Este era um salmo para ser cantado,
como é dito no título original foi dedicado ao mestre de canto. Um salmo
escrito por Davi escrito quando teve seu trono usurpado pelo seu filho Absalão.
Foi época de sua vida que Davi demonstrou muita sensatez, pois juntamente com
seus partidários fugiu de Jerusalém para evitar uma guerra um derramamento de
sangue. Ao mesmo tempo foi uma época de grande dor, de grande angústia em sua
alma. Os salmos 3 a 7 relatam o que estava se passando com Davi em todo aquele
contexto. De certo modo parece um diário, pois vai mostrando as variações de
sentimentos vivenciados por Davi. Já vimos que no Salmo 3 ele demonstra
bastante confiança no Senhor em meio àquela adversidade, inclusive chega a
dizer que conseguia dormir bem. Ele vivenciou emoções muito fortes, mas toda
aquela dor, aqueles sentimentos conflituosos por ter um filho que lhe traiu não
o afastou do Senhor. No Salmo 4 ele declara alimentar sentimentos que reforçavam
sua paz interior como a confiança no seu Deus, a esperança de que o Senhor por
fim o salvaria e a alegria de pertencer ao Senhor. No entanto, no Salmo 5 ele
tem momentaneamente sua paz abalada, mas ao mesmo tempo expõe sua reação. Ele
continua perseverando em oração, relembra o que já aprendeu do Senhor, também
que somos pecadores dependentes de sua misericórdia, ora pedindo para ser
guiado a vida justa diante do Senhor e por fim declara que o Senhor protege os
que lhe pertencem.
E neste Salmo 6 Davi agora parece
ter chegado ao limite. Ele está em uma situação limite, ele percebe que o
problema está cada vez pior. O que fazer então. E é sobre isto que queremos
refletir baseados neste salmo.
I - DAVI EXPÕE SEU SOFRIMENTO AO SENHOR,
V. 1-7.
Em tudo o que está passando roga ao
Senhor, e o faz de uma forma muito humilde. Ele sabe aqui que tudo o que está
vivendo é cumprimento da justiça divina na sua vida. O Senhor havia lhe falado
por meio do profeta Natã, após ele pecar terrivelmente adulterando com Bateseba
e tramando a morte de Urias para encobrir seu pecado. A profecia de Natã era
que não se afastaria a espada de sua casa, e aquilo que ele fez em oculto lhe
fariam publicamente (2 Sm 12.9-12), e esta profecia se cumpre literalmente
quando Absalão, seguindo o conselho de Aitofel, tem relações sexuais com as
concubinas de Davi diante de todo o Israel (2 Sm 16.20-23). Portanto, Davi sabe
que merece todo aquele sofrimento. Mas, pede ao Senhor que ele não exerça sua
justiça de forma muito pesada: “não me
repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor”, ele diz.
É raro alguém ter esse
reconhecimento sincero de que pode estar sendo castigado pelo Senhor.
Normalmente as pessoas centralizam a percepção de sua dor na vilania dos
outros, os outros são os culpados, e não admitem que pode ser a justa ação da
ira divina. O que fazer quando chegamos a uma situação limite? Devemos ter a
humildade de reconhecer que merecemos o que estamos passando.
No v. 2 e 3 notamos que há nele um
senso de pecado. As expressões utilizadas podem indicar uma enfermidade física,
mas com certeza vai além disto. Seu orgulho havia sido espoliado pelo pecado, e
ele agora expressa o quanto se sente fraco. E quantos de nós também à vezes não
nos sentimos assim? Se nos deixamos levar pelo pecado também nos sentimos
abalados, sucumbindo. Mas que tenhamos esta sensibilidade de clamar ao Senhor,
que tenhamos este igual senso de pecado que havia em Davi.
Aprendemos então com Davi que em uma
situação limite em nossas vidas devemos ser humildes, e assim como ele
clamarmos: Tem compaixão de mim Senhor. Talvez às vezes não consigamos enxergar
nosso pecado, mas partamos do princípio que pecamos, e clamemos pelas
misericórdias do Senhor, contemos com sua graça.
Mas também Davi expressa seus
sentimentos com muita sinceridade, ele pergunta ao Senhor: “mas tu SENHOR até quando?” E então no v.
4 Davi clama pela salvação de toda aquela situação. E no v. 5 temos uma
declaração de Davi que traz uma dificuldade teológica para alguns. O v. 5
necessita de ser compreendido corretamente para que não se der margem a nenhuma
heresia. Não pode ser separado de seu contexto. Davi pergunta até quando irá
aquela situação ao Deus da aliança, por isso usa o nome YAVÉ. É como se ele
estivesse dizendo: foste tu que me chamaste de pastoril de ovelhas para ser
rei, e agora, até quando vai essa situação, como fica a tua glória? O que Davi
declara no v. 5 é que ele estar à beira da morte, Absalão quer mata-lo, ele
está enfermo. E a aliança que o Senhor fez com ele? Ele dialoga com o Senhor
trazendo à memória que se ele morrer o Senhor não estaria sendo glorificado.
