Introdução
Miquéias, cujo nome
significa “quem, ó Deus, é semelhante a ti?” viveu e profetizou em Judá
(Jerusalém) entre os anos 750 a 687 a. C. Foi contemporâneo dos reis Jotão,
Acaz e Ezequias e do profeta Isaías. Sua mensagem central é de advertência ao
povo acerca do juízo divino. Ele profetiza a respeito da invasão babilônica,
como sendo expressão da justiça do Senhor em face a iniquidade do povo.
O capítulo 6 é uma profecia
contra Israel, nestes versículos ele coloca que o Senhor chama o seu povo a
juízo com ele. Nos versículos 1 a 5 estão as acusações do Senhor para com o
povo da Aliança, entre o 6 e 7 ele declara como o povo gostaria de sair-se
daquela situação em que o juízo divino pesaria sobre eles, no v. 8 ele revela a
exigência de Yavé para a vida do povo e nos versos 9 a 16 ele detalha as
acusações e anuncia o veredito.
I – A
acusação do SENHOR, v.1-5.
O que fez o povo para estar
em juízo?
O livro de Miquéias tem um
cunho bastante social. Ele denuncia como os poderosos da nação estavam a
oprimir os camponeses. Estes se sujeitavam a receber empréstimos daqueles e
pagar juros altíssimos. Era uma exploração, uma maldade. No cap. 2.1-2 ele
denuncia o roubo de terras e casas; 6.9-16 - comércio fraudulento e acúmulo de
riquezas de forma injusta por meio da exploração dos necessitados; 7.1-6 – não
há mais comunhão nos relacionamentos, não há confiança; 3.1-4 – abuso exploração
por parte das autoridades; 3.9-12 – as autoridades pervertem o direito. Diante
de tudo isso Miquéias prega contra tanta maldade e é perseguido pelos
poderosos, que tentam silenciá-lo (2.6 e 11). Mas ele sabe quem o enviou e diz
ousadamente no cap.3 v. 8: “Eu, porém , estou cheio do
poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo de força, para declarar a Jacó a
sua transgressão e a Israel o seu pecado”. E ele não poderia deixar de
falar contra os falsos profetas que agiam motivados por interesses pessoais
(2.11).
É nesse contexto em que Deus
chama o seu povo a juízo. E desse modo por meio do profeta ele fala ao povo como
em uma cena de tribunal.
Podemos
dizer que aqui o tribunal está formado, será dado ao povo o direito a ampla
defesa e ao contraditório. O Senhor começa nos vs. 1 e 2 tomando os montes como
testemunhas. O que poderia o povo dizer para se justificar? Então segue-se a
acusação.
v.3 “Povo
meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me!”. As
acusações estão formalizadas de modo detalhado nos v. 9-16. Aqui no v. 3 ele estar
chamando o povo a tentar mostrar suas razões para tanta infidelidade, tanta
maldade. O povo da aliança havia sido liberto pelo Senhor da escravidão do
Egito, com ele foi estabelecido um pacto de vida para comunhão, proteção,
adoração, fidelidade, anunciação às demais nações acerca do Deus a quem eles
serviam. O Senhor em sua graça proveu esse pacto para eles, deu-lhes os
mandamentos. Mas com suas ações eles quebraram tanto os mandamentos acerca do
relacionamento com Deus quanto aqueles que dizem respeito ao relacionamento com
o próximo.
É
interessante que apesar de tudo isso veja o Senhor se dirige a eles como povo
meu.
Eles não deixaram de ser do Senhor, mas são acusados de terem se enfadado de
Deus. Diante disso no v.4 mostra-lhes como Ele é providente:
a) livrou-os do cativeiro do
Egito;
b) providenciou líderes para
guia-los; e
c) no final do v. 5 fala de
sua proteção e cuidado enquanto caminhavam no deserto rumo à terra prometida.
Faz lembrar o episódio de
Balaque e Balaão registrado em Nm 22 e 23, no qual um rei ímpio contrata o
profeta Balaão para amaldiçoar o povo, mas Balaão impedido pelo Senhor de
amaldiçoar o povo disse: “Como posso amaldiçoar a quem
Deus não amaldiçoou? Como posso denunciar a quem o Senhor não denunciou?”.
Lembrando essas coisas ao
povo o Senhor está lhes mostrando o quanto estavam sendo ingratos a ele por
meio das suas ações perversas.
Deus está perguntando se os
decepcionou de alguma forma, se em algum momento deixou de amá-los.
