1Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;
²antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro;
³no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas;
4 e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem;
5como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça;
6antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço,
7e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.
8Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade.
9O Pregador, além de sábio, ainda ensinou ao povo o conhecimento; e, atentando e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.
10Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e escrever com retidão palavras de verdade.
11As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem-fixados as sentenças coligidas, dadas pelo único Pastor.
12Demais, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.
13De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.
14Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más. (ARA)
Introdução
Qual o sentido de viver? Qual o
princípio fundamental da vida que deve mover o homem?
Elucidação
O Pregador encerra suas reflexões
sobre o sentido da existência humana à parte de Deus, seu labutar neste mundo,
seus desejos, seus sonhos, a busca da alegria de viver, o que é esperado de
cada diante de seu Criador e seu futuro encontro com este.
O SENTIDO
DA APARENTE FALTA DE SENTIDO
I – A
TEMPORALIDADE DA VIDA, V.1-7.
Já no versículo primeiro ele apresenta razões pelas quaislembrar-se do
Senhor deve mover o homem à ação:
a) Ele é o teu Criador – isto implica o direito de exigir de Sua
criatura o que bem aprouver;
b) Os maus dias virão – a ideia do texto é que devemos aproveitar o
presente enquanto temos forças para servirmos ao Senhor, pois mui brevemente
serão diminuídas essas forças assim como a capacidade cognitiva.
Os versículos seguintes não são uma
apresentação pessimista da vida prolongada, até porque a Palavra apresenta a
longevidade como uma bênção divina. Entretanto, de forma bastante realista o
Pregador apresenta todas as desvantagens que ele pôde observar da realidade de
quem vivencia a o estado de velhice em comparação com quem vivencia o estado de
juventude, mas tudo isso com o intento de trazer a observação que deveriam
lembrar-se do Senhor o quanto antes! O intento é mostrar o quão breve é a vida
e assim levar aquele que vive de vaidades em vaidades a tomar uma decisão. O “lembra-te
do teu Criador” não é meramente uma atividade cognitiva de exercício da
memória, mas trazer a recordação e
consideração de tudo oque Deus fez e está fazendo por nós.
Ele enfatiza que é necessário que
isto seja feito antes que o indivíduo morra, e embora seu corpo volte ao pó da
terra, em espírito prestará contas ao Senhor.
II – A
VIDA SEM SENTIDO, V.8.
“Vaidade de vaidades, diz o
Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2). O Pregador iniciou o tratado sobre
a vida do homem debaixo do Sol com essas expressões, e com elas agora encerra
oque tinha a dizer. O que irá se seguir é um resumo de sua conclusão.
Para compreender-se a sua
conclusão temos de ter em mente o sentido dessa expressão “vaidade de
vaidades”. É o retrato do homem que vive neste mundo sem a sabedoria de Deus, distanciado de seu Criador, tudo o que ele
faz, o que deseja, suas prioridades não tem um sentido que permanece.
Assim, é lembrança de que a vida é transitória e viver sem Deus é viver sem o
verdadeiro sentido da existência humana. Como comenta Walter C. Kaiser Jr: “...quão
passageiro e vergonhoso é ter vivido sem conhecer a chave do viver! Que
desperdício morrer sem ter desfrutado a vida ou conhecido o seu propósito.”
III -
FONTE SEGURA PARA O VERDADEIRO CONHECIMENTO PARA A VIDA, V. 9-12.
Finalmente sua conclusão
inicia, e o Pregador fala de si como sendo sábio, não por uma questão de
orgulho pessoal, não é vanglória. O que demonstra ao chamar a si mesmo de sábio
é que suas palavras não surgiram de um mero raciocinar humano, mas que o Senhor
o capacitou a pensar e expor tais assuntos, isto fica claro pelo fato de que
“sábios” era uma expressão técnica tanto como “sacerdotes” e “profetas”. Os
sacerdotes representavam o povo diante de Deus como também ensinavam a Lei de
Deus ao povo. Os profetas eram levantados pelo Senhor para trazer sua Palavra.
