A IGREJA DO PERÍODO APOSTÓLICO



 

APRESENTAÇAO

           Sempre é necessário para fazermos uma avaliação equilibrada do presente olharmos também para o passado. Por isso é necessário termos o máximo de informação possível sobre a igreja do período apostólico, haja vista que muitos hoje a tem como modelo ao qual a igreja dos nossos dias deve assemelhar-se. Este singelo trabalho então visa trazer um quadro geral dos aspectos históricos da igreja dos primeiros dias. 


 INTRODUÇÃO

           A igreja do período apostólico era uma igreja voltada para o ensino dos apóstolos, que vivia em comunhão a despeito dos problemas existentes. Não era uma igreja perfeita, mas era uma igreja que na maior parte do seu tempo preocupava-se com a expansão do evangelho. O culto era simples e de fato teocêntrico, seu governo eclesiástico ainda estava se desenvolvendo. Os crentes ainda tinham o privilégio de terem os apóstolos entre eles. Era também uma igreja sofrida devido às perseguições, muitos enfrentaram o martírio, inclusive os apóstolos.


A IGREJA DO PERÍODO APOSTÓLICO

           A igreja entendida como movimento cristão, iniciou-se a partir do Pentecoste (At 2), embora não haja uma unanimidade dos estudiosos a este respeito. Naquela ocasião houve um evento incrível, após uma mensagem do apóstolo Pedro cerca de 3.000 pessoas se entregaram a Cristo (At 2.41).
          Nesses primeiros dias Jerusalém foi o centro da igreja. Como inicialmente muitos líderes religiosos dos judeus acreditavam que o cristianismo não passava de uma seita do judaísmo, permitiam que se reunissem do templo (At 3.1).
           O livro de Atos em seu segundo capítulo nos dá um quadro geral de como vivia os crentes em seus primeiros dias de convertidos na igreja de Jerusalém. Devido à crença de que Cristo voltaria muito em breve, dividiam suas propriedades entre si. Havia uma estreita comunhão entre eles. Estavam constantemente no templo orando e partilhavam a Ceia do Senhor em seus lares.
           Deus operava milagres de cura por intermédio dos primeiros cristãos.
           A igreja crescia tão rapidamente que os apóstolos cedo perceberam que não poderiam se dedicar a distribuição de víveres às viúvas necessitadas e à pregação da Palavra e à oração ao mesmo tempo. Para aquele fim então instituíram homens “de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria” (At 6.1-7). Dentre esses homens muito se destacou Estevão.
           Os judeus levantaram falsas acusações contra Estevão, acusando-o de blasfêmia contra Moisés e contra Deus (At 6.11). Ele foi apedrejado, fato que marcou o início da primeira perseguição à igreja, obrigando os cristãos a se dispersarem pelas regiões da Judéia e Samaria, com exceção dos apóstolos.

Atividades missionárias

           Após a morte de Estevão a igreja de fato dedicou-se à obra missionária. A perseguição que hora estava havendo foi uma causa externa que impulsionou os crentes a levarem o evangelho a locais como a Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria. Barnabé foi enviado para incentivar os novos irmãos em Antioquia (At 11.22-23). O apóstolo Pedro pregou nas principais cidades da Palestina, tanto aos judeus como aos gentios.
           Houve um fator geográfico favorável à expansão do evangelho. Jerusalém possuía importantes rotas comerciais, era também passagem para embaixadores através da Palestina, vemos, portanto, no livro de Atos a conversão de alguns oficiais de Roma e da Etiópia, como de outras nações (At 10.1-48; 8.26-40).
           Sem sombra de dúvida a figura mais proeminente na obra missionária da igreja apostólica foi o apóstolo Paulo.  Ele realizou três grandes viagens missionárias. A primeira delas acompanhando Barnabé, quando ainda era conhecido como Saulo. Em suas viagens missionárias ele fundou várias igrejas: a igreja em Corinto; a igreja em Filipos, fundada em sua segunda viagem missionária quando levou consigo Silas, Timóteo e Lucas (At 16.9-40). A igreja em Colosso foi fruto da atividade de Paulo em Éfeso, que durou três anos (At 20.31), assim como a igreja em Éfeso. Também da primeira viagem missionária é a igreja dos Gálatas, quando ele e Barnabé visitaram o Sul da província da Galácia (Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe), At 13.14. Paulo também fundou a igreja em Tessalônica. É importante observarmos que na estratégia missionária de Paulo ele visou estabelecer igrejas nas principais cidades do império romano. Além disso, dava muita atenção às novas igrejas não deixando os convertidos desorganizados e sem liderança capaz.
           Embora Paulo tenha alcançado grande fama, com certeza houve aqueles missionários anônimos que deram grande contribuição para a expansão do reino de Deus. A igreja de Roma, por exemplo, não foi fundada por nenhum apóstolo, seus fundadores possivelmente foram convertidos de Paulo provenientes da Macedônia e da Ásia, bem como judeus e prosélitos convertidos no dia de Pentecoste (At 2.10).