Não havia o que responder ao Senhor, pois sabiam de sua história, sabiam da
paciência do Senhor, da sua bondade, dos seus livramentos.
Hoje,
muitos viram as costas ao Senhor. A igreja tem se deixado
corromper. As perguntas feitas ao povo de Israel há séculos são pertinentes a
nós também. Também o Senhor te livrou de escravidão,
sendo que espiritual. Também
o Senhor te protege, todos os dias, todos os momentos. Também tem manifestando o
seu amor cotidianamente para com o povo da aliança no sangue de Cristo.
Se você fosse
chamado ao juízo hoje o que diria ao Senhor, como justificaria os seus pecados?
Se a igreja fosse chamado ao
juízo o que poderia dizer ao Senhor por conta dos absurdos que podem ser vistos
em nosso meio? Na igreja atual também há injustiça, também há ambição, também
há falsos profetas, há tolerância demasiada com o pecado...
Naquele tribunal o profeta
expõe nos v. 6 e 7 como o povo queria se salvar do juízo divino.
II –
Como o povo gostaria de se salvar do juízo, v. 6-7.
Nesses versículos o profeta
Miquéias expõe o sentimento do povo em face ao que foi exposto pelo promotor
neste julgamento. A forma como o profeta se expressa é como quem está dando a palavra
aos acusados para que possam se defender. Eles poderiam terem dito ao Senhor:
Senhor, pecamos, contra ti, pecamos uns contra os outros, diante de nós está o
nosso pecado, perdoa-nos! Eles poderiam ter se voltado à Palavra e rasgado os
seus corações em arrependimento na presença do juiz eterno. Contudo, não é
desta forma que eles agiram.
O v. 6 mostra o caminho
utilizado por eles. Uma tentativa religiosa de aplacar a ira divina. Sacrifícios,
rituais sem compromisso de vida era o caminho da facilidade. Não desejam
mudar, mas queriam mudança. Não queriam ser punidos, mas também não queriam
o Deus Soberano que pune. O povo não queria adorar a
Deus pelo o que Ele é, queria um deus manipulável, que mediante os sacrifícios
oferecidos fizesse a vontade de seus adoradores. Mas no v. 7 por meio
de pergunta o profeta deixa claro que nenhum sacrifício que eles fizessem seria
suficiente. Não era assim que eles escapariam do juízo, ainda pensassem que a
extravagância na quantidade de sacrifícios agradaria ao Senhor. Até mesmo
ocorreu na história de Israel algo condenável pelo Senhor, sacrifício humano.
Deus
não está a dizer aqui que os holocaustos eram errados, foi ele mesmo quem
estabeleceu. Mas a forma como estavam agindo é onde
estava o erro. Queriam oferecer os sacrifícios, mas continuar vivendo em
extorsão, sendo injustos, mentirosos, corruptos, egoístas. Ofereciam o culto,
mas a vida não cultuava a Deus. E isso era condenável, Deus não aceitaria o
sacrifício dessa forma, se aceitasse, seria como ser subornado.
Contudo, sempre na
literatura profética as palavras de juízo mostram também a saída e a graça de
Deus. Deus está dizendo a eles o que ele exige. O que ele exige não requer
bens, dinheiro, animais, realizar algo muito difícil. O v. 8 é um maravilhoso
resumo do que está expresso em muitos momentos da exigência divina para com o
povo.
III
– A exigência do SENHOR para o seu povo, v.8.
Interessante notar aqui que
não é algo que parte da imaginação humana, não se trata de uma conclusão a partir
da reflexão do tipo: o que poderei fazer para agradá-lo? Caso fosse, a
conclusão poderia ser tão variada. É o SENHOR mesmo que diz como poderá o povo
agradá-lo.
É interessante que agora o
profeta utiliza expressões no singular. Cada um deles individualmente deveria
atentar o aviso do Senhor.
a) Deus exige a prática da
justiça.
Esse
é um dos conceitos mais ricos de toda a Bíblia. Tem significados de nosso
relacionamento com o Senhor e de nosso relacionamento com outras pessoas.
Justiça aqui é fazer o que é certo tanto para com Deus quanto para com o próximo.
É honrar a Deus, obedecer aos seus preceitos, ao mesmo tempo em que defender a
vida, ser íntegro nos relacionamentos, defender os direitos dos semelhantes.
b) Deus exige que amem a
misericórdia.
Enquanto a primeira
exortação tem por alvo o relacionamento com o Senhor e com o próximo, a segunda
visa a relação de uns com os outros. Deveriam agir sempre com misericórdia. Ora,
tudo o que fazemos para com as pessoas tem consequência para a vida espiritual.
