Malaquias 2.1-9 - O castigo dos sacerdotes, um castigo para o povo


Introdução

           Não há um consenso sobre a época exata da vida de Malaquias. Sua época é fixada em 450 a 400 a. C., depois de Esdras e Neemias.
           No ano 538 uma parte do povo judeu cativo voltara a sua terra sob a liderança de Ageu e Zacarias e reedificaram o Templo entre 520 a 516 a. C. Esdras viera da Babilônia a Jerusalém para ajudar na reconstrução da nação e depois em 445 Neemias reconstruiu os muros de Jerusalém.
           No tempo de Malaquias já fazia 100 anos que a primeira leva de judeus haviam voltada da Babilônia. Já não eram mais idólatras, vivenciaram uma época de fervor espiritual, mas então entraram em decadência, pois negligenciavam a casa do Senhor. Os sacerdotes encontravam-se corruptos, relaxados, os sacrifícios eram de péssima qualidade, os dízimos eram negligenciados, estavam ocorrendo casamentos mistos com pessoas de povos idólatras etc.
           Era esse o estado de coisas de um povo que aguardava a vinda do messias prometido. Malaquias assegurou-lhes que o Messias viria, mas isso significaria juízo para eles. A última mensagem do Antigo Testamento é dirigida aqui a uma nação desobediente.
           O nosso texto prossegue com uma palavra condenatória aos sacerdotes e que deve levar todo o povo a refletir.



I – Maldição, retribuição divina da desobediência, v.1-3; Dt 28.15.

           Não há neutralidade aqui, ou os sacerdotes estariam sendo abençoados ao dar ouvidos à Palavra de repreensão que lhes era dirigida, ou seriam amaldiçoados caso não dessem ouvidos e não honrassem o nome do Senhor. Ou eles estariam sendo uma bênção para o povo, ou estariam sendo uma maldição. A palavra ‘maldição’ tem o sentido de castigo divino, de ação divina contra os sacerdotes. O castigo seria tal que mesmo quando eles levantassem a mão para abençoar o povo com a bênção sacerdotal de Nm 6.24-26, em vez de bênção o povo estaria recebendo maldição. É este o sentido de “amaldiçoarei as vossas bênçãos”. Os sacerdotes estão recebendo essa sentença incorrigível porque haviam se desviado de seu dever sagrado de instruir o povo do Senhor.
           De igual modo em nossos dias nenhum líder, e porque não dizer nenhum cristão pode acreditar que se encontra em uma neutralidade. Ou você estará sendo bênção na igreja do Senhor ou estará sendo motivo de atrair a maldição divina. Aqueles sacerdotes contra quem Malaquias impugna a Palavra do Senhor eram culpados de subtrair a Palavra, não ensinavam ao povo como deveriam, não davam ouvidos à voz do Senhor. Infelizmente também em nossos dias encontramos exemplos igualmente horríveis. Líderes que não valorizam a Palavra de Deus. Há literalmente igrejas que desencorajam os pastores a estudar as Escrituras como que atribuindo carnalidade ao ato do estudo. E por conta disso ocorre o que profetizou Oséias: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento…” (Os 4:6). Se o líder despreza a Palavra de Deus não estará sendo instrumento de bênção para o povo, ainda que esse povo se sinta empolgado com ele. Se despreza a Palavra como poderia dar honra ao nome do Senhor. Honrar significa “dar peso, considerar como importante”.
           Como consequência desse procedimento errado dos líderes temos:
a) uma descendência reprovada (v.3).
           A palavra “descendência no original hebraico tem o sentido de “semente”. A ideia aqui pode ser dupla. A palavra pode ser interpretada como um juízo divino de que reprovaria suas colheitas, então com a escacês o dízimo a ser recolhido seria prejudicado, o que atingiria o sustento dos sacerdotes. A outra aplicação é que haveria uma drástica diminuição na taxa de natalidade. Uma diminuição contínua de pessoas e colheitas era o juízo de Deus.
b) uma liderança desonrada (v.3).
           “… atirarei excremento aos vossos rostos, excremento dos vossos sacrifícios”.     Desonraram a Deus, agora receberiam a devida paga. Atirar algo no rosto de alguém era uma ofensa muito grave. Era assim que o Senhor então iria trata-los.
c) uma liderança rejeitada (v3).
          “… e para junto deste sereis levados”. O excremento dos sacrifícios devia ser levado para FORA do arraial e queimado (Ex 29:14; Lv 4:11). Os sacerdotes por haverem rejeitado o Senhor seriam também por Ele rejeitados, tirados de seu lugar sacerdotal.
d) uma liderança que só atenta para Deus quando é tarde demais (v.4).
           “Então sabereis que eu vos enviei este mandamento…”. Há muitos que continuarão em sua iniquidade até serem envergonhados em público.


II – Obediência, característica do povo da Aliança, v. 4-6.