Governo eclesiástico

          Imediatamente à fundação da igreja não foi estabelecida nenhuma hierarquia eclesiástica. Os cristãos tinham a crença de que Jesus voltaria muito em breve, por isso não havia o interesse de estruturar o governo da igreja. Depois, porém, percebeu-se a necessidade de se organizar melhor o trabalho da igreja. A igreja tinha seus negócios presididos por um ou mais presbíteros (cf Rm 12.6-8; 1 Ts 5.12; Hb 13.7,17,24). Os presbíteros eram os anciãos, que também recebiam o título de bispos. O termo “bispo” não expressava uma conotação de superioridade eclesiástica como ocorre em nossos dias. O apóstolo Paulo utilizou esta expressão para se referir aos presbíteros (At 20.28; 1 Ts 1.5-9). Havia os evangelistas, literalmente “homens que manuseiam o evangelho”. Recebiam este nome por terem um dom especial de evangelização ou então porque eram representantes pessoais dos apóstolos, como Timóteo foi de Paulo.


Padrões de adoração

          Os primeiros cristãos não se reunião em templos próprios da igreja. As reuniões eram realizadas na casa de alguns irmãos, nas sinagogas e no templo de Jerusalém (At 2.46; 13.14-16; 20.7-8).  Em épocas de perseguição reuniam-se em lugares secretos como as catacumbas de Roma (túmulos subterrâneos). Os cultos eram realizados aos domingos à noite, por ser o dia da ressurreição de Jesus. Depois foi acrescentada outra reunião pela manhã. A liturgia era simples e girava em torno da Ceia do Senhor. Havia louvor, oração, pregação, testemunho, palavras de exortação (1 Co 14.26).


A Ceia do Senhor

          Obedecendo a instituição de Cristo para sua igreja os cristãos celebravam a Ceia todos os domingos. Era uma refeição completa que partilhavam em suas casas. Todos traziam um prato para uma mesa comum. Havia oração e em seguida todos comiam pedacinhos de um único pão comum que simbolizava o corpo de Cristo. Encerrava-se a refeição também com oração e então participavam de uma taça de vinho que simbolizava o sangue de Cristo vertido pela sua igreja.
           Antes do ano 100 d.C. a Ceia era uma reunião secreta com participação apenas da igreja, razão pela qual foram levantadas suspeitas sobre os cristãos estarem conspirando contra o Império. Além disso, houve calúnias absurdas de que os cristãos praticavam atos imorais e canibalismo nestas reuniões.
           Após o ano 100 d.C. as reuniões passaram a ser abertas ao público.


Batismo

          O batismo era realizado pelos cristãos para todo aquele que adentrasse à igreja. Para os primitivos cristãos era símbolo da morte de uma pessoa para o pecado (Rm 6.4; Gl 2.12), da purificação dos pecados (At 22.16; Ef 5.26), e da nova vida em Cristo (At 2.41; Rm 6.3).
           Não há unanimidade entre os estudiosos se o batismo era praticado por imersão ou aspersão.