Os sábios, às vezes também chamados de “anciãos”, eram aqueles que orientavam,
davam conselhos práticos ao povo. (ver Jr 18.8-9; 18.18; Ez 7.26).
No v. 10 vemos que ele levou
muito a sério a missão que tinha diante de si. Ele não era um irresponsável, sabia
que estava escrevendo de assuntos que impactariam muitas vidas. Ele não é
movido por um pensamento como dos filósofos epicureus, do tipo: “comer,
beber e alegrar-se, pois amanhã morreremos”. Essas palavras mostram apenas
uma busca de satisfação sem o sentido na satisfação. Em termos contemporâneos é
o que muitas pessoas dizem com o “curtir a vida”. Quando Salomão nos
ensina sobre o aproveitar a vida, sobre o viver em alegria ele tem em vista que
isso vem como dádiva de Deus. Por isso ele afirma que falou palavras com
retidão, não estava movido por intenções insinceras, por pretensões pessoais ou
egoístas.
Ele afirma no v. 11 que o
conteúdo de seu ensino, as palavras sábias que ele escreveu são como aguilhões (varas de madeira com pontas
de ferro, que eram usadas para estimular o boi a um passo mais apressado),
logo, aquele que quer viver inerte é despertado para a ação. E também tais
palavras são como pregos bem fixados
(usados por pastores para fixar as tendas). Assim há uma segurança então nessas
palavras, porque foram dadas pelo único Pastor. Palavras do SENHOR. Fica para nós então a ênfase na suficiência
das Escrituras para nossas vidas. É ela que nos traz o conhecimento seguro
da vontade do Senhor, é nela que encontramos instrução, admoestação, exortação
e repreensão. Podemos nos sentir tranquilos quanto ao nosso conhecimento da
vida e de nossa existência, porque não é fruto de filosofia humana, mas de
revelação divina.
Sem a Palavra de Deus que nos
revela a sua verdade, o pregador já adverte que a busca pela verdade e pelo
sentido encontrará entre outras realidades o fato que não há limites para
especulações humanas e há exaustão em tal busca por meio do estudo da sabedoria
humana traz.
IV –
ENCONTRANDO O VERDADEIRO SENTIDO, V.13-14.
O que deve fazer o homem então?
Teme a Deus! Por que temê-lo? Porque a não ser que Deus seja a nossa vida, ela
será vazia. Há um espaço em nossa alma que somente pode ser ocupada por Ele. É
como orou Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda
inquieto enquanto não descansar em ti”.
Uma vez que recebemos do Senhor
o dom da vida, necessário é que a vivamos voltados para Ele. Aproveitemos a
vida, mas não de qualquer modo, é pela Palavra onde estão revelados seus
mandamentos que temos nosso manual de vida. Esse é um dever de todas as
criaturas racionais do Senhor, de todo ser humano.
Em suas palavras finais o
Pregador nos lembra que em tudo seremos julgados pelo Senhor. O justo juiz
trará à luz até nossas obras mais secretas. “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de
Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio
do corpo” (2Co 5.10).
Aplicações
1. Olhe constantemente para o seu Criador,
senão você viverá apenas para a criação!
2. Vejam o que diz o Breve Catecismo de
Westminster, na sua pergunta de número um: PERGUNTA 1. Qual é o fim
principal do homem? RESPOSTA. O fim
principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. Referências:
Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.25-26; Is 43.7; Rm 14.7-8; Ef 1.5-6; Is 60.21; 61.3.
3. A única forma de escapar do juízo divino
é Cristo Jesus. Aqueles que estão em Cristo serão julgados, mas não para
condenação, mas para recompensa por uma vida vivida debaixo do Sol que
glorificou ao Senhor.
Conclusão
Que livro maravilhoso
Eclesiastes! Que Deus bondoso que dá sentido à vida! Que vida abundante podemos
ter em Cristo! Que belo plano do Senhor para nós que vivemos debaixo do Sol!
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