Marcos 8.34-38
Introdução: Com as palavras deste texto Jesus
tenciona corrigir noções erradas dos discípulos quanto à natureza de seu reino.
Era necessário que eles compreendessem a sua posição no reino, ou seja, o
significado de ser discípulo. É um texto que fala à igreja do Senhor em todos
os momentos em todas as épocas. Deve ser alvo de nossa reflexão constante.
I – SER DISCÍPULO
SIGNIFICA VIVER EM AUTONEGAÇÃO, v. 34, 35.
Se alguém
quer vir após mim. Com
Jesus, no que diz respeito à vontade humana (levando em conta a
responsabilidade humana ao chamado de Cristo) também é possível não querer,
como mostrará 10.23 onde ele menciona o quão é difícil entrar no reino de Deus
os que têm riquezas, nisto exemplificando o quanto o dinheiro torna-se o centro
da vida da pessoa. No entanto, se alguém tomou sua decisão, ele está submisso à
regra básica: a si mesmo se negue. Também para quem seguia um rabino
judeu era necessário submeter-se e dominar-se. Os anos de aprendizado nunca
foram tempos de senhorio. Ao mesmo tempo, porém, o discípulo estava construindo
sua carreira, até um dia ser promovido ele mesmo a rabino. É isto que Jesus não
está prometendo. Com honestidade total ele diz aos seus discípulos que Deus não
pode ser usado como desculpa para impor interesses próprios. Pelo contrário,
Jesus reafirma o primeiro mandamento: nada de deuses paralelos, nada de
intenções paralelas! Triunfam as três primeiras petições do Pai-nosso: “santificado seja o teu nome”, "venha o
teu Reino” e “faça-se a tua vontade”
(cf. Mt 6.9, 10). Glorificar o nome de Deus, colocar em sua vida Seu reino e a Sua
vontade devem ser as prioridades na vida do discípulo. De outra forma não se
pode seguir a Jesus. Mais uma vez também fica claro que esta renúncia à
supremacia pessoal não equivale à aniquilação pessoal, como a ascese pagã a tem
em vista. O discípulo não se deve fazer desaparecer, mas servir. Deus, por meio
de Jesus, o trouxe para tão perto, que ficou longe de si mesmo e pode perder-se
de vista de modo muito surpreendente, conforme Mt 6.3: “Tu, porém, ao dares esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua
mão direita”.
Portanto o chamado ao discipulado implica renúncia, implica saber que
será perseguido, assim como Ele vivenciaria a perseguição e seria morto, os
discípulos desde aquele momento deveriam saber que segui-lo significava a
possibilidade da morte (v. 35). O negar a si mesmo então é viver essa
possibilidade. Mas, além disto, pode se englobado quaisquer razões que estejam
impedindo uma vida no discipulado com o Senhor. Podemos citar: apego às
riquezas e bens (Mc 10.21s. 28; 8.36s.!), apego à família e seus laços (Mt
10.37s – Jesus afirma que o amor a ele deve sobrepujar o amor aos nossos
familiares.; Lc 9.60 – Jesus põe à prova os que querem segui-lo mostrando a
urgência de servi-lo, “deixa aos mortos
sepultar os seus próprios mortos. Tu porém, vai e prega o Reino de Deus.”),
prática de um domínio e poder opressores (Mc 10.41-45), defesa de uma sabedoria
mundana (Mt 11.25s.; l Co 1.19-24; 2.1 ss.), etc. Isto significa que o negar a
si mesmo implica colocar em segundo plano tudo aquilo que tem sido a prioridade
existencial de nossas vidas, Jesus passa a ser o centro, a razão da existência
do discípulo. Implica também o abandono do pecado em todas as suas formas. Não
há discipulado sem negação, sem rejeição ao pecado.
A autonegação, portanto não é viver algum tipo de automartirização, não
é também negação da sua personalidade, porque quando alguém se propõe a isso nesse
ato a pessoa não percebe, mas está colocando sua própria vontade acima da
dependência de Deus. Discipulado consiste em conhecer apenas a Cristo, em olhar
apenas para Cristo. É deixar que Cristo viva em nós (Gl 2.20), é considerar como
refugo tudo o que abandonamos neste mundo para termos um tesouro muito maior,
Cristo: “Sim, deveras considero tudo como
perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar
a Cristo...” (Fp 3.8).