Calendário eclesiástico

          A igreja primitiva não seguia nenhum calendário de dias santos. É verdade que tinham o domingo como dia do Senhor, mas não tinha a conotação de um dia de descanso como no sábado judaico. Foi o imperador Constantino quem designou o domingo como um dia santo para todo o Império Romano.


A vida social da igreja

          Quanto às questões sociais de ajuda aos mais pobres evidentemente não havia um órgão responsável por este trabalho na igreja. A igreja porém, não era negligente, todos os domingos após a Ceia eram recolhidas ofertas para os mais necessitados, Paulo faz referência a isto em 1 Co 16.1-2. Os diáconos eram responsáveis por este serviço. As mulheres das igrejas também davam sua contribuição na obra de caridade fazendo roupas para quem tivesse necessidade (At 9.36-41).
          A igreja não atacou abertamente a instituição da escravidão, mas minou suas bases ensinando que tanto os senhores quanto os escravos crentes eram irmãos em Cristo, portanto, iguais perante Deus.
          Os cristãos eram ensinados a viverem em separação das práticas pagãs da sociedade romana, embora pudessem manter relações sociais com os pagãos desde que não sacrificassem seus princípios cristãos (1 Co 10.20-33). Eram ensinados a evitar tudo o que não glorificasse a Deus (1 Co 6.20; 10.31), portanto, não frequentavam teatro, estádios, jogos ou templos pagãos.
          Eram excelentes cidadãos, pois deveriam cumprir suas obrigações cívicas, desde que elas não entrassem em conflito com os preceitos de Deus. Deveriam obedecer às autoridades por serem instituídas por Deus (Rm 13.7; 1 Tm 2.1-2), bem como orar em favor delas.
          A pureza de vida, amor e coragem da igreja primitiva foi impactante para a sociedade pagã de Roma.



OS APÓSTOLOS


          Jesus escolheu doze homens aos quais nomeou de apóstolos (enviados). Investiu grande parte de seu ministério no ensino e preparo destes homens. A maioria dos apóstolos era da região de Cafarnaum, região então desprezada pela elite judaica.
          Vejamos então um pouco da história desses homens.


André

          Inicialmente discípulo de João Batista, seguiu a Jesus por indicação de João quando este declarou que Jesus é o cordeiro de Deus (Jo 1.36). André conduz o seu irmão, Simão Pedro, ao Messias (Jo 1.41).
          André é tradução do grego Andréas, que significa “varonil”.
        John Foxe em sua célebre obra "O livro dos mártires" faz uma interessante citação de Jerônimo a respeito de André.

"André pregou no ano oitenta do nosso Senhor Jesus Cristo aos cítios e sógdios, aos sacas e numa cidade chamada Sebastópolis, agora habitada pelos etíopes. Foi sepultado em Patras, cidade da Acaia, depois de crucificado por Egéias, o governador dos edessenos."


Bartolomeu (Natanael)

          Não há muitas informações disponíveis sobre este apóstolo. Alguns eruditos acreditam que havia uma ligação dele com os ptolomaicos, esta teoria baseia-se na declaração de Jerônimo que ele era o único apóstolo de nascimento nobre.
           Diz a tradição que ele serviu como missionário na Índia. Há duas tradições sobre sua morte, uma diz que ele foi decaptado pelo rei Astríagis, outra, que foi crucificado de cabeça para baixo.


Tiago, filho de Zebedeu

           Este Tiago é o irmão de João, e foi o primeiro apóstolo a sofrer a morte de mártir. Isto ocorreu em 44 d.C. por ordem de Herodes Agripa I. A intenção de Herodes era sufocar o cristianismo prendendo alguns líderes, porém, o efeito foi o contrário, a morte de Tiago infundiu novo fervor entre os cristãos (At 12.5-24).
           Dizem as lendas que Tiago foi o primeiro missionário cristão na Espanha.


