Introdução
O cristianismo tem
muitos símbolos: pão, peixe, pomba são alguns. No entanto nenhum é tão
significativo quanto à cruz. O que na época de Jesus era símbolo de vergonha e
humilhação é o que mais nos representa hoje. O que faz da cruz um símbolo tão
maravilhoso? A resposta ao tempo que é simples é também perplexa. Foi nela que
o Deus encarnado – Jesus Cristo – morreu vicariamente pelo seu povo. Obviamente
que nem todos conseguem entender ou aceitar tal ideia.
Para a maioria das
pessoas tal ideia é loucura e escândalo. O grafite de Alexamenos que tinha um
homem crucificado com a cabeça de um asno tinha a seguinte inscrição debaixo do
grafite: ‘Alexamanos, adora seu Deus!’.
A implicação de tal desenho e afirmação é que um deus que se agradou em se
encarnar e morrer numa cruz romana só poderia ser um asno/louco,
consequentemente todos os que adoram esse deus são burros!
Na mitologia pagã, os deuses estavam sempre irados,
por isso era necessário sacrifícios constantes para apaziguar a ira
descontrolada deles. Era inconcebível a ideia de que um deus seria tão
rico em amor e misericórdia que ele próprio providenciaria o sacrifício
perfeito para apaziguar uma ira santa e perfeita. (http://sdgestudosmarcos.blogspot.com.br/2012/08/o-dia-em-que-deus-morreu-na-cruz.html)
Já houve até teólogos que quiseram
supor que Jesus não morreu verdadeiramente, pois encontram dificuldade de
correlacionar isso com a sua natureza divina. No entanto, a despeito de
qualquer compreensão teológica fiquemos com a simplicidade das afirmações da
Palavra de Deus de Cristo totalmente homem e totalmente Deus morreu para nos
conceder a salvação. E este relato maravilhoso que nos traz o texto em questão.
Elucidação
O relato da crucificação e também o
relato da ressurreição de Jesus é o ápice dos evangelhos. Ao iniciar a
exposição em Marcos havia em mim a ansiedade de chegar a esse momento tão
glorioso, que é tratar o texto que nos fala tão vividamente do sacrifício de
Jesus pelos seus. Portando, que cada um de nós possamos lembrar e de modo
individual: Cristo morreu por mim.
I – Humilhado pelos homens, v. 20-32.
v. 20 Chegou então o grande momento.
Jesus é conduzido ao cumprimento de sua condenação sob a zombaria dos soldados.
Já havia posto em sua cabeça uma coroa de espinhos, já o haviam espancado e de
forma zombeteira se ajoelhado diante dele. Então o conduzem para fora dos muros
de Jerusalém, para o lugar chamado Gólgota, que recebeu esse nome por ser um pequeno
monte com uma aparência de uma caveira. O trajeto até lá foi com certeza outro
suplício, o fato de Simão ter sido recrutado para levar a cruz é porque Jesus já
não suportava mais, afinal ele estava sendo chicoteado. Podemos imaginar os
escárnios na rua de pessoas prontas a exacerbar sua malignidade.
Como revela o v. 23 ao chegar ao
lugar da crucificação deram-lhe a beber um vinho misturado com mirra. “Mirra é o sumo desidratado da casca de uma árvore balsâmica árabe, e
geralmente era usada como incenso. Ela deixava a bebida amarga e tinha um
efeito calmante e anestésico”. (Pohl, 1998 ).
O fato de Jesus recusar ter os seus
sentidos anestesiados leva-nos a refletir sobre sua firmeza em receber do Pai
todo o castigo que nos era devido.
v. 24 A humilhação de Jesus se
estendeu a perder suas vestes, foi pendurado na cruz seminu. O costume romano
era de o crucificado ser pendurado nu, no entanto o mais provável é que no caso
de prisioneiros judeus recebiam a condescendência devido o escrúpulo judaico de
ter de cobrir as partes íntimas do condenado.
Como era de costume escrever na cruz
a acusação pela o qual o condenado estava ali, como forma de intimidação
Pilatos mandou escrever em letras hebraicas, aramaicas e gregas, JESUS
NAZARENO, O REI DOS JUDEUS, conforme João 19.19. Tal título na cruz não agradou
aos sacerdotes, mas Pilatos o manteve. Tal inscrição era de fasto zombeteira, e
realmente os judeus não o receberão como rei, não receberam-no como Messias,
não entenderam e ou não quiseram aceitar a realidade do reino pregado por
Cristo. “Ele não fundou seu
reino com o sangue dos seus súditos, mas com o seu próprio. Naturalmente um
Senhor tão diferente incomoda os senhores deste mundo, mas ele também conquista
sempre de novo servos que o amam mais que a própria vida” (Ap
12.11). (Pohl, 1998).
