DEPENDÊNCIA DA VONTADE DIVINA PARA O NOSSO FUTURO


Tiago 4.13-17


Introdução: No mundo dos negócios poucas coisas atualmente são tão importantes para as empresas do que o planejamento estratégico. Antes da década de 1990 não era uma preocupação tão acentuada. Hoje é prioridade. Muitos livros atualmente falam sobre o assunto, grandes especialistas palestram a respeito e são chamados no meio de “gurus”. Atualmente planejamento é uma das palavras de ordem, fala-se também de planejamento familiar, planejar a aposentadoria, etc. Sem dúvida planejar é necessário, mas até que ponto o planejamento em nossas vidas pode ser prejudicial ao cristão?


Elucidação: Do primeiro capítulo da carta de Tiago recebemos valiosas informações, que nos ajudam a situá-la em seu contexto. Ela foi endereçada aos cristãos de origem judaica dispersos no mundo greco-romano (v. 1). Segundo os v. 2-4, ela tinha como objetivo animar para a fé numa situação adversa, marcada por tentações. Nessa situação, a dubiedade e a inconstância são criticadas (v. 7s). O autor orienta seus leitores para que busquem a sabedoria que vem de Deus (v. 5). Esta sabedoria consiste, entre outras coisas, em tomar consciência da brevidade da existência (v. 9 e 10). Sobretudo as pessoas que constroem sua autoconfiança sobre suas riquezas devem se dar conta de que também perecerão. Os v. 9-11 nos remetem à palavra do salmista: “Com efeito passa o homem como uma sombra; em vão se inquieta; amontoa tesouros e não sabe quem os levará” (Sl 39.6). O princípio da sabedoria, porém, é o reconhecimento de que toda dádiva provém de Deus (v. 16s).
           Tiago também lembra seus leitores e leitoras de que a fé não admite acepção de pessoas (2.1ss.). Especialmente as comunidades não se devem deixar levar pela atração da riqueza, pois os ricos oprimem e blasfemam contra o Senhor (2.7). No texto 4.13-17, também são os ricos comerciantes, que almejam grandes lucros em seus negócios, os criticados por sua postura auto-suficiente.
           Em terceiro lugar, e este é o tema mais caro à carta de Tiago, a fé precisa ser vivida, praticada ou, para usar sua linguagem, manifestar-se em obras (2.14s). E prática da fé não combina com inveja e egoísmo (3.16), nem com auto-suficiência e jactância. Pelo contrário, a sabedoria que vem de Deus manifesta-se em obras de misericórdia, justiça e paz (3.17). Em vista disso, no quarto capítulo (v. 7-11), encontramos uma série de imperativos que visam dar recomendações concretas sobre como portar-se: sujeitai-vos, resisti/oponha-se, chegai-vos, purificai, santificai, lamentai, cobri-vos de luto, chorai, transforme-se, humilhai-vos, não faleis mal.
           O trecho 4.13-17 integra um bloco temático que inicia em 4.13 e termina em 5.6, no qual o autor denuncia a auto-suficiência dos ricos e a prática de injustiças, que alcançou também os tribunais que deveriam fazer prevalecer o direito dos pobres e assalariados. Este bloco, “redigido no estilo profético de discurso sobre o juízo, dirige-se contra dois casos típicos referentes à atitude e à conduta vituperadas no trecho anterior (cf. 3.15; 4.1-4), ou seja, a temerária confiança em si mesmos praticada por comerciantes (4.13-17), unicamente interessados nas coisas terrenas, e a auto-suficiente e egoísta e a dureza de coração de certos juízes (5.1-6)” (Knoch, p. 93).
           De modo prático, portanto, o texto nos revela a postura das pessoas frente à vontade de Deus.