Tome a sua cruz. Na época de Jesus esta
expressão figurada era compreensível de imediato a qualquer pessoa, pois todos
podiam contemplar livremente as peculiaridades da pena da crucificação.
Diferente de outras formas de execução, a crucificação era aplicada quando se
queria tirar de um criminoso não só a vida, mas também a sua honra, quando se
queria expô-lo ao desprezo absoluto e à aniquilação moral. Esta era a intenção
também com o próprio Jesus: “Era necessário que […] sofresse muitas coisas e
fosse rejeitado” (v. 31). Tanto para os judeus como para os romanos a morte na
cruz era uma morte vergonhosa, que equivalia à excomunhão. Deste modo, a carta
aos Hebreus liga à crucificação de Jesus expressões como “expondo-o à
ignomínia” (6.6), “o opróbrio de Cristo” (11.26), “não fazendo caso da
ignomínia” (12.2), “sofreu fora da porta” (13.12) e “levando o seu vitupério”
(13.13).
O
escárnio, porém, não principiava somente na cruz (15.29,31), mas já desabava
sobre a cabeça do condenado assim que colocava o pé na rua, com a viga
transversal sobre os ombros, diante da populaça que uivava. Ele já podia ser
considerado morto e, enquanto cambaleava sob o peso da viga pelo corredor
polonês da multidão, qualquer pessoa podia castigá-lo com um golpe ou um
pontapé, cuspir ou jogar sujeira nele ou amaldiçoá-lo (Jeremias, Theologie, p
232). Desde o instante do anúncio da pena no interior do prédio do tribunal ele
era um fora-da-lei (14.65; 15.16-19). Por isso a “cruz” não é simplesmente uma
desventura física, nem um sofrimento interior qualquer, já que há sofrimentos
honrosos. “Tomar a cruz sobre si” é, acima de tudo, concordar com o sofrimento,
que nos isola, faz as pessoas balançarem a cabeça quando nos vêem e, no fundo,
faz com que ninguém, além de Jesus, nos entenda direito. Neste sentido não
existe “cruz” em série, porém para cada discípulo há a sua cruz, que
ninguém conhece igual. Por último, ela tem também a marca da permanência. Jesus
não está tratando aqui de uma experiência isolada, tal como o fim da vida com
martírio, mas do discípulo que está a caminho, “dia a dia” tomando sobre si a
sua cruz, como esclarece o texto paralelo em Lc 9.23. Paulo reafirmou este
processo de “conformar-se com ele na sua morte” (Fp 3.10). Ele sabia que não se
pode ter Jesus no coração sem carregar uma cruz nas costas. (POHL, 1998).
Com muita
frequência as pessoas associam os sofrimentos cotidianos como uma cruz que está
levando, mas este não é o sentido de “tomar sua cruz”. Tomar sua cruz implica
sim sofrimento, mas sofrimento que advém da perseguição por conta de sua
confissão de Cristo, pelo fato de pertencermos a Cristo e não por qualquer
outra razão.
Evangelho é
isso, vida com Deus é isso, mas lembremos o quando tudo isso é maravilhoso. A
cruz que temos de carregar nesta vida é apenas por alguns anos, a glória no
final de nossa caminhada é para toda a eternidade.
Quem quiser,
pois, salvar a sua vida. Todas as pessoas querem salvar sua vida, garanti-la, segurá-la,
saboreá-la, e muitas vezes conseguem o contrário. Exagerando a busca da
alegria, correndo absortos atrás da felicidade, eles a espantam. Há a
possibilidade de no discipulado o discípulo vivenciar medo existencial. A razão
para isto pode ser tirada da segunda metade do versículo: “quem perder a vida
por causa de mim e do evangelho salvá-la-á”. Sua fidelidade a Jesus, que se
torna concreta na proclamação do evangelho pode acarretar perigo para ele. O
texto revela a possibilidade do discípulo querer voltar atrás diante das
dificuldades da vida cristã. Todavia, o discípulo que tomar sua vida nas
próprias mãos perdê-la-á. Naturalmente pode-se viver sem ser discípulo –
ao que parece até de modo na ótica humana feliz e tranquilamente. Mas será que
isto ainda é “vida” para um discípulo? Jesus aqui introduz um novo conceito de
vida para aquele que se encontra amedrontado possa refletir: a vida que não é
vivida em Deus, com Deus e para Deus não atinge o alvo máximo da existência
humana, que é glorificar a Deus. A existência separada de Jesus, do seu
evangelho e sua igreja é algo árido. Nosso maior tesouro como canta o salmista Asafe
no Salmo 73.25, 26: “Quem mais tenho eu
no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e
o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança
para sempre.”
