Introdução
Você
sabe o que é bom para você? Já houve momentos em que você quis muito alguma
coisa e se frustrou em seu desejo? Já aconteceu de tempos depois você perceber
que aquilo que almejava não era afinal tão bom quanto imaginava? O que é melhor
para você?
Elucidação
O que é melhor para nós?
A
resposta nos vem pelo pregador, por inspiração divina. Até o v. 8 há uma série
iniciada pela expressão “melhor”.
I – O valor boa fama.
Melhor é a boa fama do que o
unguento precioso. Essa afirmação tem por base o costume da
antiguidade de ungir o cadáver com especiarias e perfumes para torná-lo mais
apresentável. Contudo, o pregador vai dizer que é melhor o bom nome do que o
corpo perfumado no leito da morte. Parece, pelo menos no momento, trazer a
ideia de que o corpo estando ungido, perfumado, está disfarçado, seu cheiro
será menos incômodo. Afinal, essa é uma das características do perfume.
Pensemos em outras: o perfume também tem a função de atrair outros àqueles que
os usa. Veja por exemplo as propagandas televisivas de perfumes, sempre um
indivídua que por usar determinada marca atrai as pessoas, torna-se agradável às
pessoas, mesmo se elas sem o tal perfume não seja tão atraente.
Pensemos
então na boa fama, na boa reputação. O bom nome atrai outros, e ao contrário do
ocorre com o perfume, que é extremamente passageiro, o bom nome perdura até
depois da morte. Por isso que ele diz que melhor é o dia da morte do que o dia
do nascimento. Pois é no dia da morte que as pessoas lembrarão e melhor
valorizarão a boa reputação. A boa reputação é a melhor forma de viver
apresentado pelo pregador em mundo com tantas contradições, mundo de
prosperidade e pobreza, mundo em que tudo é passageiro. Viver com uma boa
reputação é o melhor caminho apresentado pelo pregador em um mundo sob o
domínio de Deus. Viver então de tal forma que o nosso nome permaneça mesmo
depois de nossa morte física. Pode ser aplicado como uma ênfase quanto ao que estamos
fazendo com nossas vidas. Ou seja, o que dirão de você depois de partir, que
marcas você deixará nas pessoas com quem se relacionou, que reputação ficará de
você na sociedade?
II – Melhor é o momento da tristeza.
Melhor é a morte do que o
nascimento. A passagem da primeira metade do versículo 1 para a
segunda é algo surpreendente. São palavras muito contrárias à opinião normal.
Como assim o dia da morte é melhor que um dia tão alegre como o do nascimento.
Evidentemente que não podemos desconsiderar que se trata de uma literatura
poética, mas que essas palavras Koellet tenta expressar uma grande lição.
O
pensamento comum e que mais é atraente às pessoas é que tudo o que representa
tristeza deve ser afastado de nossas vidas. Vivemos em uma época na qual o
estar ou o aparentar estar bem é valorizado de forma impensada pelas pessoas.
Vivemos uma conjuntura social de aparência de felicidade. As pessoas postam
suas fotos nas redes sociais na tentativa de mostrar os quanto estão felizes.
Na produção cultural de nossa época tudo o que tiver uma tonalidade triste,
sombria, fica relegado ao ostracismo. Até mesmo nos cultos contemporâneos as
pessoas entendem que o culto foi “abençoado” quando o ambiente foi alegre,
extrovertido, leve e produziu uma leveza na alma dos presentes.
Contraponto
tudo isso o pregador faz afirmações tão impopulares.
Melhor é ir à casa onde há
luto. É muito bom participar de momentos festivos. Celebrar faz
parte de usufruir as dádivas divinas nesta existência. Devemos comemorar nossos
momentos de conquistas, devemos inclusive nos alegrar com as conquistas dos que
nos rodeiam. Entretanto, tem de ter consciência do caráter ilusório da
tentativa de permanecer em estado de festividade. A vida não é feita só de
festas, precisamos de ocasiões nas quais poderão ser feitas reflexões
profundas. E é quando nossa humanidade está diante da prova inconteste de sua
fragilidade que mais somos reflexivos. E poucos momentos são capazes de
proporcionar reflexões tão profundas quando momentos fúnebres.
O
pregador chama a atenção para pensarmos acerca de nossa fragilidade. A
consciência da morte nos traz benefícios. Há algumas reflexões que todos por
força da ocasião poderão fazer em momentos fúnebres:
“Tudo caminha para um mesmo lugar: tudo vem do pó e tudo volta ao
pó” (3,20).