João

           Este apóstolo era também o filho de Zebedeu (Mc 1.19), portanto, irmão de Tiago. Possivelmente a mãe de Tiago era Salomé (Mc 15.40), e conforme acredita alguns eruditos ela era irmã de Maria (Jo 19.25), logo, João seria primo de Jesus.
           João, juntamente com seu irmão Tiago, e Simão Pedro, fazia parte do ciclo íntimo de Jesus. Quando é mencionado juntamente com Tiago nos evangelhos, o nome de Tiago aparece primeiro por ser o mais velho dos dois. Não há motivo para duvidar que o evangelho que recebe o seu nome, as cartas de João e o Apocalipse tenham sido escritas por ele.
           João foi pastor da igreja em Éfeso, segundo a tradição.
          Foi exilado na ilha de Patmos quando já era idoso. Quando faleceu em avançada idade, seu corpo foi devolvido a Éfeso para sepultamento.


Judas (não o Iscariotes)

           Ele é identificado como "Judas, não o Iscariotes" por João (Jo 14.22), justamente para preservá-lo da má fama que adquiriu o Judas Iscariotes.
           Mateus e marcos referem-se a ele como Tadeu (Mc 3.18; Mt 10.3), já Lucas o chama de "Judas, filho de Tiago" (Lc 6.16; At 1.3).
     Segundo tradições Jesus o enviou ao rei Abgar da Mesopotâmia para que orasse pela sua cura. Outra tradição diz sobre sua morte que foi assassinado por mágicos na cidade de Suanor, na Pérsia. Diz-se que foi morto a pauladas e pedradas.


Judas Iscariotes

            A palavra "Iscariotes" significa "homem de Queriote", que era uma cidade próxima de Hebrom (Js 15.25). Ele era o único discípulo procedente da Judéia. O seu relacionamento com os demais discípulos parece ter sido de isolamento e distanciamento, uma das razões para isso pode ser o fato de que para os habitantes da Judéia o povo da Galiléia era uma gente rude, meramente colonizadores de fronteira.
           Judas era o tesoureiro dos apóstolos, porém João testifica de sua falta de honestidade (Jo 12.6).
          Tornou-se um dos mais conhecidos apóstolos pelo seu triste destino de que haveria de trair o Messias. A despeito de outras teorias que possam ser formuladas sobre essa traição, a mais provável é que a motivação de Judas deve ter sido meramente vantagem financeira. Tomado pelo remorso por haver traído Jesus, veio a enforcar-se.


Mateus

           Parece ter sido o discípulo de melhor condição financeira, pois ele era publicano, cobradores de impostos que tinham a tendência de explorar o povo e enriquecer ilicitamente. Por conta da natureza do seu trabalho é certo que ele sabia ler e escrever. Em "O livro dos mártires" John Foxe traz a informação de que Mateus passou seus últimos anos na Partia e na Etiópia. Segundo Foxe ele foi martirizado na cidade de Nadaba em 60 d.C. Lembremos porém, que as informações de Foxe tem como base alguma tradição, portanto, refere-se a dados incertos.


Filipe

           Os evangelhos fazem apenas rápidas referências a este apóstolo. Dialogou com Jesus sobre como alimentar a multidão que o ouvia (Jo 6.5-7). Juntamente com André encaminhou alguns gregos para falar com Jesus (Jo 12.20-22). Sem compreender o que Jesus falava sobre Ele e o Pai ser um, pediu ao mestre para que lhe mostrasse o Pai (Jo 14.8).
           Há tradições acerca de sua pessoa que dizem que ele pregou na França, na Rússia, na Ásia Menor e até na Índia. No ano 194 d.C. o bispo Polícrates de Antioquia afirma que Filipe foi sepultado em hierápolis.