Jesus,
portanto, está afirmando que não importam quais sejam os resultados daquilo que
sofremos pelo evangelho, a verdadeira vida está em Cristo, independentemente do
quanto sofro neste mundo.
II – SER DISCÍPULO SIGNIFICA ENTENDER
O VALOR DA ALMA HUMANA, v. 36, 37.
Os
vv. 36-37 podem ser compreendidos como um dos possíveis impedimentos do
negar-se a si mesmo, ao qual Jesus conclama no v. 34. A linguagem
preponderantemente econômica destes versículos mostra que a economia, ou, nas
palavras de Jesus, o desejo de acúmulo ilimitado (= ganhar o mundo inteiro),
pode constituir-se em fator decisivo para impedir o discipulado. A riqueza é
enganosa. Ela sugere um poder ilimitado para comprar, corromper e negociar
praticamente tudo. No entanto, é impotente frente à saúde e à morte (SI 49):
não há dinheiro que compre a vida; não há dinheiro que salve a alma, ou seja,
que assegure a vida na eternidade.
Vivemos em uma
sociedade altamente capitalista, onde o ter vale mais do que o ser. As pessoas
imaginam tolamente que serão mais felizes à medida que crescem financeiramente.
Esta ideia é reproduzida frequentemente em nossa sociedade, inclusive nas
expressões culturais. Há um filme que vende bem essa mensagem: “À procura de felicidade”. Onde Hollywood
apregoa que ser feliz é meramente ter um bom emprego, ter dinheiro, como se
isso satisfizesse o vazio existencial humano.
Mas o triste
não é ver que o mundo consuma essa mensagem materialista, mas que ela está presente
também em muitas igrejas, disfarçada sob bênção de Deus.
Não estamos
afirmando que o dinheiro não possa contribuir para o bem-estar, mas que a vida
humana é muito mais do que aquilo que podemos adquirir materialmente. Em Cristo
o que deve ser priorizado em nossas vidas é o que somos não o que temos.
Quanto a
isto Paulo é bastante enfático quando escreve na primeira epístola enviada a
Timóteo: “Mas os que querem ser ricos
caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que
submergem os homens na perdição e ruína.” (1 Timóteo 6:9). E ainda: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam
altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que
abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos;
Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.” (1 Timóteo 6:17-19). Infelizmente muitos supostos cristãos hoje desprezam totalmente essas palavras de Paulo à Timóteo.
Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.” (1 Timóteo 6:17-19). Infelizmente muitos supostos cristãos hoje desprezam totalmente essas palavras de Paulo à Timóteo.
Seguir a
Cristo, amar a Deus, viver o evangelho tem portanto essa implicação de que o
espiritual sobrepuja em importância o material e que deve-se então atentar para
se afastar de tudo o que esteja entre o discípulo e seu Senhor.
III – SER DISCÍPULO SIGNIFICA VIVER A
CORAGEM DE SER CRISTÃO, v. 38.
Os
discípulos e as discípulas são conclamados a dar o testemunho em meio a uma “geração
adúltera e pecadora''. O adultério neste caso é, provavelmente, de cunho
religioso (cf. Os 2.4ss.; Ez 16.32ss.) e caracteriza uma geração afastada e
infiel a Deus; por ser pecadora, pensa e age de maneira contrária à Sua
vontade.
Em
meio a esse tipo de geração há o perigo da vergonha em relação a Jesus e suas
palavras.
O
ensino e mandamentos do Senhor nunca foram populares no sentido de aceitação.
Suas palavras são conhecidas até certo ponto e muito frequentemente tiradas de
seu sentido real. O evangelho para o mundo é loucura e aqueles que vivem o evangelho
em sua pureza estarão incorrendo na possibilidade de serem ridicularizados.
