Hebreus 5.11-14 - O VALOR DO CONHECIMENTO PARA O PROGRESSO NA FÉ




A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir.
Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido.
Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.
Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal. (Hebreus 5:11-14).


Introdução

           A maturidade é o objetivo de quem cresce. Tanto para o corpo como para o espírito o crescimento se faz essencial para alcançar a maturidade. Em nosso corpo os exercícios físicos aperfeiçoam as faculdades motoras, contribuindo para o desenvolvimento dos músculos e nervos, equilíbrio e coordenação. Esse crescimento é progressivo e contínuo até enfim chegar à maturidade do corpo. Com o espírito não se faz diferente. Depois que nosso espírito nasce para Deus em Jesus, ele necessita crescer e se desenvolver em Deus. A maturidade do espírito também vem com exercícios de prática de justiça na Palavra de Deus que desenvolvem as faculdades e percepção espiritual (Hebreus 5.14). O não exercício tanto do corpo quanto do espírito leva a atrofia de suas capacidades, resultando em alguém que deveria, pelo tempo vivido, ser capaz de muitas coisas, mas não é. Infelizmente, quantos na igreja não estão assim? (Hebreus 5.12)!


Elucidação

           É impossível fixar a data da epístola com certeza absoluta, ainda que se possa dizer com considerável confiança que, muito provavelmente, ela foi escrita entre 60 e 70 d. C. Também não se sabe com absoluta certeza quem a escreveu ou quem foram os seus destinatários originais. O que se pode afirmar é que foi endereçada a crentes judeus que viviam fora da Palestina e que o autor busca mostrar-lhes que a Aliança em Cristo é muito superior ao Antigo Concerto. Porém, é identificado pelo autor o perigo de alguns deles retrocederem na fé (cap. 2.1: cap. 12). Por isso na epístola ele vai mostrando o quanto a nova aliança em Cristo é superior à aliança mosaica (cap. 3), mostra o quanto o sacerdócio de Cristo é superior ao sacerdócio da antiga aliança (cap. 5.1-10). E no texto em questão fica evidente a necessidade de estarem crescendo na maturidade cristã, pois assim não fracassariam na vida espiritual. 


I – COMPREENDER MELHOR A CRISTO E SUA OBRA, V. 11.

          1. Conhecimento é essencial para ser perseverante na caminhada.

           Vivemos dias nos quais um dos fenômenos mais comuns a observarmos na igreja é a facilidade com a qual tantas pessoas se desviam da fé. Facilmente os irmãos deixam de vir à igreja, ou então, como é muito comum em nossos dias, facilmente trocam de igreja. Sabemos que há diversos fatores pelos quais as pessoas se afastam da igreja:
a) Alguns porque verdadeiramente nunca foram convertidos. O tipo de Jesus que lhes foi pregado era meramente um Jesus para satisfação das necessidades humanas, normalmente necessidades materiais. Infelizmente ocorre que em nossos dias não há muito a preocupação de evangelizar transmitindo o conhecimento acerca de Cristo e Sua Obra. O resultado é encher os templos de pessoas não convertidas.
b) Outros, porque são como crianças na fé que em prática pouco sabe de Jesus e do que é segui-lo, ser discípulo. Deixa de ser perseverante porque lhe falta o conhecimento do verdadeiro evangelho, e quando lhes falta este conhecimento suas expectativas não estão de acordo com os propósitos do reino de Deus, e acabam se decepcionando porque querem algo para suas vidas que o Senhor não quer para elas.
É necessário entender que em nossa caminhada teremos altos e baixos, momentos de euforia e momentos de desânimo, mas se compreendermos bem a obra e pessoa de Jesus melhor enfrentaremos os obstáculos espirituais em nossas vidas.

           Se considerarmos que conhecimento é essencial para sermos perseverantes, é necessário buscarmos esse conhecimento.

          2. Não devemos ser preguiçosos no aprendizado, v. 11.

           É utilizado aqui no v. 11 o adjetivo notroi (literalmente 'preguiçosos'). A preguiça dos hebreus em ouvir o ensinamento fazia com que não recebessem uma instrução mais elevada, logo, eram ignorantes a respeito de alguns aspectos da obra de Jesus que se tornavam difíceis para eles. Lembrem que nos versículos anteriores o escritor está explicando a superioridade do sacerdócio de Cristo em relação ao sacerdócio da antiga aliança.
           Esperamos que independentemente de sua capacidade intelectual você não seja preguiçoso para aprender de Cristo.

           Se não formos preguiçosos no aprendizado naturalmente progrediremos no conhecimento de Deus. É necessário nos esforçarmos, buscarmos intensamente o conhecimento bíblico em sua pureza evangélica.


II – DEDICAÇÃO LEVA AO CONHECIMENTO, V. 12.

           Os hebreus são advertidos aqui quanto ao fato de que já tinham tempo suficiente no evangelho para serem mestres. Se você já é antigo na fé, pelo tempo decorrido já deveria estar ensinando a outro, discípulo faz discípulo. Porém, é necessário que se diga que quanto a ser mestre com a responsabilidade de ensino oficial na igreja é reservado àqueles que o Senhor vocacionou.

           1. Não queirais muitos de vós ser mestres, Tg 3.1.
“Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1).

           O que o apóstolo Tiago está instruindo aos irmãos é que deveriam olhar para a responsabilidade do ensino com temor e tremor, com seriedade. Ele passa a discorrer que todos, inclusive os mestres, pecam com as palavras. Mas o Senhor cobrará de forma mais severa daqueles que tem responsabilidade de edificar a outros. Ele não está contradizendo o que o escritor aos Hebreus escreveu, mas complementando.