Jamais poderá ser vivida uma fé bíblica
destituída da solidariedade, compaixão e empatia com os outros.
E há algo aqui bem interessante, ele não diz que seria
suficiente agir com misericórdia, mas que amassem a misericórdia. Obras de misericórdia podem ser
realizadas por motivações errôneas, como os fariseus, que como diz Jesus, davam
esmola com uma mão e tocavam a trombeta com outra; queriam ser vistos pelas
pessoas. Quem ama a misericórdia, quem ama ajudar não faz para aparecer, pelo
contrário, não faz publicidade pois não quer a glória para si.
d) Deus exige humildade.
Observem que a pratica da
justiça e o agir benevolente dependem desse preceito. Aqui se tem em mente
apenas o relacionamento com Deus.
Humildade aqui é a atitude
diante do Ser Supremo do reconhecimento humano de suas próprias limitações,
fragilidade, mortalidade, e, portanto, dependência. Diante do Deus excelso,
incomparável, não pode ser outra a nossa postura.
Miquéias está dizendo isso a
pessoas arrogantes que esqueceram de sua dependência do Senhor, e por conta
disso agiam tão malignamente para com seus semelhantes.
Essa forma de viver não estava presente em
suas vidas, assim, após essa cena de julgamento o profeta detalha as acusações
e anuncia o veredito do Senhor.
IV –
Deus declara o veredito do julgamento, v.9-16.
Há uma lista de acusações
para com aquele povo, de forma especial, os poderosos da nação:
v.10
– o acúmulo de tesouros ímpios. Não é a riqueza que Deus
condena, mas ser tomado por avareza, por ambição desmedida. Os artifícios
maliciosos para enriquecer.
v.
11 – a desonestidade nos negócios.
v.
12 – a violência, a mentira era algo comum.
v. 13 Diante de tudo isso, o Senhor deixa
claro que é Ele mesmo quem irá ferir a nação. Havia profecias da destruição e
deportação para Babilônia, mas esta nação ímpia seria apenas instrumento para
aplicação do juízo divino.
v. 14 – Haverá fome, perderão seus bens.
v. 15 - não poderão usufruir dos frutos de
seu trabalho.
v.16 – Haverá uma desolação absoluta. Essa
será a punição por sua iniquidade, pela idolatria, pois ao invés de observar os
estatutos do Senhor tinham se sujeitado aos de Onri e Acabe, os reis mais ímpios
da história de Israel. Abandonaram ao Senhor para servir a Baal por influência
de Acabe e Jesabel.
O juízo veio com todo o peso
tempos depois quando o povo foi levado cativo para a Babilônia, lá viveram a
sentença de setenta anos de prisão que o Senhor lhe deu.
Mas há algo formidável a ser
observada é que esse juízo era não apenas punitivo com também corretivo para a
nação. No cap. 7.18-20 traz a palavra de esperança do futuro livramento. O
Senhor não manteria sua ira permanentemente.
Conclusão
1. Será que você se enquadra de alguma forma
às acusações postas pelo Senhor nesse texto? Será que tem se enfadado do
Senhor? Será que tem esquecido dos seus benefícios em sua vida?
2. Dê ouvidos às palavras proféticas que
buscam te alertar. Não espere ser castigado pelo Senhor, arrependa-se.
3. É possível a nós vivermos o que o Senhor
exige? Em Cristo é possível. Jesus anunciou o que é bom, praticou a justiça
salvadora e andou humildemente com Deus. Todas essas virtudes espirituais podem
estar em nossas vidas por estarmos ligados a ele.
4.
No dia 31 de outubro é aniversário da Reforma Protestante. Assim, como Miquéias
em sua época Lutero também se levantou como voz profética contra a injustiça,
condenando os abusos da igreja em sua época. Que a mesma postura possa haver em
nós, que não nos conformemos com a realidade presente. Se a igreja precisa de
uma nova Reforma que possa começar conosco.
5. Haverá
um dia em que o julgamento não será uma cena ilustrativa em uma profecia, mas
todas as nações, todas as pessoas estarão diante do juiz de toda a terra e uns
serão postos a sua esquerda e outros a sua direita (Mt
25.31-46). Aqueles que ele colocará à sua esquerda serão repelidos por
Cristo, o Justo juiz para a condenação eterna. Os que estarão à sua direita usufruirão
de sua presença eternamente. Aqueles que
verdadeiramente nele estão praticam as obras que ele mencionou.
0 Comentários