Arbitrariedade
Isso
significa que não são apresentadas justificativas concretas nas acusações dos
proponentes da teologia gay contra a hermenêutica bíblica tradicional. Acusam
de preconceituosos os textos que condenam a homossexualidade. Dizem que os
escritores bíblicos foram culturalmente influenciados refletindo os
preconceitos de sua época, como exemplo, citam o Apóstolo Paulo. Entretanto, os
textos bíblicos também denunciam os erros dos heterossexuais na área sexual,
não se trata então de preconceito. A Bíblia condena não só a homossexualidade,
mas qualquer prática que fuja da ordem estabelecida por Deus na criação. Assim
esclarece John R. W. Sttot:
Desde
que a ordem (monogamia heterossexual) foi estabelecida pela criação, não pela
cultura, sua validade é permanente e universal. Não pode haver “liberação” das
normas criadas por Deus, a verdadeira liberação somente é encontrada em sua
aceitação. (STTOT, apud. SANTOS, 2003).
III - A PERSPECTIVA DA TEOLOGIA BÍBLICA
Para
aqueles que pretendem afirmar que a Bíblia é sua regra de fé e prática não há que
ter dúvida a esse respeito. Os textos bíblicos quando apresentados pela
“teologia inclusiva” não são interpretados sob uma perspectiva em que se tenha a
Bíblia como infalível e inerrante. Aqueles que creem na inspiração bíblica
verbal e plenária não tentarão moldar o texto bíblico para se enquadrar no que
já pensam a respeito dessa questão. Há
que se aceitar a Palavra de Deus, como autoridade máxima nesse assunto,
logo, a opinião formada não será a partir do contexto cultural de sua época,
mas do sentido do texto. Vejamos então alguns textos bíblicos:
a) Gênesis 1 a 2
Nesse
texto vemos a criação do homem e uma ordem divina para a coroa da criação de
Deus. O casamento enquanto união de duas pessoas na relação mais pessoal possível
é instituído por Deus. E é dito a Adão e Eva que a instituição do casamento deveria
servir à procriação (1.28), que se deve deixar as famílias de origem e
tornar-se uma só carne (2.24).
Com
tudo isso estar sendo apresentado no texto o padrão divino para o casamento,
heterossexual monogâmico. É o plano divino
para a relação sexual humana, e o texto é um relato normativo, há uma ordem
de Deus. A abrangência dessa norma é global, transcende a cultura e a época em
que o texto foi escrito. Por isso o próprio Jesus trata do casamento a partir
de Gênesis: “[...] desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher (Mc
10.6).
b) Sodoma e Gomorra (Gn 19.4-7; 2 Pe 2.6-7; Jd 7).
A
narrativa sobre Sodoma e Gomorra é bastante impactante. Deus destrói
literalmente essas duas grandes cidades por conta de seus pecados. A
perversidade dos habitantes dessas cidades incluía diversos tipos de pecados:
falta de hospitalidade, injustiça social e também homossexualidade.
Quando
anjos de Deus estavam visitando Ló, os habitantes da cidade exigiram que eles
os entregassem para que pudessem estuprá-los: "Eles não tinham ainda deitado, quando a
casa foi cercada pelos homens da cidade, os homens de Sodoma, desde jovens até
velhos, todo o povo, sem exceção. Chamaram Ló e lhe ordenaram: “Onde estão os
homens que vieram para a tua casa esta noite? Traze-os aqui fora para que
tenhamos relações sexuais com eles!” (Gn 19.4-5).
Em
2 Pe 2.6-7 e Judas v. 7 é relembrado o pecado pelo qual estas cidades ficaram
mais conhecidas.
c) Na lei mosaica
"Com homem não te deitarás, como se fosse
mulher; ABOMINAÇÃO é;” (Lv 18.22).
“Não haverá
traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque,
qualquer que faz isto, ABOMINAÇÃO é ao Senhor teu DEUS” (Dt 22.5).
d) No Novo Testamento
"E Jesus lhes explicou: “Não tendes lido
que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’, e os instruiu: ‘Por este
motivo, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se
tornarão uma só carne’? Sendo assim, eles já não são dois, mas sim uma só
carne. E, portanto, o que Deus uniu, não o separe o ser humano” (Mt 19.4-6).
Jesus
não tratou de forma direta sobre a homossexualidade, mas ele também não o fez sobre
outras formas de expressões sexuais como o bestialismo; o suposto silêncio de
Jesus sobre esses temas não os valida. Quando Jesus aborda sobre o divórcio relembra
o princípio divino na criação, o casamento como um relacionamento monogâmico
entre um homem e uma mulher.
Ademais,
a hermenêutica da teologia inclusiva em que afirma que o que importa para Jesus
é apenas o amor não se fundamenta nas Escrituras. Jesus nunca apresentou o amor
como um fim em si mesmo, abolindo a lei moral (SANTOS, 2003). A obediência à
verdade revelada por Deus é imprescindível para vivenciar de fato o amor no relacionamento
com Deus: “Se guardardes os meus mandamentos permanecereis no meu amor;
assim como eu tenho guardado os mandamentos de meu pai e nos seu amor
permaneço” (Jo 15.10).
“Por causa disso Deus os entregou a paixões
vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por
outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações
sexuais naturais com as mulheres e se inflamaram de paixões uns pelos outros. Começaram
a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo
merecido pela sua perversão” (Rm 1.26-27).
O texto revela que aqueles
que rejeitaram a revelação divina na natureza criaram conceitos idólatras em
seus corações e consequentemente rejeitaram também aquilo que Deus estabelecera
como relação natural para vida conjugal. A ira de Deus então se revela nesses,
diz Paulo, não de modo positivo, mas permitindo que tais pessoas permaneçam em
seus pecados.