           O Senhor houvera escolhido o povo de hebreu como seu povo e com ele estabelecera uma aliança de ser o seu Deus e por meio deles trazer a este mundo o salvador. Dentre a nação israelita o Senhor escolheu a tribo de Levi para que dessa tribo fosse consagrado os sacerdotes responsáveis pelo culto ao Senhor e pelo cuidado do santuário, primeiramente o Tabernáculo, quando o povo era peregrino no deserto, e depois o Templo, na época dos reis, construído por Salomão.
           A obediência, a fidelidade deveria ser algo característico do povo de Deus. E os levitas eram responsáveis por ensinar ao povo a viver para o Senhor bem como lhe prestar o devido culto. O texto nos diz que foi uma aliança de vida e de paz, e que de fato, por algum momento os levitas temeram e tremeram diante do Senhor. “…com efeito ele me temeu, e tremeu por causa do meu nome… andou comigo em paz e em retidão”. E isso era mais importante do qualquer coisa que eles poderiam fazer como responsáveis pela guarda do Templo, o que era de fato muito serviço. A preciosa lição pra nós aqui é que é muito mais valioso aquilo que somos do que aquilo que fazemos para Deus. Andar com Deus é mais importante do que trabalhar para Deus.
           Busque servir ao Senhor, há espaço na igreja local para todos que queiram trabalhar: evangelize, cante, ensine, participe de alguma obra social da igreja etc, mas nunca esqueça sua própria vida diante de Cristo, nunca negligencie sua comunhão com ele. O Pr. Josemar Bessa fez a seguinte afirmação: “se sua vida pública excede a sua vida privada, você está em sérios apuros”.
           No versículo 6 é dito que: “A verdadeira instrução esteve em sua boca”. Houve sacerdotes fiéis, que ensinaram a Palavra corretamente, que falaram de Deus ao povo. Lembremos que há uma conexão entre o que o homem fala e o que ele é: “Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração fala a verdade...” (Sl 15.1, 2). “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração (Mt 12.33-34).
           Os ministros de Deus tem o dever de viver em conformidade com suas palavras, com a proclamação do evangelho que tem anunciado, mas evidentemente que este é um dever de todo cristão. Você também é povo da aliança, é sacerdócio real (1 Pe 2.9), desse modo o imperativo moral desse texto se estende a você!
           Cuidado para não viver falando uma coisa e estar fazendo outra!
           Vejamos agora um pouco mais dos deveres da liderança espiritual que esse texto nos trás.


III – Deveres da liderança espiritual, v. 6-9.
           O texto nos trás esses deveres:

a) Evangelizar, v. 6.

          “… E da iniquidade apartou a muitos”. Encontra-se aqui o dever da evangelização. Quem é chamado para servir ao Senhor tem de amar ver vidas sendo resgatadas da condenação, e tem de ser instrumento do Senhor para que isso ocorra. Maravilhosa é a recompensa dos ganhadores de alma: “… os que a muitos conduzirem à justiça, resplandecerão como as estrelas sempre e eternamente” (Dn 12:3).

b) Ensinar a Palavra, v. 7.

            “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque é mensageiro do Senhor dos Exércitos”.
           Lastimavelmente é verdade que há muitos ministros de Deus preguiçosos, que NÃO estudam a Palavra. Por conta disso acabam dando palha ao povo ao invés de pão. Seguem sempre a moda doutrinária do momento, não tem fundamentos firmes. Outros perdem a paixão pela proclamação da Palavra e a substituem por entretenimento. A igreja de Cristo precisa ser reformada mais uma vez em muitos aspectos, e única forma de fato de isso acontecer é pela fiel pregação da Palavra de Deus.

c) Manter-se fiel, v.8.

           O v. 8 traz o mau exemplo daqueles sacerdotes que não andavam em fidelidade com Deus. Nossos dias não são tão diferentes, vivemos hoje uma terrível crise vocacional. Há pessoas infiéis ao Senhor em cargos de liderança em muitas igrejas. Muitos que estão abandonando a sã doutrina. Escândalos sexuais, financeiros, etc irrompem no contexto evangélico. Um dos grandes desafios para todos os líderes é seguir o conselho de Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (I Timóteo 4:16).
           Orem sempre pelos ministros de Deus, para que aqueles que são fieis mantenham-se em fidelidade, porque no caso contrário toda a igreja do Senhor fica prejudicada.
d) Ser justo, v.9.
           Malaquias continua citando o mau exemplo dos sacerdotes. Não eram justo na aplicação da Lei. Os sacerdotes também tinham uma função judicial (Dt 17:9-11), e era do seu dever agir dentro dos padrões de justiça revelada pelo Senhor, ou seja, sem acepção de pessoas.
           A consciência dos ministros de Deus tem de estar cativas à verdade do Senhor para que possa agir sempre com justiça. E deve sempre lembrar que seus pecados serão cobrados pelo Senhor com maior rigor. Os líderes terão um julgamento mais severo. Quem age contrário à vontade do Senhor e continua nesse proceder sem arrependimento poderá passar momentos de constrangedores quando Deus expô-los.


Aplicações

1. Não faça como aqueles sacerdotes, não espere o castigo do Senhor para perceber que o Senhor está se desagradando de você. Que você possa aprender isso pela observação de como o Senhor tem tratado com outros e então possa mudar o seu comportamento.

2. Deus não quer ativismo vazio – quer vida/caráter e então serviço. A qualidade do instrumento a ser usado faz toda diferença. Desenvolva em Cristo o seu caráter para que possa servir à Deus de modo mais digno d’Ele.

3. O conselho de Paulo a Tito é muito interessante: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito” (Tt 2.7-8). Você pode não ser um líder como eram os sacerdotes, como era Tito, mas que viva uma vida na qual envergonhe o diabo por ele não coisas indignas a falar a seu respeito. Assim que deve viver o povo não tem um sacerdote humano, falho, mas um sumo-sacerdote perfeito e requer vida santa daqueles por quem ele deu sua vida.

4. Você quer de Deus as bênçãos ou a maldição? Com certeza as bênçãos, então o mínimo que você pode fazer é lhe oferecer é fidelidade e obediência.


Conclusão


           É importante lembrar quem somos: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).

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