Simão Pedro

           Homem de temperamento volátil e imprevisível. Passou por grande experiências pessoais com Jesus, testemunhou que Ele é o Cristo (Mt 16.15-16), mas logo em seguida deixou-se ser usado pelo diabo (Mt 16.21-23), chegou a negar a Cristo três vezes e depois praguejou (Mc 14.71).
        Com certeza ele foi o líder mais influente da igreja primitiva, depois de Paulo. Realizou viagens missionárias para a Antioquia e Corinto (Gl 2.11; 1 Co 1.12), e talvez para Roma.
           Pedro foi crucificado em Roma, segundo a tradição, ele optou em ser crucificado de cabeça para baixo, pois se considerava indigno de morrer e mesmo modo que Jesus.
          Exerceu o seu ministério entre os judeus (Gl 2.8), e ainda tinha uma mentalidade muito judaizante, mas Deus o conduziu a pregar também aos gentios (At 10).


Simão Zelote

           Zelote significa “zeloso”, portanto conclui-se que este apostolo pertencia anteriormente à seita dos zelotes.
           Há tradições sobre seu ministério posterior à ressurreição de Cristo. A igreja Copta do Egito afirma que ele pregou no Egito, na África, na Grã-Bretanha e na Pérsia.


Tomé

           Pouquíssima informação há sobre este discípulo, não se sabe nada sobre sua família nem de como ele foi convidado para ser apóstolo. Entende-se que ele tenha aprendido a profissão de pescador, pois era um dos seis que foram pescar após a ressurreição de Jesus (Jo 21.1-3).
           Tomé ficou conhecido por conta de sua incredulidade (Jo 20.25), mas ele demonstrou coragem em alguns momentos (Jo 11.6: “Vamos também nós para morrermos com ele”). Embora ele seja depreciado em nossos dias, os pais da igreja demonstraram respeito por ele.
           Diz a tradição que ele foi missionário à Índia, e que foi martirizado em Mylapore, hoje subúrbio de Madrasta.


A substituição de Judas

           O texto de Atos 1.15-26 traz o relato de como foi escolhido um substituto para a vaga apostólica de Judas Iscariotes. Por um sistema de sorteio foi escolhido Matias, que concorrera com José, cognominado Justo. A Bíblia nada diz a respeito do ministério de Matias. Há tradições que não podem ser comprovadas que afirmam que ele pregou aos canibais da Mesopotâmia, e ou que foi apedrejado pelos judeus.



O APÓSTOLO PAULO


           É imprescindível que seja dada uma atenção especial à pessoa do apóstolo Paulo, devido à sua obra como missionário, pastor e escritor. Pouco ou quase nada se sabe sobre sua pessoa em termos físicos, o único relato escrito encontra-se no livro apócrifo “Os atos de Paulo”. É dito que ele era “parcialmente calvo, pernas arqueadas, de compleição robusta, olhos próximos um do outro, nariz um tanto curvo.”
           Paulo, ou como era conhecido anteriormente à sua conversão, Saulo, nasceu na província da Cicília conhecida como Tarso. Como ele mesmo afirma era uma cidade importante (At 21.39). Sua localização era favorável para o comércio tanto por terra quanto por mar por via do rio Cnido e era uma cidade de fronteira, sendo encontro do Leste e Oeste. Era também berço de filósofos estóicos, portanto Paulo deve ter tido um contato inicial com a filosofia.
           Embora fosse muito raro um judeu alcançar a cidadania romana, Saulo tinha este privilégio, como ele mesmo explica, por direito de nascimento (At 22.28). Outras formas de um não-romano ter a cidadania romana era comprando-a (At 22.28), realizando um serviço incomum para o Estado ou quando um escravo era posto em liberdade.
           Ele declara em Fp 3.5: “... da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus, quanto à lei, fariseu”. Logo, teve uma educação nas Escrituras Sagradas desde a infância, como era costume entre os judeus. Teve o privilégio de aprender com um dos maiores mestres de sua época, Gamaliel (At 22.3)
           Como todo judeu, logo cedo aprendeu uma profissão, fabricante de tendas de tecido de pêlos de cabra.
           Pelo o seu zelo religioso farisaico veio a ser um perseguidor da igreja. Estava presente quando do martírio de Estevão (At 7.54-60), e Lucas diz que ele: “... assolava a igreja, entrando pelas casas; e arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere”.
            Estava em plena atividade de perseguição à igreja quando recebeu uma revelação de Cristo (At 9.1-9) levando-o à conversão.
           É importante observarmos que após sua conversão ele não procurou de imediato os apóstolos em Jerusalém, primeiro ele pregou em Damasco, mas em face a uma tentativa do judeus de tirar-lhe a vida, ele viajou para a Arábia. Não se sabe quanto tempo ele permaneceu lá, possivelmente escolheu a Arábia como um local isolado para meditar sobre sua conversão e sobre as revelações do Senhor. Somente ao retornar da Arábia foi que se dirigiu a Jerusalém (At 9.20-25; Gl 1.15-18).