I – IGNORANDO A VONTADE DE DEUS, V. 13, 14 e 16

           Tiago chama atenção aos seus interlocutores, mas não os chama de “meus irmãos”, o que dá a entender que está se dirigindo àqueles que não são servos do Senhor. Fala acerca da atitude deles, especificamente aqueles comerciantes que planejavam seus negócios, e obviamente por não ter Deus em suas vidas, o faziam, à parte de qualquer consideração a esse respeito. Eram evidentemente pessoas dominadas pelo materialismo, cujo grande objetivo era sempre os lucros. Compreende-se a atitude daquelas pessoas, afinal eram ímpias. Mas tal atitude revela a pretenciosidade humana, como se tivesse sua história em suas mãos.
           No versículo 14 Tiago lhes mostra então tanto a limitação do conhecimento humano acerca do futuro quanto a brevidade de sua existência. Naquela época inclusive as pessoas viviam em média bem menos do que atualmente, há comentaristas que dizem que a vida média era de 25 anos. De qualquer modo, até mesmo para nós que temos uma perspectiva maior de vida, ela extremamente passageira, como uma neblina, como bem é exposto no livro de Jó: 1) “Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão” (7:6); 2) “Os nossos dias sobre a terra são como a sombra” (8:9); 3) “Os meus dias foram mais velozes do que um corredor” (9:25); 4) “O homem nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação. Nasce como a flor e murcha; foge como a sombra e não permanece” (14:1-2). Diante da situação que Jó estava vivendo não teve como não refletir sobre a fragilidade da vida e como foi pego de surpresa.
          Na perspectiva da ótica da soberania divina, a história está fundamenta em Sua vontade soberana, em seu decreto; visto o assunto da perspectiva da liberdade humana o mesmo deve lembrar que o Senhor é o dominador absoluto sobre todas as coisas. Que nossos planos estão sujeitos a frustrações, que vivemos em um mundo onde não podemos dar nenhuma garantia sobre o que nos sucederá amanhã. Assim sendo, fazer planos sem contar coma vontade de Deus é uma afronta ao próprio Deus. Reconhecer e aceitar a vontade de Deus demonstra a diferença daqueles que servem a Deus e daqueles que não o servem.
           Que é a vossa vida? O que é a minha vida? O que é a sua vida?
           Os filósofos também pensaram sobre essas perguntas: Platão dizia: Viva para o mundo eterno, para que passes para as dimensões do espírito puro, quando fores liberto do corpo. Os epicureus diziam: Viva para os prazeres. Os estóicos diziam. Viva com apatia, indiferente a qualquer emoção. Aristóteles recomendava: Viva para alguma função virtuosa.  Na filosofia popular as pessoas repetem a máxima dos epicureus: Comamos e bebamos, que amanhã morreremos. Outros, a semelhança do homem da parábola citada por Jesus em Lc 12.16-21 imaginam que a vida do homem é tanto mais abundante quanto mais cheios estiverem os cofres. Quanto mais rico, mais feliz. A parábola termina dizendo: Louco, esta noite te pedirão a alma, e o que tens preparado, para quem será?
           Sois apenas como neblina nos diz o texto. No grego temos o vocábulo ATMIS que significa vapor ou fumo. É uma palavra usada para mostrar a natureza tênue da nossa vida. O termo grego indicava o vapor que escapa da água quando está fervendo. Indica também a fumaça produzida por algo em combustão. A segurança e planejamento da vida esbarram diante da mortalidade do homem. É possível que pouco tempo depois de Tiago ter escrito essas palavras, o desastre e a morte caíram sobre Jerusalém, sob o domínio de Roma.
           Não tente ignorar a vontade de Deus, pelo contrário, se entregue a ela, pois isto traz segurança à vida.
No v. 16 ele diz que essas pessoas agiam com jactância, isto é, uma pretensão arrogante. A presunção do homem apenas tenta esconder a sua fragilidade. O homem não pode controlar os eventos futuros. Ele não tem sabedoria para ver o futuro nem poder para controlar o futuro. Portanto, a presunção é pecado, é fazer-se a si mesmo de Deus. (Hernandes Dias Lopes).


II – SUBMETENDO-SE À VONTADE DE DEUS, V.15.

           Em um dos mais famosos romances que tive o prazer de ler: Os Irmãos Karamazov, de Dostoievsk, o autor coloca a seguinte fala na boca de uma de suas personagens para comentar sobre afirmativa de Jesus que o homem não vive apensas de pão: “O segredo do ser do homem não consiste apenas em viver, mas em ter algo pelo que viver. Sem um conceito estável do objetivo da vida, o homem não deveria consentir em continuar vivendo, preferindo destruir-se do que permanecer na face da terra, embora tenha pão em abundância.” E não há causa maior, ou melhor, pela qual devamos viver do que o evangelho do Senhor Jesus. Submissão ao Senhor, depender dele em tudo na vida, tudo pôr diante, pois a ele pertencemos. Então não pode ser exigido menos do servo do que submeter-se à vontade do seu senhor.
           Se o Senhor quiser... O uso desta expressão não era muito comum entre os judeus. Na verdade é uma expressão de origem árabe, (em sha Allá), que usualmente se traduz por “oxalá”. Mas infelizmente por muito ser repetida, esse ‘se Deus quiser’ perdeu seu conteúdo para as pessoas. As pessoas dizem “se Deus quiser”, sem pensarem na possibilidade daquilo que elas almejam não ser o que Deus quer para suas vidas. Se queremos em todos os aspectos conduzir nossas vidas segundo a vontade do Senhor devemos então estar cheios do conhecimento de sua vontade: “Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1.9). E é pela Palavra de Deus que você pode conhecer melhor a vontade do Senhor para sua vida.
           Conhecendo a vontade do Senhor, não temos o direito de sermos negligentes, mas devemos experimentá-la, que como nos diz o texto de Rm 12:2, é boa, agradável e perfeita. Portanto, que estejamos nos entregando à vontade do Senhor de todo o nosso coração, como Paulo aconselhou aos servos de sua época a servirem seus senhores com alegria, porque esta era a vontade divina para suas vidas: “Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Efésios 6:6). Desse modo, quer seja fácil ou não, devemos estar submissos ao nosso dever que temos perante o Senhor.


