Introdução
1. A
dificuldade em interpretar Apocalipse
Sem dúvida o livro de Apocalipse é o
de maior dificuldade interpretativa de toda a Bíblia. Parece até que as pessoas
querem olhar para o texto interpretando-os imprimindo suas impressões no texto
ao invés de permitir que ele lhes fale de modo exegético. A dificuldade de
compreender apocalipse não está apenas no entendimento dos leigos, os próprios
eruditos do novo testamento divergem bastante quanto a muitos pontos. Muita coisa
então poderia ser colocada quanto a isto, no entanto, para resumir poderíamos
dizer que sua interpretação de Apocalipse se dará muito possivelmente a partir
da base que você tem do significado do que é ‘profecia’.
O escritor do Apocalipse baseia-se no
conceito vétero-testamentário de “profecia” para definir sua atividade. Nesse
sentido, profecia é:
• Uma
mensagem recebida diretamente de Deus. Essa era a principal característica
dos verdadeiros profetas em relação aos falsos (Jr 23,18-22). Eles entravam no
“conselho” do Senhor. Esse conselho é composto pela Trindade e os seres
celestiais que estão na presença de Deus e pode ser visto nas cenas dos
capítulos 4 e 5 do Apocalipse. É ali que João, como profeta, se encontra (4,1).
Portanto, o profeta é, fundamentalmente o que recebe “de Deus” sua mensagem.
Por isso, ela é importante e não pode ser alterada (22,18-19). Além de provir
de Deus, a profecia nos tempos neotestamentários é centralizada em Jesus
(19,10). O espírito, o centro da profecia é o “testemunho de Jesus”. Ela visa
fornecer uma mensagem sobre Jesus Cristo, e não “satisfazer” nossa curiosidade
quanto ao futuro.
• Uma
mensagem que aponta para a vinda final de Jesus Cristo. Ela segue aqui a
perspectiva pela qual o Velho Testamento era interpretado: cristologicamente,
isto é, vendo nele predições que apontavam para Jesus Cristo (Lc 24,44). O
Apocalipse segue essa linha apresentando uma visão “cristológica” da história,
afirmando que Jesus controla a história e indicando que os eventos relativos a
sua segunda vinda “estão próximos” (1,3). Na realidade, para o Novo Testamento,
desde que Jesus encarnou e ressuscitou, ele “já está chegando”. É por isso que
o escritor pode falar do julgamento sobre Roma como algo muito próximo. Porém o
livro não fala de acontecimentos “particulares”, mas de ações de Jesus que se
darão como conseqüência de sua segunda vinda.
• Uma
mensagem que chama ao arrependimento. Essa é uma das principais
características da profecia. Na realidade, ela é uma palavra que tem uma forte
ênfase no “presente”, no comportamento do povo. Para criticar a prática
pecaminosa, o profeta volta-se para o “passado” e encontra nele as orientações
de Deus dadas no Pentateuco (quando o profeta vive nesse período), ou nas
palavras de Jesus (quando o profeta é cristão). A partir daí faz advertências
para que se abandone a prática do pecado, pois se não houver arrependimento,
Deus irá punir tal comportamento no “futuro”. Portanto, a profecia fala do
futuro como conseqüência da vida do povo no presente. É nesse contexto que o
profeta fala às igrejas nos capítulos 2 e 3 chamando-as ao arrependimento e
advertindo-as quanto ao futuro (2,5.16. 21-23; 3,3). (Estudos no livro de
Apocalipse. Rev. João Cesário Leonel Ferreira).
Com essa perspectiva de profecia o autor de Apocalipse busca então
alertar com relação ao sofrimento que haveriam de passar buscando fortalecê-los,
animá-los diante das perseguições, incentivando-os a uma vida santa para a glória
de Deus.
2. O
sensacionalismo das atuais teorias
Recentemente tem havido uma nova
onde de alarde com relação a chamada marca da besta. As teorias que se levantam
assumem nova roupagem, mas não são novidades, no passado remoto muitos se alardaram
de que a marca da besta estivesse representada de outros modos como um perigo
iminente à igreja.
·
O código de barras. Pode parecer ridículo
para nós hoje, mas já houve uma época que alguns cristãos que quiseram
identificar o código de barras como sendo a marca da besta.
·
Cartão VISA.
Com
bastante imaginação as pessoas se esforçavam e conseguiam encontrar 666 no nome
VISA. Teóricos da conspiração logo se alardam falando de uma trama secreta para
controle da raça humana.
Há outros exemplos do passado que
nem merecem ser mencionados. Atualmente há muitos que querem identificar a
marca da besta com um chip a ser implanta na mão. Mas como começou tudo isso.