O texto claramente evidencia
que as relações contrárias à natureza são entre pessoas do mesmo sexo.
Então, haver aprovação
social, normatização ou até mesmo pressão para que a vivência homossexual seja
vista como algo não pecaminoso não pode ser aceito por quem deseja pautar sua
vida pela Palavra de Deus. O fato de haver amor entre as pessoas de mesmo
sexo que se relacionam não os livra de estar em pecado.
“Vocês não sabem que os perversos não herdarão
o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem
adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem
alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim
foram alguns de vocês. Mas, foram lavados, foram santificados, foram
justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1 Co
6.9-11).
Paulo cita a homossexualidade
juntamente com outros pecados, mencionando que a prática contumaz de tais
pecados é algo condizente com aqueles que NÃO herdarão o reino de Deus. Os coríntios
antes de seu encontro com Cristo vivenciaram a prática dos pecados mencionados,
inclusive da homossexualidade, mas, foram libertos pelo Senhor.
Em 1 Tm 1.9-10 Paulo
menciona pecados que eram comuns, mas que não devem fazer parte da prática de
pessoas convertidas a Cristo:
“Quanto, porém, aos
covardes, aos incrédulos, aos ABOMINÁVEIS, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e
a todos os mentirosos, a sua parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo
e enxofre, a saber, a segunda morte.” (Ap 21.8).
De fato a expressão ‘ABOMINÁVEL’
é bastante forte. Vemos a partir do Antigo Testamento que essa expressão denota
uma série de condutas como ocultismo, politeísmo e homossexualidade.
Devemos
lembrar que a Palavra de Deus nos ensina que uma das formas de expressar o nosso amor às pessoas é falando a verdade,
expressando a verdade de Deus: “O amor não se
alegra com a injustiça, pois sua felicidade está na verdade” (1 Co 13.6), ainda que não
sejamos compreendidos e aceitos em nossa postura.
A
homossexualidade é um dos pecados na área da sexualidade, assim como a Bíblia
reprova a homossexualidade também o faz com o adultério (Ex 20.14), a
fornicação (Dt 22.23-30), a bestialidade (Dt 27.1), o incesto (Lv 20.11-12,
20), a prostituição (Gl 5.19) e outros.
Conclusão
1. Como a igreja deve portar-se com relação àqueles que têm
desejos homoafetivos? Primeiramente há de
se entender de forma madura a situação, é necessário abertura e encarar a realidade
de fato. Não pode haver aprovação do
pecado. Da parte da liderança tal temática traz desafios grandiosos, e infelizmente
muitos líderes evitam o tema, ou não sabem lidar com as situações concretas com
as quais se deparam. A membresia não
pode olhar quem está em pecado com desamor, desaprovar a homossexualidade
não pode ser sinônimo de frieza sentimental, assim como amar a pessoa
homossexual não pode ser o mesmo que aprovar sua forma de viver a sexualidade.
2. A prática
homossexual é pecado e como todo pecado é necessário haver arrependimento,
confissão e abandono. Sim, é possível a mudança também nessa área tão melindrosa.
Quem não acredita nisso também não está acreditando no poder transformador do
evangelho de Cristo. Evidentemente poderá ocorrer as seguintes situações:
a) a pessoa se arrepende,
é liberto e abandona por completo tal prática;
b) há arrependimento verdadeiro
e a pessoa continua com os desejos sexuais tendo que lutar contra eles, às
vezes por toda a vida;
c) não há arrependimento
verdadeiro nem libertação, apenas uma conformidade cultural com o contexto
evangélico no qual está inserido, o que será uma grande pressão, cedo ou tarde
a pessoa não suportará viver desse modo.
3. A homossexualidade
no contexto da igreja é sim um problema contemporâneo. Há dentro das igrejas
locais (de todas as igrejas) pessoas que têm desejos homoafetivos. Essas
pessoas vivenciam de modo árduo, doloroso seu desejo por pessoas do mesmo sexo
ao mesmo tempo em que em sua consciência lutam contra tais desejos porque
inequivocamente as Escrituras e a tradição cristã acentuam que a pratica homossexual
é pecado. Em alguns casos tais pessoas querem continuar se sentido amadas por
Deus e pela sua comunidade de fé. Entretanto, muito provavelmente o que ocorre
é sair do contexto para conseguir viver “plenamente” sua sexualidade.
Se
você é uma pessoa que vive esse conflito, o que fazer? Procure seu pastor,
desabafe com ele, fale de sua angústia, de seus desejos, pois certamente é a
pessoa mais madura e mais qualificada no contexto da igreja para ajudar você a
vivenciar esse momento tão conflituoso!
REFERÊNCIAS
Conselho
Federal de Psicologia. Resolução CFP n. 1, de 22 de março de 1999.
Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação
sexual. Brasília, DF, 1999. Acesso em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf. Pesquisado em: 13 ago 2021.
LOPES, Augustus
Nicodemus. Um Engano Chamado "Teologia Inclusiva" ou "Teologia
Gay". 2013. Pesquisado
em: <http://tempora-mores.blogspot.com/2013/06/um-engano-chamado-teologia-inclusiva-ou.html>. Acesso em:
03/08/2021.
MUSSKOPF, André.
Cristão e homossexual? Um desafio (entrevistado por Graziela Wolfart ). Rev. do Instituto Humanitas Unisinos. Edição
253, 07 abr 2008. Pesquisado
em: <http://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/1680-andre-musskopf-4>. Acesso em:
03/08/2021.
SANTOS, Valdeci da Silva. Uma perspectiva cristã sobre a
homossexualidade. Fides Reformata, v. VIII, n 1, 2003, p. 99-132.
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