Introdução
Nós
cristãos vivemos uma tensão no que diz respeito ao fato de temos duas
cidadanias. Somos brasileiros, vivenciamos as coisas referentes ao nosso
contexto secular; mas ao mesmo tempo somos cidadãos dos céus, temos uma pátria
celestial, e neste mundo consequentemente somos embaixadores desse reino espiritual.
Vivemos também a tensão entre o nosso encontro futuro com Cristo, quando então
nossa cidadania espiritual se efetuará e prevalecerá sobre a atual, e a nossa
cidadania do presente. A igreja então está entre aquilo que é e aquilo que virá
a ser.
Assim,
não podemos jamais esquecer quem somos e que neste mundo somos peregrinos: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde aguardamos o
salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).
Enquanto
nos encontramos aqui como encontrar o equilíbrio entre essas duas cidadanias?
Como lidar com esses conflitos?
Elucidação
Paulo,
ao escrever essa epístola estava preso em Roma, tencionava expressar gratidão
pela ajuda enviada por aquela igreja através de Epafrodito (Fp 2.25; 4.18).
Aproveita a ocasião para incentivá-los à unidade cristã, à uma vida coerente
com o evangelho de Cristo. Faz isto utilizando os aspectos sociais e culturais
daquela cidade. Filipos era uma colônia romana, seus cidadãos eram romanos,
falavam latim, vestiam vestimentas romanas, lembravam e se orgulhavam do fato
de mesmo estarem localizados em território grego eram totalmente romanos. Eles
tinham um grande orgulho de sua cidadania.
Desse
modo, o nosso texto incentiva a igreja a viver de modo digno da cidadania
celestial.
I – Vivam a missão cristã, v.27.
A
expressão utilizada pelo apóstolo Paulo que foi traduzida por “vivei” tem na íntegra o sentido aqui de “se portem
como cidadãos”. Ele já havia falado muitas coisas nesse capítulo, mas chama
a atenção aqui para algo sobremodo importante – “acima de tudo”.
O
incentivo de Paulo parte não de uma teoria, mas do fato de que ele mesmo vivia
de modo digno do evangelho. A causa do evangelho foi sempre central para Paulo:
No
passado, v. 12;
Ele
não se importava em ter passado privações, perseguições, desde que tudo tenha
contribuído para o progresso do evangelho.
No
presente, v. 14-18.
Paulo
não se preocupava com os invejosos, com aqueles que queriam o seu “posto” na
igreja, desde que pregassem Cristo e não heresias. O importante para ele era
cristo ser anunciado.
No
futuro, v. 20, 21.
O
presente era Cristo, sua vida era Cristo e fazê-lo conhecido. O futuro seria
encontro com Cristo, então morrer seria lucro.
Paulo
entende toda a sua história, passado, presente e futuro à luz da mensagem de
Cristo.
Que
assim como Paulo, cada um de nós cumpramos a nossa missão! Que vivamos de modo
digno do evangelho. Entenda a centralidade de Cristo em toda a nossa história
de vida.
II – Utilizem a estratégia
cristã, v.27, 28.
A
estratégia correta a ser utilizada então é viver em unidade. Lembremos quão
enfaticamente Jesus enfatizou a importância desse elemento espiritual:
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.34–35). “[..] e como és
tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia
que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para
que sejam um, como nós o somos” (Jo 17.21–22).
O
apóstolo Paulo sabia muito bem que uma igreja só pode ser vitoriosa batalhando
em unidade. O desejo dele é que mesmo em sua ausência pudesse estar ouvindo
falar da maturidade daquela igreja, ouvisse que eles estavam se prontificando
para batalhar pela causa de Cristo. O “estais firmes” na verdade aqui é uma
linguagem militar, que traz o sentido de ‘prontos para o combate’.
Deveria estar “em um só espírito”. Espírito
aqui pode ser o Espírito Santo ou uma atitude presente conjuntamente em cada
cristão. Os intérpretes se dividem a respeito. Deveriam então estar lutando
juntos, e isso é mais do que uma associação para uma causa comum, trata-se de
uma unidade que excede àquela encontrada em contextos seculares. Juntos, por
ser uma única família, por ter uma ligação espiritual realizada pelo próprio
Cristo em sua obra e operacionalizada pelo Espírito Santo deve a igreja “lutar pela fé evangélica”. Trata-se aqui de fé no
sentido de conteúdo daquilo que cremos, ou seja, das doutrinas. Paulo está incentivando a uma luta
evangelística e apologética. Ele quer unidade para a igreja, mas ele sabe
que não existe verdadeira unidade destituída da verdade da Palavra.
