Romanos 5.1-4


Introdução: A doutrina da justificação, aparentemente muita técnica, na verdade é de grande valor prático para o cristão. Muitos por não a entenderem não compreendem o que de fato é a salvação. Conhecê-la nos traz segurança, nos estimula a prosseguirmos avante; mas conhecê-la também nos humilha, pois sua realidade põe de lado qualquer sentimento de orgulho humano, pois nela não temos nenhuma participação, é um ato de Deus.
           O nosso texto em apreço nos fala desta maravilhosa doutrina, de modo mais específico, das bênçãos decorrentes em Cristo da justificação.


AS BEM-AVENTURADAS CONSEQUÊNCIAS DA JUSTIFICAÇÃO



I – TEMOS PAZ COM DEUS, v. 1.

           A busca pela paz seja no âmbito internacional, familiar ou pessoal é uma constante no ser humano. Vivemos em dias que muito se fala sobre paz, diante da clara estupidez das pessoas, diante da violência no contexto social, da banalização da criminalidade, há um clamor social por paz. A paz no âmbito social como em outros contextos é uma necessidade básica do ser humano para viver em sociedade. Se a paz para com nosso semelhante é engendrada de tal importância muito mais o é a paz com Deus.
           Nossa situação anterior era de inimizade para com Deus (5.10). Não importando com isso se vivíamos ou não uma prática moral socialmente aceitável, se em contexto religioso ou não, pois, trata-se mais de mais do que os atos quem cometíamos, diz respeito a nossa situação legal diante do Senhor. Nesta situação de culpados, portanto, todos nós éramos inimigos de Deus, com declaração do Senhor de nossa justificação passamos então a ter paz com Deus.
           Esta paz foi conquistada por Cristo. Por intermédio de obra, sua perfeita obediência, sua morte expiatória, e sua ressurreição o justo morreu pelos injustos. A justificação então é um ato forense de Deus no qual ele imputa (transfere) justiça de Cristo ao crente. Ele declara o crente justo, isto é, todas as exigências de sua santa lei foram satisfeitas em Cristo, que nos representou diante dele.
           O texto nos esclarece que temos paz, não se trata de uma exortação para que venhamos a ter, trata-se de uma realidade presente. E que esta paz foi conquista por Cristo para nossas vidas, e que ela se torna possível a nós por conta de nossa fé em Cristo Jesus.



II – ESTAMOS FIRMES NA GRAÇA, (2a).

           Nós fomos introduzidos (verbo prossagogê) a essa graça. Não conseguimos acesso, fomos introduzidos a este estado de graça.
           Agora estamos firmes, isto é, nossa relação com Deus não é algo como alguém que está diante de uma autoridade esporadicamente para uma audiência, mas trata-se de uma permanência constante, uma relação segura. Esta é a natureza da graça, nada pode nos separar do amor de Deus (8.35s). Nossa firmeza não diz respeito a nossa inconstante fidelidade, mas á eficácia da graça divina. Nossa salvação está segura pela graça do Senhor. As pessoas que tentam granjear méritos para si em sua salvação sentem grande dificuldade com esta doutrina, querem entender sua firmeza na fé pela sua suposta capacidade espiritual de estar no contexto da igreja local, ainda que falem da graça, mas com um entendimento muito limitado dessa graça. A conseqüência prática disso é trabalhar no reino não por amor, mas por sentimento de obrigação, é servir a Deus não por gratidão, mas por medo de cair da graça, medo da condenação.  Ao invés de viverem a tranquilidade da presença divina, o jugo de Cristo, que é suave, vivem o peso de sua religiosidade. Saber que estamos firmes na graça do Senhor nos leva a viver o verdadeiro evangelho, a nos ver com os pecadores que somos, mas sabendo que nada nem ninguém poderá ser impedimento à nossa eternidade com o Senhor, pois: “Quem intentará acusação contra os eleitos e Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.33).
           Mas é evidente que sabermos que estamos firmes nessa graça, é exigido de nós corresponder com uma vida de obediência, isto é, as obras decorrentes de fé verdadeira que de certo modo comprovam esta fé genuína e o fato de termos sido justificados em Cristo. É por isso que em Efésios nos diz: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Ef 2.8-10).
           Que este privilégio de estarmos firmes na graça nos faça sempre enxergar nossa responsabilidade de valorizarmos essa graça.


