Introdução
Não há um consenso sobre a época
exata da vida de Malaquias. Sua época é fixada em 450 a 400 a. C., depois de
Esdras e Neemias.
No ano 538 uma parte do povo judeu cativo
voltara a sua terra sob a liderança de Ageu e Zacarias e reedificaram o Templo
entre 520 a 516 a. C. Esdras viera da Babilônia a Jerusalém para ajudar na
reconstrução da nação e depois em 445 Neemias reconstruiu os muros de
Jerusalém.
No tempo de Malaquias já fazia 100
anos que a primeira leva de judeus haviam voltada da Babilônia. Já não eram
mais idólatras, vivenciaram uma época de fervor espiritual, mas então entraram
em decadência, pois negligenciavam a casa do Senhor. Os sacerdotes
encontravam-se corruptos, relaxados, os sacrifícios eram de péssima qualidade,
os dízimos eram negligenciados, estavam ocorrendo casamentos mistos com pessoas
de povos idólatras etc.
Era esse o estado de coisas de um
povo que aguardava a vinda do messias prometido. Malaquias assegurou-lhes que o
Messias viria, mas isso significaria juízo para eles. A última mensagem do
Antigo Testamento é dirigida aqui a uma nação desobediente.
O nosso texto prossegue com uma
palavra condenatória aos sacerdotes e que deve levar todo o povo a refletir.
I – Maldição, retribuição divina da
desobediência, v.1-3; Dt 28.15.
Não há neutralidade aqui, ou os
sacerdotes estariam sendo abençoados ao dar ouvidos à Palavra de repreensão que
lhes era dirigida, ou seriam amaldiçoados caso não dessem ouvidos e não honrassem o nome do Senhor. Ou eles estariam sendo uma bênção para o povo, ou estariam
sendo uma maldição. A palavra ‘maldição’ tem o sentido de castigo divino, de
ação divina contra os sacerdotes. O castigo seria tal que mesmo quando eles
levantassem a mão para abençoar o povo com a bênção sacerdotal de Nm 6.24-26,
em vez de bênção o povo estaria recebendo maldição. É este o sentido de “amaldiçoarei as
vossas bênçãos”. Os sacerdotes estão
recebendo essa sentença incorrigível porque haviam se desviado de seu dever
sagrado de instruir o povo do Senhor.
De igual modo em nossos dias nenhum
líder, e porque não dizer nenhum cristão pode acreditar que se encontra em uma
neutralidade. Ou você estará sendo bênção na igreja do Senhor ou estará sendo
motivo de atrair a maldição divina. Aqueles sacerdotes contra quem Malaquias
impugna a Palavra do Senhor eram culpados de subtrair a Palavra, não ensinavam
ao povo como deveriam, não davam ouvidos à voz do Senhor. Infelizmente também
em nossos dias encontramos exemplos igualmente horríveis. Líderes que não
valorizam a Palavra de Deus. Há literalmente igrejas que desencorajam os
pastores a estudar as Escrituras como que atribuindo carnalidade ao ato do
estudo. E por conta disso ocorre o que profetizou Oséias: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe
falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento…” (Os 4:6). Se o líder despreza a Palavra de Deus não
estará sendo instrumento de bênção para o povo, ainda que esse povo se sinta
empolgado com ele. Se despreza a Palavra como poderia dar honra ao nome do
Senhor. Honrar significa “dar peso, considerar como importante”.
Como consequência desse procedimento
errado dos líderes temos:
a) uma descendência reprovada (v.3).
A palavra “descendência no original
hebraico tem o sentido de “semente”. A ideia aqui pode ser dupla. A palavra
pode ser interpretada como um juízo divino de que reprovaria suas colheitas,
então com a escacês o dízimo a ser recolhido seria prejudicado, o que atingiria
o sustento dos sacerdotes. A outra aplicação é que haveria uma drástica
diminuição na taxa de natalidade. Uma diminuição contínua de pessoas e
colheitas era o juízo de Deus.
b) uma liderança desonrada (v.3).
“… atirarei excremento aos vossos
rostos, excremento dos vossos sacrifícios”. Desonraram a Deus, agora receberiam a
devida paga. Atirar algo no rosto de alguém era uma ofensa muito grave. Era
assim que o Senhor então iria trata-los.
c) uma
liderança rejeitada (v3).
“… e para junto deste sereis
levados”. O excremento dos sacrifícios devia ser levado para FORA do
arraial e queimado (Ex 29:14; Lv 4:11). Os sacerdotes por haverem rejeitado o
Senhor seriam também por Ele rejeitados, tirados de seu lugar sacerdotal.
d) uma liderança que só atenta para Deus
quando é tarde demais (v.4).
“Então sabereis que eu vos enviei
este mandamento…”. Há muitos que
continuarão em sua iniquidade até serem envergonhados em público.
II – Obediência, característica do povo
da Aliança, v. 4-6.
O Senhor houvera escolhido o povo de
hebreu como seu povo e com ele estabelecera uma aliança de ser o seu Deus e por
meio deles trazer a este mundo o salvador. Dentre a nação israelita o Senhor
escolheu a tribo de Levi para que dessa tribo fosse consagrado os sacerdotes
responsáveis pelo culto ao Senhor e pelo cuidado do santuário, primeiramente o
Tabernáculo, quando o povo era peregrino no deserto, e depois o Templo, na
época dos reis, construído por Salomão.