Que lutemos juntos não por
modismos ou doutrinas de homens, mas pela verdade de Deus, e assim
vivenciaremos verdadeira unidade (Ef 4.1-6).
Que
nesta luta não nos sintamos intimidados. Esta expressão (pturemenoi =
intimidados) era utilizada para se referir a um cavalo assustado no campo de
batalha. Paulo é bastante realista, sabe que como cristãos estamos todos em
guerra, mas nos incentiva a prosseguirmos avante.
Os
verdadeiros crentes não terão esperança de serem amigos do mundo, pois sua
própria presença já é uma censura ao que o mundo abraça. Podemos correr o risco
de sermos vistos como presunçosos por afirmarmos que estamos em Cristo e somente
por meio de Cristo há salvação. Muitos consideram-nos intolerantes e
homofóbicos por falarmos contra o adultério e contra o homossexualismo. Então
diante disso tudo ou as pessoas serão impactadas pelo evangelho ou se oporão
aos cristãos. Mas Jesus já nos advertiu a não esperarmos simpatia do mundo: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros,
me odiou a mim” (Jo 15.18). Daí Paulo diz para não nos
intimidarmos.
Essa
situação é prova evidente de perdição para eles, pois serão julgados
pelo Senhor (2 Ts 1.7-9). Para nós é prova de salvação no sentido de que é uma
prova de que pertencemos ao Senhor. O Senhor Jesus já havia proferido: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos
injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos
e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram
aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10–12).
Não
desanime diante de perseguições, se alegre em Cristo, ainda que delas advenham
sofrimentos.
III – Viva o estímulo cristão, v.
29.
O
estímulo cristão para prosseguir vitoriosamente em Cristo está em algo estranho
a quem não tem o Espírito Santo. Por estranho que à primeira vista possa
parecer, o nosso estímulo é a graça de padecermos por Cristo.
Paulo
tem toda propriedade para incentivar isso aos irmãos. Ele mesmo quando visitara
Filipos para pregar o evangelho e então iniciar a igreja naquela cidade teve a
oportunidade de expulsar um espírito maligno de uma jovem. Tal evento deixou as
pessoas que exploravam aquela situação enraivecidas e conseguiram prendê-lo sob
a acusação de perturbação da ordem social. Diz o texto bíblico de Atos 16 que
mesmo na prisão, mesmo tendo sido açoitados injustamente Paulo e Silas louvavam
à Deus alegremente (v.25) Tão impactante foi esse momento que redundou na
conversão do carcereiro e sua família.
Isso
não significa que o cristão deve
precipitar-se inconsequentemente a uma situação de sofrimento, mas que caso
venha a estar presente pelas razões de vivermos o evangelho devemos entender
como privilégio manifesto pela graça do Senhor. Se sofrermos, não por consequência
de nossos pecados, mas por andarmos em fidelidade à nossa cidadania celestial
neste mundo hostil, isto redundará em glória para nós: “Ora,
se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com
Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados (Rm
8.17); (1Pe 4.12-16).
Diante
de tudo isso, há alguns desafios para nós como embaixadores de Cristo em nossa
cidadania presente.
Aplicação
Desafios
do cristão:
1.
Viver o equilíbrio de estar na expectativa da consumação da pátria espiritual
sem desconectar da realidade social. O cristão pode se envolver politicamente
em sua conjuntura social. Pode sentir orgulho de sua pátria, desde que não a
idolatre.
2.
Entender que a unidade do corpo de Cristo deve exceder àquilo que vemos como
unidade no contexto de não-igreja.
3.
Saber se estamos em nossa caminhada sendo aprovados ou reprovados pelo Senhor.
4.
Não fugir ao compromisso do evangelho de Cristo para simplesmente não vivermos
algum prejuízo.
Conclusão
No
v. 30 Paulo lembra que sofreu quando chegou em Filipos, colocando-se como
exemplo ao mesmo tempo que mostra que o combate que viram nele é compartilhado
pelos filipenses. Mas não apenas por eles, por todos os cristãos. Assim, viva
esse combate, essa tensão entre o temporal e o eterno, entre a pátria celestial
e a terrena de tal forma que as pessoas reconheciam você como cidadão do Reino
de Deus.
2 Comentários
Louvado seja Deus 🙌
ResponderExcluirMuito boa explanação do texto, muitos ensinamentos. Obrigado e que Deus continue lhe abençoando.
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