1 Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?
2 O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade;
3 o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho;
4 o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata;
5 o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.
Introdução
Muitos de nós nos preocupamos com respostas e
não atentamos com as perguntas. Alguns de nós perderam a curiosidade de estar
sempre se perguntado por algumas questões ou perguntando a Deus. É interessante
essa característica nas crianças pequenas: sempre indagando, sempre querendo
saber o porquê. Mas crescem e vão perdendo um pouco de sua curiosidade.
Para termos as respostas corretas é necessário
formularmos as perguntas corretas. O nosso salmista, Davi, faz aqui duas
perguntas ao Senhor, peguntas retóricas, que depois se põe a responder.
I – Perguntas que
constrangem acerca da proximidade do SENHOR, V.1.
As perguntas do v. 1º tem como pano de fundo
a realidade cúltica de Israel no Antigo Testamento. O que era o tabernáculo?
O Tabernáculo era o local ordenado por Deus
aos israelitas onde seria realizado o culto oficial por meio dos sacerdotes.
Deus ordena sua construção de modo metódico, com detalhes que deveriam ser seguidos
à risca. O interior do Tabernáculo era dividido em dois cômodos: o Santo Lugar
e o Santo dos Santos. No Santo Lugar encontravam-se os pães da proposição à
direita e o candelabro à esquerda. Uma cortina dividia o santo lugar do Santo
dos Santos. Antes da cortina ou véu ficava o altar de ouro (altar para
incenso). Era no Santo dos Santos onde ficava a Arca da Aliança.
O povo poderia entrar até o pátio onde era
construído o Tabernáculo, mas era necessário fazer um sacrifício de sangue, sem
isso não poderia se chegar a presença de Deus. No Santo Lugar só era permitido
os sacerdotes. Ali, o candelabro
deveria estar sempre aceso, símbolo de que a presença de Deus não se apagava
nem de dia nem de noite. Os pães da
proposição simbolizavam o alimento espiritual de Deus para o povo, deles
sacerdotes podiam comer livremente; e apontavam para o verdadeiro pão da vida -
Jesus cristo. O altar de ouro, onde
os sacerdotes queimavam incenso representa a oração do povo ao Senhor. A fumaça
do incenso enchia o Santo dos Santos e o Santo Lugar com seu aroma suave. A
cortina que dividia aquele lugar tinha imagens de Querubins voando. A arca da
Aliança dentro do santo dos Santos mostrava que Deus está entronizado entre os
Querubins.
Na Arca
da Aliança que estava no Santo dos Santos em sua tampa estava o Propiciatório, onde o sangue do sacrifício
anual era derramado perlo Sumo Sacerdote.
Quem subirá ao Seu Santo Monte? Uma referência ao Monte Sinai, onde foi manifestada a
glória divina quando concedeu os mandamento ao povo e com ele fez a Aliança.
Mas as duas perguntas tem o mesmo sentido, estão juntas apenas para reforçar a
ideia apresentada pelo texto.
Esses são símbolos por excelência para o
salmista falar da presença divina. Perceba a solenidade do tabernáculo. Essas
perguntas tem um sentido espiritual além daquilo que já podia ser observado
pelo salmista. Apenas o Sumo Sacerdote e apenas uma vez por ano, depois de se
ter purificado poderia entrar no Santo dos Santos para oferecer o sacrifício
pelo povo. Perguntar quem pode habitar o santo lugar é perguntar quem é digno,
quem tem essa condição. São perguntas a respeito de comunhão, de proximidade.
A primeira resposta que pode ser dar é ver
Cristo no Salmo. Ele como sumo sacerdote por excelência subiu ao Monte por nós.
O próprio Tabernáculo é símbolo de sua obra.
A segunda resposta é que o que se segue salmo,
não se tratam de qualidades para se achegar a presença do Pai, mas de
qualidades que devem estar presentes na vida daqueles que em Cristo estão na
presença do Pai. Assim, ninguém está apto, não há sequer um que possa dizer que
vive de tal modo em integridade que poderá achegar-se ao santo monte de Deus
por conta de suas ações. Jesus cristo foi o único que viveu essa perfeição.
II – Qualidades de um
cidadão celestial, v.2 – 5.