A obediência, a fidelidade deveria ser
algo característico do povo de Deus. E os levitas eram responsáveis por ensinar
ao povo a viver para o Senhor bem como lhe prestar o devido culto. O texto nos
diz que foi uma aliança de vida e de paz, e que de fato, por algum momento os
levitas temeram e tremeram diante do Senhor. “…com efeito ele me temeu, e tremeu por causa
do meu nome… andou comigo em paz e em retidão”. E isso era mais
importante do qualquer coisa que eles poderiam fazer como responsáveis pela
guarda do Templo, o que era de fato muito serviço. A preciosa lição pra nós
aqui é que é muito mais valioso aquilo que somos do que aquilo que fazemos
para Deus. Andar com Deus é mais importante do que trabalhar para Deus.
Busque servir ao Senhor, há espaço
na igreja local para todos que queiram trabalhar: evangelize, cante, ensine,
participe de alguma obra social da igreja etc, mas nunca esqueça sua própria
vida diante de Cristo, nunca negligencie sua comunhão com ele. O Pr. Josemar
Bessa fez a seguinte afirmação: “se sua
vida pública excede a sua vida privada, você está em sérios apuros”.
No versículo 6 é dito que: “A verdadeira
instrução esteve em sua boca”. Houve
sacerdotes fiéis, que ensinaram a Palavra corretamente, que falaram de Deus ao
povo. Lembremos que há uma conexão entre o que o homem fala e o que ele é: “Quem, SENHOR,
habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive
com integridade, e pratica a justiça, e, de coração fala a
verdade...” (Sl 15.1, 2). “Ou fazei a árvore
boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se
conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque
a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.33-34).
Os ministros de Deus tem o dever de
viver em conformidade com suas palavras, com a proclamação do evangelho que tem
anunciado, mas evidentemente que este é um dever de todo cristão. Você também é
povo da aliança, é sacerdócio real (1 Pe 2.9), desse modo o imperativo moral
desse texto se estende a você!
Cuidado para não viver falando uma
coisa e estar fazendo outra!
Vejamos agora um pouco mais dos
deveres da liderança espiritual que esse texto nos trás.
III – Deveres da liderança espiritual,
v. 6-9.
O texto nos trás esses deveres:
a)
Evangelizar, v. 6.
“… E da iniquidade apartou a muitos”. Encontra-se
aqui o dever da evangelização. Quem é chamado para servir ao Senhor tem de amar
ver vidas sendo resgatadas da condenação, e tem de ser instrumento do Senhor
para que isso ocorra. Maravilhosa é a recompensa dos ganhadores de alma: “… os que a muitos
conduzirem à justiça, resplandecerão como as estrelas sempre e eternamente”
(Dn 12:3).
b)
Ensinar a Palavra, v. 7.
“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento,
e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque é mensageiro do
Senhor dos Exércitos”.
Lastimavelmente é verdade que há
muitos ministros de Deus preguiçosos, que NÃO estudam a Palavra. Por conta
disso acabam dando palha ao povo ao invés de pão. Seguem sempre a moda
doutrinária do momento, não tem fundamentos firmes. Outros perdem a paixão pela
proclamação da Palavra e a substituem por entretenimento. A igreja de Cristo
precisa ser reformada mais uma vez em muitos aspectos, e única forma de fato de
isso acontecer é pela fiel pregação da Palavra de Deus.
c) Manter-se
fiel, v.8.
O v. 8 traz o mau exemplo daqueles
sacerdotes que não andavam em fidelidade com Deus. Nossos dias não são tão
diferentes, vivemos hoje uma terrível crise vocacional. Há pessoas infiéis ao
Senhor em cargos de liderança em muitas igrejas. Muitos que estão abandonando a
sã doutrina. Escândalos sexuais, financeiros, etc irrompem no contexto
evangélico. Um dos grandes desafios para todos os líderes é seguir o conselho
de Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (I Timóteo
4:16).
Orem sempre pelos ministros de
Deus, para que aqueles que são fieis mantenham-se em fidelidade, porque no
caso contrário toda a igreja do Senhor fica prejudicada.
d)
Ser justo, v.9.
Malaquias continua citando o mau exemplo
dos sacerdotes. Não eram justo na aplicação da Lei. Os sacerdotes também tinham
uma função judicial (Dt 17:9-11), e era do seu dever agir dentro dos padrões de
justiça revelada pelo Senhor, ou seja, sem acepção de pessoas.
A consciência dos ministros de Deus
tem de estar cativas à verdade do Senhor para que possa agir sempre com
justiça. E deve sempre lembrar que seus pecados serão cobrados pelo Senhor com
maior rigor. Os líderes terão um julgamento mais severo. Quem age contrário à
vontade do Senhor e continua nesse proceder sem arrependimento poderá passar
momentos de constrangedores quando Deus expô-los.
Aplicações
1.
Não faça como aqueles sacerdotes, não espere o castigo do Senhor para perceber
que o Senhor está se desagradando de você. Que você possa aprender isso pela
observação de como o Senhor tem tratado com outros e então possa mudar o seu
comportamento.
2. Deus
não quer ativismo vazio – quer vida/caráter e então serviço. A qualidade do instrumento
a ser usado faz toda diferença. Desenvolva em Cristo o seu caráter para que
possa servir à Deus de modo mais digno d’Ele.
3. O
conselho de Paulo a Tito é muito interessante: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras.
No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível,
para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que
dizer a nosso respeito” (Tt 2.7-8). Você pode não ser um líder
como eram os sacerdotes, como era Tito, mas que viva uma vida na qual
envergonhe o diabo por ele não coisas indignas a falar a seu respeito. Assim
que deve viver o povo não tem um sacerdote humano, falho, mas um sumo-sacerdote
perfeito e requer vida santa daqueles por quem ele deu sua vida.
4.
Você quer de Deus as bênçãos ou a maldição? Com certeza as bênçãos, então o
mínimo que você pode fazer é lhe oferecer é fidelidade e obediência.
Conclusão
É importante lembrar quem somos: “Vós, porém, sois
raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de
Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para
a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).
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