Para nós fica a lição do dever de louvarmos à Deus enquanto vivemos, pois com a
morte ocorre a impossibilidade nesta existência de qualquer serviço ao Senhor.
Quanto à questão propriamente dita
acerca da eternidade, entendo que Davi não tinha a compreensão que temos, pois
a revelação é progressiva, e os crentes a partir do Novo Testamento podem saber
de forma segura que após a morte partimos para a presença do Senhor, Davi
acreditava na ressurreição como é declarado no Salmo 16: “Pois não deixará a minha alma na morte”, mas o mais provável é que
pensava em um sono da alma para posteriormente haver a ressurreição.
Enquanto ele vivia a preocupação
dele era a glória de Deus, era que o Deus da aliança fosse exaltado no cumprimento
de suas promessas. O senhor havia lhe prometido que seu filho se assentaria no
seu trono, esse filho não poderia ser Absalão, tinha de ser Salomão.
Essa também deve ser nossa
preocupação. Que possamos desabafar diante do Senhor, mas não com a preocupação
egocêntrica de nossas conquistas humanas, mas sim como desejo de vê-lo
glorificado.
Nos vs. 6 e 7 Davi relato da
qualidade e profundidade de seu choro. Há momentos na vida que não há nada que
possa ser feito a não ser chorar. Penso que Davi não estava chorando porque
perdeu uma coroa, chorava porque perdeu um filho. Era um pai chorando por seu
filho. Quando seu exército finalmente partiu para a reação contra Absalão ele
chega a pedir aos seus generais que fossem misericordiosos com Absalão. O seu
filho o queria morto, mas ele reage com um sentimento natural de um pai.
Nada há de errado em derramarmos
nossas lágrimas, podemos e em muitos momentos devemos, pois é uma necessidade
psicológica, mas de modo a sempre lembrar que o Senhor mesmo fará cessar o
choro: “Porque não passa de um momento a
sua ira; o seu favor dura a vida inteira. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a
alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). E Lembremos que Jesus disse: “Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados” (Mt 5.4).
Você tem chorado? Você que é pai,
tem chorado pelos seus filhos, especialmente quando eles estão dessagrando ao
Senhor?
E agora a partir do v. 8 o tom da
canção vai mudar.
II – DAVI AGORA EXPÕE A SUA VITÓRIA NO
SENHOR, V. 8-10.
Ocorre algo maravilhoso, no v. 8,
ele declara que o Senhor ouviu a voz de seu lamento. Sente-se, portanto, perdoado.
E assim deve ser o proceder de um pecador perdoado, apartar-se dos que praticam
a iniquidade, demonstrar frutos de seu arrependimento.
Que expressão maravilhosa de firme
confiança no Senhor Davi demonstra no v. 9. Sim irmãos, assim como ocorreu com
ele, o Senhor acolhe a nossa oração, nos houve em nossas aflições e nos perdoa
os pecados, devemos lembrar sempre disso, para que nos sirva de incentivo nas
futuras batalhas a serem travadas.
Tudo mudou agora para Davi. Absalão
continuava lá fora, seus inimigos cantavam a vitória. Mas a mudança é interior,
é espiritual, é algo místico. É aquilo que acontece somente com crente que se
humilha diante do Senhor, que ora com toda a profundidade do seu ser e que o
Senhor acolhe a sua oração e faz com que tudo mude, não fora dele, mas dentro,
em sua alma.
V. 10 Spurgeon comenta que:
Isto é mais uma profecia do
que uma imprecação, ela pode ser lida no futuro. “Todos os meus inimigos serão
envergonhados e sobremodo perturbados.” Eles se retirarão, de súbito, cobertos
de vexame, – num momento – sua maldição virá sobre eles repentinamente. [...]Se
isto fosse uma imprecação, nós deveríamos lembrar que a linguagem da antiga
dispensação não é a mesma da Nova. Nós oramos por nossos inimigos, não contra
eles. Deus tenha misericórdia deles, e traga-os para o caminho reto. (Spurgeon)
Conclusão
O que fazer em situações limites?
a) Humilhe-se! Não pense que está sendo
alvo de algum tipo de injúria, que é coitadinho, mas entenda que o Senhor pode
estar te disciplinando. Ou então pode ser provação, mais motivo para se humilhar
e orar.
b) Desabafe diante de Deus! Até quando
Senhor? Não é errado horar dessa forma, desde que você esteja pensando no
cumprimento das promessas divinas, nas promessas que Cristo fez à sua igreja,
promessas de santificá-la, de purificá-la e levá-la como noiva adornada para
si. Ele prometeu que nada nos separará do seu amor. Ou seja, desde que o “até
quando” seja “lembrar” o Deus da aliança de glorificar o Seu nome.
c) Confie no Senhor! Espere pela solução
final. E ela começa em nós sendo cheios do Espírito Santo, nos elevando então a
uma maior confiança no Senhor, sabendo que Ele houve a nossa oração.
0 Comentários