III – DESOBEDECENDO À VONTADE DE DEUS, V. 17.

           Aparentemente parece estar desconexo este versículo, parece não estar falando do mesmo assunto, mas na verdade Tiago está fazendo um fechamento de tudo o que disse antes. Diz ele que aqueles que sabem qual é a vontade de Deus e não a pratica está pecando. Não é o pecado da ignorância, e sim da omissão. E a gravidade está acentuada pelo fato do conhecimento, quanto mais conhecemos da verdade divina, maior é a nossa responsabilidade. Tiago está dizendo que aqueles que estiverem se assemelhando àqueles comerciantes havidos pelo lucro, vivendo egoisticamente, sem preocupação para com o próximo estariam incorrendo em impiedade.
           Se estivermos, como discípulos de Cristo, diante da possibilidade de fazer o bem, e não agimos pata tal, nosso pecado se torna mais grave do que o pecado do não cristão ou do ateu, pois pecamos tendo plena consciência de nosso dever.
           Li um pequeno texto de uma estória que tem por título Bela Lenda que conta o seguinte: Um crente encontra-se ocupado em contemplar Jesus Cristo. De repente, surge a oportunidade de distribuir pão aos que estão com fome. No entanto, essa oportunidade iria interromper o seu êxtase. O crente deixa de lado a visão mística e vai dar comida aos que estavam com fome. Voltando, encontra Jesus Cristo no mesmo lugar. Este, aprovando sua atitude, lhe diz: Se tivesses ficado, eu teria ido embora.


Aplicações: 1. De fato em alguns momentos é difícil saber a vontade do Senhor para questões específicas, quando a Bíblia não exemplifica a questão. Algumas dicas práticas:
a) Afaste-se de toda aparência do mal.
b) Não tenha pressa para tomar uma decisão importante, ore ao Senhor e só aja quando houver tranqüilidade em seu coração, quando o Espírito Santo lhe guiar no sentido da decisão.

2. Quais são as recompensas daqueles que fazem a vontade de Deus?
a) Regozijam-se em profunda comunhão com Cristo (Mc 3:35): “Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmão e mãe”.
b) Têm o privilégio de conhecer a verdade de Deus (Jo 7:17): “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”. 
c) Têm suas orações respondidas (1 Jo 5:14-15): “esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.
E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.
Se vivemos segundo a vontade do Senhor isso expressará em nossas orações, e consequentemente estaremos orando segundo Sua vontade, critério fundamental para o Senhor responder às orações.
d) Têm uma garantia de recompensa na volta de Jesus (Mt 25:34): “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”.

3. Mesmo sendo conhecedores da vontade de Deus desobedecemos por conta da nossa soberba, queremos ser senhores de nossas vidas.

4. O que acontece àqueles que deliberadamente desobedecem à vontade de Deus?
a) Eles são disciplinados por Deus até se submeterem – Hb 12:5-11, tratando-se aqui dos salvos evidentemente.
b) Eles perdem recompensas espirituais, e é por isso que o apóstolo Paulo traz a imagem da autodisciplina do atleta de sua constante luta para fazer a vontade de Deus, 1 Co 9:24-27.
c) Eles sofrerão consequências sérias na vinda do Senhor – Cl 3:22-25: Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus.
E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens,
Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis.
Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas.


Conclusão: Qual é a nossa atitude em relação à vontade de Deus? Ignoramo-la? Conhecemo-la, mas deliberadamente a desobedecemos ou Obedecemo-la com alegria? Quem obedece a vontade de Deus pode até não ter uma vida fácil, mas certamente terá uma vida mais santa e mais feliz. (Hernandes Dias Lopes)



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