Apocalipse 5 - O CORDEIRO QUE VENCEU

Introdução

           O autor do Livro do Apocalipse escreve numa situação difícil, sim, incomparavelmente mais difícil do que a nossa, hoje. É a época do Imperador Domiciano (81 -96 d.C.), feroz perseguidor dos cristãos, representante de um estado idolátrico, exigindo adoração religiosa a sua pessoa e desrespeitando os direitos dos cidadãos. Existe amplo consenso entre os especialistas no sentido de este livro ter sido escrito no auge das perseguições, por volta dos anos 90 a 95 d.C.; e isto, na ilha de Patmos (Ásia Menor), pelo apóstolo João (1.1,4,9; 22.8).


I – A SOBERANIA DE DEUS NA HISTÓRIA HUMANA, V.1.

           O apóstolo João ver um livro nas mãos daquele que está assentado sobre o trono, este livro estás escrito por dentro e por fora e encontra-se selado. O livro representa o destino do homem, a conclusão da história. O fato de estar escrito por dentro e por fora significa que nada foi esquecido ou omitido. O livro está nas mãos de Deus, que representa o controle absoluto do Senhor.
            A igreja estava perseguida, a situação era de tristeza e dor, mas nesta revelação João ver que tudo estava sob o controle do Senhor. As coisas não se sucederiam meramente como o Diabo queria, os acontecimentos que ocorriam não eram meramente porque Domiciano queria, Deus tinha o controle sobre tudo, e em Seu domínio Supremo estava levando a história para um alvo específico.
           Também é mostrado que o livro está selado com sete selos, pois conforme a lei romana um testamento era selado com sete selos e com sete testemunhas. O ato de estar selado indica que ninguém ainda conhecia qual seria o futuro da igreja do Senhor que se encontrava sob perseguição.


II – A PROCURA POR AQUELE QUE É DIGNO, V. 2-4.

Entretanto, não existe quem seja digno de abrir os selos (5.2s).
- “Nem no céu”: Miguel, Gabriel, serafins, querubins, anjos, os remidos: Abraão,
Moisés, Elias, Paulo, Pedro, Maria.
- “Nem na terra”: Nenhum homem por mais poderoso e influente pode decifrar o sentido da história.
- “Nem debaixo da terra”: Nem o diabo, nem os demônios, nem os espíritos atormentados podem revelar a você o sentido da história e da vida.
           O significado aqui é que ninguém pode desvendar o sentido da vida e da história humana, ninguém possui esta dignidade. Não há filosofia que possa dar conta, não há ideologia política que satisfaça. João então chora, chora porque já tinha sido dito a ele que seria lhe mostrado o que sucederia à igreja depois do que ela estava vivendo (4.1). Chora porque parecia agora que a história era um barco sem leme. A crise de João aqui representa a crise do ser humano diante de tudo o que pode ser visto de negativo neste mundo: guerra, o mal triunfando, a violência crescendo, o terrorismo ameaçando, as guerras tornando-se cada vez mais encarniçadas, as famílias cada vez mais barbarizadas, os jovens cada vez mais se drogando e a nossa reação é também chorar. E não há ninguém digno, moralmente ou em poder que possa dar sentido a tudo isso. Mas havia uma solução para tal drama, há uma solução:


III – O DIGNO É ENCONTRADO: QUE DÁ SENTIDO À HISTÓRIA E À VIDA, V.5-7.

           É anunciado a João que o leão da tribo da Davi é digno de abrir o livro. No entanto quando ele se vira para olhar, ele ver o cordeiro. Um leão rapidamente tornou-se um cordeiro. Sem dúvida, há significado neste simbolismo. O leão representa absoluto poder e bravura; o cordeiro representa absoluta bondade. As características do cordeiro são mui significativas. Aparece "como havendo sido morto". A expressão indica os ferimentos recebidos quando se corta a garganta dum cordeiro novo, sacrificado sobre o altar. Retrata-se Cristo aqui em seu sacrifício expiatório. Ele foi morto, mas agora está vivo para todo o sempre. Sua vitória foi conquistada na cruz.
           Sua posição - Ele está de pé (ação e poder). Seu lugar - No meio do trono (autoridade).
           Pontas ou chifres, na literatura apocalíptica, simbolizam poder. O Cordeiro tem "7" chifres, o número perfeito. Está ele, portanto, perfeitamente aparelhado para destruir a oposição que fazem ao seu Reino. Ele tem "sete olhos", que são os sete Espíritos de Deus, enviados a toda a terra. Isto, sem dúvida, representa a vigilância incessante e perfeita a favor do seu povo. Representa a perfeita essência espiritual de Deus assim empenhada no bem-estar do homem (Beckwith, op. cit., p. 510). Revelados aqui portanto a onipresença e a onipotência de Cristo, é Jesus visto em sua exaltação.
           A ação seguinte expressa uma vivacidade tal que dificilmente pode ser traduzida noutras línguas. O Cordeiro "vem" — o aoristo aqui retrata toda a ação com a rapidez dum relâmpago — "e toma o livro". O último verbo aqui, no grego, é ἔρχομαι, que quer dizer "alcançar e tomar". Significa que ele fez isso rapidamente, decididamente. E ele é o único que pode executar os juízos de Deus sobre os iníquos.