No contexto do salmista ele estar apresentado
a dicotomia existente entre os judeus tementes ao Senhor, aos quais em muitos
momentos são chamados de justos e o hipócritas, que diziam temer a Deus, mas
suas vidas na relação com os outros não demonstravam isso. Por isso ele passa a
falar das relações horizontais.
Ele
falar de viver em integridade.
Integridade é o que mantém o nosso ser coeso, em outras palavras: ser o mesmo
em qualquer circunstância, ser inteiro, completo, no sentido de viver não em
busca de aparentar ser, mas simplesmente sê-lo. Nossa preocupação não deve ser meramente
com a reputação. A integridade nos permite ter a consciência limpa, mesmo se a
reputação for atacada.
Sendo a pessoa íntegra agirá com justiça,
mesmo em meio a uma sociedade onde a injustiça impera, onde a verdade é
substituída pela mentira que momentaneamente parece vantajosa. Quem é íntegro
age com justiça e fala a verdade.
Tabernacular com Deus, viver no seu Santo Monte
implica também conter-se para não
difamar, não pecar com a língua. Muitas são as referências bíblicas de
advertência a esse respeito, citarei apenas três: Tiago no cap. 3 de sua epístola
argumenta de modo metafórico a dificuldade e a importância de se domar a língua.
Ele diz: “É fogo, é mundo de iniquidades”, “Contamina o corpo inteiro”, “Põe
em chamas toda a carreira da existência humana”, “Inflamada pelo inferno”, “é mal incontido,
carregado de veneno mortífero”. Por isso atente para Pv 13.3: “O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito
abre os lábios a si mesmo se arruína”. E lembre-se da advertência de
Jesus: “Toda palavra frívola que proferirem os homens,
dela darão conta no dia do juízo” (Mt. 12:36). Assim, tenha muito
cuidado em falar sobre alguém, em postar alguma na internet sobre alguém.
Quem desse modo se contém e sendo íntegro não
estará fazendo mal ao próximo, não estará injuriando, mas ao mesmo tempo que
não coadunará com as ações ímpias dos perversos, pois terá por desprezível seu
comportamento, amará sua pessoa, mas não a honrará, dará a honra – no sentido
de valor – aos que temem ao Senhor.
O salmista ainda diz que o lugar da comunhão
com o Senhor não combina com se tirar vantagem de forma a explorar o sofrimento
alheio. Pois maldosamente age quem empresta dinheiro com a intenção de lucrar.
Percebam meus irmãos que o salmista revela
algumas características que denotam duas coisas: caráter e conduta.
O cidadão do céu, o cristão, neve ficar
evidente em qualquer lugar onde se encontre o seu caráter. O seu caráter é manifesto
pela sua conduta, pela forma de agir. Caráter
é um conjunto de traços referentes à maneira de agir, é o que serve de base
para as atitudes. Conduta é a expressão
do caráter; é o que é feito.
A lista apresentada pelo salmo é
exemplificativa, não exaustiva, são alguns indicadores de um coração grato por
estar conduzido por Cristo à presença do Pai.
Mas ainda há algo no texto que merece ser
mencionado: há uma promessa.
III – A promessa de
estar inabalável, v. 5.
Perceba que é uma promessa condicional.
Esteja agindo com integridade e não será abalado, fale a verdade e não será
abalado. Tenha uma conduta que reflita Cristo em sua vida que você viverá de
forma mais plena o privilégio de ser cristão. Há pessoas que sempre agem de
forma contrária ao que o salmista expôs e imagina que vai se dá bem. De modo
algum, pois: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer;
porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas
6:7).
Conclusão
Tomás de Aquino diante da pergunta: Quais são
as coisas necessárias para a salvação? Ele responde: Saber o que deve crer –
Cristo; o que se deve desejar – Deus; e como se deve viver – em retidão e
justiça.
O não ser abalado perpassa essa existência na
maravilha de viver com o Senhor nesta vida e prossegue na eternidade, daí que o
v. 11 do Salmo 16 é tão complementar à nossa reflexão: “Tu
me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na
tua destra, delícias perpetuamente”.
E ainda:
"Porque assim diz o Alto, o Sublime, que
habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar,
mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o
espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos" (Is 57.15).
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