Começou a ideia norte americana do Governo Obama de um aparelho dispositivo
subcutâneo.
Esse mecanismo [...] consiste em um
transponder (um dispositivo de comunicação eletrônico) de rádio frequência para
identificação do paciente e de informação em saúde. A finalidade desse
dispositivo eletrônico que será implantado sob a pele das pessoas é a coleta de
dados médicos em pacientes tais como reinvidincações de dados, levantamento do
paciente, padronização de arquivos que permita a partilha e análise de dados de
ambientes de dados diferentes facilitando o uso dos registros de saúde
eletrônicos e quaisquer outros dados apropriados pelo secretário de
saúde. {...} Será então de fato um microchip implantado sob a pele e terá
a finalidade de controlar o que é ou não permitido em cuidados médicos no
território americano.
Contudo, vejamos o que a palavra de
Deus nos diz nesse texto a respeito desse assunto, e a despeito de nossa
criatividade para formular teorias devemos ficar com a interpretação correta a
aceitar a autoridade das Escrituras a esse respeito.
I – o Significado da primeira besta, v.
1-10.
A profecia relatada aqui por João
está baseada nos texto de Daniel 7.1-7. Ele toma elementos daquela profecia e
utiliza para se referir ao que estava acontecendo em sua época, e que de certo
modo também serve para todas as épocas, inclusive para o futuro. Mas o que de
fato ele diz não pode ser dissociado de Daniel 7.
Cada um dos animais representam
sucessivamente um império. O leão representa o império babilônico, o urso
representa o império medo-persa, esse foi sucedido pelo império
greco-macedônico, de Alexandre, o Grande, representado na visão pelo leopardo.
O quarto e último império é representado por um animal diferente de todos os
outros, parece não definido, e trata-se obviamente do império romano. João diz
ver um único animal (v.1), uma besta que reuni as características de todos
outros três mencionados por Daniel. Então as visões de Daniel tratam de
impérios, governos humanos; e a mesma coisa trata a visão de João, um império
ímpio por meio do qual poderia ser notável as características do anticristo, um
poder que opõe ao Cristo e Sua igreja. Então, quando João faz referência à
besta que emerge do mar estar a denunciar que a igreja estar sendo perseguida
pelo poder constituído do Estado, está a denunciar o poder político, militar,
econômico, a estrutura governamental como sendo instrumentalizada pelo dragão
(o diabo) para perseguir a igreja do Senhor.
Lembremos então que o líder desse
grande sistema mundial, que é anticristão em sua essência independentemente ser
é uma sociedade com governo totalitário como nos países comunistas ou com
governo democrático estão influenciados pelo líder de seus corações, Satanás.
A besta portanto, já veio e está em
atuação a muito tempo e sempre estará até Cristo retornar. Não se trata então
de uma profecia de algo ocorrerá no futuro.
Mas
no versículo 3 há uma indicação de algo que ainda irá acontecer. Essa cabeça
golpeada, ferida pode ser identificada como o Anticristo, aquele que será um
tipo de governante a serviço do diabo e será vitorioso até que o Senhor volte e
finalize seu poderio.
No v. 7 diz que foi dado a essa
besta o poder de pelejar sobre os santos e vencer. Quando isso aconteceu? Naqueles momentos em
que a igreja sofreu perseguição, alguns com bens confiscados, outros presos e
torturados, muitos mortos nas arenas romanas como mártires.
II – A reação da igreja diante da
primeira besta, v.10b.
A mensagem profética que se encontra
aqui é que devido a atuação da besta que emerge do mar, muitos sofrerão o espólio
de seus bens, ficarão mais pobres do que de fato já eram, no entanto, são
conclamados a permanecerem fieis em meio a tudo o que poderá ocorrer e que já
começava acontecer.
Permanecendo em fidelidade eles
vencerão a besta (Ap 15.2) que antes vencera-os (15.7); então cantarão o
cântico da vitória (15.3-4).
Sendo
a primeira besta um tipo de poder à uso do maligno, facilmente podemos concluir
que a segunda é um outro tipo de poder.
III – O significado da segunda besta, v.
11-18.
Como diz o versículo 11 a segunda
besta parece cordeiro, mas falava como dragão. É indicado com isso que em sua
aparência há semelhança de Deus, mas sua essência é maligna porque serve ao
dragão. Fica fácil de perceber que aqui está o poder religioso. As religiões
que prometem aproximar o homem de Deus, mas que na verdade comprometendo-os com
o engano os afasta mais ainda do Senhor. Contudo, não são os falsos profetas
externos à igreja do Senhor que mais deve nos preocupar, mas aquele que muitas
vezes está no meio dos que proferem ser verdadeiros cristãos.