IV – O DIGNO É ADORADO, V.8-14.

           Nos versículos seguintes segue-se então o culto àquele que foi morto e ressuscitou, ao senhor da vida e da morte, ao senhor da história. Uma adoração que nos ensina. Uma adoração didática para a igreja do Senhor em todas as épocas. Saber que Jesus está com o livro da história nas mãos:
v. 8 - Deve levar-nos a orar confiadamente acerca do destino das pessoas.
Orar é falar com quem está com o livro da história nas mãos.
v. 9 - Deve levar-nos a evangelização fervorosa. Cristo morreu para comprar com o sangue pessoas que procedem: Todo grupo étnico – tribo; Todo grupo linguístico – língua; Todo grupo político – povo. Todo grupo social - nação.
v. 10 - Deve levar-nos a tomar posse da nossa alta posição espiritual: Fomos constituídos reino - Já reinamos com Cristo espiritualmente, pois estamos assentados com ele nos lugares celestiais e reinaremos com ele plenamente na sua segunda vinda.
- Fomos constituídos sacerdotes - Agora temos livre acesso à presença do Pai, por intermédio de Jesus.
v. 12 - Deve levar-nos a dedicar tudo que somos e temos ao Cordeiro.
a) “A ele seja o poder”: É entregar a ele tudo o que está em nossas mãos, todo o poder e gerência que temos.
b) “A ele seja a riqueza”, os nossos bens: A riqueza dos empresários cristãos, a riqueza dos homens de negócio, a riqueza dos empregados.
c) “A ele seja a sabedoria”: A nossa inteligência, cultura, talentos, diplomas, habilidade profissional.
d) “A ele seja a força”: A força da juventude até os últimos alentos da velhice ao
Cordeiro. Não há aposentadoria no Reino de Deus.
e) “A ele seja a honra”: A primazia, o melhor, as primícias do nosso tempo, da nossa vida, devem ser dados ao Cordeiro.
f) “A ele seja a glória”: Só ele merece ser exaltado.
g) “A ele seja o louvor”: O culto precisa ser prestado só a ele.
Aplicação
1. Deus tem um propósito específico para a vida de cada pessoa. De igual modo tem um alvo pré-estabelecido para a história humana, a humanidade caminha para o fim traçado pelo Senhor.
2. Há consolo para nós.
- “Não chores”! Às vezes, choramos como João com medo do futuro, como humanos podemos nos sentir inseguros. O que vem pela frente? Como será o meu amanhã, a minha velhice? A voz ecoa no céu: Não chores! O Senhor põe um basta à nossa angústia. Ele traz a solução. Ele é Senhor da história do mundo e da nossa história, não há razão para insegurança.
3. Para nós esse texto maravilhoso nos traz a segurança que crendo no poder de Deus (capítulo 4) e no Seu amor redentor (capítulo 5), o cristão não deve temer nenhum inimigo, nenhum poder maligno.


Conclusão

           Diante de tudo o que passamos, diante de tudo o que a igreja passa nos nossos dias, diante de todas as crises na sociedade e na igreja, assim como em nossas vidas individualmente, que possamos juntamente com William Cowper (1731-1800), que foi um poeta inglês e escritor de vários hinos cristãos fazer afirmações semelhantes às que ele faz em um de seus poemas: “Deus se move de forma misteriosa”.

Não julgue o Senhor com débil entendimento,
Mas confie nele para sua graça.
Por trás de uma providência carrancuda,
Ele oculta uma face sorridente.
Seus propósitos amadurecerão rapidamente,
Desvendando-se a cada hora;
O botão pode ter um gosto amargo,
Mas a flor será doce.

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