Portanto, somos desafiados a que em toda e qualquer circunstância fazer Cristo
notório em nossas vidas onde que quer que estejamos. Se isto não acontecer, se
não estiver claro o nosso compromisso com Cristo e Sua verdade para todos com
quem nos relacionamos socialmente então estaremos nos envergonhando dEle.
Que todos
possamos juntamente com o apóstolo Paulo dizer: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do
grego.” (Rm 1.16)
Aplicações: 1. Nosso cristianismo tem
verdadeiramente o selo dos céus? Ele implica alguma cruz? Toda comunidade
cristã deve parar e pensar sobre isso. Vivemos em dias em que as pessoas querem
muitas bênçãos de Deus, e esquecem que evangelho é levar a cruz e que levar a
cruz é bênção de Deus. Evangelho sem a cruz não é verdadeiro evangelho.
2. Se você ainda não disse sim ao chamado para o discipulado
com Jesus, lembre-se que esse chamado é para você também. Mas não se trata de
um chamado a uma religiosidade medíocre, mas sim pra um discipulado (imitação da vida de
Cristo) que implica autonegação. Algo difícil, mas necessário. Pela sua própria
capacidade você não conseguirá, mas peça ao Senhor que o ajude a renunciar ao
pecado ou mesmo algo que em si não seja pecado, mas que você tem priorizado
este algo ou alguém acima de Cristo, tornando essa relação algo pecaminoso. Você é convidado a uma nova vida.
3. Você sabe qual o valor da sua alma. Jesus morreu na cruz
para viabilizar a salvação para você. Isto dinheiro nenhum neste mundo pode
pagar.
4. E você meu irmão, minha irmã: lembre-se que o materialismo
é incompatível com o evangelho. Do dinheiro devemos servir-nos, não sermos
servos dele.
5. Não permita que o diabo faça você se envergonhar do
evangelho. Jovens, pode ser que no seu cotidiano, trabalho, escola, faculdade
ou lazer com seus colegas e conhecidos, você tenha se deixado influenciar ou
esconder no que crer, tudo para serem reconhecidos e vistos em algumas
situações que acontecem. O diabo com toda sua maldade aparece com intuito de
deixá-lo (a) constrangido (a) e assim fazê-lo (a) ocultar sua fé em DEUS.
Esteja alerta e jamais se envergonhe do evangelho.
Conclusão: Que possamos jubilosamente cantar este hino da
harpa Cristã de nº 291, A MENSAGEM DA CRUZ:
Rude cruz se erigiu,
Dela o dia fugiu,
Como emblema de vergonha e dor;
Mas contemplo esta cruz.
Porque nela Jesus
Deu a vida por mim, pecador.
Dela o dia fugiu,
Como emblema de vergonha e dor;
Mas contemplo esta cruz.
Porque nela Jesus
Deu a vida por mim, pecador.
Sim, eu amo a mensagem da cruz
Té morrer eu a vou proclamar;
Levarei eu também minha cruz
Té por uma coroa trocar.
Té morrer eu a vou proclamar;
Levarei eu também minha cruz
Té por uma coroa trocar.
2
Desde a glória dos céus,
O Cordeiro de Deus,
Ao Calvário humilhante baixou;
Essa cruz tem pra mim
Atrativos sem fim,
Porque nela Jesus me salvou.
Desde a glória dos céus,
O Cordeiro de Deus,
Ao Calvário humilhante baixou;
Essa cruz tem pra mim
Atrativos sem fim,
Porque nela Jesus me salvou.
3
Nesta cruz padeceu
E por mim já morreu,
Meu Jesus, para dar-me o perdão
E eu me alegro na cruz,
Dela vem graça e luz,
Para minha santificação.
Nesta cruz padeceu
E por mim já morreu,
Meu Jesus, para dar-me o perdão
E eu me alegro na cruz,
Dela vem graça e luz,
Para minha santificação.
4
Eu aqui com Jesus,
A vergonha da cruz
Quero sempre levar e sofrer;
Cristo vem me buscar,
E com Ele, no lar,
Uma parte da glória hei de ter.
Eu aqui com Jesus,
A vergonha da cruz
Quero sempre levar e sofrer;
Cristo vem me buscar,
E com Ele, no lar,
Uma parte da glória hei de ter.
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