Somam-se a isto a zombaria
registradas nos versículos 29 a 32 por parte de pessoas que estavam passando
pelo local, pois o Gólgota localizava-se próxima a um local de passagem de
transeuntes. O gesto de menear a cabeça é um gesto de escárnio. Os fariseus e
sacerdotes obviamente não deixarem de sua contribuição. Até mesmo os ladrões
que com ele estavam sendo crucificados, possivelmente aqueles ladrões eram
membros do grupo zelotes, homens que lutavam contra o domínio romano de modo
violento. Então a zombaria deles poderia ser que não consideravam Jesus digno de
estar ali juntamente com eles.
Aquele momento tão humilhante diante
dos homens, que poderiam ver nele um líder fracassado, um herege condenado, não
era um momento de festa para hostes demoníacas, porque a aparente derrota de
Jesus era o seu grande triunfo, e a grande derrota do diabo e suas hostes.
Embora o momento mais triste no sentido de que o próprio Filho de Deus estava
em dor, em agonia indizível, pois não apenas os tormentos físicos estavam sobre
ele, mas todo o peso da justiça divina, os nossos pecados, ele contado com
malfeitores, estava ali condenado entre ladrões e assassinos; mas este momento
tão vergonhoso aos olhos humanos era um momento de grande glória pois era a
grande vitória de nosso Senhor Jesus sobre o diabo e trazia consigo a certeza
maravilhosa de nossa vitória. Há um texto de Apocalipse que fala disso:
“Então ouvi uma voz do céu, proclamando:
Agora veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu
Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de
dia e de noite, diante de nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa do
sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em
face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.10, 11).
Mas além do sofrimento infligido a
Cristo pela humilhação por parte das pessoas há muito mais doloroso, que é ser
abandonado na Cruz pelo seu próprio Pai.
II – Abandonado por Deus, v. 33-41.
v. 33 Este evento que ocorre aqui é
de relevância, independentemente do que ele tenha sido em sua essência. Alguns
acreditam que se tratava de um eclipse solar, outros que foi um evento miraculoso,
seja qual opção corresponda a verdade o importante naquele momento específico
aquilo foi carregado de significação. O simbolismo para aquelas pessoas, até
atualmente permanece a mesma ideia, do que estava acontecendo era de que a
escuridão traz consigo impressões de perigo e terror, denota aspecto do eu é
assustador. Desse modo está na noite é estar sob o juízo divino. Haver trevas
naquele momento é uma forma então de ser demonstrado que Deus se voltou contra
seu Filho Amado no sentido de exercer nele sua justiça.
O sofrimento de Jesus na cruz foi de
grande intensidade, Adolf Pool, em seu Comentário de Marcos traz algumas
especificações:
A
dor dos ferimentos feitos pelos pregos não diminuía. A distensão dos membros
causava câimbras, começando nos braços e vindo para o meio do corpo. O
torturado podia firmar-se nos pés para minorar a tensão nos braços por algum
tempo, mas isto demandava muito esforço. Logo o corpo cedia novamente. Mais
tarde ele tentava subir de novo, e assim ia para cima e para baixo. Finalmente,
as pernas fraquejavam. As câimbras atingiam os músculos da respiração. O
agonizante ficava sem ar. Caía a pressão sangüínea, diminuía o nível de
oxigênio no sangue e aumentava o de gás carbônico. A sede se tornava um
suplício, o coração batia mais forte. O suor escorria pelo corpo. Insetos
pousavam sobre as feridas abertas. A temperatura do corpo subia. A irrigação de
sangue da cabeça e do coração ficava cada vez mais fraca, até que o coração
falhava e a cabeça se inclinava para a frente, sobre o peito (cf. Speidel, p
138; Blinzler, p 185s). Os romanos geralmente deixavam os cadáveres pendurados
até que as aves de rapina os tivessem devorado. (Pool, 1998).
v. 34 Diante de tudo o que ocorre Jesus exclama: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” Devemos pesar esta
exclamação contra o fundo de confissões como Jo 8.29; 10.30: “O Pai não me deixa só” e “Eu e o Pai somos um” para
compreendermos quão profundo foi sofrimento de Jesus na cruz. Um dos mais
terríveis sentimentos que alguém pode sentir é o de desamparo, saber que está
só contra tudo e contra todos. Embora possamos viver algumas circunstâncias na
qual nos sintamos sós sem que pessoas possam nos ajudar, nunca poderemos
afirmar que fomos abandonados pelo Senhor. No entanto por amor a mim e a você
ele abandonou Jesus na cruz. Um abandono de uma entrega para o cumprimento do
castigo. Acredito que esta foi a maior dor sentida por Jesus naquele momento, a
dor da solidão, da ausência de comunhão com o Pai, pois sobre ele estava nossos
pecados e sobre nossos pecados nele a justiça divina.