Prisão e julgamento de Paulo

           O apóstolo Paulo realizou uma frutífera obra missionária, já tratamos um pouco a respeito quando mencionamos a obra missionária da igreja. Portanto é mais conveniente agora um pouco de informação sobre a prisão e morte do apóstolo.
          Em Atos 1.27-40 encontra-se registrado como Paulo foi preso. Os judeus o acusaram de terem profanado o templo introduzindo gregos em seu interior. Preso, Paulo fez uso de sua cidadania romana, e o tribuno retirou-lhe as cadeias e pediu aos judeus que convocassem o sinédrio para interrogá-lo. Perante o sinédrio Paulo tendo a palavra, estrategicamente disse que se encontrava preso por crer na ressurreição dos mortos. Dessa forma dividiu o Sinédrio composto de fariseus, que crêem na ressurreição, e saduceus, que afirmam não haver ressurreição. Por conta disso foi necessário o comandante romano interferir prendendo Paulo novamente para protegê-lo em meio ao tumulto.
           No processo interrogatório que se seguiu, embora ainda não houvesse provas suficientes para condená-lo, Paulo fez valer seu direito de cidadão romano e apelou para apresentar seu caso perante César.
           Em sua viagem para Roma, em um navio de prisioneiros sob a responsabilidade de um centurião chamado Júlio, ele veio a sofrer um naufrágio vindo parar na ilha de Malta, podendo retornar a viagem apenas três meses depois.
           Ao chegar a Roma ficou surpreso com a calorosa recepção dos cristãos (At 28.15). Esteve em prisão domiciliar por dois anos, em uma casa que ele mesmo alugara, enquanto aguardava para ser ouvido por César. O Novo Testamento Temina o relato sobre ele afirmando que enquanto esteve em Roma pregava livremente àqueles que iam visitá-lo em sua casa e também aos próprios soldados responsáveis pela sua guarda.
           Há duas fontes extra-bíblicas, escritas antes de 200 a.C., a “Primeira epístola de Clemente” e os “Atos de Paulo” que afirmam que ele foi posto em liberdade por César, e que ele então pôde realizar mais trabalho missionário antes de ser preso pela segunda vez e executado. Paulo foi decaptado em Roma perto do fim do reinado do imperador Nero (c. 67 d.C).



CONCLUSÃO



            Podemos considerar a igreja militante em seus primeiros dias como uma igreja vitoriosa. Sofreu perseguição, mas a despeito disso e também em consequência, continua a crescer. Sofreu internamente devido heresias fermentadas por líderes fraudulentos, mas no geral permaneceu firme na fé e na doutrina dos apóstolos. Os crentes judeus tiveram de lutar contra seus próprios preconceitos para entenderem que o evangelho também era para os gentios. Podemos afirmar que o período apostólico mesmo em meio a todos os problemas que tenha ocorrido foi uma época sem igual na vida da igreja de Cristo.





BIBLIOGRAFIA



PACKER, J. I.; TENNEY, Morril C.; WHITE Jr, Willian – O mundo do Novo Testamento. São Paulo, editora Vida, 11ª edição, 2006.

DAVIS, John D. – Dicionário da Bíblia. Rio de Janeiro, editoras JUERP e Candeia, 20ª edição, 1996.

FOXE, John – O livro dos mártires. São Paulo, editora Mundo Cristão, 2005.

CAIRNS, Earle E. – O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo, 2ª edição, editora Vida Nova, 1995.

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