Está diante do fato da morte é ter a consciência da nossa igualdade enquanto
humanos: morre o rico, morre o pobre, morre o filósofo, morre o ignorante,
morre o famoso, morre o anônimo. A morte a todos nivela.
Diante
do fato da morte de outro refletimos que um dia também morreremos. A melhor
forma de viver segundo o pregador é refletirmos que devemos viver com a
consciência de nossa futura morte.
Pode
até ser dito que a morte confere sentido à vida. A certeza da morte quando
pensamos a respeito (coisa não comum) leva-nos a viver mais intensamente.
Intensamente não no sentido de entregue aos prazeres do pecado, mas de
aproveitar aqueles momentos que podem até ser singelos, mas que são tão
preciosos. É como disse o poeta argentino Jorge Luis Borges:
Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
Trataria
de cometer mais erros.
Não
tentaria ser tão perfeito, seria mais relaxado.
Seria
mais bobo do que fui;
Na
verdade encararia muito poucas coisas com seriedade.
Seria
menos higiênico,
correria
mais riscos,
faria
mais viagens,
contemplaria mais entardeceres,
subiria
mais montanhas, nadaria mais em rios.
Iria mais a lugares que nunca tivesse ido.
Comeria
mais sorvetes e menos verduras.
Teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui
dessas pessoas que viveu sensata
e
corretamente cada minuto de sua vida;
claro
que tive momentos de alegria.
Mas se
eu pudesse voltar atrás,
Procuraria
ter bons momentos.
Se não
sabem, disso é que é feita a vida,
Somente
de momentos. Não percam o agora.
Eu fui
uma dessas pessoas que nunca ia a parte alguma
sem
levar um termômetro, uma bolsa de água quente,
um
guarda chuva e um esparadrapo;
Se
pudesse voltar a viver,
viajaria
mais levianamente.
Se
pudesse voltar a viver,
começaria
a andar descalço no princípio da primavera
e
seguiria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na calçada,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com as crianças;
se
tivesse outra vez a vida pela frente ...
Mas já se vai, tenho 85 anos e estou morrendo.
Isto
não implica viver de modo egocêntrico. O pregador alerta em muitos momentos o
engano de estar sujeito a uma mentalidade de acúmulos de riquezas pela riqueza,
de curtir a vida desenfreadamente. A vida com intensidade aqui é viver com
simplicidade de acordo com os parâmetros divinos, viver a vida de forma
solidária, terna, e também comprometendo-se na luta por justiça social.
O
funeral e a casa de festa mostra-nos que estamos em mundo de prosperidade e
adversidade, um mundo no qual vivemos momentos de alegria e tristeza.
Aplicação
1.
Você que é cristão deve lembrar que preservar um nome na sociedade é um dever
porque o seu nome está abaixo do nome você carrega: o de Cristo. Se você causa
escândalo é o nome de Cristo que está escandalizando, se dá motivos de ser bem
lembrado é o nome de Cristo que estará sendo exaltado. Tiago diz em 2.7 que o
nome de Cristo foi invocado sobre nós. Somos o povo que carrega o nome do
Senhor. Paulo em seu contexto exorta os servos em 1 Tm 6.1 a serem obedientes
aos seus senhores unicamente para que o nome de Deus e a doutrina não sejam
blasfemados.
2. O
momento da morte é um instrumento de Deus para nos levar a refletir sobre a
vida. É interessante como as pessoas presentes em um funeral ficam atentas à
pregação do evangelho, tal reverência muitas vezes não ocorre em um casamento
por exemplo. O que é a morte para você? Para o cristão não deve ser algo
assustador. O apóstolo Paulo chega a dizer em Filipenses que o morrer é lucro
(ver Fp 1.21-22). Porque quando partirmos iremos nos encontrar com o Senhor,
que é incomparavelmente melhor do que qualquer alegria desse mundo. Mas
enquanto aqui estamos que possamos orar com o salmista: “Ensina-nos a contar os
nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12).
3.
Para o cristão a morte é uma bem-aventurança. Ap 14.13:
“Então, ouvi uma voz do céu dizendo: Escreve: Bem-aventurado os mortos que,
desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das sua
fadigas, pois as suas obras os acompanham”. A morte é o fim, não de
nossas vidas, mas de nossas dores, de nossas tristezas, de nossas fadigas, do
pecado em nós. Por meio do pecado veio a morte ao mundo, e por meio da morte o
pecado sai de nós. Por tudo isso que o salmista declara: “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte de seus santos”
(Salmo 116:15).
Conclusão
Você
sabe realmente o que é melhor para sua vida? Você um dia irá morrer, lembre-se
disso.
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