III – TEMOS UMA ESPERANÇA INFALÍVEL, V. 2b.

           Todos nós temos esperanças com relação muitas coisas na vida. Temos esperanças com relação aos nossos relacionamentos, de que tudo irá sempre dar certo, que irá transcorrer bem por muito tempo. Alguns temos esperanças de uma satisfação profissional em uma área que escolhemos. Temos esperança acerca de qualquer sonho que tenhamos nutrido para nossas vidas. Mas todas essas esperanças podem ou não se concretizar, são falíveis.
           Mas a esperança da glória de Deus não está sujeita a fracasso, não há a possibilidade de decepção. A esperança de que nos fala o texto não é algo incerto como qualquer outra esperança que podemos ter nesta vida. Trata-se aqui de uma expectativa jubilosa que tem por base não meramente sentimento humano, mas as próprias promessas de Deus. Esta esperança é a esperança da glória de Deus. Um dia a glória de Deus será desvendada plenamente:
a) Cristo há de aparecer com grande poder e glória (Mc 13.26)
           Paulo escrevendo a Tito afirma que na graça de Deus fomos ensinados a viver “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus...” (Tt 2.13).
Nós seremos transformados com ele na glória (1 Jo 3.2; Cl 3.4);                                             
Então ele será glorificado nos seus santos (2 Ts 1.10).


IV – TEMOS PERSEVERANÇA, V. 3, 4.

          Aqui Paulo já entra em uma questão bastante prática.
           Esta perseverança do qual nos fala o texto é proveniente na vivência na tribulação, mas esta tribulação não se trata nos sofrimentos da vida, nem das provações, não são nossas frustrações, nossos sofrimentos cotidianos, que muitas vezes são conseqüências de nossas decisões erradas. O termo utilizado pelo apóstolo é THILIPSIS, que significa literalmente “pressões”. Este tipo de sofrimento é o mesmo que Jesus se referiu quando afirmou que no mundo tereis aflições (Jo 16.33), isto é, a oposição do mundo contra aqueles que vivem em integridade e santidade. É evidente que este tipo sofrimento está muito em falta nos dias atuais. Mas se isto ocorrer, lembremos que o que o apóstolo está afirmando que as pressões de um mundo ímpio sobre o cristão não deve levá-lo ao desânimo, mas que se glorie nisso, pois o efeito prático dever ser a perseverança. Pois o sofrimento pode ser produtivo se a ele reagimos com uma atitude positiva e não com amargura, então amadurecemos, crescemos. Ora, sem sofrimento, não há como desenvolver essa perseverança da qual ele escreve, pois se trata de HYPOMONÊ, paciência, resistência. E exercitados nessa paciência nós adquirirmos experiência, que é DOKIMÉ, que tem o sentido de caráter aprovado, é a qualidade de uma pessoa que foi aprovada, que passou no teste. No último elo da corrente volta à esperança. O caráter aprovado produz esperança, isto é, o Deus que desenvolve o nosso caráter no presente é digno de confiança também para o futuro.


Conclusão: Que a consciência da justificação em Cristo leve você a uma constante gratidão ao Senhor, a uma tranquilidade em meio aos altos e baixos de nossa caminhada cristã, pois você está seguro(a) nas mãos do Senhor.
           Que também, embora vivendo o presente em todas as suas complexidades, você não esqueça que como cristão, deve ter os olhos fixos na eternidade.
           E por fim você possa manter-se perseverante em face às dificuldades da vida cristã.

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