           Mas aqueles que o Senhor chama para serem mestres devem ser dedicados nesta missão gloriosa.

           2. Os que são mestres devem edificar com qualidade, 1 Co 3.10-17.

           Para que a igreja do Senhor esteja progredindo na fé é necessário que os mestres estejam de fato cumprindo a sua função. Paulo chama atenção em 1 Co 3.10-17 ao fato da responsabilidade dos líderes de concederem à igreja uma boa edificação. Ele apresenta vários níveis de edificação: ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno e palha. Queremos então, quanto à responsabilidade dos mestres, fazer duas advertências à nossa classe:
1ª) Que busquemos dar a melhor edificação possível à igreja quer seja ouro, prata ou pedras preciosas. Se for de madeira, feno ou palha poderá estar prejudincando a igreja do Senhor, e Ele é bem exigente quanto a isso (v. 17).
2ª) Por mais conhecimento que tenha o líder, e por mais que ele seja excelente naquilo que esteja fazendo, a glória é de Deus (v. 6, 7).

           Se a igreja tem um líder que se preocupa com sua edificação espiritual, logo ela terá oportunidade de deixar o leite, de deixar de ser criança na fé.


III – O CONHECIMENTO LEVA À MATURIDADE, V. 13; 1 Co 3.1, 2.
Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. (1 Coríntios 3:1,2).

           Tanto o escritor aos Hebreus quanto o apóstolo Paulo gostariam de ter instruído aos irmãos a quem escreveram sobre questões mais difíceis, mais profundas. Mas se viram obrigados pelas circunstâncias a ainda falarem de coisas básicas. O apóstolo Paulo, sobre unidade; o escritor aos Hebreus, desejando não mais tratar de assuntos como obras que não glorificavam a Deus, fé, batismo, imposição de mãos, ressurreição de mortos e juízo eterno.

           1. A falta de conhecimento leva à carnalidade, 1 Co 3.1,2.

            É interessante como o apóstolo Paulo coloca como sinônimos as expressões crianças em Cristo e carnais. Essas expressões devem ser utilizadas então no sentido de que há aqueles que têm oportunidade de amadurecer espiritualmente, mas permanecem crianças, na verdade se deixando levar pelo pecado. Essa carnalidade, excetuando os casos de hipocrisia (aqueles que conhecem a Palavra, aparentam fidelidade, falam de si mesmos como sendo fiéis, mas vivem em desobediência), excetuando-se esses casos, a carnalidade na vida do crente, dentre outros motivos, advém da falta de conhecimento das Escrituras. Lembremos que a verdade de Deus é libertadora: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.32); e quanto mais conhecermos a verdade mais livre poderemos ser dos nossos pecados.

           Ao buscar a maturidade cristã podemos como igreja do Senhor adquirir algo que é muito importante para nossa vida prática.

           2. O conhecimento leva a igreja a ter discernimento, v. 14.

           É verdade que o Senhor concede o dom de discernimento espiritual, mas é verdade também que quanto mais conhecermos as Escrituras mais discernimento teremos. Discernir tanto o bem quanto o mal significa entender quando nossas atitudes, posturas, pensamentos, sentimentos, decisões estão agradando ao Senhor ou desagradando-lhe. Aquele quem tem suas faculdades exercitadas pela prática de se alimentar espiritualmente com a Palavra de Deus de forma substancial se enganará menos na vida, sofrerá menos danos por decisões erradas. Lembremos o que diz Pv. 14.12: “Há caminhos que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte”.
           Além deste aspecto prático da vida, é necessário que enfatizemos o quanto é importante o conhecimento bíblico para discernirmos se aquilo que estamos ouvindo e vendo estão de acordo com a sã doutrina de Deus revelada em Sua Palavra. Tendo nossas faculdades exercitadas perceberemos que muito daquilo que é dito à igreja em nossos dias contraria as Escrituras, contraria os ensinos de Jesus. Cresça no conhecimento da Palavra para não ser levado por qualquer vento de doutrina ou por obreiros fraudulentos que não estão preocupados com o rebanho do Senhor, mas consigo mesmos. Devemos ser gratos ao Senhor, pois em Sua providência ele concede os meios necessários para que a igreja cresça no conhecimento e chegue á maturidade espiritual, como nos mostra Ef 4.11-16: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.

           Desse modo meus irmãos, gostaria de fazer algumas aplicações práticas:


Aplicação

1. Nunca imagine que você já sabe o suficiente, sempre podemos aprender mais, portanto, valorize as oportunidades que o Senhor tem lhe dado para aprender a Palavra. Valorize sua EBD, o culto de doutrina, as pregações que você tem ouvido neste púlpito. Não há como você conhecer melhor a Cristo sem conhecer mais a Palavra.

2. Se há alguém aqui que recebeu do Senhor o dom de mestre, não sufoque seu dom, lembre-se que você tem a responsabilidade de desenvolver os dons que pelo Espírito Santo o Senhor lhe concedeu. Não tente fugir diante do chamado de Deus para sua vida.

3. Se quiser sofrer menos pelas consequências dos seus pecados, conheça mais a Palavra de Deus. Mas lembre-se que não é suficiente o acúmulo do conhecimento intelectual, é necessária a prática diária: “Tornai-vos, pois, praticantes da Palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22).

4. Busque conhecer sempre mais a Palavra, mas tenha cautela para não ser enredado por esses falsos mestres que a todo o momento bombardeiam sua mente na televisão e na mídia em geral. Valorize então aqueles que o Senhor levantou em sua igreja para lhe ensinar.


Conclusão

“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino, raciocinava como menino. Mas logo que cheguei a ser homem acabei com as coisas de menino” (1 Coríntios 13.11).
           Andemos de acordo com o que já temos alcançado.

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