Outro evento de grande importância
quando Jesus morre é o que é exposto no v. 38. O véu do santuário sendo rasgado
é testemunho divino que agora aquele local onde os judeus acreditavam ser tão
especial e que Deus ali estava, o Templo, perde todo seu sentido. O acesso a
Deus não mais poderia ser concebido por mediador sacerdotal humano, Cristo é o
único mediador. Todo lugar agora é lugar de culto, a todos que creem em Cristo
é concedido o acesso à presença divina. Desse modo, tentar estabelecer
cerimoniais judaicos nas igrejas cristãs, mediante levantamento de altares,
oferecimento de sacrifícios e centralização em um sacerdócio humano não é
melhor do que tentar costurar o véu do Templo.
Com tudo aquilo é tão interessante o
reconhecimento de um oficial do exército romano de que aquele crucificado se
tratava do Filho de Deus. Um estrangeiro, um gentio é o primeiro a fazer essa
confissão após a crucificação. Aquele que estava distante foi aproximado de
Deus pela morte de Cristo. Que você também possa diante desse texto ter o mesmo
reconhecimento, não apenas em teoria, mas em verdadeira contrição espiritual
poder ser impacto com o pensamento: Cristo morreu por mim, Deus em Cristo
estava na cruz por mim, meus pecados foram punidos em Jesus. Diante disso o
mínimo a ser feito é uma entrega total de sua vida a ele.
A morte de Jesus na cruz não ficou
sem testemunho (v.40-41), as mulheres que ali estavam relataram posteriormente
tudo aos discípulos, por isso podemos ter este reato e os outros dos demais
evangelhos em detalhes. Embora entre os judeus naquele contexto o testemunho
feminino não fosse válido, o Espírito Santo inspirou os autores a mencioná-las
como forma de demonstrar a libertação da Senhor Jesus na vida delas em todos os
aspectos, pois como é dito no v. 40 aquelas mulheres o acompanhavam e serviam,
ou seja, eram apoiadoras ativas de seu ministério terreno, o que era algo muito
radical para o contexto machista de então.
Que você também ao ser impactado
pela morte de Jesus por você se torne uma testemunha dessa obra maravilhosa e
proclame o evangelho da salvação.
Diante de um texto como este que você
possa refletir e tomar uma atitude.
Aplicação
1. Observe 2 Co 5.19-21:
“19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo,
não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da
reconciliação.
20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus
exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos
reconcilieis com Deus.
21 Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para
que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.
Assim
sendo, tome você sua decisão hoje! Entenda que aquela obra de Jesus na cruz
pode um efeito na sua vida hoje!
2.
Que refletir sobre a morte de Jesus te leve a atitudes concretas de obediência.
Que te leve sempre a viver em adoração a Ele. O texto de Hebreus 13.12-15 diz: “E por isso também Jesus, para santificar o
povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora
do arraial, levando o seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente,
mas buscamos a futura. Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de
louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome”.
Que o fruto de lábios que confessam
Cristo esteja sempre presentes em sua vida!
Conclusão
Lembrar que Cristo morreu por mim é
lembrar que ele venceu o diabo por mim:
“...tendo cancelado o escrito de dívida
que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o inteiramente,
encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs aos desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl
2.14-15). Na cruz Jesus desfez as obras do diabo (1 Jo).
Lembrar que Cristo morreu por mim é
lembrar que me justificou, cancelou minha dívida com Deus, jamais poderei ser
condenado, porque Jesus morreu por mim. É lembrar que ele me reconciliou com
Deus e me deu paz.
Assim sendo, a cruz de Cristo é a
minha morte para o pecado, a minha mensagem, a minha glória!
RYLE, J. C. - Meditações no evangelho de Marcos.
Editora Fiel, 2 edição, São Paulo, 2007.
POHL, Adolf - O Evangelho de Marcos, Comentário Esperança.
Editora Evangélica Esperança, Curitiba, PR, 1ª edição, 1998.
RIENECKER, Fritz &
ROGERS, Cleon – Chave linguística do Novo
Testamento grego. Editora Vida Nova, São Paulo, SP, 3ª edição, 1995.
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