Aqui é o alerta de João para que eles
se acautelassem dos falsos profetas. Ele diz que essa besta chega a fazer
sinais, até descer fogo do céu. Há aqui uma discussão se isso aconteceu
literalmente ou se tratava de um tipo de truque realizado por sacerdotes pagãos
daquela época que apregoavam o culto ao imperador romano. Independentemente da
resposta que tenhamos não será difícil a nós percebermos que muitos desses
supostos sinais de nossos dias nada tem a ver com o Senhor.
Lembremos que os falsos profetas
poderão falar de Jesus, falar algumas verdades até, mas a mentira, o engano, a
malignidade da intenção de seus corações sempre estarão também presentes.
Portanto, para identifica-los estejamos atentos à sua pregação, e rejeitemos
veementemente ao encontrarmos heresia.
Finalmente chegamos aos versículos
16 a 18. E qual a linguagem que João utiliza? Mais uma vez está baseado no
Antigo Testamento. Observem Dt 6.4-8: “Ouve,
ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. E
estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a
teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao
deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre seus olhos”.
[...] quando ele fala da Lei de Deus
na testa diante de nossos olhos, ele está falando figuradamente que devemos
amar a Deus “de todo o teu entendimento”. (Mt 22.37) E quando Deus fala de sua
Lei atada em nossa mão, ele está falando figuradamente do dever de amá-lo “de
todas as tuas forças”. (Dt 6.5)
Esse é o pano de fundo para a visão
da marca da besta. Os servos da besta não tem a Lei de Deus atada na testa
(mente) ou na mão (força). Eles não prestam obediência a Deus e sim a besta. O
objetivo do Apocalipse não era alertar sobre um chip que só viria séculos depois. Era alertar sobre o perigo de prestar obediência e culto aos
imperadores de Roma. Era alertar sobre o perigo de substituir os mandamentos de
Jesus Cristo pelos mandamentos de deuses pagãos. Quando João mandou seus
destinatários não fossem marcados pela besta, isso realmente era uma
possibilidade a eles. Não seria possível somente para nós mais de dois mil anos
depois, mas era algo para aqueles que estavam sendo perseguidos e caçados por
Roma. Aqueles que se recusavam a adorar Nero eram brutalmente perseguidos. Não
podiam levar suas vidas normalmente. Não podiam comprar ou vender. Perdiam a
casa, a família, os bens, a honra e até a própria vida.
E quanto ao número da besta? 666 é
realmente um número demoníaco? Acredito que às vezes as pessoas dão demasiada
importância a isso, engenhosamente veem 666 em muitas coisas.
João diz: “Aqui está a sabedoria,
aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem”.
Ele diz isso porque estava fazendo uma denúncia e para evitar falar abertamente
do imperador usa um código que era compreensível aos cristãos. Ele usa o que se
chama de GEMATRIA, que aplicar a cada letra um número que lhe corresponde, ele
então faz a soma de determinadas letras de uma palavra. Essa palavra pode ter
sido NERO CÉZAR, que no grego é “Neron
Kaisar”, transliterado para o hebraico, as letras que corresponde no
hebraico somadas os números que elas representam é igual a 666. O mesmo é
válido para “imperador Domiciano”,
que reinava na época Apocalipse foi escrito e que era um perseguidor tão
ferrenho do cristianismo quanto foi Nero.
IV – A reação da igreja diante da
segunda besta.
Lembremos que nós também somos
marcados, marcados pelo Senhor. Nós temos nossos nomes escritos no Livro da
Vida não temos a marca da besta (v.8), contudo precisamos provar isso, viver de
acordo com essa verdade. Fronte, testa, conforme Dt 6.4-6 traz a ideia de
intelecto, vontade, centro dos nossos desejos e intenções; e desse modo devemos
viver: não nos conformando com esse século, mas nos transformando pela
renovação da nossa mente (cf. Rm 12.2). E mãos, que aponta para trabalho,
ações, para tudo aquilo que devemos e podemos fazer para expansão do reino de
Deus. Então que tudo o que você pensa e faz esteja escravizado aos interesses
do Senhor.
Conclusão
Cuidado meus irmãos com
sensacionalismo antibíblico, cuidado com interpretações sem rigor exegético,
cuidado mensagens de muitos cristãos que até não mal intencionados, mas não
estão entendo o que de fato as escrituras revelam. Se a marca da besta fosse
apenas um chip não seria difícil de evitar. Devemos crer apenas o que a Palavra
de Deus nos autoriza a crer. Não permita que uma desnecessária preocupação esse
respeito tire o foco da marca de Cristo em você. O fim virá, o que há de ser
será, apenas esteja em fidelidade ao Senhor e não se engane com bobagens.
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